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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Padre José Theisen: Padre belga revoluciona agreste de AL

Craíbas - O missionário belga José Theisen ainda “arranhava” a língua portuguesa quando chegou à cidade sergipana de Gararu. No primeiro contato com os fiéis protagonizou grande polêmica quando afirmou que a cidade “tinha muita rapariga”. A confusão era reflexo do português assimilado em Portugal, onde rapariga significa moça.
“A população por muito pouco não me crucificou”, lembra o religioso, que vive há quase duas décadas na pequena Craíbas, cidade do agreste alagoano.
Natural de Namur, próspera cidade da Bélgica [um dos países com melhor qualidade de vida do planeta], padre José Theisen, o “missionário de apenas 78 anos”, sobrevive de forma franciscana - seus aposentos são muito simples - mas é o principal responsável por um trabalho social de grande impacto na sociedade local.
Amparado por voluntários, mantém uma creche para 80 crianças, proporciona abrigo para jovens dependentes químicos e ainda viabiliza a adoção de crianças abandonadas.
 
Resistência e ameaças
No início de sua missão em Craíbas o padre diz ter enfrentado muita resistência de setores da classe política. Por diversas vezes, recebeu ameaças de morte. “O bispo daquela época [Constantino Luers] não disse que a cidade era complicada. Até tentativa de homicídio houve”, recorda José Theisen. As desavenças e desconfianças seriam substituídas, anos depois, por apoio ao trabalho de evangelização e transformação social do religioso belga.
Inovação
O religioso, sempre “inconformado com o comodismo de quem pode, mas não soluciona as questões sociais” inovou ao implantar, no salão paroquial, o ensino de segundo grau em Craíbas.
“Nem todos podiam viajar a Arapiraca. Pedimos os professores e o governo do Estado, depois de muita resistência, concordou com o estudo de três turmas de jovens carentes dentro da casa do Senhor. Depois da repercussão positiva, aí veio a escola de segundo grau”, recorda. MM
 
Político ajuda, mas padre não promete nada
As ações do religioso não se restringem ao campo educacional. Ele também criou - e mantém - uma creche para 80 crianças carentes cujos pais vivem em dificuldades e geralmente não têm condições de alimentá-las.
Uma das ruas da cidade foi fechada para servir de abrigo aos projetos sociais de José Theisen, que mantém outro projeto polêmico dentro da igreja: proporciona abrigo para 15 jovens carentes. Alguns deles tentam fugir da dependência química.
 
Vila de casas
Os projetos sociais tocados pelo religioso - que já edificou uma vila de casas para famílias carentes e também mantém uma rádio comunitária - “custam” aos cofres da igreja pouco mais de R$ 80 mil ao mês.
Questionado pela reportagem da Gazeta de Alagoas sobre quem paga a conta, o padre Theisen não esconde que recebe ajuda da classe política “para a qual não promete nada” e ainda da população, que envia donativos.
“A gente tem a idéia e busca ajuda da população. Aí, Deus é quem paga a conta”, explica-se José Theisen.
Belgas adotam crianças abandonadas em Alagoas
Craíbas - Em seus 18 anos de missão no Agreste, José Theisen viabilizou a adoção por casais belgas de dezenas de crianças que tinham sido abandonadas em hospitais ou orfanatos da região. Crianças que poderiam não ter futuro no interior de Alagoas sobrevivem agora com dignidade em famílias que gozam de elevado padrão de vida.
“Alguns deles já vieram ao Brasil conhecer suas origens”, explica José Theisen, que reúne os jovens adotivos uma vez por ano.
O “servo e empregado de Deus” marcou sua presença na cidade com a construção de uma estátua de Nossa Senhora. A imagem tem a altura de um prédio de dois andares e chama a atenção de quem chega ao centro de Craíbas, na região Agreste.
40 missas por semana
“A cidade precisava de proteção divina”, justifica o padre belga José Theisen, que se diferencia dos demais religiosos do interior por celebrar até 40 missas por semana. São três por dia. Todos os dias.
Quando recebeu a reportagem da Gazeta, o padre fez questão de mostrar o cronograma de celebrações na paróquia de Craíbas, cidade com 40 capelas distribuídas em seus diversos povoados.
Principal capelão do município por mais de 18 anos, José Theisen desenvolve trabalho social na periferia de Craíbas, onde mandou construir uma casa de taipa onde costuma dormir algumas vezes por mês.
“Precisei dormir numa casa de taipa para que o poder público instalasse luz elétrica na comunidade”, diz o religioso.
Palavra aos presos
Adaptado à vida no agreste de Alagoas, padre José Theisen comprou terreno e edificou, no alto de uma serra, a capela ao lado da qual pretende ser sepultado.
“Depois da morte quero ser sepultado aqui em Craíbas”, confessa. Ainda “distante da morte”, ele continua ativo e com tempo para levar a palavra divina aos detentos do presídio e da delegacia regional de Arapiraca.
Tanto na delegacia quanto no presídio costuma celebrar pelo menos uma missa a cada quinze dias. “Também levo palavra de conforto aos enfermos dos nove hospitais de Arapiraca”, diz o religioso belga, que mantém atividades de forma intensa aos 78 anos.
“Não sou velho. Ainda estou amadurecendo. Tenho muito o que fazer pela comunidade da minha querida Craíbas”, reforça.

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