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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Marshall McLuhan

O meio é a mensagem

Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) não está mais na moda. Mas suas idéias estão. Elas aparecem no discurso dos porta-vozes das corporações tecnológicas do império americano – um Negroponte, um Bill Gates – tanto quanto em textos de autores que vêem futuro sombrio na era da informação, como Jean Baudrillard

McLuhan foi um fenômeno de massa. Seus livros foram best sellers.  Cunhou expressões infinitamente repetidas: “aldeia global”, “o meio é a mensagem”, “globalização”. Algumas de suas proposições parecem proféticas, como esta, que antecipa o mundo da Internet (que ele não conheceu) e as perspectivas que se abrem com os estudos da inteligência artificial

“Aproximamo-nos rapidamente da fase final dos prolongamentos do homem: a simulação tecnológica da consciência.”
Ao colocar as tecnologias como determinantes da história, McLuhan não foi original: é exatamente assim que se classificam períodos pré-históricos – as idades da pedra, da pedra lascada, do ferro etc.

Sua originalidade consiste em dar prioridade a um tipo de tecnologia – a da informação – para explicar a evolução das civilizações, principalmente nas idades moderna e contemporânea. Incorre, no entanto, em evidente reducionismo: atribui ao fim dos fornecimentos de papiro a queda do Império Romano; ao surgimento do estribo o começo do feudalismo; e à chegada da pólvora ao Ocidente o início da bancarrota do sistema feudal

No século XVI, a palavra impressa – a Galáxia de Gutenberg – teria, segundo ele,  criado o individualismo e o nacionalismo.

Como estabelece essas ilações? Quanto ao papiro, escreve que a falta desse produto egípcio provocou “as quedas posteriores dos valores visuais”, fazendo “as estradas romanas caírem em desuso e o império desintegrar-se”;

Quanto ao estribo, alega que permitiu “uma nova maneira de guerrear e uma nova forma de sociedade ocidental européia, dominada por uma aristocracia de guerreiros dotados de terras”;

 A pólvora teria tornado inúteis as armaduras protetoras utilizadas pelos senhores feudais.

Geralmente considera-se a falta de uma teoria econômica consistente o ponto crítico das análises de McLuhan – e exatamente aquele que permite a fácil apropriação de suas idéias. A utopia da aldeia global que, segundo ele, igualaria todos os homens, forneceu à liderança corporativa tecnológica um sentido de destino histórico.

Eis algumas citações de McLuhan:

Todos os veículos de comunicação nos envolvem completamente. São tão abrangentes em suas conseqüências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas, morais, éticas e sociais que não deixam parte alguma de nós intocada, não afetada, inalterada. O meio é a massagem. Qualquer compreensão das mudanças sociais e culturais é impossível sem o conhecimento da maneira em que mídia age como meio ambiente.

Todos os veículos de comunicação são extensões de uma faculdade humana – física ou psíquica.

Os meios ambientes não são invólucros passivos, mas processos ativos que nos envolvem completamente, massageando a razão dos sentidos e impondo suas asserções silenciosas. Mas o meio ambiente é invisível. Suas regras mestras, sua estrutura abrangente, seus padrões dominantes eludem a percepção imediata.

Na percepção humana comum, os homens recriam dentro de si mesmos – em suas faculdades interiores – o mundo exterior. Esse milagre é o trabalho do nous poietikos de nosso intelecto ativo – isto é, o processo poético ou criativo. O mundo exterior, em cada instante da percepção, é interiorizado e recriado de nova maneira. Nós mesmos.

Pondo nossos corpos físicos dentro de sistemas nervosos expandidos por meio da mídia elétrica, construímos uma dinâmica pela qual todas as tecnologias prévias –  meras extensões de mãos, pés, dentes e controles corporais, todas extensões de nossos corpos, inclusive as cidades – traduzem-se em sistemas de Informação. A tecnologia eletromagnética requer do ser humano docilidade e inércia meditativa, de maneira que se comporta como um organismo que tem seu cérebro exposto e seus nervos fora da pele.

Quando um órgão é retirado (por ablação), fica dormente. O sistema nervoso central ficou dormente (para sobreviver). Entramos na idade da inconsciência com a eletrônica, e a consciência migra para os órgãos físicos, mesmo o corpo político. Há grande aumento da acuidade física e grande queda da acuidade mental  quanto o sistema nervoso central é externalizado.

A linguagem como tecnologia da extensão humana, cujos poderes de divisão e separação conhecemos tão bem, pode ter sido a Torre de Babel pela qual o homem buscou alcançar o paraíso. Hoje os computadores nos prometem traduzir instantaneamente qualquer código ou língua para outro código ou língua. O computador, em suma, promete pela tecnologia a condição pentecostal do entendimento e unidade universais.

O próximo passo lógico será não traduzir mas superar as línguas em favor de uma consciência cósmica que pode ser como o inconsciente coletivo sonhado por Bergson. A condição de não ter peso, que os biólogos dizem prometer a imortalidade física, pode ser paralela da condição de não ter fala, capaz de conferir a perpetuidade da paz e harmonia coletivas.

A galáxia de Gutenberg (1962);

Entendendo a mídia: as extensões do homem (1964);
O meio é a massagem: um inventário de efeitos (1967);
Guerra e paz na aldeia global (1968); Do clichê ao arquétipo (1970).
Há farto material sobre McLuhan na Internet. Pelo conteúdo, sugere-se
http://www.mcluhanmedia.com/nmclm001.html
 

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