O meio é a mensagem
A
pólvora teria tornado inúteis as armaduras protetoras utilizadas pelos senhores
feudais.
Guerra e paz na aldeia global (1968); Do clichê ao arquétipo (1970).
Há farto material sobre McLuhan na Internet. Pelo conteúdo, sugere-se
http://www.mcluhanmedia.com/nmclm001.html
Herbert
Marshall McLuhan (1911-1980) não está mais na moda. Mas suas idéias estão. Elas
aparecem no discurso dos porta-vozes das corporações tecnológicas do império
americano – um Negroponte, um Bill Gates – tanto quanto em textos de autores
que vêem futuro sombrio na era da informação, como Jean Baudrillard
McLuhan
foi um fenômeno de massa. Seus livros foram best sellers. Cunhou expressões infinitamente repetidas:
“aldeia global”, “o meio é a mensagem”, “globalização”. Algumas de suas
proposições parecem proféticas, como esta, que antecipa o mundo da Internet
(que ele não conheceu) e as perspectivas que se abrem com os estudos da
inteligência artificial
“Aproximamo-nos
rapidamente da fase final dos prolongamentos do homem: a simulação tecnológica
da consciência.”
Ao
colocar as tecnologias como determinantes da história, McLuhan não foi
original: é exatamente assim que se classificam períodos pré-históricos – as
idades da pedra, da pedra lascada, do ferro etc.
Sua
originalidade consiste em dar prioridade a um tipo de tecnologia – a da
informação – para explicar a evolução das civilizações, principalmente nas
idades moderna e contemporânea. Incorre, no entanto, em evidente reducionismo:
atribui ao fim dos fornecimentos de papiro a queda do Império Romano; ao
surgimento do estribo o começo do feudalismo; e à chegada da pólvora ao
Ocidente o início da bancarrota do sistema feudal
No
século XVI, a palavra impressa – a Galáxia de Gutenberg – teria, segundo
ele, criado o individualismo e o
nacionalismo.
Como
estabelece essas ilações? Quanto ao papiro, escreve que a falta desse produto
egípcio provocou “as quedas posteriores dos valores visuais”, fazendo “as
estradas romanas caírem em desuso e o império desintegrar-se”;
Quanto
ao estribo, alega que permitiu “uma nova maneira de guerrear e uma nova forma
de sociedade ocidental européia, dominada por uma aristocracia de guerreiros
dotados de terras”;
Geralmente
considera-se a falta de uma teoria econômica consistente o ponto crítico das
análises de McLuhan – e exatamente aquele que permite a fácil apropriação de
suas idéias. A utopia da aldeia global que, segundo ele, igualaria todos os
homens, forneceu à liderança corporativa tecnológica um sentido de destino
histórico.
Eis
algumas citações de McLuhan:
Todos
os veículos de comunicação nos envolvem completamente. São tão abrangentes em
suas conseqüências pessoais, políticas, econômicas, estéticas, psicológicas,
morais, éticas e sociais que não deixam parte alguma de nós intocada, não
afetada, inalterada. O meio é a massagem. Qualquer compreensão das mudanças
sociais e culturais é impossível sem o conhecimento da maneira em que mídia age
como meio ambiente.
Todos
os veículos de comunicação são extensões de uma faculdade humana – física ou
psíquica.
Os
meios ambientes não são invólucros passivos, mas processos ativos que nos
envolvem completamente, massageando a razão dos sentidos e impondo suas
asserções silenciosas. Mas o meio ambiente é invisível. Suas regras mestras,
sua estrutura abrangente, seus padrões dominantes eludem a percepção imediata.
Na
percepção humana comum, os homens recriam dentro de si mesmos – em suas
faculdades interiores – o mundo exterior. Esse milagre é o trabalho do nous
poietikos de nosso intelecto ativo – isto é, o processo poético ou criativo. O
mundo exterior, em cada instante da percepção, é interiorizado e recriado de
nova maneira. Nós mesmos.
Pondo
nossos corpos físicos dentro de sistemas nervosos expandidos por meio da mídia
elétrica, construímos uma dinâmica pela qual todas as tecnologias prévias
– meras extensões de mãos, pés, dentes e
controles corporais, todas extensões de nossos corpos, inclusive as cidades –
traduzem-se em sistemas de Informação. A tecnologia eletromagnética requer do
ser humano docilidade e inércia meditativa, de maneira que se comporta como um
organismo que tem seu cérebro exposto e seus nervos fora da pele.
Quando
um órgão é retirado (por ablação), fica dormente. O sistema nervoso central
ficou dormente (para sobreviver). Entramos na idade da inconsciência com a
eletrônica, e a consciência migra para os órgãos físicos, mesmo o corpo
político. Há grande aumento da acuidade física e grande queda da acuidade
mental quanto o sistema nervoso central
é externalizado.
A
linguagem como tecnologia da extensão humana, cujos poderes de divisão e
separação conhecemos tão bem, pode ter sido a Torre de Babel pela qual o homem
buscou alcançar o paraíso. Hoje os computadores nos prometem traduzir
instantaneamente qualquer código ou língua para outro código ou língua. O
computador, em suma, promete pela tecnologia a condição pentecostal do
entendimento e unidade universais.
O
próximo passo lógico será não traduzir mas superar as línguas em favor de uma
consciência cósmica que pode ser como o inconsciente coletivo sonhado por
Bergson. A condição de não ter peso, que os biólogos dizem prometer a
imortalidade física, pode ser paralela da condição de não ter fala, capaz de
conferir a perpetuidade da paz e harmonia coletivas.
A
galáxia de Gutenberg (1962);
Entendendo
a mídia: as extensões do homem (1964);
O
meio é a massagem: um inventário de efeitos (1967);Guerra e paz na aldeia global (1968); Do clichê ao arquétipo (1970).
Há farto material sobre McLuhan na Internet. Pelo conteúdo, sugere-se
http://www.mcluhanmedia.com/nmclm001.html
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