Apesar de muitas más interpretações, as
pessoas que realmente se dedicam à missão entendem muito bem o Papa Francisco
Algumas
pessoas ou grupos católicos manifestaram sua desorientação sobre alguns
enfoques que o Papa apresenta sobre aspectos do magistério da Igreja. Há quem
pense que o Papa vai "minar" a situação da Igreja, "em uma época
em que ela já se encontra marginalizada pela cultura, cada vez mais
laica". Outros acham que o Papa é uma pessoa notável, mas talvez
imprudente.
O
superior da Fraternidade de São Pio X, Dom Bernard Fellay, comentou que
Francisco "é um verdadeiro modernista"; disse que "a situação da
Igreja é um verdadeiro desastre, e o Papa atual está piorando dez mil vezes
esta situação".
"Se
o atual Papa continuar como começou – afirmou Fellay –, ele dividirá a Igreja.
Está explodindo tudo." O líder lefebvrista também disse que "Deus é
muito maior que nós e muito maior que o trabalho destes ministros
imperfeitos", e acrescentou que é preciso segui-los "quando dizem a
verdade", não quando "oferecem lixo".
Vale
a pena refletir sobre este fenômeno provocado pelo estilo direto e próximo que
o Papa Francisco está expressando em seu pontificado.
Cada
papa tem o seu estilo, e o de Francisco está demonstrando que toca as pessoas e
as interpela. É evidente que os papas são diferentes, assim como as formas de
viver a fé. A Igreja teve recentemente um Papa evangelizador, João Paulo II;
outro teólogo, que foi Bento XVI; e agora tem um Papa missionário, com um forte
conteúdo profético. E os profetas costumam ser incômodos.
Em
uma coluna de opinião do "El País", Anastasio Gil, diretor das
Pontifícias Obras Missionárias (POM) na Espanha, observou um fato revelador:
"A chave do Papa Francisco radica no método missionário do primeiro
anúncio. Daí que, como podemos testemunhar na sede das POM, o entusiasmo com o
qual os missionários estão vivendo este momento da Igreja não tem a ver com o
Papa, mas com eles mesmos".
Segundo
o representante das POM, o Papa Francisco "está conferindo ao papado a
forma missionária de entender e de praticar o Evangelho na história".
Ele
explica: "O conceito de missão do Bispo de Roma procede da sua experiência
em situações de extremos antropológicos, da sua compreensão da relação entre o
Evangelho e os pobres, da sua proposta radical de um cristianismo que olha para
cada homem e para cada mulher sem preconceitos, ao mesmo tempo em que fica em silêncio
para ouvir as batidas do seu coração".
"É
um silêncio que não pergunta, só escuta e acompanha, já que a distância entre
cada coração e o Evangelho, entre cada coração e a possibilidade de encontro
com Jesus de Nazaré já não é medida com conceitos e com palavras, mas com a
experiência", completa.
Anastasio
Gil comenta que "nós, que fazemos missões, entendemos bem o Papa", já
que o espírito missionário não coloca a norma acima de tudo: atende-se as
pessoas, sejam elas quem forem, sem julgá-las, sem questioná-las. Só depois
desse processo é que se extrai um resultado.
Os
"progressistas" sempre discordaram dos papas que não lhes agradavam,
por considerá-los conservadores demais. Esta atitude significou, em geral,
romper a comunhão com o Papa e com a Igreja.
Agora
este fenômeno ocorre no outro extremo: as pessoas ou grupos que se declaram
partidários da ortodoxia católica podem cair em uma contradição muito grande se
romperem sua comunhão com o Papa.
O
cristão não escolhe o Papa porque gosta mais ou menos do seu estilo; sua figura
vai muito além disso, apesar dos erros que, como ser humano, ele possa cometer.
A infalibilidade é dogma.
Este
fenômeno – mínimo, por enquanto – não deixa de revelar a evidência de que a
cultura da desvinculação e a mentalidade relativista, que situam a
subjetividade acima de tudo, são contaminações que afetam tudo e todos, também
a Igreja e os cristãos. A principal proteção contra este risco é ter uma
consciência suficientemente sólida para não se afastar dos fundamentos.
Cabe
recordar o precedente do Papa Leão XIII, tradicionalmente incompreendido pelos
seus contemporâneos. Na Espanha, por exemplo, chegaram a rezar Missas pelas sua
conversão. Mas ele finalmente entrou para a história como um grande e
visionário Sucessor de Pedro, que deixou uma grande herança para o
cristianismo.
As
reservas com relação a Leão XIII tiveram a ver com sua encíclica "Rerum
novarum", primeira encíclica social da Igreja Católica, que não foi compreendida
naquela época. Foi promulgada em 15 de maio de 1891 e versava sobre as
condições da classe trabalhadora.
Nela,
o Papa deixava claro o seu apoio ao direito trabalhista de formar uniões ou
sindicatos, mas também reafirmava seu apoio ao direito à propriedade privada.
Além disso, discutia sobre as relações entre o governo, as empresas, os
trabalhadores e a Igreja, propondo uma organização socioeconômica que mais
tarde seria chamada de corporativismo.
Foi
toda uma mudança de perspectiva, em pleno desenvolvimento da Revolução
Industrial. Uma mudança que fez de Leão XVIII um papa incompreendido. Cabe
esperar que Francisco possa ser profeta (e Papa) em sua terra.
Fonte: http://www.aleteia.org
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