Texto livre sobre história da Ordem
Intitulado: SOB AS ASAS DO VENTO, de Frei Cardoso, OCD.
Hoje trazemos para o boletim textos e indicações recolhidos na Web sobre a presença conflituosa, difícil dos nossos frades em Pernambuco e na Bahia no séc. XVII. A dificuldade se deu pela peculiar situação eclesiástica da época colonial somada ao pulular dos movimentos pela independência da colônial. O texto a seguir revela como os frades pegaram carona num conflito que teve como centro os oratorianos do Recife.
Num artigo escrito por Evaldo Cabral, o autor chama a atenção do leitor para o papel representado pelas ordens religiosas no Brasil colonial, com relação ao aparecimento dos sentimentos nativistas. Como um estudo de caso das relações de nativismo e religião, é examinada a história do cisma que aconteceu em Pernambuco, no final do século XVII, entre os padres do Oratório de São Filipe Néri (chamados de os Néris). O exame da disputa é feito em seus próprios termos, mas também à luz das crescentes tensões políticas, sociais e econômicas entre os proprietários de engenhos de açúcar e os meios comerciais do Recife. O autor conclui mostrando que ambos os lados do conflito oratoriano eram apoiados tanto pelos nobres de Olinda quanto pelos comerciantes do Recife. Neste conflito foram envolvidos os descalços. Trazemos as partes do texto que trazem referência aos Terésios.
A cisão no Oratório de Pernambuco ocorrerá precisamente ao longo de uma linha de clivagem que separará os padres da Madre de Deus e os padres das aldeias, sediados em Santo Amaro.
A questão dos estatutos era "todo o Aquiles em que se debate o ponto", como reconhecerá o representante do bispo de Olinda em Lisboa. A rejeição dos dissidentes prendia-se a não desejarem "estar sujeitos e dependentes do governo da dita Congregação", isto é, do Oratório lusitano, ao que retrucavam os padres da Madre de Deus que a uniformidade da disciplina religiosa não acarretava sujeição, "somente uma união política entre si"...
Na "ojeriza ao apêndice", o historiador dos néris, Ébion de Lima, detectou "um laivo de nativismo se despertando no mundo eclesiástico brasileiro contra as imposições da metrópole".
A resistência de Santo Amaro feria uma nota que ressoava fundo no meio clerical da capitania, sobretudo nas ordens religiosas trabalhadas desde meados do século XVII pelas rivalidades entre professos do Reino e professos do Brasil, mas também na esfera secular, fraturada pela inimizade entre os reinóis e os naturais...
Foram os capuchos, ou franciscanos reformados, e os terésios, ou carmelitas descalços, os principais promotores da agitação. Se estes gozavam de influência reduzida, aqueles pelo contrário, pertenciam à ordem hegemônica na capitania, quer pelo número de seus conventos e pela sua implantação rural, de que as demais religiões careciam, quer pela sua popularidade em todas as camadas sociais. Os guardiões dos conventos franciscanos do Recife e Olinda mostravam-se os mais exaltados de todos, negando-se mesmo, como o prior de Santa Teresa, a comparecerem a uma reunião da Junta das Missões, marcada para discutir a liberdade dos índios do Jaguaribe (Ceará), com a explicação de estarem canonicamente proibidos de falarem com o bispo e com os oratorianos. Desde o recebimento da comissão, os capuchos e os terésios haviam cessado de frequentar o paço episcopal, e uma vez deflagrada a crise, passaram, do alto do púlpito, a desancar D. Francisco, procurando este, segundo dizia, "por todos os caminhos que a maldade costuma descobrir, descompor-me e desacreditar-me com os povos", inclusive exortando os fiéis, a bem da salvação das suas almas, a não freqüentarem as igrejas da diocese, interditas em decorrência da excomunhão do prelado por frei Benedito, único representante legítimo do Papa no bispado, conforme proclamavam. D. Francisco tinha reproches a favor a uns e a outros. Para ele, os descalços, também chamados marianos, não tinham qualquer utilidade em Pernambuco, aonde chegavam "despidos do espírito de Santa Teresa, para procurarem o temporal e para o inquietarem", apreciação que traduzia talvez certa má vontade de seita, pois o bispo era carmelita calçado. Quanto ao guardião do convento franciscano do Recife, frei Cosmo do Espírito Santo, acusava-o de acolher "os clérigos criminosos e suspensos nas ordens, consentindo-lhes que usem delas como se não estivessem excomungados", ademais de praticar "outras coisas mais que me causam grande escândalo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário