Santa Teresa Benedita da
Cruz (Edith Stein)
Sabemos, pelas narrativas
evangélicas, que o Cristo orou como um judeu crente e fiel à Lei. No tempo da sua
infância, com os pais, depois com os discípulos, mais tarde, ia, nos tempos
prescritos, em peregrinação a Jerusalém, a fim de participar das festas que se
celebravam no Templo. Ele cantou alegremente com os peregrinos:
"Alegrei-me porque me foi dito: vamos à casa do Senhor" (Sl 121, 1).
Pronunciou as antigas orações de bênção, que ainda hoje são recitadas para o
pão, o vinho e os frutos da terra, como testemunham as narrações da última
Ceia, toda consagrada ao cumprimento de uma das mais santas obrigações
religiosas: a solene ceia da Páscoa, que comemorava a libertação da servidão do
Egito. Talvez seja ai que nos é dada a visão mais profunda da oração do Cristo
e como que a chave que nos introduz à oração da Igreja.
"Enquanto comiam,
Jesus tomou o pão; e, pronunciando a oração de ação de graças, partiu-o e deu-o
a seus discípulos com estas palavras:
"Tomai, comei, isto é o meu Corpo". Tomou, em seguida, um
cálice, deu graças e lhes deu: "Bebei dele, todos, pois isto é o meu
Sangue, o Sangue da nova Aliança, derramado por muitos para a remissão dos
pecados". (Mt 26, 26-28)
A bênção e a distribuição
do pão e do vinho faziam parte do rito da ceia pascal. Mas, um e outro recebem
aqui um sentido inteiramente novo. Aí se origina a vida da Igreja. Sem dúvida,
somente em Pentecostes surge ela como comunidade espiritual e visível. Na Ceia,
porém, se realiza o enxerto do sarmento no tronco, que torna possível a efusão
do Espírito. As antigas orações de bênção se tornaram, na boca do Cristo, palavras criadoras de vida. Os frutos da
terra se tornaram sua carne e seu sangue, repletos de sua vida. A criação
visível, na qual Ele se inserira, por sua Encarnação, está agora a Ele ligada
de modo novo e misterioso.
Os alimentos
indispensáveis ao desenvolvimento do organismo humano são transformados em sua
essência, e, se os homens os tomarem com fé, também eles serão transformados,
incorporados ao Cristo, numa união viva, e repletos de sua vida divina. A força
vivificante do Verbo é unida ao Sacrifício. O Verbo se fez carne para dar a
vida que possui. Ofereceu-se a Si mesmo e ofereceu a criação resgatada por Sua
oferta em sacrifício de louvor ao Criador. A Páscoa da Antiga Lei se tornou a
Páscoa da Nova Aliança na última Ceia do Senhor, no Gólgota pelo sacrifício da
Cruz, entre a Ressurreição e a Ascensão pelos ágapes jubilosos em que os
discípulos reconheciam o Senhor à fração do pão e, no sacrifício da missa, pela
santa comunhão.
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