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sábado, 16 de abril de 2016
SER PASTOR NA METRÓPOLE: Frei Petrônio.
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SOMOS FILHOS DO NOSSO PASSADO: Frei Petrônio.
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CNBB: Declaração sobre o Momento Nacional.
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REFORMA POLÍTICA JÁ! Frei Petrônio.
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DOMINGO DO IMPEACHMENT: Uma Prece.
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quinta-feira, 14 de abril de 2016
O ARREBATAMENTO DE ELIAS. (2 Reis 2, 1-18)
Frei
Alexander Vella, O.Carm.
Não
se pode esquecer o influxo que este texto teve na tradição bíblica sucessiva,
sobre Elias. Os textos como Mal 3,23-24; Sir 48,9-11 e as referências a Elias
que se encontram nos Evangelhos são todas baseadas nesta idéia: Elias foi
arrebatado ao céu e voltará no fim dos tempos. Entretanto, a história não faz
parte do ciclo de Elias, mas do ciclo de Eliseu, para o qual serve de
introdução. Sua finalidade é a de apresentar Eliseu como autêntico sucessor de
Elias e por isto, em certo sentido, pode ser considerada como paralela a 1 Reis
19,19-21. As duas histórias são provavelmente duas tradições independentes
sobre a sucessão de Eliseu.
A
narração é composta tardiamente e provém da escola deuteronomista. Pode também
ocorrer que seja formada por duas tradições independentes porque o texto fala
de duas formas diversas com as quais Elias é arrebatado: um turbilhão (vv.
1.11b) e um carro de fogo (v.11a). Muito mais tarde Siracide (Eclo) procurara
resolver esta incongruência afirmando que Elias foi "arrebatado em um
turbilhão de fogo"(Ecl 48,9), uma expressão que tem pouco sentido e que
busca unificar as duas tradições diversas encontradas na composição da
história de 2 Reis 2.
Já
em 1956 J. Steinmann supunha que a história não é do gênero literário histórico
(ver "Elie dans le Ancien Testament", Elie le Prophète, I; Études
Carmelitanes, 35, Paris 1956, p. 112). Supõe que se trata de um
"Extase de Eliseu" (visão ou êxtase), enquanto assistia a morte de
Elias. Atualmente não se busca explicar mais o texto do ponto de vista da
história, mas procura-se, sobretudo, o significado da história tal como é
contada.
1. A estrutura do
texto
A
história está disposta em forma concêntrica. Nos dois extremos da estrutura,
vv.1-6 (A) e vv.16-18 (A'), encontramos a expressão do desejo da figura
secundária de participar do mistério da morte de Elias, o que pede à figura
principal.
Em
A a figura principal é Elias e a secundaria é Eliseu, enquanto que em A' a
figura principal é Eliseu e a secundaria os filhos dos profetas. Em ambos os
casos a figura principal revela o desejo de reservar-se o mistério que está por
acontecer ou acaba de acontecer. Assim, em A por três vezes Elias pede a Eliseu
«fique aqui» (v. 2.4.6) e em A’ Eliseu ordena aos discipulos "Não os mandeis"
(v.16). Contudo, em ambos os casos a figura principal acaba cedendo. Quanto ao
desejo de Eliseu de participar da partida de Elias, aparece satisfeito na cena
central da história, enquanto que permanece insatisfeito o desejo dos filhos
dos Profetas (vv. 17b-18).
No
centro encontramos os versículos 7-15 (B). Também esta parte é construída de
forma concêntrica:
A
- Os filhos dos profetas acompanham a cena de longe (v.7).
B
- Elias divide as aguas do Jordão com o seu manto e o atravessa a pé enxuto com
Eliseu (v.8).
C
- Eliseu pede a Elias dois terços do seu espírito e Elias responde que o obterá
se o vir ser arrebatado (vv.9-10).
D
- Elias é arrebatado ao céu (v.11).
C'
- Eliseu o vê no momento e depois não o vê mais (v.12).
B'
- Com o manto de Elias, Eliseu divide as águas do Jordão e o atravessa a pé
enxuto (vv. 13,14).
A'
- Os filhos dos profetas presenciam isto de longe (v.15).
2. Interpretação
Antes
de interpretar a estrutura que apresentamos é conveniente levar em conta a
tipologia mosaica que encontramos neste texto. Elias divide as águas do Jordão
com o seu manto enrolado tal como Moisés havia dividido as águas do Mar dos
Juncos com o seu bastão (Ex. 14,16-21). Vai concluir depois a sua vida em outra
parte do Jordão, onde morreu Moisés também (Deut 34,1-5). Antes de morrer,
Moisés transmitiu os seus poderes a Josué (Deut 31,7-8) que demonstrou ser
verdadeiro sucessor de Moisés, realizando também o mesmo milagre de Moisés
dividindo as águas do Jordão (Jos 3,7-19) e sendo assim reconhecido pelos
israelitas. Nesta nossa história os poderes proféticos de Elias passam a Eliseu
que repete o milagre de seu mestre e, é imediatamente reconhecido pelos filhos
dos profetas como verdadeiro sucessor de Elias (vv. 14-15).
Voltemos
à estrutura do texto. Ao centro D temos o arrebatamento de Elias que é narrado
com as características de uma verdadeira teofania. O turbilhão, o carro de
fogo, os cavalos aparecem como elementos desta teofania em Is 66,15; Ez 1,3;
Hab 3,8; Zac 9,14; Sl. 18,11 e Sl 50,3. Em seguida o arrebatamento é
apresentado como um elemento glorioso e luminoso. A este mistério querem
participar tanto Eliseu (A vv.1-6) como os filhos dos profetas (A' vv.16-18).
Ao primeiro é concedido porque "vê» Elias arrebatado ao céu (v.12)
enquanto que o mesmo não foi concedido aos filhos dos Profetas que não
conseguiram entender o mistério (vv. 16-18). Esta distinção entre Elias e os
filhos dos Profetas não é casual.
A
morte é o momento do último testamento, quando a herança passa do pai para o
filho. Elias quer deixar também alguma coisa a Eliseu (v.9a). Entretanto o que
Eliseu pede a Elias não é simplesmente uma parte da herança mas as duas terças
partes ou seja, a herança que cabe ao primogênito (v.9b; ver Deut 21,17). Além
da metáfora, Eliseu está a pedir a Elias que o reconheça como seu filho
primogênito ou seja como seu sucessor a frente de seus outros discípulos, os
filhos dos Profetas. Entretanto, o dom da Profecia não é algo que o próprio
Elias possa transmitir; somente Deus pode concedê-lo. Em vista disto, Elias
responde: "Pedes uma coisa difícil, entretanto se me vires quando eu for
arrebatado de ti, isto te será concedido" (v.10). Significa tal resposta
que somente aquele que é iniciado no mistério torna-se profeta.
Elias
é arrebatado e Eliseu o "vê", isto é, participa plenamente deste
passamento glorioso. É um fenômeno transcendente e rápido. Por isto se diz que
o "vê" e depois não o viu mais (v.12). Eliseu grita e rasga as suas
vestes, forma característica de chorar um morto. Entretanto, ao mesmo tempo o
seu grito é também uma confissão: reconhece Elias como aquele que guiou
realmente Israel (carro e cavalaria de Israel) mais que o rei. Depois de haver
rasgado as próprias vestes toma o manto de Elias. Isto pode ser intendido como
gesto de despojamento dos próprios interesses para assumir os de Elias. Em
termos nossos, Eliseu deixa a sua identidade pessoal para assumir a identidade
de Elias. O seu desejo é plenamente atendido. Vê Elias, é investido da sua
autoridade profética e pode então realizar os gestos de Elias (v.14),
tornando-se reconhecido como seu verdadeiro sucessor: "Verdadeiramente o
espírito de Elias está sobre Eliseu" (v.15).
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quarta-feira, 13 de abril de 2016
CNBB divulga mensagem para as eleições 2016
Mensagem foi
aprovada pela Assembleia Geral da Conferência
A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, na tarde desta quarta-feira, 13,
a mensagem para as eleições municipais deste ano. O texto foi aprovado durante
a 54ª Assembleia Geral da entidade, que ocorre em Aparecida (SP). Os bispos
dirigem ao povo brasileiro "uma mensagem de esperança, ânimo e
coragem".
A mensagem
aborda o momento atual, ressalta o papel dos leigos como sujeitos na política e
apresenta os critérios que podem ajudar o brasileiros a escolher seus
prefeitos e vereadores neste ano.
Leia o texto
na íntegra:
MENSAGEM DA CNBB PARA AS
ELEIÇÕES 2016
“Quero
ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”
(Amós 5,24)
Neste ano de
eleições municipais, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB dirige
ao povo brasileiro uma mensagem de esperança, ânimo e coragem. Os cristãos
católicos, de maneira especial, são chamados a dar a razão de sua esperança
(cf. 1Pd 3,15) nesse tempo de profunda crise pela qual passa o Brasil.
Sonhamos e
nos comprometemos com um país próspero, democrático, sem corrupção, socialmente
igualitário, economicamente justo, ecologicamente sustentável, sem violência
discriminação e mentiras; e com oportunidades iguais para todos. Só com
participação cidadã de todos os brasileiros e brasileiras é possível a
realização desse sonho. Esta participação democrática começa no município onde
cada pessoa mora e constrói sua rede de relações. Se quisermos transformar o
Brasil, comecemos por transformar os municípios. As eleições são um dos
caminhos para atingirmos essa meta.
A política,
do ponto de vista ético, “é o conjunto de ações pelas quais os homens buscam
uma forma de convivência entre indivíduos, grupos, nações que ofereçam
condições para a realização do bem comum”. Já do ponto de vista da organização,
a política é o exercício do poder e o esforço por conquistá-lo1, a
fim de que seja exercido na perspectiva do serviço.
Os cristãos
leigos e leigas não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles
Laici, 42). A eles cabe, de maneira singular, a exigência do Evangelho de
construir o bem comum na perspectiva do Reino de Deus. Contribui para isso a
participação consciente no processo eleitoral, escolhendo e votando em
candidatos honestos e competentes. Associando fé e vida, a cidadania não se
esgota no direito-dever de votar, mas se dá também no acompanhamento do mandato
dos eleitos.
As eleições
municipais têm uma atração e uma força próprias pela proximidade dos candidatos
com os eleitores. Se, por um lado, isso desperta mais interesse e facilita as
relações, por outro, pode levar a práticas condenáveis como a compra e venda de
votos, a divisão de famílias e da comunidade. Na política, é fundamental
respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou
animosidades que desemboquem em violência de qualquer ordem.
Para escolher
e votar bem é imprescindível conhecer, além dos programas dos partidos, os
candidatos e sua proposta de trabalho, sabendo distinguir claramente as funções
para as quais se candidatam. Dos prefeitos, no poder executivo, espera-se
“conduta ética nas ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os
demais agentes políticos e com os poderes econômicos”2. Dos
legisladores, os vereadores, requer-se “uma ação correta de fiscalização e
legislação que não passe por uma simples presença na bancada de sustentação ou
de oposição ao executivo”3.
É fundamental
considerar o passado do candidato, sua conduta moral e ética e, se já exerce
algum cargo político, conhecer sua atuação na apresentação e votação de
matérias e leis a favor do bem comum. A Lei da Ficha Limpa há de ser, neste
caso, o instrumento iluminador do eleitor para barrar candidatos de ficha
suja.
Uma boa
maneira de conhecer os candidatos e suas propostas é promover debates com os
concorrentes. Em muitos casos cabe propor lhes a assinatura de cartas-compromisso
em relação a alguma causa relevante para a comunidade como, por exemplo, a
defesa do direito de crianças e adolescentes. Pode ser inovador e eficaz
elaborar projetos de lei, com a ajuda de assessores, e solicitar a adesão de
candidatos no sentido de aprovar os projetos de lei tanto para o executivo
quanto para o legislativo.
É preciso
estar atento aos custos das campanhas. O gasto exorbitante, além de afrontar os
mais pobres, contradiz o compromisso com a sobriedade e a simplicidade que
deveria ser assumido por candidatos e partidos. Cabe aos eleitores observar as
fontes de arrecadação dos candidatos, bem como sua prestação de contas. A lei
que proíbe o financiamento de campanha por empresas, aplicada pela primeira vez
nessas eleições, é um dos passos que permitem devolver ao povo o protagonismo
eleitoral, submetido antes ao poder econômico. Além disso, estanca uma das
veias mais eficazes de corrupção, como atestam os escândalos noticiados pela
imprensa. Da mesma forma, é preciso combater sistematicamente a vergonhosa
prática de “Caixa 2”, tão comum nas campanhas eleitorais.
A compra e
venda de votos e o uso da máquina administrativa nas campanhas constituem crime
eleitoral que atenta contra a honra do eleitor e contra a cidadania. Exortamos
os eleitores a fiscalizarem os candidatos e, constatando esse ato de corrupção,
a denunciarem os envolvidos ao Ministério Público e à Justiça Eleitoral,
conforme prevê a Lei 9840, uma conquista da mobilização popular há quase duas
décadas.
A Igreja
Católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e
leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se lançarem
candidatos. No discernimento dos melhores candidatos, tenha-se em conta seu
compromisso com a vida, com a justiça, com a ética, com a transparência, com o
fim da corrupção, além de seu testemunho na comunidade de fé. Promova-se a
renovação de candidaturas, pondo fim ao carreirismo político. Por isso,
exortamos as comunidades a aprofundarem seu conhecimento sobre a vida política
de seu município e do país, fazendo sempre a opção por aqueles que se proponham
a governar a partir dos pobres, não se rendendo à lógica da economia de mercado
cujo centro é o lucro e não a pessoa.
Após as
eleições, é importante a comunidade se organizar para acompanhar os mandatos
dos eleitos. Os cristãos leigos e leigas, inspirados na fé que vem do
Evangelho, devem se preparar para assumir, de acordo com sua vocação,
competência e capacitação, serviços nos Conselhos de participação popular, como
o da Educação, Saúde, Criança e Adolescente, Juventude, Assistência Social etc.
Devem, igualmente, acompanhar as reuniões das Câmaras Municipais onde se votam
projetos e leis para o município. Estejam atentos à elaboração e implementação
de políticas públicas que atendam especialmente às populações mais vulneráveis
como crianças, jovens, idosos, migrantes, indígenas, quilombolas e os
pobres.
Confiamos que
nossas comunidades saberão se organizar para tornar as eleições municipais
ocasião de fortalecimento da democracia que deve ser cada vez mais
participativa. Nosso horizonte seja sempre a construção do bem comum.
Que Nossa
Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira dos brasileiros, nos acompanhe e auxilie no
exercício de nossa cidadania a favor do Brasil e de nossos municípios, onde
começa a democracia.
Aparecida -
SP, 13 de abril de 2016
Dom Sergio
da Rocha
Arcebispo
de Brasília
Presidente da CNBB
|
Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente
da CNBB
|
Dom
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral
da CNBB
|
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domingo, 10 de abril de 2016
3º DOMINGO DA PÁSCOA: Homilia do Frei Petrônio.
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Síntese da Exortação "A alegria do amor".
“Amoris
laetitia”, publicada nesta sexta-feira, 8, recolhe os resultados de dois
Sínodos sobre a família convocados pelo Papa Francisco em 2014 e 2015
“Amoris laetitia” (AL - “A alegria do amor”), a
Exortação apostólica pós-sinodal “sobre o amor na família”, publicada nesta sexta-feira, 8, recolhe os resultados de dois
Sínodos sobre a família convocados pelo Papa Francisco em 2014 e 2015, cujas
Relações conclusivas são abundantemente citadas, juntamente com documentos e
ensinamentos dos seus Predecessores e as numerosas catequeses sobre a família
do próprio Papa Francisco. Contudo, como já sucedeu noutros documentos
magisteriais, o Papa recorre também a contributos de diversas Conferências
episcopais de todo o mundo (Quênia, Austrália, Argentina...) e a citações de
personalidades de relevo, como Martin Luther King ou Erich Fromm. Ressalta em
particular uma citação do filme “A Festa de Babette”, que o Papa recorda para
explicar o conceito de gratuitidade.
A Exortação apostólica chama a atenção pela sua
amplitude e articulação. Está dividida em nove capítulos e mais de 300
parágrafos. Tem início com sete parágrafos introdutórios que evidenciam a plena
consciência da complexidade do tema, que requer ser aprofundado. Afirma-se que
as intervenções dos Padres no Sínodo constituíram um «precioso poliedro» (AL 4)
que deve ser preservado. Neste sentido, o Papa escreve que «nem todas as
discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções
magisteriais». Por conseguinte, para algumas questões «em cada país ou região,
é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos
desafios locais. De facto,“as culturas são muito diferentes entre si e cada
princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser
inculturado”» (AL 3). Este princípio de inculturação revela-se como muito
importante até no modo de articular e compreender os problemas, modo esse que,
sem entrar nas questões dogmáticas bem definidas pelo Magistério da Igreja, não
pode ser «globalizado».
Mas sobretudo o Papa afirma de imediato e com
clareza que é necessário sair da estéril contraposição entre a ânsia de mudança
e a aplicação pura e simples de normas abstratas. Escreve: «Os debates, que têm
lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da
Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente
reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da
aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas
reflexões teológicas» (AL 2).
Capítulo primeiro:
“À luz da Palavra”
Enunciadas estas premissas, o Papa articula a sua
reflexão a partir das Sagradas Escrituras no primeiro capítulo, que se
desenvolve como uma meditação acerca do Salmo 128, característico da liturgia
nupcial hebraica, assim como da cristã. A Bíblia «aparece cheia de famílias,
gerações, histórias de amor e de crises familiares» (AL 8) e a partir deste
dado pode meditar-se como a família não é um ideal abstrato, mas uma «tarefa
“artesanal”» (AL 16) que se exprime com ternura (AL 28), mas que se viu
confrontada desde o início também pelo pecado, quando a relação de amor se
transformou em domínio (cf. AL 19). Então, a Palavra de Deus «não se apresenta
como uma sequência de teses abstratas, mas como uma companheira de viagem,
mesmo para as famílias que estão em crise ou imersas nalguma tribulação,
mostrando-lhes a meta do caminho» (AL 22).
Capítulo segundo:
“A realidade e os desafios das famílias”
Partindo do terreno bíblico, o Papa considera no
segundo capítulo a situação atual das famílias, mantendo «os pés assentes na
terra» (AL 6), bebendo com abundância das Relações conclusivas dos dois Sínodo
se enfrentando numerosos desafios, desde o fenômeno migratório à negação
ideológica da diferença de sexo («ideologia de gênero»); da cultura do
provisório à mentalidade anti-natalidade e ao impacto das biotecnologias no
campo da procriação; da falta de habitação e de trabalho à pornografia e ao
abuso de menores; da atenção às pessoas com deficiência ao respeito pelos
idosos; da desconstrução jurídica da família à violência para com as mulheres.
O Papa insiste no carácter concreto, que é um elemento fundamental da
Exortação. E é este carácter concreto e realista que estabelece uma diferença
substancial entre «teorias» de interpretação da realidade e «ideologias».
Citando a Familiaris consortio, Francisco afirma
que «é salutar prestar atenção à realidade concreta, porque “os pedidos e os
apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história” através dos
quais “a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profundado
inexaurível mistério do matrimônio e da família”» (AL 31). Sem escutar a
realidade não é possível compreender nem as exigências do presente nem os
apelos do Espírito. O Papa nota que o individualismo exacerbado torna hoje
difícil a doação a uma outra pessoa de uma maneira generosa (cf. AL 33). Eis um
interessante retrato da situação: «Teme-se a solidão, deseja-se um espaço de
proteção e fidelidade mas, ao mesmo tempo, cresce o medo de ficar encurralado
numa relação que possa adiar a satisfação das aspirações pessoais» (AL 34).
A humildade do realismo ajuda a não apresentar «um
ideal teológico do matrimônio demasiado abstrato, construído quase
artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas
das famílias tais como são» (AL 36). O idealismo não permite considerar o
matrimônio assim como é, ou seja, «um caminho dinâmico de crescimento e
realização». Por isso, também não se pode julgar que se possa apoiar as
famílias «com a simples insistência em questões doutrinais, bioéticas e morais,
sem motivar a abertura à graça» (AL 37). Convidando a uma certa “autocrítica”
de uma apresentação não adequada da realidade matrimonial e familiar, o Papa
insiste na necessidade de dar espaço à formação da consciência dos fiéis:
«Somos chamados aformar as consciências, não a pretender substituí-las» (AL37).
Jesus propunha um ideal exigente, mas «não perdia jamais a proximidade
compassiva às pessoas frágeis como a samaritana ou a mulher adúltera» (AL 38).
Capítulo terceiro:
“O olhar fixo em Jesus: a vocação da família”
O terceiro capítulo é dedicado a alguns elementos
essenciais do ensinamento da Igreja acerca do matrimônio e da família. É
importante a presença deste capítulo, porque ilustra de uma maneira sintética
em 30 parágrafos a vocação à família de acordo com o Evangelho, assim como ela
foi recebida pela Igreja ao longo do tempo, sobretudo quanto ao tema da
indissolubilidade, da sacramentalidade do matrimônio, da transmissão da vida e
da educação dos filhos. Fazem-se inúmeras citações da Gaudium et spes do
Vaticano II, da Humanae vitae de Paulo VI, da Familiaris consortio de João
Paulo II.
O olhar é amplo e inclui também as «situações
imperfeitas». Com efeito, lemos: «“O discernimento da presença das semina Verbi
nas outras culturas (cf. Ad gentes, 11) pode-se aplicar também à realidade
matrimonial e familiar. Para além do verdadeiro matrimônio natural, há
elementos positivos também nas formas matrimoniais doutras tradições
religiosas”, embora não faltem também as sombras» (AL 77). A reflexão inclui
ainda as «famílias feridas», a propósito das quais o Papa afirma - citando a
Relatio finalis do Sínodo de 2015 —«é preciso lembrar sempre um princípio
geral: “Saibam os pastores que, por amor à verdade, estão obrigados a discernir
bem as situações” (Familiaris consortio, 84). O grau de responsabilidade não é
igual em todos os casos, e podem existir fatores que limitem a capacidade de
decisão. Por isso, ao mesmo tempo que se exprime com clareza adoutrina, há que
evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações,e
é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua
condição» (AL 79).
Capítulo quarto:
“O amor no matrimônio”
O quarto capítulo trata do amor no matrimônio e
ilustra-o a partir do “hino ao amor” de São Paulo de 1 Cor 13, 4-7. O capítulo
é uma verdadeira e autêntica exegese cuidadosa, precisa, inspirada e poética do
texto paulino. Poderemos dizer que se trata de uma coleção de fragmentos de um
discurso amoroso que cuida de descrever o amor humano em termos absolutamente
concretos. Surpreende-nos a capacidade de introspeção psicológica evidenciada
por esta exegese. O aprofundamento psicológico chega ao mundo das emoções dos
cônjuges - positivas e negativas - e à dimensão erótica do amor.Este é um
contributo extremamente rico e precioso para a vida cristã dos cônjuges, que
não tinha até agora paralelo em anteriores documentos papais.
À sua maneira, este capítulo constitui um pequeno
tratado no conjunto de um desenvolvimento mais amplo, plenamente consciente do
carácter quotidiano do amor que se opõe a todos os idealismos: «não se deve
atirar para cima de duas pessoas limitadas o peso tremendo de ter que
reproduzir perfeitamente a união que existe entre Cristo e a sua Igreja, porque
o matrimônio como sinal implica “um processo dinâmico, que avança gradualmente
com a progressiva integração dos dons de Deus”» (AL 122). Mas, por outro lado,
o Papa insiste de modo enérgico e firme no facto de que «na própria natureza do
amor conjugal, existe a abertura ao definitivo» (AL 123) precisamente no íntimo
daquela «combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de
sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e
prazeres» (Al 126) que é de facto o matrimônio.
O capítulo conclui-se com uma reflexão muito
importante acerca da «transformação do amor» uma vez que «o alongamento da vida
provocou algo que não era comum noutros tempos: a relação íntima e a mútua
pertença devem ser mantidas durante quatro, cinco ou seis décadas, e isto gera
a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha» (AL 163). A
aparência física transforma-se e a atração amorosa não desaparece, mas muda:
com o tempo, o desejo sexual pode transformar-se em desejo de intimidade e
«cumplicidade». «Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos
durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável,
comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver
sempre uma rica intimidade» (AL 163).
Capítulo quinto:
“O amor que se torna fecundo”
O quinto capítulo centra-se por completo na
fecundidade e no carácter gerador do amor. Fala-se de uma maneira
espiritualmente e psicologicamente profunda do acolher uma nova vida, da espera
própria da gravidez, do amor de mãe e de pai. Mas também da fecundidade
alargada, da adoção, do acolhimento do contributo das famílias para a promoção
de uma “cultura do encontro”, da vida na família em sentido amplo, com a
presença de tios, primos, parentes dos parentes, amigos. A Amoris laetitia não
toma em consideração a família «mononuclear», mas está bem consciente da
família como rede de relações alargadas. A própria mística do sacramento do
matrimônio tem um profundo carácter social (cf. AL 186). E no âmbito desta
dimensão social, o Papa sublinha em particular tanto o papel específico da
relação entre jovens e idosos, como a relação entre irmãos como aprendizagem de
crescimento na relação com os outros.
Capítulo sexto:
“Algumas perspetivas pastorais”
No sexto capítulo, o Papa aborda algumas vias
pastorais que orientam para a edificação de famílias sólidas e fecundas de
acordo com o plano de Deus. Nesta parte, a Exortação recorre às Relações
conclusivas dos dois Sínodos e às catequeses do Papa Francisco e de João Paulo
II. Volta-se a sublinhar que as famílias são sujeito e não apenas objeto de
evangelização. O Papa observa que «os ministros ordenados carecem,
habitualmente, de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais
das famílias» (AL 202). Se, por um lado, é necessário melhorar a formação
psicoafetiva dos seminaristas e envolver mais a família na formação para o
ministério (cf. AL 203), por outro «pode ser útil também a experiência da longa
tradição oriental dos sacerdotes casados» (AL 202).
Em seguida, o Papa desenvolve o tema da orientação
dos noivos no caminho de preparação para o matrimônio, do acompanhamento dos
esposos nos primeiros anos da vida matrimonial (incluindo o tema da paternidade
responsável), mas também em algumas situações complexas e, em particular, nas
crises, sabendo que «cada crise esconde uma boa notícia, que é preciso saber
escutar, afinando os ouvidos do coração» (AL 232). São analisadas algumas
causas de crise, entre elas uma maturação afetiva retardada (cf. AL 239).
Além disso, fala-se também do acompanhamento das
pessoas abandonadas, separadas ou divorciadas e sublinha-se a importância da
recente reforma dos procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade
matrimonial. Coloca-se em relevo o sofrimento dos filhos nas situações de
conflito e conclui-se: «O divórcio é um mal, e é muito preocupante o aumento do
número de divórcios. Por isso, sem dúvida, a nossa tarefa pastoral mais
importante relativamente às famílias é reforçar o amor e ajudar a curar as
feridas, para podermos impedir o avanço deste drama do nosso tempo» (AL 246).
Referem-se de seguida as situações dos matrimônios mistos e daqueles com
disparidade de culto, e a situação das famílias que têm dentro de si pessoas
com tendência homossexual, insistindo no respeito para com elas e na recusa de
qualquer discriminação injusta e de todas das formas de agressão e violência. A
parte final do capítulo, «quando a morte crava o seu aguilhão», é de grande
valor pastoral, tocando o tema da perda das pessoas queridas e da viuvez.
Capítulo sétimo:
“Reforçar a educação dos filhos”
O sétimo capítulo é totalmente dedicado à educação
dos filhos: a sua formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo
paciente, a educação sexual, a transmissão da fé e, mais em geral, a vida familiar
como contexto educativo. É interessante a sabedoria prática que transparece em
cada parágrafo e sobretudo a atenção à gradualidade e aos pequenos passos que
«possam ser compreendidos, aceites e apreciados» (AL 271).
Há um parágrafo particularmente significativo e de
um valor pedagógico fundamental em que Francisco afirma com clareza que «a
obsessão (...) não é educativa; e também não é possível ter o controle de todas
as situações onde um filho poderá chegar a encontrar-se (...). Se um progenitor
está obcecado com saber onde está o seu filho e controlar todos os seus
movimentos, procurará apenas dominar o seu espaço. Mas, desta forma, não o
educará, não o reforçará, não o preparará para enfrentar os desafios. O que
interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de
amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de
cultivo da autêntica autonomia» (AL 261).
A secção dedicada à educação sexual é notável, e
intitula-se muito expressivamente: «Sim à educação sexual». Sustenta-se a sua
necessidade e formula-se a interrogação de saber «se as nossas instituições
educativas assumiram este desafio (…) num tempo em que se tende a banalizar e
empobrecer a sexualidade». A educação sexual deve ser realizada«no contexto duma
educação para o amor, para a doação mútua» (AL 280). É feita uma advertência em
relação à expressão «sexo seguro», pois transmite«uma atitude negativa a
respeito da finalidade procriadora natural da sexualidade, como se um possível
filho fosse um inimigo de que é preciso proteger-se. Deste modo promove-se a
agressividade narcisista, em vez do acolhimento» (AL 283).
Capítulo oitavo: “Acompanhar, discernir e integrar
a fragilidade”
O capítulo oitavo
representa um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral diante de
situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor propõe.
O Papa usa aqui três verbos muito importantes:
«acompanhar, discernir e integrar», os quais são fundamentais para responder a
situações de fragilidade, complexas ou irregulares. Em seguida, apresenta a
necessária gradualidade na pastoral, a importância do discernimento, as normas
e circunstâncias atenuantes no discernimento pastoral e, por fim, aquela que é
por ele definida como a «lógica da misericórdia pastoral».
O oitavo capítulo é muito delicado. Na sua leitura
deve recordar-se que «muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um
hospital de campanha» (AL 291). O Pontífice assume aqui aquilo que foi fruto da
reflexão do Sínodo acerca de temáticas controversas. Reforça-se o que é o
matrimônio cristão e acrescenta-se que «algumas formas de união contradizem
radicalmente este ideal, enquanto outras o realizam pelo menos de forma parcial
e analógica». Por conseguinte, «a Igreja não deixa de valorizar os elementos construtivos
nas situações que ainda não correspondem ou já não correspondem à sua doutrina
sobre o matrimônio» (AL 292).
No que respeita ao «discernimento» acerca das
situações «irregulares», o Papa observa: «temos de evitar juízos que não tenham
em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao
modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição» (AL 296). E
continua: «Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a
sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta
objeto duma misericórdia “imerecida, incondicional e gratuita”»(AL 297). E
ainda: «Os divorciados que vivem numa nova união, por exemplo, podem
encontrar-se em situações muito diferentes, que não devem ser catalogadas ou
encerradas em afirmações demasiado rígidas, sem deixar espaço para um adequado
discernimento pessoal e pastoral» (AL 298).
Nesta linha, acolhendo as observações de muitos
Padres sinodais , o Papa afirma que «os batizados que se divorciaram e voltaram
a casar civilmente devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as
diferentes formas possíveis, evitando toda a ocasião de escândalo». «A sua
participação pode exprimir-se em diferentes serviços eclesiais (…).Não devem
sentir-se excomungados, mas podem viver e maturar como membros vivos da Igreja
(…). Esta integração é necessária também para o cuidado e a educação cristã dos
seus filhos» (AL 299).
Mais em geral, o Papa profere uma afirmação
extremamente importante para que se compreenda a orientação e o sentido da
Exortação: «Se se tiver em conta a variedade inumerável de situações concretas
(…) é compreensível que se não devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma
nova normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos. É possível
apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral
dos casos particulares, que deveria reconhecer: uma vez que “o grau de
responsabilidade não é igual em todos os casos”, as consequências ou efeitos
duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos» (AL 300). O Papa
desenvolve em profundidade as exigências e características do caminho de
acompanhamento e discernimento em diálogo profundo entre fiéis e pastores. A
este propósito, faz apelo à reflexão da Igreja «sobre os condicionamentos e as
circunstâncias atenuantes» no que respeita à imputabilidade das ações e,
apoiando-se em S. Tomás de Aquino, detém-se na relação entre «as normas e o
discernimento», afirmando: «É verdade que as normas gerais apresentam um bem
que nunca se deve ignorar nem transcurar, mas, na sua formulação, não podem
abarcar absolutamente todas as situações particulares. Ao mesmo tempo é preciso
afirmar que, precisamente por esta razão, aquilo que faz parte dum
discernimento prático duma situação particular não pode ser elevado à categoria
de norma» (AL 304).
Na última secção do capítulo, «A lógica da
misericórdia pastoral», o Papa Francisco, para evitar equívocos, reafirma com
vigor: «A compreensão pelas situações excecionais não implica jamais esconder a
luz do ideal mais pleno, nem propor menos de quanto Jesus oferece ao ser
humano. Hoje, mais importante do que uma pastoral dos falimentos é o esforço
pastoral para consolidar os matrimônio se assim evitar as ruturas» (AL 307).
Mas o sentido abrangente do capítulo e do espírito que o Papa Francisco
pretende imprimir à pastoral da Igreja encontra um resumo adequado nas palavras
finais: «Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximar-se com
confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem entregues ao
Senhor. Nem sempre encontrarão neles uma confirmação das próprias ideias ou
desejos, mas seguramente receberão uma luz que lhes permita compreender melhor
o que está a acontecer e poderão descobrir um caminho de amadurecimento pessoal.
E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero
de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista,
para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja» (AL 312).
Acerca da «lógica da misericórdia pastoral», o Papa Francisco afirma com força:
«Às vezes custa-nos muito dar lugar, na pastoral, ao amor incondicional de
Deus. Pomos tantas condições à misericórdia que a esvaziamos de sentido
concreto e real significado, e esta é a pior maneira de aguar o Evangelho» (AL
311).
Capítulo nono:
“Espiritualidade conjugal e familiar”
O nono capítulo é dedicado à espiritualidade
conjugal e familiar, «feita de milhares de gestos reais e concretos» (AL 315).
Diz-se com clareza que «aqueles que têm desejos espirituais profundos não devem
sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito, mas é um
percurso de que o Senhor Se serve para os levar às alturas da união mística»
(AL 316). Tudo, «os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a
sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição»
(AL 317). Fala-se de seguida da oração à luz da Páscoa, da espiritualidade do
amor exclusivo e livre diante do desafio e do desejo de envelhecer e gastar-se
juntos, refletindo a fidelidade de Deus (cf. AL 319). E, por fim, a
espiritualidade «da solicitude, da consolação e do estímulo». «Toda a vida da
família é um “pastoreio” misericordioso. Cada um, cuidadosamente, desenha e
escreve na vida do outro» (AL 322), escreve o Papa. «É uma experiência
espiritual profunda contemplar cada ente querido com os olhos de Deus e
reconhecer Cristo nele» (AL 323).
No parágrafo conclusivo,o Papa afirma: «Nenhuma
família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas
requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. (…). Todos
somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos
nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos,
famílias; continuemos a caminhar! (…). Não percamos a esperança por causa dos
nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e
comunhão que nos foi prometida» (AL 325).
A Exortação apostólica conclui-se com uma Oração à
Sagrada Família (AL 325).
* * *
Como já se pode depreender a partir de um rápido
exame dos seus conteúdos, a Exortação apostólica Amoris laetitia pretende
reafirmar com força não o «ideal» da família, mas a sua realidade rica e
complexa. Há nas suas páginas um olhar aberto, profundamente positivo, que se
nutre não de abstrações ou projeções ideais, mas de uma atenção pastoral à
realidade. O documento é uma leitura densa de motivos espirituais e de
sabedoria prática útil a cada casal ou a pessoas que desejam construir uma
família. Nota-se sobretudo que foi fruto de uma experiência concreta com
pessoas que sabem a partir da experiência o que é a família e o viver juntos
durante muitos anos. A Exortação fala de fato a linguagem da experiência e da
esperança.
Fonte: Redação com
Rádio Vaticano
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O RESSUSCITADO NO BAR: Frei Petrônio
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ELE CAMINHA AO NOSSO LADO?: Frei Petrônio
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