Paulo Reims
A s manifestações tiveram início em São Paulo, a
princípio contra o aumento das tarifas de transportes públicos. Mas, já se
estendem por todo o país, com apoio no exterior, tendo várias reivindicações.
Realmente,
as novas gerações que participaram e ou assistiram, no dia 13 de junho PP, toda
a violência contra os manifestantes puderam ter uma ideia das repressões,
torturas e mortes ocorridas durante os 21 anos de ditadura militar neste país,
e uma multidão ficou atônita ao reviver a mesma realidade por algumas horas.
No início da semana passada, dia 17 de junho, escrevi
sobre o assunto, e o partilhei no dia seguinte. Até este momento estava alegre
com as manifestações nas ruas, apesar da preocupação com a violência, até então
por iniciativa dos policiais, a mando do governo do Estado de São Paulo. Aliás,
este foi o motivo principal a aumentar o número de manifestantes. Os dias foram
se sucedendo, e minha alegria foi tomada por um misto de tristeza. Por quê?
Procurei acompanhar as manifestações bem de perto.
Estava contente porque o povo estava despertando, e triste porque percebi que a
maioria, sem se dar muita conta, após longos anos, acordou com cataratas, que
deixam a visão muito embaçada. Como assim? Vamos recordar. No início, a
reivindicação era a revogação do aumento das tarifas do transporte coletivo. A
iniciativa foi do Movimento Passe Livre (MPL). A seguir, as manifestações foram
tomando proporções maiores em número de pessoas, cidades, dentro e fora do país,
e com uma pauta de reivindicações que aumentava dia após dia.
Dizia para mim mesmo: o MPL não está conseguindo
coordenar as manifestações, e concluí que havia infiltrações de todo tipo,
pessoas violentas, bandidos, saqueadores, depredadores. Mas, como ventilei no
artigo da semana passada, havia infiltração truculenta e mascarada da direita
burguesa, detentora do poder econômico, político que, por sua vez, é senhora,
também, do Partido da Imprensa Golpista (PIG). Desta forma começou a conduzir o
processo –dando a pauta das manifestações e provavelmente infiltrando alguns
depredadores– o que poderia levar a um golpe, como aconteceu com as
manifestações nas ruas em 1964. A direita quer o progresso, mas somente para os
seus pares. Foi assim, inculcando terror na massa, que conseguiu fazer morrer
na casca as reformas sociais incipientes do governo de João Goulart, e aumentar
seus patrimônios.
Como faz falta a filosofia na escola, em todos os
níveis e cursos! Creio que é a principal causa das cataratas nos olhos da
massa, pois assim é manobrada com facilidade. Mas, então, você quer dizer que
as manifestações não foram oportunas? Não é isso. Elas exerceram um papel
importante ao fazer as "autoridades” despertarem, em todos os sentidos,
também o da iminência de um golpe. Sacudiram as folhas secas para caírem e se
transformarem em adubo, energia para uma retomada mais vigorosa do processo de
transformação social, que tenha como escopo o bem comum, e não o acúmulo para
aqueles que já têm demais.
Quando digo que o Brasil acordou com cataratas nos
olhos, o faço pela parcialidade das manifestações. Como assim? Por acaso alguém
viu um cartaz, faixa ou palavra de ordem contra o Judiciário, eivado de
irregularidades, algumas clamorosas, como por exemplo: a venda de sentenças,
viagens internacionais da esposas dos ministros do STF com dinheiro público,
parcialidade nos julgamentos dos mensalões - até agora o processo contra o
mensalão do PSDB está engavetado, sendo que é anterior ao do PT - , toda a
privataria tucana, especialmente a da Vale do Rio Doce, e por aí...? Alguém viu
uma palavra contra o Congresso Nacional, o mais bem pago do mundo, depois dos
USA, e que continua agregando mordomias, com uma população tão pobre, uma das
nações com a maior desigualdade social do mundo, apesar dos avanços dos últimos
dez anos, não podemos negar? Nem os parlamentares da oposição se manifestam
contra estas regalias e privilégios; com seus "bolsos” abarrotados eles
silenciam, mesmo a custa do suor e do sangue dos verdadeiros trabalhadores que
fazem o progresso deste país. Fora a manifestação contra as PECs 33 e 37, nada
mais. Aliás, a PEC 37, quase por unanimidade, acabou de ser derrubada.
Ontem, dia 24 de junho, um senador do DEM foi contra a
Presidente Dilma que, entre outras propostas concretas, anunciou a convocação
de um plebiscito para uma constituinte exclusiva para fazer a reforma política,
desde que o Congresso Nacional a aprove. Ele se pavoneou em dono da verdade,
dizendo que isto é prerrogativa do Congresso Nacional. Igualmente, hoje, dia 25
de junho, Aécio Neves não perdeu tempo em também aparecer dizendo que as
propostas da Presidente Dilma são uma afronta às reivindicações do povo nas
ruas. Feliz mesmo foi o Presidente da OAB que falou da necessidade de se ouvir
o povo, mas não criar uma constituinte, pois iria atrasar ainda mais o processo
da reforma política. Admirável assessoria esta. E é isto que vai prevalecer.
Mas as saídas da oposição refletem que, na verdade, a
voz do povo é um detalhe. Por que a Presidenta não pode propor uma constituinte
através da escuta do povo? Qualquer cidadão pode fazer propostas que sejam do
interesse da coletividade, e os parlamentares, se representam o povo, devem
acolhê-las. A impressão que os membros da oposição passam, com suas reações, é a
de que o povo é somente um detalhe que interessa na hora de lhes dar o voto.
Quero enaltecer o gesto da Presidenta Dilma por tal
proposta, pois creio que a partir da reforma política, bem conduzida, muitas
outras reformas de base poderão se suceder, se a direita fascista e a imprensa
burguesa, assessorados pela CIA e outros mais, não derem o golpe. O MPL já
percebeu esta intenção, tanto que avisou publicamente que saía das
manifestações, uma vez que conseguiu o objetivo da sua luta: revogação do
aumento das passagens do transporte coletivo.
E aqui uma vez mais se percebe que o Brasil acordou
com cataratas nos olhos: onde estava a faixa solicitando do Congresso Nacional
a regulamentação do artigo 14 da Constituição, para que tenhamos uma Democracia
Participativa, ou seja, para que o povo seja sempre consultado a respeito dos
assuntos importantes para a vida desta nação? Não encontrei nenhum cartaz
contra a imprensa burguesa, e a favor da democratização e socialização da
imprensa.
Realmente, as manifestações perderam sua originalidade
na medida em que estão sendo parciais, permitindo, mesmo de forma incauta, a
manipulação do terror da direita que quer voltar a tomar o poder para
transformar nossos sonhos e ideais em pesadelos reais.
Também não encontrei uma faixa que
reivindicasse a reforma agrária, para diminuir a violência no campo e também a
miséria...
Voltemos nosso olhar para aquilo que a imprensa vive
chamando de primavera árabe. Com a desculpa de que queria ajudar estes povos a
ter liberdade, a transformaram em rigoroso inverno. Um exemplo, a título de
recordação: a Líbia tinha todos os seus jovens nas universidades. Hoje a Líbia
virou ruína e miséria. É o que o Tio Sam e seus aliados sabem fazer. Os
poderios econômico e bélico deles crescem e a miséria e o sofrimento dos países
invadidos e subjugados também crescem assustadoramente. Quem será a próxima
vítima?
Não estou afirmando que neste governo não existem
problemas. Eles estão aí, são sérios e precisam ser enfrentados com vigor. A
corrupção, infelizmente, é grande; desperdício de verbas também, a começar pela
construção de algumas arenas que, após o mundial,terão pouco proveito; o
orçamento para a transposição do Rio São Francisco já duplicou, e creio que não
chegará ao fim, e se chegar será para satisfazer os donos do agronegócio; tem
muita coisa errada sim. Porém, o atual senador Roberto Requião afirmou em uma
entrevista à revista "Caros Amigos”, em 2005 –auge das denúncias do
mensalão– "a gente não precisa nem de um roubômetro para avaliar; o FHC,
com a privataria tucana, roubou 10.000 vezes mais do que qualquer possibilidade
de desvio do governo Lula”. E que providências foram tomadas?
Concluo dizendo que precisamos cortar na própria
carne, ou seja, precisamos fazer cirurgia para retirada de cataratas, para
vermos melhor e agirmos de forma coerente e concreta.
Neste caso, proponho ao Congresso Nacional que tenha a
coragem da Assembleia Nacional do Equador, que no dia 14 de junho pp, aprovou a
sua Lei de Imprensa. Foram 108 votos a favor, 26 votos contra, certamente estes
são os donos da imprensa de lá, e uma abstenção, ou seja, não sabe porque está
lá. Realmente foi uma vitória popular. E aí, senhores senadores e deputados?
Estão com medo de quem? Vocês representam o povo, ou os grupos econômicos que
também são donos do PIG?
Precisamos urgentemente de uma Lei de Imprensa que
venha favorecer a imprensa alternativa, para combater as mentiras com caras de
verdades da imprensa burguesa e golpista.
Vamos lá, já, queremos enxergar melhor para sairmos às
ruas com propostas concretas e sem parcialidade, pelo bem comum. Juntemo-nos
aos movimentos sociais organizados, para não sermos manipulados pela direita
fascista.
Este é o medo dos "poderosos” que tentam nos
manter com cataratas, miopias, hipermetropia, astigmatismo...
E as manifestações nas ruas? (I)
Por Paulo Reims
Jovens estudantes e trabalhadores, usando, também, a ferramenta
das redes sociais, começam a despertar, sentindo o aperto no bolso.
O Movimento Passe Livre (MPL) já contagiou e agregou
milhares de milhares por este país. Sinceramente, esta movimentação de pessoas
despertando traz alegria e comprova que a esperança continua viva, apesar de
uma multidão continuar em silêncio, induzida pela grande mídia, que também
programa as mentes para o "delírio” durante as copas e carnavais, bem do
jeito que os donos do poder apreciam.
E, de repente, se ouvem os adestrados do PIG
anunciarem: "Manifestantes usam de violência e depredam patrimônios
públicos e particulares”. Fiquei atento, e dizia para mim mesmo: Aí tem coisa!
Certamente tem gente infiltrada para macular a imagem das manifestações e
manipular a consciência dos incautos.
Depois veio à tona, pelos meios de comunicação
alternativos, que havia policiais militares e civis, infiltrados à paisana,
para dar início aos atos de vandalismo, a mando do governo estadual,
justificando assim toda a violência do aparato militar, com bombas de efeito
moral, tiros com balas de borracha, spray de pimenta, enfim, com toda
truculência comparada à época da ditadura militar.
Pensei que fossem somente alguns da direita rançosa
que estivessem infiltrados no meio da nossa juventude - que corre atrás do novo
mundo possível - com o objetivo de distorcer os verdadeiros anseios juvenis,
mas o velho chuchu também tentou produzir rebentos, dando ordens aos seus
subordinados para que agissem com autoritarismo e violência.
Toda esta truculência deve ser usada contra bandidos,
mas quanto eu tenha conhecimento ali estava a juventude em busca dos seus
ideais de vida, de dignidade.
Os bandidos estão em outras esferas. É nas esferas
superiores que se encontram os baderneiros e vândalos do erário público.
Quantas obras faraônicas, com desperdício de quantias astronômicas para
satisfazer algumas pessoas e grupos inescrupulosos, em detrimento da quase
totalidade do povo que tem que viver a duras penas.
Interessante é perceber a capacidade de se camuflar de
alguns personagens que nos dias passados se apresentavam como ditadores. De
repente, pareciam pessoas amistosas; e sobraram convites para o diálogo e
negociações, vendo as manifestações tomarem grandes proporções.
Ficou muito feia a fotografia de várias autoridades
deste país. Mas as imagens dos manifestantes, com algumas exceções, continuam
repercutindo muito bem. É isso mesmo: "Sonho que se sonha junto é início
de uma nova realidade”.
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