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sábado, 21 de março de 2015

ORDEM TERCEIRA: Encontro Provincial-01.

Via Sacra: as meditações de Francisco

Algumas meditações sobre a Via Sacra, compostas por Jorge Mario Bergoglio antes e depois da sua eleição a bispo de Roma foram publicadas agora em um livro em italiano, intitulado La logica dell'amore (Ed. Rizzoli). Um trecho da obra foi publicada no jornal Corriere della Sera, 19-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Primeira Estação
Jesus é condenado à morte

A cruz de Jesus é a palavra com que Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes, parece-nos que Deus não responde ao mal, que permanece em silêncio.
Na realidade, Deus falou, respondeu, e a sua resposta é a cruz de Cristo: uma palavra que é amor, misericórdia, perdão. Também é juízo: Deus nos julga amando-nos. Lembremo-nos disto: Deus nos julga amando-nos. Se eu acolho o Seu amor, sou salvo; se o rejeito, sou condenado, não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele só ama e salva.
Queridos irmãos, a palavra da cruz também é a resposta dos cristãos ao mal que continua agindo em nós e ao nosso redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre si a cruz, como Jesus.

Quarta Estação
Jesus encontra a sua mãe

Não estamos sozinhos, somos muitos, somos um povo, e o olhar de Nossa Senhora nos ajuda a olharmos para nós de modo fraterno. Olhemo-nos de modo mais fraterno! Maria nos ensina a ter aquele olhar que busca acolher, acompanhar, proteger. Aprendamos a nos olhar uns aos outros sob o olhar materno de Maria!
Há pessoas que, instintivamente, consideramos menos e que, ao contrário, mais precisam: os mais abandonados, os doentes, aqueles que não têm do quê viver, as crianças de rua, aqueles que não conhecem Jesus, que não conhecem a ternura da Virgem.
Em Maria, "muitos encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e os cansaços da vida" (Evangelii gaudium, n. 286). Frase textual: "Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e os cansaços da vida".

Quinta Estação
Jesus é ajudado por Simão de Cirene a carregar a cruz

Somente quem se reconhece vulnerável é capaz de uma ação solidária. De fato, comover-se ("mover-se-com") e compadecer-se ("padecer-com") com quem jaz à beira da estrada são atitudes de quem sabe reconhecer no outro a própria imagem, mistura de terra e tesouro, e, por isso, não a rejeita.
Ao contrário: ama-a, aproxima-se dela e, sem querer, descobre que as feridas que cuida no irmão são bálsamo para as suas próprias. […]

Por isso, falamos da dignidade da pessoa, de cada pessoa, para além do fato de que a sua vida física seja apenas um frágil início ou esteja prestes a se apagar como uma vela. Quanto mais as suas condições de vida são frágeis e vulneráveis, mais a pessoa merece ser reconhecida como preciosa.
E deve ser ajudada, amada, defendida e promovida na sua dignidade. Sobre isso, não se pode negociar.

Oitava Estação
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

Nas lágrimas de uma mãe ou de um pai que chora pelos seus filhos, esconde-se a melhor oração que se possa fazer sobre esta terra: a oração de lágrimas silenciosas e mansas, que é como a de Nossa Senhora aos pés da cruz, que sabe ficar ao lado do seu Filho sem estrépitos e escândalos, acompanhando, intercedendo.
"Interceder não nos afasta da verdadeira contemplação, porque a contemplação que deixa de fora os outros é uma farsa. […] Poderíamos dizer que o coração de Deus se deixa comover pela intercessão, mas, na realidade, Ele sempre nos antecipa, pelo que, com a nossa intercessão, apenas possibilitamos que o seu poder, o seu amor e a sua lealdade se manifestem mais claramente no povo" (Evangelii gaudium, nn. 281, 283).

Décima-segunda Estação
Jesus morre na cruz

Esta é a atitude do coração de Cristo. O abandono nas mãos de Deus, sem pretender controlar os resultados da crise e da tempestade. Abandono forte, mas não ingênuo... Abandono que implica confiança na paternidade de Deus, mas não se exime do sofrimento da agonia: de fato, esse abandono não tem resposta imediata, e até Ele próprio é posto à prova pelo silêncio de Deus, que pode levar à tentação da desconfiança... é grito dilacerado no ápice da prova: "Pai, por que me abandonaste?".
Na cruz, é preciso perder tudo para ganhar tudo. Esse é o lugar onde se vende tudo para comprar a pedra preciosa ou o campo com o tesouro escondido.

Perder tudo: quem perder a sua vida por mim, encontra-la-á... Ninguém nos obriga, é um convite. Um convite ao "tudo ou nada". Fonte: www.ihu.unisinos.br

sexta-feira, 20 de março de 2015

Província Carmelitana de Santo Elias: Encontro Provincial da Ordem Terceira do Carmo em São José dos Campos/SP. 20-22 de março-2015.

PROGRAMA DO ENCONTRO DE PRIORES, 
FORMADORES E CONSELHEIROS-2015

SEXTA-FEIRA – 20 DE MARÇO
CHEGADA – 16 H
JANTAR – 19 ÀS 20 H
20.15 H – ORAÇÃO E ABERTURA DO ENCONTRO
21.45 H – DESCANSO

SÁBADO – 21 DE MARÇO
7 H – EUCARISTIA
8 H – CAFÉ
9 H – TRABALHO – BIBLIOGRAMA DO PROFETA ELIAS
10.30 H – INTERVALO
10.45 H –  CONTINUAÇÃO - DINÂMICA
12 H – ALMOÇO
14 H – REINÍCIO – REUNIÃO ESPECÍFICA – PRIORES, FORMADORES E CONSELHEIROS
15.30 – INTERVALO
16 H - REINÍCIO
17.30 – ORAÇÃO
19 H – JANTAR
20 H – OLHAR SOBRE OS SODALÍCIOS
21 H – OFÍCIO E DESCANSO

DOMINGO – 22 DE MARÇO
7 H– EUCARISTIA
8 H – CAFÉ
9 H –  OLHAR SOBRE A JUVENTUDE
10 H – INTERVALO
10.30H – PLENÁRIA COM AVALIAÇÃO
12 H – ALMOÇO E ENCERRAMENTO

OBS: COMO A DIÁRIA É ENCERRADA ÀS 16 H, OS PARTICIPANTES PODERÃO FICAR NA CASA ATÉ ESSE HORÁRIO CASO NECESSITEM.

quinta-feira, 19 de março de 2015

OLHAR O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE: A Ordem Terceira do Carmo no Brasil

Frei Nuno Alves Correia, O. Carm
Aos 7 de outubro de 1452 (Século XV),  o Santo Padre Nicolau V aprovou a Regra elaborada pelo Geral da Ordem, Beato João Soreth, dando assim forma canônica à Ordem Terceira do Carmo. Esta instituição secular abrange homens e mulheres que, no mundo, procuram maior santificação inspirando-se na Regra Carmelitana de Santo Alberto.
No tempo áureo do Carmo brasileiro houve inúmeras Ordens Terceiras. Quase todos os conventos tinham anexa uma igreja da Ordem Terceira e também em muitos outros lugares havia florescentes Ordens Terceiras, sob a direção de Padres Carmelitas.
A decadência, porém, não só atingiu a vida espiritual da primeira, mas também da Terceira. No tempo da restauração, quase todas as Ordens Terceiras continuavam a existir, sob a direção de um Comissário do clero secular. Na realidade, eram simples Irmandades, cujos membros, por vezes, nem sequer eram católicos, praticantes ou pertenciam mesmo a seitas secretas proibidas pela Igreja. Os que nela ingressavam, mediante pagamento de uma joia e recebimento de um belíssimo Diploma, tinham antes em vista as vantagens materiais do que os benefícios espirituais.
Nestas tristes circunstâncias, era praticamente impossível que as Ordens Terceiras existentes fossem reorganizadas em sua espiritualidade e entregues à direção da Ordem Primeira. Outro meio não houve senão começar de novo.
Quando os Padres Carmelitas holandeses chegaram em 1904 encontraram na Igreja do Convento do Carmo do Rio de Janeiro uma certa Confraria, com o nome respeitável de “Ordem Terceira”, inteiramente degenerada e entregue às práticas do mais baixo fetichismo africano. Por ordem do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde de Alburqueque Cavalcante, Frei Tomás Jansen, O. Carm., autorizado pelas legitimas autoridades da Ordem, extinguiu essa pseudo- Ordem Terceira, fundando uma nova, a qual foi oficialmente instalada aos 8 de dezembro de 1910.
Cumpre aqui notar que todas as Ordens Terceiras, no Brasil, continuavam a existir canonicamente e até a promulgação do novo Código do Direito Canônico, aos 19 de maio de 1918. Desde essa época, podiam ser consideradas como legítimas Ordens Terceiras somente as que, em conformidade com o Canon 702 do referido Código, vivesse sob a direção de alguma Ordem. Condição essencial, portanto, da legítima posição jurídica de uma Ordem Terceira do Carmo é estar sob a jurisdição da Ordem Primeira do Carmo. Para as Ordens Terceiras antigas, existentes antes de 1918, e que não haviam satisfeito essas exigências canônicas, o único meio de legitimar a sua situação jurídica er, pois, agregar-se a de novo à Ordem Primeira.
Aos 16 de julho de 1948, o Santo Padre Pio XII, aprovou a Nova Regra da Ordem Terceira do Carmo, elaborada pelo virtuoso Padre Frei Brenninger, assistente Geral e profundo conhecedor da mística carmelitana. Conforme esta Nova Regra, existe apenas uma Ordem Terceira do Carmo, dividida no mundo inteiro em muitos Sodalícios, que estão sob a jurisdição de um sacerdote que não se chama mais “Comissário”,mas sim “Diretor Espiritual”.
   A Partir de então iniciou-se  um período de vitalização da Ordem Terceira do Carmo. Oportunamente, não sei em que data, a Província Carmelitana de Santo Elias, a fim de zelar melhor pelos sodalícios, destacou um de seus membros para, como Delegado Provincial da Ordem Terceira do Carmo, estabelecer contato com os Sodalícios a fim de manter-lhes vivos na fé, na religião e no Carisma Carmelitano.
No decorrer dos anos, exerceram a função de Delegado Provincial da OTC os seguintes religiosos carmelitas: Frei Policarpo Van Levwen, O. Carm., Frei Antônio Faggiano, O.Carm., Frei Lamberto Lambooy, O. Carm., Frei Nuno Alves Correia, O. Carm., e de novo  Frei Antônio Faggiano, O. Carm.  De 1958 até a sua morte, a 13 de abril de 1967. Em todo esse período, com essas sucessivas assistências, os Sodalícios que estava a sob a jurisdição da Ordem Primeira, mantiveram-se, na sua maioria, vivos e outros foram canonicamente criados.
Depois da morte de Frei Antônio Faggiano, O. Carm0 nova crise abalou a vida dos Sodalícios, seja por incúria dos superiores seja pelas transformações do Concílio Vaticano II através do surgimento de novas Associações Religiosas mais enquadradas dentro do espírito do Vaticano II e a partir de então, a sobrevivência dos Sodalícios da OTC- os nossos e os de outras Ordens Religiosas- ficaria dependendo do empenho pelo qual as Ordens Religiosas adaptassem as Ordens Terceiras à doutrina do Vaticano II. E foi o que as Ordens Religiosas fizeram.
Após inúmeras reuniões de representantes das Ordens Religiosas realizadas em Roma, na década de setenta, nasceu uma Regra “Padrão” para todas as Ordens Terceiras, regra essa adaptada à mente e à doutrina do Concílio Vaticano II. Baseada nessa “Regra- Padrão”, a nossa Ordem elaborou a mais nova Regra da Ordem Terceira do Carmo que foi publicada e amplamente divulgada entre os Sodalícios em 1977, salvaguardo-se assim a sobrevivência da maior da maior parte dos Sodalícios da Ordem Terceira do Carmo.
Em princípios de 1978, eu assumi como Provincial a direção da Província Carmelitana de Santo Elias e uma vez investido no cargo, como que para reparar um erro do nosso passado, determinei-me a mim mesmo voltar a atenção para a Ordem Terceira do Carmo, dando-lhe a merecida assistência espiritual.
Comecei o trabalho através de cartas, visitas frequentes, retiros, encontros regionais, comemorações centenárias, comunicações através do Boletim “Família Carmelitana” e, finalmente, a criação do Secretariado da OTC. Tudo isso constituiu uma forma de contato. Sem dúvida, não só para a sobrevivência, como também para a revitalização dos Sodalícios. Em janeiro de 1986, deixei a presidência da Província e com a anuência da gestão vigente, foi-me permitido continuar esse trabalho à frente do Secretariado da Ordem Terceira do Carmo, agora como Delegado Provincial.  

Fraternalmente no Carmelo. Frei Nuno Alves Corrêa, O. Carm.
Delegado Provincial da OTC. Convento do Carmo, Lapa, Rio de Janeiro. 1992.
NOTA: Frei Nuno Alves Corrêa: uma caminhada longa, repleta de recordação. * 07/11/1914 – 84 anos – + 03/07/2008
Por Frei Felisberto Caldeira de Oliveira, O.Carm.

Com Santa Terezinha, ele dizia: “Tudo é Graça”.
-------Há anos Frei Nuno se recolheu no Convento da Lapa, no Rio de Janeiro, para se dedicar ao acompanhamento das Ordens Terceiras Carmelitas após 9 anos de serviço como Provincial. Esta missão ele a exerceu livre e carinhosamente. Foi diretor espiritual da OTC da Esplanada em São Paulo, capital. Tendo Frei Gabriel como vice-diretor dessa OTC, ele pôde assumir a OTC do Rio de Janeiro e cuidou da Família Carmelitana com disciplina e zelo, quase eliano.
-------Ultimamente, já ouvindo pouco e afônico, sentiu que seu corpo não correspondia mais a seu ardor e desejo de trabalhar, mas continuou editando a Revista da Família Carmelitana e o contato direto com os leigos carmelitas.

-------Em uma cadeira de rodas, dedicou-se a escrever para a Revista indo até o último número, o de julho de 2008, dedicado à festa de N. Sra do Carmo que ele queria celebrar aqui na terra, mas a Virgem Maria preferiu que fosse com ela, no céu, chamando-o para a casa do Pai, no dia 03 de julho de  2008 às 02h:30 min da madrugada.

BATE PAPO... Dom Vital fala sobre São José

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 278. São José.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 831: São José e Santa Teresa.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 830: São José.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Pensamentos sobre a vocação em geral

Frei Geraldo D’Abadia Pires Maciel, O. Carm.

Aproveito a oportunidade deste mês de agosto para partilhar algumas descobertas que a vida foi me ensinando a respeito da vocação. O que partilho é simples e direto e fruto do que aprendi com meus formadores, estudantes carmelitas, confrades e o povo de Deus. Quando a gente escreve assim corre o risco de não ser tão profundo, mas ganha no acompanhar um pouco mais a nossa própria experiência.
1. A vocação tem a ver com o Mistério. Com o sentido profundo que buscamos dar à nossa vida. Você não dá conta de tudo e nem consegue explicar tudo. Nem é responsável por tudo. Num momento da vida você é interpelado, tem um foguinho que ascende lá dentro do peito, e você se sente chamado a responder a este Mistério que te envolve. É como se a gente se sentisse carregado, atraído, em nosso desejo mais profundo. E você se solta como Maria: “eis aqui a serva do Senhor”.
2. A vocação tem a ver com uma resposta livre. Você se sente carregado, a iniciativa não é sua, mas, num certo sentido, o chamado se chama. O convocado se convoca. Nós nos chamamos. Você ganha a viagem, mas, quem a faz é você. Quem dá sentido e beleza à viagem é a pessoa e a comunidade.
3. Vocação tem a ver com discernimento. Você olha a vida, a Igreja, a Vida Religiosa, as necessidades do Povo de Deus, olha para suas possibilidades, partilha seus sonhos com alguém que caminhou bastante na vida e escolhe.
4. A vocação tem a ver com escolha e liberdade. A liberdade de uma vida escolhida é uma das coisas mais encantadoras e atraentes. Quem é livre tem capacidade de receber e de aceitar uma realidade, mas, arrisca-se na transformação desta mesma realidade. Tem a liberdade de Jesus que disse: “foi dito, mas, eu digo”.
5. Vocação tem a ver com adesão e consentimento. Não adianta só refletir, se perguntar ou só criticar. Tem uma hora que vai ser exigido uma adesão. Você tem que se envolver. Não é um filme para ser assistido. E ao aderir você é responsável.
6. No cristianismo vocação tem a ver com Jesus de Nazaré. Muita gente esquece disto. Jesus tem sonho, tem projeto de vida concreto. Ele nos convida a segui-lo, a acompanha-lo na sua busca a envolvermo-nos no mistério de sua pessoa. Ele reintegrou pessoas, teve companhias, cultura e seus confidentes eram os pobres. Precisa dar uma boa atenção ao Evangelho para conseguir captar o mistério de Jesus de Nazaré.
7. Vocação tem a ver com servir. Tem que por a mão na massa. Não tem nada a ver com acomodação e indiferença diante da realidade e dos apelos concretos que ela nos traz. É como Jesus ensinou. Não dá para por a mão no arado e voltar atrás.

Como vocês viram, foram sete pontinhos. Muito simples. Tem muitos outros, quem sabe, até mais importantes. Você pode enriquecer esta página se você vive com intensidade o seu chamado. Seja feliz na sua vocação. Se você, por acaso, escolher o Carmelo nós ficaremos muito felizes em te acolher na família carmelitana.

ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE JUIZ DE FORA: Convite

Meditar na Lei do Senhor e vigiar em oração.

FORMAÇÃO E IDENTIDADE CARMELITANA: A identidade carmelitana na atual conjuntura eclesial.

Frei Bruno Secondin.  O. Carm.
           (Veja o vídeo, “A Palavra do Frei Petrônio”, Nº 707. Entrevista com
Frei Bruno Secondim. Clique aqui:  https://youtu.be/ioEVQ3h_wXs).

1-Eis o grande tema carmelita: até as pessoas menos instruídas sabem que o ideal carmelitano é o da vida de oração. E em torno deste ponto focal deveriam convergir todas as outras coisas: o horário, a moradia, a formação espiritual, o sentido da maturidade espiritual, a direção espiritual, o apostolado. Não vou entrar em toda esta literatura, que muitas vezes é mais apologética do que útil. Quero tocar neste argumento sob um outro ponto de vista.
- Uma tradição de conflitos e de hipocrisias: se é grande a glória para o Carmelo neste campo – e disto ninguém duvida – é preciso também reconhecer que as hipocrisias não faltam. E também são abundantes as manipulações. A primeira hipocrisia é a de uma vida real que na verdade não parece dar esta importância à oração e à meditação assídua da Palavra, da qual nasce o vigiar nas orações. A solidão da cela era vista – e é vista ainda tantas vezes – como a ocasião para se rezar um pouco, qualquer que seja a forma de oração. Ao contrário, segundo a Regra, se está na cela sobretudo para meditar na Palavra, e fazê-la florir numa resposta orante e perscrutadora (vigilantes: R 10). Sobre a solidão, o silêncio, a oração mais ou menos intensa forjaram-se tantas histórias no Carmelo: em nome do espírito primitivo, das não-mitigações, da perfeição, etc.
- Uma releitura das intenções originais do carisma nos ajuda a superar razões de polêmica e a reencontrar um sentido novo para esta característica do Carmelo. Na releitura nova da Regra os capítulos 10-17 formam um bloco único, e representam o modelo de Jerusalém. E, por consequência devem ser interpretados numa unidade dinâmica. Se assim fizermos, veremos bem como a Palavra ouvida e meditada na solidão floresce em oração vigilante e em louvor sálmico, mas também em partilha dos bens e dos sentimentos do coração. E tudo encontra o seu vértice na celebração eucarística, que é plenitude do que a Palavra anuncia e promete, e fermento para que a vida se transforme em koinonia e seja transfigurada na sobriedade e na solidariedade  em nome da  Palavra (cf. a pregação itinerante: R 17).
- A oração como vigilância: não pode ser interpretada como um tempo noturno roubado ao sono para rezar. Mas antes como uma gramática do desejo: acende-se no coração a certeza de uma presença e de um projeto, cujos contornos se procuram na práxis (louvor, partilha, páscoa diária, reconciliação, luta espiritual, ascese flexível, etc.). Mas também se propõe fazer de toda a existência uma espera vigilante, um estar de sentinela, apaixonados e implorantes. Não é, portanto, a quantidade ou o método que faz do Carmelo uma comunidade orante. Mas este coração que vibra e espera, perscruta e implora, purifica-se e põe em prática a Palavra.
- Orar como Igreja e em nome da Igreja: este é na realidade o verdadeiro sentido da vocação carmelita à oração. Uma oração não de horários e de tamanho, mas de coração que ama e que implora, de paixão pelo Reino que trabalhosamente se faz luz na história. Orar como Igreja é principalmente deixar-se amar e convocar,. falar ao coração e salvar por meio da Palavra e da mesa eucarística, da solidão e da corresponsabilidade, do trabalho e do silêncio, da fidelidade à sabedoria dos séculos e da abertura ao novo que vai chegando. Se relermos os nossos grandes mestres sob esta perspectiva, encontraremos muitas confirmações, mas também um convite a mudar de esquema..
- Uma oração teologal e não só orações: olhando-se bem para a Regra, mas ainda para a nossa história e a nossa espiritualidade, descobrimos que a oração nunca se desprende da história, antes está entrelaçada dentro da história, impregnada de história. Reconhecemos que Deus está fazendo crescer  os seus desígnios dentro da história: rezamos desde dentro da nossa experiência de Filhos, e Cristo primogênito reza conosco e em nós. Verdadeiramente rezamos antes de tudo com esta consciência, nele reconhecendo misericórdia, perdão, ternura, fidelidade. A síntese é a oração do Pai Nosso, que justamente vale tanto quanto o breviário inteiro.
- Uma oração eclesial: enquanto fruto do Espírito, que anima a Igreja, conhece os seus gemidos e aspirações, e os eleva em nosso favor até onde está o Pai (Rm 8,26). Trata-se certamente de uma experiência pessoal autêntica, que nasce do coração e da interioridade, mas não se fecha sobre si mesma, exprime ao mesmo tempo a comunhão dos irmãos, dos filhos de Deus, do edifício espiritual que vai crescendo sob a guia do Espírito. Não percamos de vista a função central da capela dedicada a Maria: a oração, que nasce na interioridade de cada um, tende por sua natureza a se manifestar em expressões compartilhadas por todos, como expressão coral de uma família , de uma comunidade.
- Uma oração que é via para crescimento em humanidade: retenhamos que hoje é muito importante colocar a nossa atenção sobre o dinamismo do crescimento na autoconsciência cristã através da oração e o orar. Para que todos nos demos conta de que aqui justamente está uma das grandes dificuldades da nossa oração: que ela se torne não só um problema de quantidade e de tempo, de fórmulas e de gestos, mas sobretudo de crescimento dinâmico, de maturidade global. A Regra propõe-nos uma experiência unificada e unificante com o mistério da salvação, que se realiza no tempo e caminha para a plenitude do Reino escatológico. O escopo final é uma existência transfigurada, em que tudo vem à luz em síntese: é este o sentido dos últimos três capítulos do texto. E nós devemos ajudar os jovens a se encaminharem até este modelo, dinâmico, coenvolvente, sem perigosas dicotomias. Se, pelo contrário, a nossa preocupação é a de ensinar as descrições metodológica e psicológicas dos nossos mestres, nós nunca formaremos orantes de coração vigilante.
2- A palavra é uma lâmpada para os nossos passos [cf. Sl 118 (119) 105]. Queremos completar esta nossa exposição mais uma vez com um texto bíblico, que talvez raramente tenhamos lido. São alguns versículos do Sirácide 35,9-18. Limito-me a algumas anotações para ajudar na interpretação.
- A hipocrisia do culto sem justiça: não se pode separar o culto a Deus do modo de viver, seguindo uma moral dupla. Deus não se deixa enganar pelas aparências quando se oferece os frutos de ações perversas. Não basta rezar pessoalmente com intensidade, é preciso saber distinguir a desonestidade em tantas situações e não concordar com a hipocrisia.
- O semblante alegre , com ânimo bem disposto: não há verdadeiro diálogo com Deus se não existe amor e alegria ao fazê-lo, desejo de encontrá-lo. No constrangimento e no medo não floresce verdadeira oração. Mas a alegria nasce também da resposta de Deus, gratuita e generosa. “Bela é a misericórdia no tempo da aflição: é como nuvens que trazem a chuva no tempo da seca (Sr 35,24)”.
- Deus ouve a prece do oprimido: a Escritura toda no-lo testemunha. Deus conhece e escuta a súplica e o desabafo. Quer dizer que é lícito desabafar-se e gritar; mas também que aquele que ama a Deus deve  aguçar os próprios ouvidos e abrir o próprio coração para escutar como Deus e a reagir como Ele, “restabelecendo a eqüidade”.
- Rezar com o corpo: notemos a ênfase corpórea deste modo de orar. Reforça o sentido da luta, da fadiga, da solidão; é também expressão de uma fé tenaz e confiante. É o corpo todo e a vida que se fazem oração; não é apenas um dizer orações de qualquer maneira.
- Caminho de crescimento. Seja para quem implora e desafia as nuvens para se fazer escutar, seja para a história da humanidade, a oração do humilde torna-se graça que abala as injustiças e faz realizar a justiça e a misericórdia. Bartolomeu de las Casas foi justamente lendo este texto que se converteu de clérigo conquistador em profeta dos oprimidos.

Para refletir:
1º- Estamos convencidos de que devemos repensar o sentido da nossa vocação para a oração?
2º-Como tornar-se Igreja orante e não só fazer orações?

3º- Como crescer em humanidade e solidariedade rezando?