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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

EVANGELHO DO DIA: Quem pode se salvar?

CARMELITAS: A aventura da Oração.

Emanuele Boaga, O. Carm. e Augusta de Castro Cotta, CDP

A. A dimensão contemplativa da vida
1. Em nossos dias, mais do que no passado, presta-se atenção à dimensão contemplativa do ser humano, individuando-se os seus elementos ontológicos, situados no intelecto e na vontade, ou seja, na capacidade que o homem tem de conhecer e de amar. Na vida cristã tal dimensão contemplativa é resposta teologal de fé, de esperança e de caridade. Através dela, o crente se abre à revelação e à comunhão com o Deus vivo por Cristo, no Espírito Santo. A dimensão contemplativa encontra sua fonte na comunicação de Deus e é fortemente caracterizada pelo aspecto dialógico da relação Deus-homem. Realiza-se através de um conjunto de elementos: a graça divina, as virtudes teologais, os sacramentos, a oração, a ascese. A oração, como expressão da experiência teologal, constitui algo essencial e fundamental para a vida humana e cristã, tal como a respiração para o corpo.
2. A oração, como expressão da dimensão contemplativa do ser humano, é portanto o ponto de partida da maior parte dos outros aspectos do complexo fenômeno religioso. Neste sentido, considerando a fenomenologia da religião, a oração é uma realidade complexa. Apresenta muitos elementos que devem ser avaliados singularmente e no seu conjunto para que se compreenda a inter-relação profunda e a interação harmônica entre eles. Tudo isto deve ser levado em consideração para se fazer uma exposição acertada sobre a oração.
3. No âmbito cristão, o desejo de conhecer a Deus e ver o seu “rosto”, de fruir tal conhecimento e visão, fazendo portanto uma experiência do divino, concretiza-se na contemplação do mistério, porque “a luz [de Deus] refulge em nossos corações para irradiar o conhecimento da glória de Deus que brilha no rosto de Cristo” (2 Cor 4,6). A busca de Deus torna-se o centro fundamental da vida: a contemplação.
4. A contemplação é descrita por Paulo VI nestes termos: “O esforço de fixar em Deus o olhar e o coração, que nós chamamos de contemplação, torna-se o ato mais elevado e mais pleno do espírito, o ato que também hoje pode e deve organizar a imensa pirâmide da atividade humana” (homilia na IX sessão do Concílio Vaticano II - 09/12/ 1965). Contemplar vem a ser a capacidade de fixar o olhar em Deus para ver a realidade com os seus olhos e amá-la com o seu coração. A contemplação é a penetração na verdade da existência que leva a compreender e aceitar até às últimas conseqüências o desígnio salvífico. Portanto, uma realidade (unitária de todo o ser humano-cristão) de fé, de esperança e de amor, que pela ação do Espírito Santo, chega ao dom da sabedoria que permite a entrada em comunhão com Deus e seu mistério da Salvação. Neste contexto, a oração e a contemplação se identificam, tornando-se relação vital Deus-Homem e caminho unificante de toda a vida na conformidade com a vontade de Deus.

B. Descrição da Oração
5 - A oração no seu aspecto dialógico (palavra-ação de Deus e resposta do homem) apresenta uma estrutura própria ou dimensões nas quais precisamos de colocar atenção. Estas dimensões são:
- a estrutura cristológica
- a estrutura trinitária
- a estrutura eclesial
- a estrutura pessoal
- a inserção na realidade
6. Estrutura cristológica: Na oração existe uma relação pessoal e intersubjetiva entre Cristo e o nosso ser. Cristo é o sujeito da nossa oração (cf. 2Cor 1,19ss). O amor de Deus nos é comunicado através dele, pois, somente nele podemos encontrar o amor divino. Só em Cristo é possível viver a vida cristã, entendida como a escuta e a obediência a Cristo na oração. Oração cristológica significa estar plenamente em Cristo: manifestação clara e vital de nossa vida escondida em Cristo. Isto se faz na aceitação, na adoração, na ação de graças e na súplica.
7. Estrutura trinitária: a oração em Cristo é também oração por meio de Cristo. Mergulhados Nele, colocamo-nos em comunicação com o Pai que assim fala diretamente a nós, através do Espírito Santo. Entramos desta forma, em comunhão com a Trindade. A estrutura trinitária da oração leva o Cristo a tornar-se a realização de nossa existência cristã, de modo que por sua comunicação o Espírito nos permite dizer “Abba, Pai”. O espírito nos ajuda a proclamar Cristo “o Senhor”, etc. Em Cristo e por Cristo nós ficamos mergulhados na Trindade.
8. Estrutura eclesial: como “em Cristo e por Cristo” nós estamos na Trindade (comunhão interpessoal com o Pai, o Filho e o Espírito Santo) assim “em Cristo e por Cristo” nós estamos também inseridos na Igreja e exprimimos esta existência como oração eclesial (Ef 3,20-21). A estrutura trinitária torna-se eclesial: uma e outra, se realiza em Cristo e por Cristo (Mt 18,19-20). Este encontrar-se juntos na fé é expressão do Mistério da Igreja (que é ao mesmo tempo, para nós, chamado e ponto de encontro com Deus). Em vista disto, quando um grupo se reúne para a oração, descobre que não está só diante de Deus, mas que Cristo está em seu meio, e isto se exprime no acolhimento e no amor mútuo. Desfruta então a consciência individual e comunitária de pertencer a Cristo.
9. Estrutura pessoal: a estrutura eclesial não destrói, porém potencializa a relação pessoal com Deus na oração. O mesmo está na base da estrutura cristológica e trinitária. A oração individual e a oração comunitária são dois momentos inseparáveis e insubstituíveis de um único evento: a pertença a Cristo e a Deus uno e trino.
10. Inserção na realidade: a salvação é oferecida a todos os homens. S. Paulo estende a intercessão e o gemido do Espírito a toda a criação (cf. Rom 8, 19ss). Nasce o significado do pedido na oração: pedido singular, individual, coletivo, material, o “dá-nos hoje o nosso pão”. Não só isto. A oração não é somente um ato da existência cristã, ou um ato de culto, mas ao contrário é o ato e a expressão da existência cristã e do seu culto. Não há solução de continuidade entre a oração e a vida-trabalho, porque tudo está sob a Palavra e a Ação de Deus. Na oração, a existência humana se torna consciente. Encontra a revelação do sentido da vida, coisa impossível de se obter e expressar apenas na atividade, tantas vezes mesclada de ambigüidades. Exclui-se assim uma oração como finalidade em si mesma, cheia de ilusões; excluem-se também as formas exageradas de atividade (ativismo), desligadas do discernimento do projeto de Deus.
11. Oração autêntica é aquela que nos torna compenetrados da experiência viva de Deus, elevando-nos a irresistível testemunho da fé e do amor salvador pelo fato de experimentar a própria salvação.

C. A Oração diálogo-caminho com Deus
12. A oração é uma grande aventura de amor realizada com Deus, é como um diálogo e uma ascensão feita com ELE, rumo ao cume. È diálogo e caminho ou seja: realidade relacional, progressiva e dinâmica.
13. São protagonistas neste caminho: Deus (que toma a iniciativa) e o ser humano (que lhe responde).
14. O papel do Espírito: a oração não conhece limites, porque o ser humano deve deixar-se trabalhar (purificar, guiar) pelo Espírito que conduz para os caminhos por Ele escolhidos. Os dons do Espírito atuam nesta linha, especialmente:
a piedade: conduz o afeto filial a Deus
a ciência: eleva a realidade a Deus
a inteligência: ajuda a penetrar na riqueza do mistério de Deus, revelado ao longo do caminho, e a colocar o ser em sintonia com o projeto divino;
a sabedoria: permite provar a realidade divina.

15. A oração como caminho propõe atitudes que são interligadas entre si:
a) dar espaço a Deus:
• exige o silêncio e a solidão como base para a escuta e o acolhimento de Deus.
- exemplo se pode encontrar no Profeta Elias que vai ao Monte Horeb, o monte de seu encontro com Deus. Não é ele um alpinista espetacular, mas segue passo-a-passo até chegar ao cume do Horeb;
- Deus buscado, não de forma romântica, nas árvores, nem nas pedras, nos relâmpagos e no tremor de terra, mas, ouvido e experimentado na brisa leve;
- a solidão silenciosa e o silêncio solitário: portanto o sentir a palavra de Deus com os ouvidos do coração;
- o deserto: cf. Es 13,17; 3, 17; 5,1.
• a ascese individual e comunitária é o laboratório do Espírito, no qual ocorre a purificação, a elevação e união com Deus, na medida em que nos esquecemos de nós mesmos e colaboramos com a ação “crucificante” do mesmo Espírito.
b) consciência da presença de Deus:
• buscar a morada de Deus que está no centro do próprio ser;
• abrir-se conscientemente à presença de Deus em si mesmo e na criação: em, com e através de Jesus.

c) Deus companheiro no caminho: entrega e aceitação
• entrega: a consciência de Deus, presença-amiga no caminho, deve levar a entregar-se a Ele, acolhendo-O porque é o “Senhor”.
• aceitação: da sua presença orientadora, do seu projeto, deixando-se conduzir-se por suas mãos, através das circunstâncias concretas da vida quotidiana. Isto implica em esforço autêntico, empenho dinâmico (não é um deixar-se arrastar, mas um caminhar junto).
d) expressão contemplativa espontânea:
• adoração, louvor, ação de graças, súplica;
• desenvolvimento mediante formas concretas de oração correspondentes às exigências do caminho próprio da oração;

16. As dificuldades do caminho: nesta caminhada podem encontrar-se e encontram-se de fato, dificuldades que são de duas fontes:
• externas: a ambigüidade das coisas, a securalização, etc.
• internas: os pecados, ocupações e preocupações excessivos; preguiça: apegos; formalismo, medo ou temor de “deixar-se conduzir por Deus”.

17. As dificuldades podem ser superadas com:
• orientação personalizada e ajuda para a interiorização da oração e das suas formas concretas;
• renovação dos métodos, em resposta às exigências do momento e necessidades pessoais;
• esforço sincero de conversão;
• testemunho autêntico, porém nos limites da oração-vida, vida-oração.
18. O caminho que nos conduz à meta é longo e por isso temos sempre necessidade de sermos socorridos e educados por Deus para que, com fidelidade, possamos caminhar. Por isso, devemos dizer junto com os Apóstolos: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1).

APROFUNDAMENTO E INTERIORIZAÇÃO
1. Para pesquisar e partilhar, ou fazer em grupos, como forma de aprofundamento:

• Argumentar as seguintes afirmações:
1 - Na vida cristã a dimensão contemplativa é resposta teologal da fé, da esperança e da caridade.
2 - A dimensão contemplativa se caracteriza pelo aspecto dialógico da relação entre Deus e o ser humano.
3 - Contemplar é fixar o próprio olhar em Deus para ver a realidade com seus olhos e amá-la com o seu coração.
• Dê sua impressão sobre as dimensões da estrutura da oração. Elas lhe parecem independentes ou complementares? Por quê?
• Refletir sobre a oração como necessidade da mesma natureza humana, à luz das seguintes considerações bíblicas: Rom 1,18-20 e At 17, 27-28: “A procura de Deus faz parte da própria natureza humana que não se realiza fora dela”. Ilustrar a afirmação destes textos bíblicos com fatos da atual realidade (as buscas da verdade e do transcendente pelo homem de nossos dias, nas diversas situações humanos e categorias sociais).
• O surto da “Nova Era”, oferece suas crenças, seus ritos e símbolos, como resultado do vazio de Deus, criado pela pós-modernidade, pela era do consumismo, do secularismo e do tecnicismo. Discutir as interpelações que esta postura do homem moderno pode fazer à nossa vida cristã e religiosa (ou consagrada). Como pensa que agiriam os Profetas neste contexto?
• Acompanhar, nos Evangelhos a Cristo modelo, mestre e mediador da oração cristã. Tomar algumas passagens para interiorização:
- Jo 1,18; 10,30. 38.14,11: Cristo, o revelador do Pai
- Mt 6,5-15: aprofundar o conteúdo ensinado por Jesus a respeito da vida de oração
- Rom 12,4-5; Gal 3,26-28; Jo 1,12: nos revelam nossa ligação com Cristo. Refletir sobre as repercussões desta verdade sobre a nossa vida de relação com o Pai (a divindade)
- Em Col 1,29; Gal 2,20; Jo 14,13; 15,16: o que podemos aprender de prático para nossa oração.
 • O diálogo com Deus pode ser realizado com todos os meios expressivos: mente, coração, sentimento voz, gesto, comportamento, lugar, tempo. Discutir sobre a utilização dos mesmos, em sua:
- relação entre a vida interior e o comportamento externo das pessoas;
- ligação dos diversos recursos com o ensinamento de Jesus em Mt 6,5-9; 26,39.42.44; 27, 46; Lc 23,46;
- busca de compreensão dos gestos orantes de Jesus e seus discípulos: Mt 14,19; Jo 11,41 (levantou os olhos ao céu); 1Tim 2,8 (elevou as mãos); Lc 22,41; At 20,36; Ef 3,14 (inclinação, pôr-se de joelhos, em sinal de adoração); Lc 18,11.13 (estar em pé, corpo ereto, olhos baixos, em sinal de sacrifício).
 • Analisar os ritmos e os lugares onde Jesus rezava:
- escolha de tempos reservados à oração: Lc 4,16; 18,1-8; Jo 7,10;
- o acompanhamento das festas litúrgicas: Lc 2, 41-49;
- busca da solidão: Mt 6,6; 14,23; Mc 1,35; 6,31; Lc 4,42; 5,16; 6,12; 11,1;
- presença nos lugares de encontro da comunidade orante: Mt 12,13; Mc 11,15; Lc 2, 22ss; 19,45-47.
2. As questões que seguem são para reflexão individual, anotação no próprio diário espiritual e partilha com o Mestre ou diretor espiritual. Esta parte deve ser feita com serenidade, em momentos de solidão previstos para o cuidado da vida espiritual do formando.
• Tomar como oração preparatória os textos bíblicos:
* Sab 9 - Pedir a Deus a sabedoria da vida
* I Reis 17, 1- 24 - O Senhor alimenta o seu Profeta
* Selecionar algum dos textos citados e fazer oração a partir dele.
• Selecionar os textos bíblicos citados no exercício acima que:
- lhe causaram maior impressão
- constituíram uma nova descoberta
- confirmam o que já pensava sobre a oração na vida humano-cristã
- lhe trazem dificuldade de compreensão ou para a prática.
• Com que fatos da vida de Nossa Senhora você mais aprende a viver com Deus e para Deus? Por que pensa assim?
• Como pode assumir na sua vida orante as diversas dimensões da oração?
• Das atitudes orantes de Cristo com qual delas você mais se identificou?
• Se não fosse chamado à vida carmelitana acha que mesmo assim precisaria de desenvolver uma vida de profunda oração? Por quê?
Feitos os exercícios não deixe de procurar ajuda com seu orientador espiritual. Ela é indispensável para o seu crescimento humano-espiritual-carmelitano.

Procure tirar as dúvidas, partilhar suas descobertas, desafios, dificuldades, expectativas, compromissos.

CARMELITAS: Contemplação e ação.

Emanuele Boaga, O. Carm. e Augusta de Castro Cotta, CDP

A compreensão que os Carmelitas têm da vida contemplativa, no seu caminho histórico, apresenta elementos próprios, além dos influxos provenientes do conflito entre a ação e a contemplação, presentes por muito tempo na espiritualidade cristã em geral. É fácil compreender como, também entre os carmelitas, existiram modos distintos de compreensão da vida contemplativa e da mesma contemplação.
Na primeira fase da experiência carismática carmelitana a vida contemplativa se nutre de elementos típicos do eremitismo (porém no “estilo” daquele tempo que é bem diverso das épocas seguintes); dos movimentos penitenciais e das peregrinações à Terra Santa, sem exclusão da atividade apostólica. A Norma de Vida de S. Alberto apresenta uma profunda unidade entre a contemplação e a ação.
Através da aprovação da Regra por parte de Inocêncio IV, em 1247, os Carmelitas de eremita-penitentes se transformam em mendicantes. Caem portanto as estruturas estritamente eremíticas. A vida contemplativa vem assim entendida no contexto da “vida mista” dos mendicantes, ainda que permaneça no interno da Ordem um apelo às origens (apelo também “romântico”!) Em seguida alguns carmelitas vêem no eremitismo um retorno ao verdadeiro espírito do Carmelo, mas não percebem que tal eremitismo é uma “nova” realidade, diversa do tipo daquela que se encontrava na experiência originária da Ordem. Este tipo de compreensão (ou melhor de incompreensão) determina ambigüidades e conflitos, por longo tempo, chegando a nossos dias.
Nos séculos XV-XVI o termo “vida contemplativa” era assumido pelos carmelitas quase como sinônimo de vida interior e de identificação com as estruturas que a promoviam. Nisto foi notório o influxo da “Devotio moderna”. Entre as formas de oração, que favoreciam a vida contemplativa, emergem, sobretudo a oração litúrgica (missa quotidiana e ofício cantando em coro) e a meditação pessoal favorecida pela prática do silêncio.
Ao mesmo tempo, a exclusão das monjas do apostolado externo (por imposição da clausura), produz nesta forma de vida uma intensificação da solidão e da oração. Nela os elementos “ contemplativos” da Regra (em particular: a meditação contínua da Lei do Senhor, o vigiar e orar sempre, o silêncio e as armas espirituais) se tornaram intensos desembocando na vida litúrgica, na meditação, no exercício da presença de Deus, no espírito de penitência. Nesta linha foram situadas as novas fundações das monjas (depois de 1452): as da Congregação de Mântua (como ex. os Mosteiros de Scopelli e Girlani) espalhando-se pouco a pouco até chegar a S. Maria Madalena de Pazzi.
S. Teresa dá a seus irmãos descalços as constituições e a espiritualidade das monjas, com acentuação de apenas alguns valores da Regra. Isto no contexto da “descalcez”, considerada então como única forma válida de vida religiosa. Tal impostação conduziu à seguinte passagem: contemplativo = eremítico= monja descalça = frei descalço. Esta passagem levou à seguinte consequência, na época, durando o equívoco até nossos dias:
verdadeiro carmelita = carmelita descalço.
A confusão e o equívoco, baseados na equação: contemplativo= eremítico, já estavam presentes mesmo antes de S. Teresa, porém não de forma difusa, como aconteceu no caso da Congregação de Albi e, depois desta, na Congregação de Mântua. (Ver “Releituras do carisma” em Como Pedras Vivas, p. 101, para recordar o assunto).
Depois de S. Teresa o termo “contemplativo” na nossa Ordem adquiriu um sentido muito restrito, chegando até mesmo a não poder ser aplicado nem à vida religiosa, nem mesmo à meditação, à oração vocal, ao ofício litúrgico.
Outra tendência surgida na Ordem, foi a de reduzir a “contemplação” ao grau mais elevado da oração e da vida interior, quase desprezando ou considerando a oração vocal somente como uma passagem, incluindo-se nesta a oração litúrgica. Surgiu dai a ênfase do papel da meditação considerada como a forma mais adequada de contemplação e portanto, mais própria para o desenvolvimento da vida interior.
Deve-se notar que em todo o caminho histórico da Ordem, do séc. XIV até à época recente, particularmente nas Reformas, a releitura do carisma e a revisão da vida da própria Ordem partiram sempre da contemplação e nunca do apostolado. Em matéria de oração encontram-se novos caminhos, mas ao mesmo tempo coloca-se o grave problema da relação ou dissídio “contemplação-ação”, que assinala profundamente a vida e o estilo da própria contemplação. A atividade apostólica é considerada geralmente como prolongamento da contemplação e ao mesmo tempo seu fruto. Deve-se também recordar que, mesmo neste contexto das reformas, não faltaram figuras eminentes que, através das formas de assistência aos pobres e aos humildes, típicas de sua época, têm enfrentado o desafio da encarnação da vida contemplativa. Entre esses, recordamos o Ven. Angelo Paoli, “pai dos pobres” na Roma do séc XVII e a terciária carmelita Mariangela Virgili, em Ronciglione (ver: Como Pedras Vivas, p. 119 e 150).
Os mesmos autores carmelitanos no decorrer dos séculos XVII-XIX, têm exortado àqueles que se dedicam a atividades apostólicas por chamado da Igreja para atender a suas necessidades, a adotarem uma atitude contemplativa. Nasce assim a insistência sobre as duas formas de oração consideradas adequadas a esta finalidade: o exercício da presença de Deus e da aspiração.
Dado que os nossos irmãos têm admirado e exaltado nas irmãs monjas a sua vida de oração como “a melhor forma” de realização do ideal contemplativo com o qual nasceu a Ordem”, deve-se ajuntar também algumas notas sobre sua relação com o apostolado por parte das próprias monjas, para que se tenha um quadro completo, evitando-se as mitizações ambíguas. Particularmente:
• é notório o desejo expresso nos primeiros núcleos de monjas carmelitas de serem úteis ao próximo através da oração de intercessão e da penitência;
• é também conhecida a motivação apostólica colocada na base da fundação das Descalças por S. Tereza de Jesus;
• para S. Maria Madalena de Pazzi, as monjas são chamadas “ad maiorem vitam” (isto é, aquelas dos primeiros carmelitas) em quem porém não se separa “Marta de Maria” (Marta sem Maria é “confusão” e Maria sem Marta é ociosidade”, diz a Santa). O genuíno influxo mariano na Carmelita tem como sinal o nascimento no coração, do desejo da saúde das almas. Portanto a vida interior, a vida apostólica e a vida mariana se fundamentam em uma síntese superior. Da união com Deus e Maria nasce a “salus animarum”, obtida e sustentada com a oração e com a ação para reconduzir as almas a Deus e a Maria. O apostolado é, então, “restituição” que se obtém também com uma vida pura, feita de fé, de simplicidade, de fidelidade.
• S. Teresa do Menino Jesus desejava ter todas as vocações para servir à Igreja. escolhendo então, se o “seu coração” através da oração e interesse missionário.

Atualmente a conflitualidade “contemplação-ação” parece superada teoricamente, como demonstram claramente os acenos que às questões são feitos nos documentos oficiais da Ordem, nestes últimos anos. A conflitualidade permanece porém, na prática, e sua solução postula uma profunda revisão e “conversão” de vida e obras.