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sábado, 14 de janeiro de 2017

CORDEIRO DE DEUS: Frei Petrônio

ZYGMUNT BAUMAN: Dos impasses da solidão em rede

"Para Bauman, a promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira", escreve Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, publicada por Sul21, 09-01-2017.


Eis o artigo.
Zygmunt Bauman concedeu recentemente entrevista ao El País (09/01), publicada sob a designação “As redes sociais são uma armadilha”. O título da matéria não faz justiça ao seu verdadeiro conteúdo, que refere ao 15-M da Espanha dos “indignados”, de maio de 2011. À época, estes movimentos, através de mecanismos de democracia direta, ainda exploravam exclusivamente esta forma de participação, não de forma combinada, mas “contra” as instâncias políticas tradicionais.
A chamada “classe política” espanhola, no período, estava dividida entre os remédios neoliberais do Partido Popular e a moderação liberal-centrista do Partido Socialista Espanhol, que, ao fim ao cabo -quando no poder- governava de maneira mais ou menos idêntica ao seu tradicional adversário de direita. A maioria dos protagonista do 15-M organizou-se, politicamente, num novo Partido, o “Podemos”, cuja fundação reordenou a democracia espanhola, dando a ela uma nova vitalidade. Foi uma conquista das redes: o “virtual” fez as pessoas se encontrarem no mundo “real” das ruas e construírem, pelas suas mãos e cérebros, um novo protagonismo político, fundado na transação de afetos e idéias, de forma direta entre as pessoas.
Entre diversas preciosidades e formulações doutrinárias deste grande intelectual do nosso tempo, duas me chamaram atenção pelo poderoso apelo à reflexão que incitam, neste mundo trágico e demente que vivemos: 1. “O 15-M, de certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são potentes e breves”. 2. “O poder se globalizou, mas as políticas são tão locais quanto antes (…) a política tem as mãos cortadas(…) as instituições democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de interdependência”. Bauman é o mesmo que, em várias oportunidades, sustentou que a “promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira!”.
A perda do sentido da identidade, num mundo cada vez mais individualista, proporcionou que a vida coletiva em “rede” se tornasse uma forma de compensar a ausência da comunhão real entre pessoas. O que as redes sociais geram, todavia – adverte Bauman – é um “substituto” comunitário, não uma comunidade verdadeiramente humana. Esta, de forma autêntica, só é construída por sucessivos laços identitários de convívio, tanto no cotidiano como na história. É verdadeiro que nas “redes” – ainda segundo Bauman – os indivíduos se sentem um pouco melhor, “porque a solidão é a grande ameaça nestes tempos individualistas”, mas nelas (redes) é possível “deletar”, tanto o contato imediato que pede mais tolerância, como aquela interlocução que não agrada, porque vem do “diferente”: a tolerância, porém, é a qualidade humana mais elevada e a identidade humana verdadeira, só pode existir pelo contraste da diferença e das suas lições.
A contradição entre as necessidades locais e regionais e as questões políticas e econômicas globais, estão expostas todos os dias nas guerras pelo poder sobre as fontes de energia fóssil, na luta sem quartel pelos derradeiros territórios agricultáveis e pelo controle das reservas aquíferas do planeta. A crise é ascendente, porém, não por um adquirido sentido de maldade dos seres humanos, mas porque o capital precisa radicalizar as formas de controle destas riquezas naturais, visando a continuidade equilibrada do funcionamento da economia dos grandes países industrializados. Especialmente dos que devem ser reiteradamente financiados, para não sucumbir como nação.
É o caso dos EUA, cujo “buraco negro” do seu Tesouro explodiria se a China – quem diria – subitamente deixasse de comprar os seus papéis. “O insaciável apetite da América” pelo financiamento da sua dívida – disse um filósofo – é, ao mesmo tempo que um passivo permanente, um ativo gigantesco: a “não explosão” de quem faz a pauta militar do mundo é o que dá sentido “comunitário” a sua liderança (manipulatória), que proporciona a proteção contra o inimigo comum, o “diferente”, que por escassez de meios, ainda mantém as suas reservas estratégicas de petróleo, terra e água para serem exploradas pelos mais fortes.
As “explosões de solidariedade” são importantes e fixam novos parâmetros para fazer política. E “fazer política” significa criar mediações, dentro da ordem, se o regime é democrático, e contra ela – se ele deixa de ser democrático. O objetivo é dirigir o Estado de forma legítima para responder às maiorias, combater a pobreza, a miséria, o crime, a insegurança, a solidão e a insanidade, numa sociedade compartimentada e egoísta. Mas as explosões de solidariedade na luta contra a extorsão do futuro – encomendada pelas reformas “liberais” – são breves e impotentes, se não se transformam em organização, programa, tática e estratégia.
É fundamental levar em consideração que os confrontos de interesse entre classes e entre os projetos de nação, hoje, tem duas determinações históricas que exigem a recriação dos movimentos emancipatórios, num contexto universal muito mais complexo do que no século passado: primeiro, a nação só é passível de ser construída, hoje, com interdependência consciente, na qual não se abdica da soberania, mas esta assimila a interdependência; segundo, as “redes”, eternamente reproduzidas como aproximação virtual entre os sujeitos, só reforçarão a solidão e o isolamento -propício para o amortecimento da criatividade humana- caso as relações entre pessoas e grupos não transcendam para espaço democrático de rua e para as instâncias políticas do Estado.

Um dos limites mais graves e autoritários dos projetos socialistas revolucionários do passado, foi o não reconhecimento – na própria construção da nova sociedade – que ela deveria ser um abrigo de formas diversificadas, “belas e livres” de “convivência humana”, passado o período da agressão do nazi-fascismo. “E são belas e livres” – como diz Agnes Heller – “todas as formas as quais a comunidade não obstaculiza, mas antes favorece o desenvolvimento multilateral harmonioso das faculdades e dos carecimentos humanos.” Dentro da crise e do caos é que se reconstroem as mais belas utopias e as energias para revidar à brutalidade e à desumanidade. Chacinas e como a de Campinas ocorrem todos os dias, em todos os lugares do planeta. Mas a carta que a justifica e exalta é um sintoma de doença grave, tanto do indivíduo que foi o seu autor, como da sociedade que o gerou. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

DIA 14: QUEM PRECISA DE CONVERSÃO?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Papa aos jovens: ouçam a voz de Deus, construam um mundo melhor

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma carta aos jovens, nesta sexta-feira (13/01), de apresentação do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018.
O Pontífice inicia a carta manifestando sua alegria de anunciar aos jovens que, em outubro de 2018, se realizará a 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. 
O documento preparatório foi apresentado, esta manhã, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Um dos objetivos do texto é encontrar as melhores maneiras para acompanhar os jovens a reconhecer e acolher o chamado à vida plena e anunciar o Evangelho de maneira eficaz.
A carta dá início a uma fase de estudo da parte do Povo de Deus. É endereçada às Conferências Episcopais, aos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Orientais Católicas, aos departamentos da Cúria Romana e à União dos Superiores Gerais. Espera-se também a participação dos jovens através de um site.
O Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, abriu a coletiva com os jornalistas apresentando a estrutura do documento que tem como objetivo recolher informações sobre a atual condição sociocultural dos jovens de 16 a 29 anos, nos vários contextos em que vivem, a fim de entendê-la, em vista dos passos preparatórios sucessivos para a assembleia dos bispos. 
O texto é dividido em três partes: ver a realidade, a importância do discernimento, e ação pastoral da comunidade eclesial. A Igreja deseja acompanhar os jovens na descoberta e realização de sua vocação.
“Deve ser esclarecido que o termo vocação deve ser entendido no sentido amplo e diz respeito a grande variedade de possibilidade de realização concreta da própria vida na alegria do amor e na plenitude decorrente do dom de si a Deus e aos outros. Trata-se de encontrar a forma concreta em que esta realização plena possa se realizar através de uma série de escolhas, que articulam estado de vida, matrimônio, ministério ordenado, vida consagrada, etc. profissão modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e dinheiro, etc”, disse o Cardeal Baldisseri na coletiva.
Completa o documento preparatório um questionário que prevê a coleta de dados estatísticos sobre cada igreja local, a resposta a várias perguntas para entender melhor casa situação e a partilha de boas práticas pastorais em andamento para que possam ser de ajuda a toda a Igreja. 
Os jovens serão plenamente envolvidos nesta fase preparatória através de um site a fim de recolher suas expectativas e vida. 
“O próximo Sínodo não quer somente se interrogar sobre como acompanhar os jovens no discernimento de sua escolha de vida à luz do Evangelho, mas quer também colocar-se à escuta de seus desejos, projetos e sonhos que os jovens têm para sua vida, como também das dificuldades que encontram para realizar o seu projeto a serviço da sociedade à qual pedem para ser protagonistas ativos”, disse o Subsecretário do Sínodo dos Bispos, Mons. Fabio Fabene.
Para envolver os jovens serão criadas várias iniciativas, vigílias de oração, encontros internacionais e concertos. As respostas ao questionário do documento preparatório e as dos jovens serão a base para a redação do Documento de trabalho o Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para o debate dos Padres sinodais.
A seguir, a carta do Papa aos jovens.
“Quis que vocês estivessem no centro das atenções, porque os tenho em meu coração. Exatamente hoje foi apresentado o Documento preparatório, que confio também a vocês como «bússola» ao longo deste caminho”. 

Sair
“Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei». Hoje, estas palavras são dirigidas também a vocês: são palavras de um Pai que os convida a «sair» a fim de serem lançados em direção a um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, encontro ao qual Ele mesmo os  acompanha. Convido-os a ouvir a voz de Deus que ressoa em seus corações através do sopro do Espírito Santo”, ressalta o Papa no texto. 
“Quando Deus disse a Abraão «Sai», o que queria lhe dizer? Certamente, não para fugir de sua família, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna que vocês almejam profundamente e desejam construir até às periferias do mundo?” 
“Mas hoje, infelizmente, o «Sai» adquire também um significado diferente. O da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos de vocês, jovens, estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir de sua terra natal. O seu clamor sobe até Deus, como o de Israel, escravo da opressão do Faraó”, destaca o Pontífice. 

Discernir
“Recordo-lhes também as palavras que certo dia Jesus proferiu aos discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede!». Jesus dirige o seu olhar também a vocês, convidando-os a caminhar com Ele.” 
“Queridos jovens, vocês encontraram este olhar? Ouviram esta voz? Sentiram este impulso a pôr-se a caminho? Estou convencido de que, não obstante a confusão e a perturbação deem a impressão de reinar no mundo, este apelo continua ressoando em seu espírito para o abrir à alegria completa. Isto será possível na medida em que, também através do acompanhamento de guias especializados, vocês souberem empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus em sua vida. Mesmo quando o seu caminho estiver marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão para os erguer”, sublinha ainda o Papa.
Agir
Na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-lhes várias vezes: «Podemos mudar as coisas?». E vocês gritaram juntos um «Sim!» retumbante. Aquele grito nasce do seu coração jovem, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença. Escutem aquele clamor que vem do seu íntimo! Mesmo quando sentirem, como o profeta Jeremias, a inexperiência de sua jovem idade, Deus os encoraja a ir para onde Ele os envia: «Não tenha medo [...] pois eu estou com você para protegê-lo».
Constrói-se um mundo melhor também graças a vocês, ao seu desejo de mudança e generosidade. Não tenham medo de ouvir o Espírito que lhes sugere escolhas audaciosas, não hesitem quando a consciência lhes pedir para arriscar a fim de seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta de sua voz, de sua sensibilidade, de sua fé; até de suas dúvidas e suas críticas. Façam ouvir o seu grito. Deixem ele ressoar nas comunidades e o façam chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução».
“Assim, através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda mais, «colaborar para a sua alegria». Confio-lhes a Maria de Nazaré, uma jovem como vocês, à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso, a fim de que os tome pela mão e os  guie para a alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso”, conclui o Papa. 

NÃO SER CARANGUEJO: Frei Petrônio.

INVESTIR NA VIDA: Frei Petrônio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

NÃO TER AMIGOS: Frei Petrônio.

Quando uma mãe perde um filho, aproxime-se com lágrimas, não com palavras, diz o Papa.

Nas profundezas do desespero, quando palavras e gestos já não ajudam, chorem com os que sofrem, porque as lágrimas são as sementes da esperança, disse o Papa Francisco.

Quando alguém está sofrendo, "é necessário compartilhar de seu desespero. A fim de enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, devemos nos unir ao seu choro. Esta é a única maneira de as nossas palavras poderem realmente oferecer um pouco de esperança", disse ele, no dia 4 de janeiro, durante sua última audiência pública semanal.
"E se não for possível oferecer estas palavras, de lágrimas, de tristeza, é melhor o silêncio, o carinho, um gesto, sem palavras", disse ele. A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, 04-01-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em sua primeira audiência pública do ano, o Papa continuou sua série de catequeses sobre a esperança cristã, refletindo a respeito da tristeza inconsolável de Raquel e do luto por seus filhos, que "já não existem", como disse o profeta Jeremias.
O fato de Raquel se recusar a ser consolada "expressa a profundidade de sua dor e a amargura do seu choro", disse o Papa aos que estavam reunidos na Sala Paulo VI do Vaticano.
"Diante da tragédia da perda de seus filhos, uma mãe não suporta palavras ou gestos de consolo, que são sempre insuficientes, sempre incapazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode e não quer ser curada", disse ele. A dor, disse o Papa, é proporcional ao amor em seu coração.
Raquel e seu choro, segundo ele, representam cada mãe e cada pessoa ao longo da história que chora uma "perda irreparável".
A recusa de Raquel também "nos ensina o quanto é necessário ter sensibilidade" e a delicadeza com a qual se deve abordar uma pessoa com dor, disse o Papa.
Jeremias mostra como Deus respondeu a Raquel de uma forma amorosa e gentil, com palavras "genuínas, não falsas".
O Papa declarou que Deus responde com uma promessa de que suas lágrimas não são em vão e que seus filhos devem retornar do exílio e então haverá nova vida e esperança.
"Lágrimas geraram esperança. Não é fácil de entender, mas é verdade", disse ele.
"Muitas vezes, em nossa vida, as lágrimas multiplicam a esperança, são sementes de esperança", afirmou Francisco, enfatizando que as lágrimas de Maria ao pé da cruz geraram nova vida e esperança para aqueles que, por meio de sua fé, tornaram-se seus filhos no corpo de Cristo: a Igreja.
Este "Cordeiro de Deus" inocente morreu por toda a humanidade, o que é sempre importante lembrar, especialmente ao se confrontar com a questão de por que os filhos sofrem neste mundo, disse ele.
O Papa declarou que quando as pessoas perguntam-lhe o porquê de tanto sofrimento, ele não tem resposta. "Eu só digo: 'Olhe para a cruz. Deus nos deu a seu filho, que aqui sofreu, e talvez lá você encontre uma resposta."
Nenhuma palavra ou resposta cabível vêm à mente, disse ele, só se pode olhar para o amor que Deus demonstrou ao oferecer seu filho, que ofereceu a sua vida. Isto pode levar a algum caminho de consolo.
A palavra de Deus é a palavra definitiva de consolação "porque nasce das lágrimas".

Papa Francisco: Jesus tem autoridade porque estava próximo das pessoas.

Jesus tinha autoridade porque servia as pessoas, estava próximo das pessoas e era coerente, ao contrário dos doutores da lei que se sentiam príncipes. Estas três características da autoridade de Jesus foram destacadas pelo Papa na reflexão matutina da terça-feira (10/01), na Casa Santa Marta.
O Pontífice sublinhou que os doutores da lei ensinavam com autoridade “clericalística”, afastados das pessoas, não viviam aquilo que pregavam.
A autoridade de Jesus e aquela dos fariseus são os dois eixos em torno dos quais orbita a homilia do Papa. Um é uma autoridade real, o outro formal. No Evangelho do dia se fala do estupor das pessoas porque Jesus ensinava “como alguém que tem autoridade” e não como os escribas: eram as autoridades do povo, destaca Francisco, mas aquilo que ensinavam não entrava no coração, enquanto em Jesus havia uma autoridade real: não era “um sedutor”, ensinava a Lei “até o último detalhe”, ensinava a Verdade com autoridade.
O Papa desce aos pormenores e reflecte sobre as três características que diferenciam a autoridade de Jesus daquela dos doutores da Lei. Enquanto Jesus “ensinava com humildade”, e diz aos seus discípulos que “o maior seja como aquele que serve: faça-se menor”, os fariseus se sentiam príncipes:
“Jesus servia as pessoas, explicava as coisas para que as pessoas entendessem bem: estava ao serviço das pessoas. Havia um comportamento de servidor, e isto Lhe dava autoridade. Ao invés, os doutores da lei que as pessoas ... sim, escutavam, respeitavam mas não reconheciam que tivessem autoridade sobre eles, estes tinham uma psicologia de príncipes: ‘Somos os mestres, os príncipes, e nós ensinamos vocês. Não serviço: nós mandamos, vocês obedecem”. E Jesus nunca se fez passar por um príncipe: era sempre servidor de todos e isto é o que Lhe dava autoridade”.
É o estar próximo das pessoas, na verdade, que confere autoridade. A proximidade é a segunda característica que diferencia a autoridade de Jesus daquela dos fariseus. “Jesus não era alérgico às pessoas: tocava os leprosos, os doentes, não lhe dava repugnância”, explica Francisco, enquanto os fariseus desprezavam “as pobres pessoas, ignorantes”, eles gostavam de passear pelas praças, bem vestidos:
“Eram distantes das pessoas, não eram próximos; Jesus era muito próximo das pessoas, e isso dava autoridade. Os distantes, aqueles doutores, tinham uma psicologia clericalística: ensinavam com uma autoridade clericalística, isto é, o clericalismo. Eu gosto tanto quando leio a proximidade às pessoas que tinha o Beato Paulo VI; no número 48 da “Evangelii Nuntiandi” se vê o coração do pastor próximo: ali está a autoridade daquele Papa, a proximidade”.
Mas há um terceiro ponto que diferencia a autoridade dos escribas daquela de Jesus, e é a coerência, Jesus “vivia o que pregava”: “havia como uma unidade, uma harmonia entre aquilo que pensava, sentia e fazia”.” Enquanto quem se sente príncipe tem “uma atitude clericalística”, isto é hipócrita, diz uma coisa e faz outra:
“Ao invés, essas pessoas não eram coerentes e sua personalidade era dividida a ponto que Jesus aconselhava seus discípulos: “Fazei o que eles dizem, mas não o que fazem”: diziam uma coisa e faziam outra. Incoerência. Eram incoerentes. E o adjectivo que Jesus usa muitas vezes é hipócrita. E dá para entender que quem se sente príncipe, que tem uma atitude clericalística, que é uma hipócrita, não tem autoridade! Dirá verdades, mas sem autoridade. Jesus, ao invés, que é humilde, que está ao serviço, que está próximo, que não despreza as pessoas e que é coerente, tem autoridade. E esta é a autoridade que o povo de Deus sente”.
Concluindo, para explicar plenamente isto, o Papa recorda a parábola do Bom Samaritano. Diante do homem abandonado meio morto na estrada pelos brigantes, passa o sacerdote e vai embora porque tem sangue e pensa que se o tivesse tocado se tornaria impuro; passa o levita, diz o Papa, e “creio pensasse” que se tivesse se envolvido, depois deveria testemunhar no tribunal” e tinha tantas coisas para fazer. E também ele vai embora. No final, vem o samaritano, um pecador que, ao invés, sente piedade. Mas tem outro personagem, o hospedeiro, nota o Papa, que fica impressionado não com o ataque dos brigantes, porque era uma coisa que acontecia naquela estrada, não pelo comportamento do sacerdote e do levita, porque os conhecia, mas pelo comportamento do samaritano. O estupor do hospedeiro diante do samaritano: “Mas ele é louco”, “não é hebreu, é um pecador”, podia pensar. Francisco então liga este episódio com o estupor das pessoas do Evangelho de hoje diante da autoridade de Jesus: “uma autoridade humilde, de serviço”, “uma autoridade próxima das pessoas” e “coerente”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va