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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MISSÕES CARMELITAS NOS RIOS NEGRO E SOLIMÕES*

Dom Frei Wilmar Santin, O. Carm.

Introdução


Os carmelitas chegaram no Brasil em 1580, mas só tardiamente em 1695, portanto 115 anos depois, entraram no trabalho missionário com os índios.
  Nos primeiros 100 anos em solo brasileiro, dedicaram-se ao trabalho com o povo das cidades, porque basicamente só os jesuítas tinham permissão para o trabalho missionário com os índios até 1693, quando houve uma nova repartição das missões. Nestas foram incluídos os franciscanos e mercedários, mas os carmelitas ficaram fora. No entanto, em novembro de 1694 o rei de Portugal confiou aos carmelitas as missões dos rios Negro e Madeira.
  Os carmelitas da Vigararia do Maranhão, no ano seguinte, tomaram posse das missões do rio Negro, mas não no rio Madeira. Em 1697 foram também encarregados das missões no rio Solimões, porque o Pe. Samuel Fritz [1], que pertencia à província dos jesuítas de Quito, estava missionando em terras consideradas pelos portugueses como pertencentes à “Sua Majestade de Portugal”. Ocuparam as missões fundadas pelo Pe. Fritz e não deixaram mais que o mesmo missionasse ali. Por consequência, os carmelitas naquelas regiões foram não só anunciadores do evangelho, mas também conquistadores e defensores das fronteiras portuguesas na Amazônia.
O trabalho missionário, oficialmente como tal, terminou com a publicação do alvará de 7 de junho de 1755, que abolia o governo temporal dos religiosos nas aldeias. Após 1755, os carmelitas (e os outros religiosos) não são mais missionários, mas sim vigários, não existem mais aldeamentos mas sim paróquias como expressão religiosa das vilas nas quais a legislação pombalina convertera os aldeamentos [2].
Onde os carmelitas especificamente missionaram? Como foi a atividade missionária e o dia-a-dia nas missões? A catequese? Que devoções divulgaram? Que dificuldades encontram? Como eram as igrejas e capelas? Falavam que língua? Como celebravam? Tiveram mártires? São algumas perguntas que tentaremos responder com este trabalho.

1. As missões carmelitanas

             Além das missões nos rios Negro e Solimões, os carmelitas tiveram várias missões e/ou missionários em outros grandes rios da Amazônia, como por exemplo: no rio Branco, no rio Amazonas (Parintins, Itacoatiara), no rio Madeira (Borba). Mas as principais foram nos rios Negro e Solimões. É muito difícil estabelecer exatamente quantas aldeias tiveram, por causa da falta de fontes à nossa disposição. O mesmo problema acontece no que se refere a determinar os nomes de todos os missionários e em que aldeias trabalharam. As fontes muitas vezes são genéricas. Informam: “um missionário carmelita” ou simplesmente “um carmelita”. Quando menciona o nome é comum encontrar: “Frei ... missionário no rio ...”, sem precisar em qual aldeia. Apresentaremos uma lista, não exaustiva, de aldeias missionadas pelos carmelitas. De acordo com a documentação disponível, vamos individualmente informando o nome, o patrono, as nações indígenas presentes, por quem foi fundada, missionários que ali trabalharam e um pouco da história. Mas tudo de uma forma muito resumida.

1.1 - Missões no rio Negro

As mais importantes missões dos carmelitas na Amazônia foram as do rio Negro. Pode-se afirmar isto em relação ao número de aldeias e missionários, pelo número de índios atingidos e pelas cidades ou povoados que surgiram a partir das primitivas aldeias fundadas ou missionadas pelos carmelitas.

1.1.1 Airão

Situada na margem direita do rio Negro a 44 léguas da sua foz.  Foi primitivamente a aldeia de Tarumá, fundada em 1669 por Pedro da Costa Favella e o mercedário Fr. Theodozio, na margem esquerda do mesmo Rio Negro, e immediações do Aiurim com indigenas Turumás e Aruaquis; sendo o primeiro estabelecimento no Rio Negro, 25 annos antes da missão Carmelita. Depois trasladou-se para onde ora existe, ajuntando-se-lhe neophitos das nações Tacú e Manáos, dando-se-lhe o nome de Airão [3]. Mas quando foi transferida para a foz do rio Jaú, recebeu o nome de Santo Elias do Jaú [4]. O primeiro missionário carmelita desta missão foi Frei João Evangelista [5]. Sobre a mudança constante de local, Frei Victoriano Pimentel aponta como motivo o fato de que os índios eram andarilhos e não gostavam de ficar mais de um ano no mesmo lugar. Essa mudança constante criava alguns problemas, como de construir uma igreja e depois ela ficava abandonada. Ele mesmo conta sua experiência: A mim me sucedeu mandar fazer uma Igreja nova muito bastante nos Turumazes (Tarumans) que são da Missão de Santo Elias, e estando já quase acabada se mudaram eles para a outra banda, deixando ficar aquela Aldeia deserta [6].

1.1.2 Aldeinha

Foi fundada em 1729 por Frei Matias de São Boaventura. Mas foi Frei José da Madalena quem construiu a capela e a colocou sob a proteção de São Caetano. Era uma aldeia destinada a acolher os índios Baré.  Existiu até o ano de 1759, no qual, o estrago do tempo, e das enchentes do rio deram fim dela, de forma, que nem já existe o lugar da sua fundação  [7].

1.1.3 Aracari (Carvoeiro)

Esta aldeia, fundada pelo Sargento Guilherme Valente, tinha como patrono Santo Alberto. Abrigava índios das nações Manao, Passé e Banila. Inicialmente localizada à margem do rio Cabury, mudou várias vezes de local. Em 1759 foi elevada à categoria de lugar com o nome de Carvoeiro. Na opinião de velhos moradores de Manaus, velhos e eruditos, de descendência cabocla, o lugar chamava-se CRAVOEIRO e não Carvoeiro. Da abundância de pés de ‘CRAVEIRO DA INDIA’, ali plantados pelos Missionários  [8].

 

1.1.4 Bararoá

A padroeira era Nossa Senhora do Rosário e  parece que o primeiro missionário carmelita que houve neste lugar foi o Padre frei Antonio de Oliveira [9]. Posteriormente seu o nome foi mudado para Tomar (ver abaixo).

1.1.5 Bom Jardim

Fr. Jeronymo Coelho, após missionar na aldeia Tarumá, fundou um hospício Bom Jardim. Ali catequizava os índios. Nossa Senhora do Monteserrate era a padroeira [10].

1.1.6 Camatá ou Camará

Aldeia do Camará missionada pelos carmelitas: os quais deram Nossa Senhora do Carmo por Orago da Igreja, que hoje não existe; e não se conhece já o sítio em que esteve [11].
1.1.7 Carmo
Lugar situado na esquerda do rio Negro 160 léguas acima da sua foz sobre uma grande enseada de uma dilatada baía. [12]. Tem sua origem na aldeia de Camatá ou Camará, que desapareceu. Este lugar Carmo não deve ser confundido com outro de igual nome situado na margem direita do rio Branco.
1.1.8 Castanheiro Novo
Aldeia situada na margem esquerda do rio Negro a 153 léguas da sua foz. A igreja era dedicada a Santo Antônio de Lisboa [13].

1.1.9 Castelinho

Tinha como patrono Santo Antônio e recebeu missionários graças à iniciativa do Vigário Provincial Frei Francisco de Santo Elias [14].

1.1.10 Cumaru (Poiares)

Fundada antes de 1720 por Frei Braz de Santa Teresa. Santo Ângelo era o seu padroeiro. Estava situada na margem direita do rio Negro em Poiares a 17 léguas de Aracari (Carvoeiro) e 7 de Mariuá (Barcelos). Índios Manao, Baré e Passé foram evangelizados nesta aldeia. Porque ali dançavam os gentios também lhe chamavam Jurupariporaceitaua, que equivale a dizer lugar das danças do Diabo [15].

1.1.11 Dary

Era a última missão carmelita no rio Negro [16]. Estava sob a proteção de Nossa Senhora do Carmo.

1.1.12 Guia

Situada na margem direita do rio Negro a 217,5 léguas da sua foz e perto da desembocadura do rio Içana. A igreja é consagrada a Nossa Senhora da Guia; ela é coberta com folhagem e desornadíssima; foi erguida pelos moradores pouco depois de ter caído a primeira [17].

1.1.13 Jaú

Ver Airão (1.1.1)

1.1.14 Lamalonga

Estava situada na margem direita do rio Negro a 125 léguas da sua foz. Foi antigamente aldeia do Principal José João Dary, que a fundou separando-se do Principal Alexandre de Souza Cabacabari, com quem vivia na Vila de Thomar mal contente e desabrido [18]. Tinha como padroeiro São José. O primeiro missionário carmelita que houve neste logar foi Fr. Francisco de Nazareth [19].

1.1.15 Maçabari

Situada na margem direita do rio Negro a 165 léguas da sua foz [20]. A padroeira era Nossa Senhora de Loreto.

1.1.16 Marabitanas

Situada na margem direita do rio Negro a 245 léguas da sua foz ou a 9 léguas da foz do rio Xié. Teve como padroeiro São José. Ali missionaram os Jesuítas Francisco Velloso e Manuel Pires em 1657 e 1658; - o Mercedario F. Theodosio em 1669; - Os Carmelitas Fr. José de Santa Maria e Fr. Marinho da Conceição em 1695 [21].

1.1.17 Mariuá (Barcelos)

Foi uma importante aldeia fundada em 1728 por Frei Matias de São Boaventura. Reza a tradição que Comandry, principal da cabilda dos índios MANAOS, a rogos de sua mãe, pediu a um frade carmelita a catequese para si e para os seus, e daí se originou a aldeia, missionada pelos frades do Carmo [22]. Tinha como patrona Nossa Senhora da Conceição. Manao, Baré, Bayana, Uariquenas e Passé receberam a catequese neste local. Os carmelitas construíram ali um hospício, que era conhecido como Palacete [23]. Mais tarde Mariuá passou a se chamar Barcelos, que conserva até hoje. Frei José da Magdalena reunia nesta aldeia os missionários da região duas vezes por ano para dar-lhes a absolvição geral [24]. Em 1724 houve uma grande epidemia de “bexigas” contagiando muita gente. Em 1740 aconteceu outra vez o mesmo contágio, foi quando Frei José da Magdalena introduziu a vacina contra a doença pela primeira vez no Estado [25].

1.1.18 Moreira

Situada na margem direita do rio Negro a 102 léguas da sua foz. Tinha como padroeira Nossa Senhora da Conceição. O primeiro assento deste lugar, que havia sido aldeia denominada de Cabuquena em razão de seu Principal que assim se apelidava, foi na vizinhança da Vila de Moura quando ela se achava na margem do rio Uarirá: dali transmigrou-se para a localidade atual debaixo da conduta do referido Principal José de Menezes Cabuquena [26]. Ali em 1757 foi martirizado o carmelita Frei Raimundo de Santo Eliseu.
1.1.19 Moura
Situada na margem direita do rio Negro a 57 léguas da sua foz, entre Moreira e Vila de Thomar. O primeiro assento desta povoação foi na margem direita do rio Uarirá, que se difunde no rio Negro pela sua margem austral, entre o lugar de Moreira e a Vila de Thomar: dali se transladou para a presente situação. Esta vila, que em outro tempo foi Aldeia dos Caricahis, fundada pelos missionários carmelitanos, contém dentro da sua alçada os lugares de Airão, Carvoeiro, e os lugares do Rio Branco, Santa Maria, Carmo e São Joaquim. .... A Igreja é coberta de palma, e dedicada a Santa Rita de Cássia [27].

1.1.20 Nossa Senhora do Carmo

            Ficava na região de Manaus. Foi visitada por Frei Victoriano Pimentel no final de novembro de 1702. Neste Rio que da fronte (frente) da Fortaleza terá três léguas de largo, padecem muito os Missionários por ser muito doentio, e todas as vezes que enche e vaza são infalíveis as febres, e certas as doenças; a água dele sendo clara parece preta como tinta, até o verde das árvores propende para negro; o gentio todo é de beiço furado; e eles usam de muitas mulheres, elas de mui limitados panos para a sua nudez; é gentio mui vario (andarilho) um ano quer morar de uma parte, no segundo já se muda para a outra, mas sempre para o novo domicílio [28].

1.1.21 Pedreira

Provavelmente fundada pelo missionário Carmelita Frei José Damasco do Amor Divino [29]. Ali foram missionados os Caraiais. Esta missão foi transferida mais tarde para Itarendana. Tinha como padroeira Santa Rita.
1.1.22 São Felipe
Situada na margem direita do rio Negro a 213 léguas da sua foz, perto do rio Içana. Boa escolha fizeram os Missionárias Carmelitanos desta situação para fundarem uma igreja que dedicaram a São Filippe [30].
1.1.23 São Gabriel da Cachoeira
Situada na margem esquerda do rio Negro a 199 léguas da sua foz. A boa igreja, que os Missionários Carmelitas inauguraram a São Gabriel, está assaltada de ruínas que tendem a fazê-la baquear [31].
1.1.24 Santa Ana
            Situada na margem esquerda do rio Negro a 208 léguas da sua foz. O Capitão Antonio José Landi deixou-nos a descrição da festa de 1744 em honra de Sant’Ana – Reuniam-se nesta Festa os missionários Carmelitas do Rio Negro e Solimões [32].
1.1.25 Santa Isabel
Fundada pelos carmelitas, está situada na margem esquerda do Rio Negro a 141 léguas da sua foz. As pousadas são telhadas com folha de palma e com a mesma é também coberto o teto da igreja, a qual é dedicada a Santa Isabel, e distinta por duas cruzes, uma alteada na extremidade anterior da cumieira, a outra no adro, que é um quadrado eqüilateral [33].

1.1.26 Santo Elias

            Ficava na região de Manaus, mais precisamente no Tarumã. Foi visitada pelo Vigário Provincial Frei Victoriano Pimentel no final de novembro de 1702 [34].

1.1.27 São João Batista

Situada na região da atual cidade de Manaus, onde antigamente havia uma fortaleza dos portugueses. Foi fundada por Frei Vitoriano Pimentel, quando fez sua viagem de visita às missões em 1702. Ele mesmo narra: Eregi outra de novo com o título de São João Bautista o que consegui pelas dádivas que dei; porque vesti a todos os Principais, e a alguns Abalizados, aos mais presenteei, com que todos ficaram contentes, conduzindo muito para isto, verem que o interesse que eu tinha no que lhes dava não era mais que sua redução para que abraçassem mais carinhosamente a nossa Santa Fé [35].
1.1.28 São Joaquim Coani
Situada na margem direita do rio Uaupés, que é afluente da margem direita do rio Negro. O padroeiro era São Joaquim. Os carmelitas também erigiram outra igreja sob a invocação de São Jerônimo no mesmo rio Uauapés além da cachoeira do Pirá [36].
1.1.29 São José
Estava acima do Sítio da Capela na margem esquerda do rio Negro, 172 léguas da sua foz. Os missionários carmelitas levantaram ali uma igreja dedicada a São José [37].

1.1.30 São Marcelino
            Situada na margem esquerda do rio Negro a 234,5 léguas da sua foz e à margem esquerda do rio Xié [38].
1.1.31 São Miguel do Iparama
Situada na margem esquerda do rio Negro a 203 léguas da sua foz. A aldeia estava dedicada a São Miguel [39].
1.1.32 São Pedro
Situada na margem esquerda do rio Negro a 180 léguas da sua foz. A igreja foi dedicada a São Pedro; construíram-na os missionários carmelitas quando estabeleceram este lugar. Um incêndio fortuito a tragou [40].

1.1.33 Tapera

Aldeia na região dos Tarumás, cujo padroeiro era Santo Elias. Originariamente estava às margens do rio Negro. Depois foi mudada para a boca do rio Aguarapé. Quando se tornou povoado recebeu o nome de Santa Isabel [41].

1.1.34 Tarumás

Ver Airão (1.1.1)

1.1.35 Tauapeçassu

Estava dedicada a Santo Ângelo [42].
1.1.36 Thomar
            Situada na margem direita do rio Negro a 120 léguas da sua foz. A sua primeira fundação foi na mesma margem perto da foz do rio Chiuará, e afrontada com a ilha Timoni. Esta vila foi anteriormente Aldeia de Bararoá [43]. Nossa Senhora do Rosário era a padroeira. Em 1758 foi elevada à condição de vila.

1.2 - Missões no rio Solimões

Como já foi dito, os carmelitas iniciaram seus trabalhos missionários na região do rio Solimões em 1697. O motivo foi combater a presença castelhana empreendida pelo jesuíta Pe. Samuel Fritz. O governador pediu ao provincial Frei Manuel da Esperança para que enviasse um missionário para, o quanto antes, tomar posse das missões no rio Solimões.
O primeiro carmelita a missionar nos Solimões foi frei Sebastião da Purificação, que acompanhou o provincial na tomada de posse das missões do Pe. Fritz [44]. Evidentemente tiveram problemas com o jesuíta que missionava naquela região.
A presença dos carmelitas cresceu ali rapidamente, tanto é que no início de 1703, só na região dos Cambebas, a saber, no Alto Solimões, tinham 30 missões, segundo o relatório de Vitoriano Pimentel [45].

1.2.1 Axuarizes

Esta é uma das poucas aldeias em que se sabe a data exata de sua ereção: 17 de janeiro de 1703 [46]. Frei Vitoriano Pimentel dá o seu testemunho: Com muita confiança em Deus parti [de Tefé] a 15 de janeiro de 1703 para cima e a 17 cheguei aos Axuarizes, donde erigi nova Missão com o título de São José  [47].

 

1.2.2 Coary (Gujuratubá e Arvellos)

Aldeia situada às margens do rio Coari. Teve o primeiro assento no canal de Paratari sobre a margem esquerda oito léguas acima da sua entrada inferior: deste ponto transmigrou para a margem direita do riacho Uanamá meia légua acima da boca; dali transferiu-se para a paragem de Guajaratiba doze léguas acima do rio Manacapuru, e daqui passou para o rio Coari, onde permanece, e teve primeiramente o título de Aldeia de Coari: em cujo tempo nela esteve Mr. de la Condamine quando em 1744 desceu o Amazonas para a Europa [48]. Por fim passou a se chamar Arvellos. Tinha Santa Ana como padroeira.

1.2.3 Manutá

Dedicada a Santo Alberto. Ali trabalharam: Frei Francisco de Santo Anastácio e Frei João Guilherme. É nesta aldeia que foi martirizado Frei Francisco de Santo Anastácio [49].

1.2.4 Nogueira

Situada a duas léguas de Tefé. Inicialmente estava na margem direita do rio Solimões. Depois foi transferida para a Ponta de Parauari. A Igreja tem a invocação de Nossa Senhora do Rosário: e particularidade de estar o respaldo do altar decorado com pinturas índias: as quais além desta habilidade tem a de musicar, pois enquanto se diz missa cantar com muita suavidade várias rezas [50].

1.2.5 Peránamsasj

O que sabemos desta aldeia é narrado por Frei Vitoriano:
A 18 [de janeiro de 1703] cheguei a Aldeia de Peránamsasj, donde também fiz nova Missão com o título de Santa Maria Madalena de Pazis, e a este Principal dei o último vestido de 13 que levei para o sertão, e presenteei aos mais com outras jóias, sendo tudo necessário para aceitarem Missionário de melhor vontade, e menosprezarem as práticas do Padre Samuel, que com tanta força fazia por levar todo esse gentio para cima para sua Missão. A 20 [de janeiro] cheguei a uma aldeia pequena, que era a última dos Solimões, e saltando em terra não achei mais que caveiras frescas, miolos, sangue e intestinos pelo terreiro; porque o juma que é gentio de corso que vive no mato sem domicílio havia poucos dias que tinha dado guerra a esta pouca gente; e a não achar-se naquela aldeia um homem branco com uma espingarda, que a disparou, não escaparia uma só pessoa; levaram os mortos para a outra banda do Rio, e lá os estavam comendo assados com seus costumados bailes e folguedos: eu vi as suas fogueiras, mas não me cheguei tão perto que divisasse as pessoas; se bem que na Aldeia de São Paulo, que missionava o Padre Samuel vi um juma pintado de vermelho e branco com cinco buracos em cada beiço, com uns espinhos metidos pelos buracos a feição de dentes de javali, que ainda não vi gentio nem mais horrível, nem mais feio e medonho.
A 21 [de janeiro] fui dar em uma Ilhota com os que tinham escapado da morte na aldeia desolada; e achei o homem branco, que os tinha defendido em sua companhia; reparti com toda esta gente das drogas que levava e os pratiquei para se incorporarem na Missão de Santa Maria Madalena de Pazis por ser a mais circunvizinha [51].

1.2.6 Pirauary

Quando deixou de ser aldeia passou a ser chamada de Nogueira. Baena afirma: Desta Ponta de Parauari se estendia em remotos tempos a Aldeia dos Curucicuris, na qual esteve Pedro Teixeira capitão-mor da expedição exploradora do Amazonas a Quito, remontando o mesmo Amazonas em 1638, e lhe impôs o nome de Aldeia do Ouro [52].
1.2.7 Santo Ângelo
Não está situada propriamente no rio Solimões, mas no seu afluente Jubará. Anteriormente o Pe. Samuel Fritz havia missionado por ali. Foi erigida por Frei Vitoriano Pimentel, quando este visitou, como vigário provincial, as missões carmelitas nos rios Negro e Solimões [53].

1.2.8 São Paulo dos Cambebas (São Paulo de Olivença)

É fundação do Pe. Samuel Fritz [54]. Teve o seu primordial assento na margem direita do Solimões em paragem, que defrontava com a ilha Tuguaru três léguas abaixo do Javari: o segundo assento foi no ponto superior meia légua ao igarapé Pacuti na mesma margem direita do Solimões: desta paragem se transferiu para a margem esquerda do dito Solimões: e daqui passou a coadunar-se com os moradores da aldeia de São Pedro situada uma légua abaixo do igapapé Camatiá: e desta aldeia saiu a formar assento separado na vizinhança da mesma aldeia [55]. Frei Domingos de Santa Teresa foi o grande missionário carmelita desta aldeia. Chegou lá em 1734 e se dedicou ininterruptamente à evangelização dos índios durante onze anos [56].

1.2.9 São Pedro

Esta aldeia foi fundada pelo carmelita Frei Domingos de Santa Teresa, que missionava na aldeia de São Paulo dos Cambebas. Como o próprio nome diz, seu patrono foi São Pedro [57].

1.2.10 Tefé

Inicialmente foi uma missão dos jesuítas. O carmelita Frei André da Costa, que tinha uma missão na ilha de Veados, mudou-a para Tefé e construiu uma capela dedicada a Santa Teresa. Frei Vitoriano Pimentel passou o Natal de 1702 nesta aldeia[58].
Em 1759 foi ereta como vila e mudou de nome para Ega, mas em 1833 voltou a ser chamada pelo nome primitivo Tefé. Em 1781 reuniram-se nesta Vila as Partidas de demarcações, Espanhola e Portuguesa, de que eram comissários, português - Chermont, e espanhol – Pizarro [59].

2. Atividade missionária e o dia-a-dia nas missões

2.1 - Os Estatutos das Missões

Chamaremos de Estatutos das Missões as determinações ou normas [60] estabelecidas pelo vigário provincial Frei Inácio da Conceição em 16 de outubro de 1728. Estas “leis” foram aprovadas em Lisboa pelo provincial e seu definitório em 2 de maio de 1730 [61].
Os Estatutos das Missões Carmelitanas, entre outras coisas, determinavam que os carmelitas deviam levar para as missões a capa branca e sempre usarem o hábito; proibiam ter nas suas residências mulheres nem sob o pretexto de cozinhar, bem como levá-las em suas canoas; não consentiam nas aldeias a presença de seculares que tivessem vícios ou maus costumes, como também que se expusesse o Santíssimo porque as igrejas estavam em lugares ermos e desertos devido ao perigo de violações; obrigavam os missionários a catequizarem diariamente os jovens e ensinar-lhes a língua portuguesa, e que só batizassem índios adultos depois de os ter bem instruídos nos artigos e dogmas da nossa Santa Fé, e terem, outrossim, deixado todos os erros de gentilismo; terminantemente proibiam a compra e venda de índios, SUB PENA de incorrerem em excomunhão.

2.2 - Catequese

O que Pe. Arlindo Rubert escreveu a respeito da catequese dos jesuítas, pode ser aplicado também aos carmelitas, ou seja, Usavam o mesmo sistema seguido pelos missionários do tempo, que consistia numa breve catequização, em que eram expostas as verdades fundamentais da fé: um Deus Criador e Senhor de todas as coisas, a queda do homem, a redenção por Jesus Cristo, a instituição da Igreja com os Sacramentos da salvação da nova aliança, a vida dos filhos de Deus, finalmente o Juízo universal, com o castigo dos maus e recompensa dos bons [62].
Na teoria isto é fácil de se comprovar, porque os Estatutos das Missões eram muito claros neste ponto. Na prática há alguns testemunhos evidenciando o cumprimento desta prática. Selecionamos alguns.
O primeiro é do Vigário Provincial Frei Antônio de Araújo, que em 1738 visitou as missões carmelitas. Num certificado afirma que verificou tudo “ocularmente” que Frei José da Madalena não sabe o que é descanso, é incansável no exercício da doutrina, que todos os dias de manhã e de tarde se frequenta e ensina na sua igreja, donde indispensavelmente se canta o terço de N. S. todas as tardes [63].
Outro testemunho é do Vigário Provincial Frei Francisco de Santo Elias. Ele em 1746 narra que Frei Domingos de Santa Teresa atuando
com Apostolico zelo no bem Espiritual da Salvaçam das suas almas, tirandolhes muitos Ritos, superstisoes, e barbaridades de que ainda usavam sem nunca sahir, nem se apartar da sua companhia depois que chegou aquella Missam que passaõ ja de onze annos, gastando todo o tempo em os domesticar, e ensinar, fazendolhe doutrina Tres vezes no dia, sendo para isso chamados a Igreja ao toque do Sino, de manhãn, de tarde, e á noite com a felicidade de ter conseguido o fruto do seu Trabalho, Vendo todo aquelle gentio domesticado e bem instruido na Doutrina Christàn, para o que parece concorreu a graça Divina, illustrando lhes os entendimentos para abrassarem tudo o que se lhe tem ensinado, de sorte que parece aquella Aldea huma povoacam de Christandade antiga [64].
O jesuíta Pe. Carlos Brentano não só confirma as afirmações de Frei Francisco de Santo Elias, como também acrescenta que ele, além de dar doutrina, combatia os usos e costumes religiosos dos nativos, considerados na época como superstições e vícios [65].
Por estes testemunhos já dá para perceber um outro aspecto da catequese dos carmelitas: a devoção mariana. Através de cânticos, orações e da própria doutrina transmitiram aos índios o amor que tinham pela Mãe de Deus.
Outro carmelita que muito se destacou no trabalho missionário foi Frei José das Chagas. Ele não trabalhou nos rios Negro e Solimões, mas nas regiões dos rios Amazonas e Madeira. Vários autores fazem-lhe grandes elogios, no entanto, o mais significativo é o do Cônego Francisco Bernardino de Souza:
Frei José Chagas o primeiro que devassando as matas do rio MAUÉ-ASSÚ, conseguiu chamar a si grande número de índios da tribo MAUÉS, com os quais aumentou a população de Vila Bela.
            Tratava os seus catecúmenos com a maior doçura; apostolo da caridade, repartia com ele do que possuía, consolava-os em suas contrariedades, tratava-os com desvelo em suas enfermidades, fornecendo-lhes não só medicamentos necessários como a dieta.
            E não era somente aos índios que estendia a sua generosidade. Possuindo alguma fortuna, dela dispunha, em benefício público, principalmente na sustentação e brilhantismo do culto. Em testemunho desta asserção, ainda estão em Vila Bela os ricos paramentos que servem nas grandes solenidades, o frontal, o missal e outros objectos que por ele foram comprados e doados á Matriz.
            Também segundo consta, foi por ele doado ao seu convento em Belém, no tempo em que lhe serviu de prior, o órgão que ainda hoje lá funciona.
            Depois de uma vida afanosa, toda dedicada ao serviço do próximo e da catequese dos índios, já adiantado em anos e em estado de caducidade, faleceu na vila de Borba, deixando nessa parte do Amazonas um nome, que por largos anos ali será repetido com a mais profunda veneração e respeito.
            Falava Fr. José das Chagas com muita graça e propriedade a língua geral, e no púlpito somente dela fazia uso quando se dirigia aos índios.
            Foi o verdadeiro Las Casas e Anchieta da Mundurucania [66].
No Arquivo Secreto Vaticano há um atestado de Dom Romualdo de Souza Coelho, bispo do Pará, descrevendo resumidamente a atuação de Frei José das Chagas:
Attesto aos Senhores, a quem o conhecimento desta pertencer, que Fr. José das Chagas Religioso Carmelita calçado rezidente na Provincia do Pará, paroquiou ali muitos annos na parte superior do Rio Solimões, Capitania do Rio Negro, com muito zelo, e satisfação dos respectivos Habitantes; e que recolhendo-se para o seu Convento com o destino de ser empregado no Governo do mesmo, foi immediatamente encarregado pelo meu antecessor, e pelo General, que então era o Illustrissimo e Excelentissimo Senhor Conde dos Arcos, no laborioso Ministerio de reduzir ao Gremio da Religião os Gentios Mondurucú, e Maugués; o que elle desempenhou com tanta vantagem, que já tem estabelecido tres Missões, e pertendo agora, que vá catequizar o Gentio Mura nas margens do Amazonas, apezar da avançada idade, em que se acha [67].
Outra característica dos carmelitas nas missões parece ter sido a paciência e o bom tratamento dado aos índios. Frei Domingos de Santa Teresa era de una paciência invicta, na expressão de Pe. Carlos Brentano, acima citado, mas é, sobretudo, o historiador do Amazonas Arthur Reis, que ao narrar sobre o trabalho dos carmelitas afirma:
Sabendo triunfar, sobre os costumes rudes daquelas gentes primitivas, pela cordura no trato, imprimindo-lhes confiança, defendendo-os da voracidade com que se apresentavam os sertanistas, à sua palavra amiga, convencedora, aos gestos de desprendimento, foram cedendo os ímpetos de vingança da gentilidade. Manaus, Barés, Passés, Carajás, Jumas, Banilbas, Cuevenas, rendendo-se a pouco e pouco, vindos de paragens longínquas, de recessos fluviais, acomodaram-se, celebram pazes, aceitaram a dominação dos portugueses.
            Os carmelitas conseguiram, assim, mais resultados que as expedições militares, assinalados em sangue e negativas na civilização dos selvagens [68].
Arthur Reis informa ainda que usavam a música e o canto para catequizarem:
Nas missões do Solimões, como nas missões do Rio Negro, os carmelitas mantinham aulas de música e de canto, aproveitando as habilidades e inclinações dos catecúmenos para as artes.
Em Tefé, por exemplo, onde sediavam as missões do Solimões, mantinham uma orquestra, em que os instrumentos tinham sido feitos pelos nativos. Em Mariuá, onde sediavam as missões do Rio Negro, mantinham um coro na igreja local, o qual se fez ouvir por ocasião da chegada do Capitão-General Mendonça Furtado, durante a solenidade religiosa que ali se realizou em homenagem ao mano de Pombal [69].
Vários testemunhos confirmam o que é dito pelo historiador Arthur Reis. O bispo D. Frei Guilherme de São José Freire informa que nas missões carmelitas no rio Solimões os índios todos os dias duas vezes vaõ á Igreja, onde alem da Santa Doutrinta digo da Santa Doutrina cantaõ varios Hymnos, e Oraçoés [70]. Frei Luciano de Santo Alberto reafirma a informação do bispo: fazendo-os hir todos os dias duas vezes á Igreja, aonde alem da Santa Doutrina que aprendem lhes tem ensinado varios Hymnos, e Antiphonas em Latim que cantaõ [71].
No rio Negro não era diferente. Ali também os missionários ensinavam os índios a cantarem. Frei Antônio de Araújo conta que em Mariuá, onde Frei José da Madalena era missionário, na igreja indispensavelmente se canta o terço de N. S. todas as tardes, além de outras muitas devoções que nela exercitam e cantam os seus Aldeanos e nos Sábados, Domingos e dias Santos os faz cantar também Missa [72].

 

2.3 - Devoções a Nossa Senhora e aos Santos

2.3.1 Nossa Senhora

A Ordem do Carmo é reconhecidamente uma Ordem Mariana. As raízes marianas dos carmelitas remontam às suas origens no Monte Carmelo no final do século XII. Ali construíram uma capela dedicada a Maria e desenvolveram uma particular devoção à Mãe de Deus a ponto de tomá-la como modelo de suas vidas no seguimento de Jesus Cristo.
Também no trabalho missionário na Amazônia pode-se encontrar a manifestação do amor dos carmelitas pela Mãe de Jesus através da escolha de Nossa Senhora como patrona de várias aldeias, nos cantos que ensinavam aos índios, nas imagens que levavam para as igrejas e capelas das missões, etc. Contando somente as aldeias acima citadas, constata-se que colocaram Nossa Senhora como padroeira em quase um terço das aldeias.
Há uma evidente predominância pelo título de Nossa Senhora do Carmo, porque, além de ser padroeira de várias aldeias, os missionários carmelitas manifestaram e divulgaram a devoção colocando sua imagem em várias capelas das outras aldeias não dedicadas à Virgem do Monte Carmelo[73]. Assim por exemplo, Frei Domingos de Santa Teresa adquiriu uma prodigiosa imagem de Nossa Senhora do Carmo em Portugal e a colocou na capela da missão de São Paulo dos Cambebas no alto do rio Solimões [74]. Na capela da Pedreira, dedicada a Santa Rita, havia um painel de Nossa Senhora do Carmo [75]. Apesar de toda esta preferência dos missionários carmelitas pela sua padroeira, devemos ressaltar que não encontramos nenhuma menção ao escapulário, nem nas fontes disponíveis nem nos autores que escreveram sobre as missões carmelitas.
Outra forma de manifestar a sua devoção a Nossa Senhora foram os cânticos, que ensinaram aos índios. Neste sentido há vários testemunhos muito interessantes, entre os quais destacamos:
a) Relato de Frei Antônio de Araújo, Vigário Provincial da Vigararia e Missões do Estado do Maranhão, que em 2 de outubro de 1741, escrevia a respeito de Frei José da Magdalena: no dia de Nossa Mãe Sma. faz também ajuntar os mesmos missionários na Missão de Nossa Senhora do Carmo do Camará, para lhes conferir o mesmo beneficio da absolvição geral e solenizarem a sua festa, com sermão e Missa cantada [76].
b) Frei Francisco de Santo Elias, vigário provincial dos carmelitas, a respeito da devoção mariana na aldeia de São Paulo dos Cambebas, em março de 1746 testemunhava:
com muita devoçam cantaõ todos os dias de tarde na Igreja o Terço a Nossa Senhora, e nos Domingos o fazem em Procissam pela Aldeia com a ladainha da mesma Senhora no fim, e a Salve Raynha, Ave Maris Stæla, Stæla Cœli e as Antiphonas, O Gloriosa Domina, Sub tuum præsidium, Virgo Maria, Tota pulchra es; e na mesma forma cantaõ a Missa que o Padre Missionario diz todos os Domingos, dias Santos, Paschoas, e Festas de Nossa Senhora com a Antiphona Veni Sanctæ Espiritus, e Asperges me no principio ao uzo Carmelitano, tudo officiado pelos mesmos Indios com suas Opas vestidas que para esse fim lhes mandou fazer [77].
c) O jesuíta Pe. Carlos Brentano, provincial da Província de Quito, em dezembro de 1746, escrevia que o carmelita Frei Domingos de Santa Teresa ensinava aos índios las alabanças Divinas, y de Su Santisima Madre en Cantares harmoniacos e que convertia sus falsas, y supersticiozas creencias en un tierno, y devoto culto del Verdadero Dios, y de Su Santisima Madre [78].
d) Francisco Xavier de Mendonça Furtado, desde Mariuá em 9/1/1755, informava ao Bispo:
Os [religiosos] da administração do Carmo estão pelo que diz respeito à Igreja na forma em que Vossa Excelência os viu, e ainda alguma coisa adiantada. Assistem principalmente as mulheres aos Ofícios Divinos, ajudando às Missas solenes cantadas e entoando diversos Hinos e Antífonas de Nossa Senhora [79].

            Não encontramos menção ao canto Flos Carmeli, que segundo a tradição carmelitana foi composto por São Simão Stock, quando recebeu o escapulário.

2.3.2 Devoção aos santos

Entre os santos/as patronos/as das aldeias a metade é composta por santos carmelitas, se a estes adicionamos São Joaquim, Santa Ana e São José, porque são considerados padroeiros da Ordem e no passado foram muito venerados pelos carmelitas. Assim dá para se ter uma idéia do quanto os missionários do Carmo transmitiram as suas devoções aos índios. Há um certo destaque ao Profeta Elias, considerado como modelo e inspirador (e até mesmo fundador) da Ordem. Uma confirmação desta preferência por Santo Elias nos é dada por Barbosa Rodrigues ao narrar: Tomando os Carmelitas conta das missões do dito rio [Negro], deram por padroeiro á dos TURUMÁS OU TARUMANS o patriarca Santo Elias [80].
Pelo testemunho de Frei Pedro de Santo Eliseu, pode-se deduzir o quanto o Profeta Elias inspirava os carmelitas da Vigararia do Maranhão e Grão-Pará. Relatando, em forma de poema, uma viagem de Belém a Cartagena das Índias, na Colômbia, escreve a respeito de alguns carmelitas das missões fazendo menção direta ao Profeta Elias. Referindo-se ao missionário dos povos Canaris, afirmava: é regido e apascentado / por um filho de Elias, virtuoso / Que em almas dedicar a Deus sagrado / De norma serve ao mais religioso. No final dos elogios dizia que o missionário se chamava Frei João Guilherme. A respeito de Frei Tomás Jordão, missionário no rio Solimões, afirma: Condigno filho do grande Elias / Donde a virtude tanto se levanta / Que imitando a Telésforo e Corsini / Almas sabe mandar ao céu divino. Considerou Frei Paulino de Santa Teresa uma cópia de Elias. Sobre um missionário dos Cambebas: Frei Francisco de Seixas um portento, / Ilustre e claro, por tão bem nascido / por filho de Elias mais sabido [81].

2.4 - Dificuldades

Foram muitas as dificuldades encontradas pelos carmelitas em seus trabalhos nas missões amazônicas. As doenças, o clima, os mosquitos, as cobras e os animais ferozes, a solidão, o próprio estado selvagem dos índios e a deficiente formação dos missionários, sem dúvida, podem ser indicados e comprovados como causadores das principais dificuldades. Frei Vitoriano Pimentel, em seu relatório da viagem feita em 1702, descreve as que viu e o que sentiu na própria pele.
A respeito das doenças afirma: Neste Rio [Negro] que da fronte (frente) da Fortaleza terá três léguas de largo, padecem muito os Missionários por ser muito doentio, e todas as vezes que enche e vaza são infalíveis as febres, e certas doenças [82]. Quando esteve na aldeia de Tefé, ele conta: estive 20 dias de cama sangrando e purgando e gravemente enfermo [83].
Testemunha o quanto sofreu com os mosquitos:
A 13 do dito mês (dezembro de 1702) fui prosseguindo a minha jornada, tão maltratado de uns mosquitos chamados “Peúns” (pium) que não só levava a cara inchada, mas as mãos tão apostemadas, que mais de um mês me destilaram peçonha sem poder de noite dormir pegar no sono sem as escaldar primeiro em água e sal, sendo assim que as levava em carne viva, mas tão insofrível era a comichão que tinha que antes queria dores que padecê-las. A 14 me principiou uma terrível febre que me durou mais de onze meses fazendo neste dilatado tempo muitas mudanças, e malignando muitas vezes [84].
Quando chegou nas últimas aldeias missionadas pelos carmelitas, Pe. Pimentel mais um vez relata o problema dos mosquitos: É tanto o mosquito nestes distritos que parecem andam estes pobres [índios Cambebas] cobertos de lepra; e quando isto sucede aos naturais, que padecem por aqui os pobres Missionários? a Deus ofereço eu o que me coube à minha parte nesta mortificação[85].
O atestado do provincial jesuíta P. Carlos Brentano aponta com clareza o que sofria um missionário na região dos Cambebas, ou seja, no alto Solimões:
Los rigores del por extremo humedo, y caliente Clima, la summa tosquedad, y brutalidad de estas Gentes, la penosissima soledad, y carencia de toda comunicacion racional, y humana, las incessantes plagas de los mosquitos, y sancudos, los peligros delos Tigres, Lagartos, Culebras, y de otras infinitas Sabandijas nocivas, y sobre todo los continuos sobre saltos de Ver un Missionario continuamente expuesta su vida ala fiereça desta barbara Gente; son un lento martirio tanto mas cruel, quanto mas diuturno [86].
Pouco tempo depois do início das missões os carmelitas já tinham as mesmas dificuldades em relação ao número insuficiente de missionários como as outras Ordens. Além das mortes provocadas pelas condições acima expostas, tinham o problema de que muitos voltavam para Portugal.
A maioria dos missionários não recebia uma sólida formação para o trabalho nas missões e que por isso alguns se transformaram em comerciantes das drogas do sertão ou em traficantes de escravos índios.
Além dos problemas apontados, o nomadismo dos índios dificultava o trabalho sistemático dos missionários. Muitas vezes não era possível dar uma continuidade ao que se iniciava.

2.5 - Escolas

Não há muitas informações sobre escolas fundadas ou mantidas pelos carmelitas na Amazônia, mas Alexandre Rodrigues Ferreira afirma que em Mariuá, [os carmelitas] instalaram a primeira casa de ensino no Amazonas, um seminário, onde as crianças indígenas recebiam educação [87].
Sobre este seminário há uma outra informação de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao Bispo de Belém. De Mariuá em 9/1/1755, escreve: O Padre Comissário aqui tinha dado princípio a um Seminário, onde conserva 15 rapazes, dos quais sete se acham alguma coisa adiantados, em ler e escrever [88].
O historiador Arthur Reis afirma: Nas missões do Solimões, como nas missões do Rio Negro, os carmelitas mantinham aulas de música e de canto, aproveitando as habilidades e inclinações dos catecúmenos para as artes [89].

2.6 - Formação dos missionários

Os carmelitas da Vigararia do Maranhão e Grão-Pará abriram, no pequeno convento [de São Luís], aulas de filosofia e teologia e solfa, além de ativo exercício em torno à moralização dos costumes dos colonos [90]. Para se verificar o nível dos estudos de Filosofia e Teologia dos carmelitas na capital do Maranhão, basta ler as informações de Felipe Condurú Pacheco a esse respeito: Os carmelitas, com seus estudos filosóficos e teológicos, em que doutoravam, produziram alguns religiosos de valor intelectual e facultaram dependências do seu convento para ‘Biblioteca’, ‘Lyceo’ e ‘Escola Normal’ da Província [91].
Mas apesar de ter produzido alguns religiosos de valor intelectual, parece que não havia uma formação específica para o trabalho missionário com os índios. O Relatório do Conselho Ultramarino sobre as situação das Missões da Ordem do Carmo, no Estado do Maranhão e Grão-Pará de 15 de janeiro de 1704, aponta que a maioria dos missionários não recebia uma sólida formação para o trabalho nas missões [92].
Não propriamente como formação, mas como um reabastecimento espiritual dos missionários, havia o belo costume de Frei José da Madalena, comissário das missões carmelitas no rio Negro, de reunir os missionários para confissão e oração do ofício em comum por ocasião da Páscoa e da festa de Nossa Senhora do Carmo [93].

2.7 - Igrejas

Ao contrário do que acontecia nas missões jesuíticas da assistência de Quito, como com o grande Pe. Samuel Fritz, que había sucedido que en siete años apenas le había llegado socorro ninguno de la ciudad de Quito. Tampoco había recibido ninguna prenda para el adorno de las iglesias. Sólo llevaba consigo un altar portátil con un ornamento hecho un andrajo y una campana pequeña [94], os carmelitas, pelo menos em algumas aldeias, ornavam e cuidavam muito bem de suas igrejas.
O vigário provincial Frei Francisco de Santo Elias escrevendo sobre a atividade de Frei Domingos de Santa Teresa, missionário na aldeia de São Paulo dos Cambebas, atesta que
a Igreja também acabada com a perfeição e grandeza que permitem aqueles sertões com pia baptismal, retábulo, tribuna, Altar e banqueta, concorrendo como parte principal para a factura, e direcção das ditas obras a grande inteligência, e caridade do dito Padre Missionário, delineando e trabalhando nelas, e pelos anos adiantes foi ornando, e paramentando a dita igreja com aquele asseio e grandeza com que de presente se acha, mandando vir de Portugal a sua custa a prodigiosa imagem de vulto de nossa Mãe Santíssima, e Senhora do Carmo, que colocou na Capela Mor debaixo de um docel, colocando juntamente da parte do Evangelho uma imagem do Senhor São Paulo, Patrono da Missão, e da parte da Epístola a da Senhora Santa Efigênia e ambas de vulto com a sua lâmpada Romana, e todos os ornamentos de frontais, casulas com os seus preparos de damascos branco, encarnado, e roxo, alvas, toalhas e todas as mais roupas brancas necessárias, como turíbulo, e naveta para o serviço das Missas cantadas e dois sinos para chamarem os Índios para a Igreja à Missa, e doutrina, e mais exercícios espirituais [95].

2.8 - Línguas usadas

De acordo com os Estatutos das Missões, os carmelitas deveriam usar e ensinar o português, mas na prática do dia-a-dia faziam outra coisa, como afirma Arthur Reis: Contrariavam, todavia, a legislação da metrópole, falando-lhe na língua geral, ao em vez de na portuguesa, que eram obrigados a propagar [96]. O Cônego Francisco Bernardino de Souza confirma a informação e cita expressamente: Falava Fr. José das Chagas com muita graça e propriedade a língua geral, e no púlpito somente dela fazia uso quando se dirigia aos índios [97].
Escrevendo ao bispo em 9/1/1755, Francisco de Mendonça Furtado lamentava que os índios não sabiam o Português, apesar de que ali em Mariuá no rio Negro, os índios sabiam de cor em português os mandamentos.
Os missionários carmelitas, mesmo usando a língua geral ou a portuguesa, ensinavam também cânticos e orações em latim, como já foi dito. Segundo o bispo do Grão-Pará Dom Frei Guilherme de São José Freire, na aldeia de São Paulo dos Cambebas, os índios todos os dias duas vezes vaõ á Igreja, onde alem da Santa Doutrinta digo da Santa Doutrina cantaõ varios Hymnos, e Oraçoés, que em Latim lhe tem ensinado com muita edificaçam dos que tem prezenciado este Santo Exercicio [98]. Por sua vez, o Vigário Provincial Frei Francisco de Santo Elias especifica quais são os cânticos: Ave Maris Stæla, Stæla Cœli e as Antiphonas, O Gloriosa Domina, Sub tuum præsidium, Virgo Maria, Tota pulchra es; ... e a Antiphona Veni Sanctæ Espiritus, e Asperges me [99].
            Nos funerais cantavam o memento mei Deus, o Subvenite Sancti Dei ... o Salmo Laudate pueri [100].

2.9 - Liturgia e administração dos Sacramentos

São poucas as fontes sobre como eram realizadas as liturgias e como administravam os sacramentos. Os Estatutos das Missões estabeleciam somente três normas. Uma sobre o batismo de adultos, outra sobre as confissões dos índios e a terceira é uma permissão para os missionários se confessarem fora da sua aldeia.
Além das missas cantadas, etc., havia algo especial na aldeia de São Paulo dos Cambebas. Frei Domingos de Santa Teresa, além de vestir 12 rapazes órfãos ou pobres, fazia com eles o Lava-pés em Quinta Feira de Endoenças [101].
Sobre como eram feitos os enterros dos índios nas aldeias, há um interessante atestado de Frei Francisco de Santo Elias, escrito em 19/3/1646:
E por fallecimento de alguns dos Indios da sua Missam, se lhe faz o enterro como no povoado, dandolhe mortalha para se amortalhar, e acompanhando o seu corpo á Sepultura com os Indios em forma de Irmandade levado em hum esquife que tambem para esse misterio lhe mandou fazer, cantandolhes os mesmos Indios o memento mei Deus, e o Subvenite Sancti Dei com todas as mais ceremonias da Igreja continuandolhe os sufragios por Oito dias successivos com Tres Missas que lhe diz o Padre Missionario pela Sua alma pelo amor de Deus; sendo huma dellas cantada pelo canto de defuntos[102]; e as crianças que fallecem se enterram tambem na mesma forma para o que tem outro esquife, cantando-selhe o Psalmo Laudate pueri[103], e todas as Segundas feiras do anno fazem Procissam pelas almas dos seus defuntos na forma que se faz nos nossos Conventos [104].

2.10 - Mártires

O martírio também fez parte do dia-a-dia da vida dos carmelitas nas missões amazônicas. É verdade que não foram muitos, mas aconteceram. Não há em geral notícias detalhadas, mas há a informação do martírio.

2.10.1 Frei Francisco de Santo Anastácio

Deve ter sido o primeiro mártir carmelita. Não temos a data nem sequer o ano, mas foi antes da viagem de Frei Vitoriano Pimentel realizada em 1702, visto que este se refere duas vezes ao martírio de Frei Francisco de Santo Anastácio em seu relatório. Informa que o provincial Frei José de Lima mandou para os Solimões  por Missionários a Frei João Guilherme, e a Frei Francisco de Santo Anastázio, e matando o gentio tiranamente a este seu Missionário. Na segunda menção especifica que o martírio foi na aldeia de Manutá [105].

2.10.2 Frei Francisco Xavier

Deste mártir só temos uma pequena informação: En 1701, otro fraile, Francisco Javier, fue asesinado por los indios coxigueras en las islas de Solimões [106].

2.10.3 Frei Matias de São Boaventura Diniz

Frei Matias foi martirizado em 1728 pelos índios Cayuvicenas, junto à foz do Maturá, no atual município de São Paulo de Olivença [107].

 

2.10.4 Frei Raimundo de Santo Eliseu Barbosa

Foi martirizado em Moreira no dia 24 de setembro de 1757 [108]. Segundo Baena, foi um grupo de índios, tendo como líder o índio Indiano Domingos da Aldeia de Dary, quem matou Frei Raimundo junto com o cacique Caboquema. O mesmo grupo também queimou a igreja, quebrou as imagens e o sacrário. Motivo: vingança contra o missionário que havia proibido o concubinato do índio Domingos [109].

2.10.5 Frei Antônio de Andrade

Foi trucidado pelos índios Juma numa aldeia às margens do lago de Cupacá, em 1720[110]. Baena informa que o governador castigou os índios pela “crueza e feridade” com que assassinaram Frei Antonio de Andrade [111].

Conclusão

Muitas críticas podem e são feitas aos carmelitas por causa das missões na Amazônia. Podem ser de ordem econômica, como escreve o Pe. Arlindo Rubert: Apesar da benemérita colaboração na evangelização dos nativos por parte dos carmelitas observantes, foi pena que se preocupassem em adquirir muitas terras, ocasionando a decadência da Ordem no Brasil [112]. Ou de ordem política, como faz João Renôr de Carvalho: Pelo documento de frei Victoriano se conclui que os primeiros missionários foram mais agentes do estado português, na implantação de uma estratégia de defesa territorial, do que promotores da fé e da libertação dos índios. Neste particular, o relatório de frei Victoriano deixa transparecer a simbiose e a identidade ideológica entre projeto do Estado e projeto da Ordem [113].
A própria instituição dos Estatutos das Missões indica que havia muitos problemas e abusos, que geravam constantes reclamações aos superiores. Mas apesar de tudo isto, pode-se perguntar: o que fez com que aqueles homens deixassem o conforto das cidades e conventos para se embrenharem nas selvas amazônicas? O que justificou enfrentar continuamente doenças, mosquitos, animais ferozes, perigos e até mesmo o martírio? Será que os motivos foram de ordem econômica? De ordem política? Ou ...? A resposta de fundo, de acordo com o que foi apresentado, só pode ser uma: o desejo de viverem a própria vocação e levarem a mensagem de salvação de Jesus Cristo aos índios. Como eram humanos, evidentemente outros fatores, seja de ordem econômica ou política, também estavam presentes nas suas motivações.
É certo que eram pecadores e que não fizeram tudo bem. Mas entre os missionários carmelitas, sem dúvida, houve quem se doou totalmente e viveu as virtudes. Podemos destacar três nomes: Frei José da Madalena, Frei Domingos de Santa Teresa e Frei José das Chagas.
Em resumo: se a Ordem do Carmo tem muito que pedir perdão pelos pecados cometidos por seus membros nas missões no norte do Brasil, também pode orgulhar-se por ter dado uma contribuição significativa para a evangelização dos povos indígenas da Amazônia.
                                               

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* Abreviaturas: AGOC = Arquivo Geral da Ordem dos Carmelitas – Roma; AHU = Arquivo Histórico Ultramarino – Lisboa; ASV = Arquivo Secreto Vaticano
[1] Notável missionário jesuíta do final do século XVII e início do XVIII. Nasceu em Trautenau, Boêmia, em 9 de abril 1654; morreu em 20 março de 1728. Entrou na Companhia de Jesus em 1673. Em 1684 foi enviado a Quito como missionário. Por anos a fio incansavelmente evangelizou os índios do rio Marañon superior. Converteu, entre outras, a tribo dos poderosos Omáguas ou Cambebas. Concentrou suas atividades missionárias no estabelecimento da civilização e transmissão do evangelho aos selvagens em mais de quarenta localidades diferentes no rio Solimões, entre os rios Napo e Negro. Além de grande missionário, foi um grande conhecedor das artes e da cartografia, tinha também habilidades lingüísticas extraordinárias, suplementadas pelo um raro saber intuitivo sobre como tratar os índios. Estas qualificações permitiram-no realizar um trabalho prodigioso, e por isso ganhou o respeito não somente dos selvagens mas também do governo espanhol, a quem prestou um serviço valioso em sua disputa de limites com os portugueses. Em 1689 empreendeu, em um canoa primitiva, uma expedição audaz até o Pará, onde foi preso por dois anos sob suspeita de ser um espião espanhol. Fez um mapa do rio Amazonas. Este foi impresso em Quito no ano 1707 e depois várias vezes reimpresso. (Verbete FRITZ Samuel, em Diccionario histórico de la Compañía de Jesús: biográfico-temático / Charles E. O'NEILL, S.I., Joaquín M. DOMÍNGUEZ, S.I. (Directores), Institutum Historicum S.I., Roma; Universidad Pontificia Comillas, Madrid 2001; GARCIA Rodolfo, O diário do Padre Samuel Fritz, RIHGB, LXXXI, Rio de Janeiro 1917).
[2] HOORNAERT Eduardo, As missões carmelitanas na Amazônia, em HOORNAERT Eduardo (org.), “Das reduções latino-americanas às lutas indígenas atuais”, Ed. Paulinas, São Paulo 1982, 162.
[3] COSTA Frederico. Carta Pastoral, Manaus 1909, 127, nota 1.
[4] REIS Arthur Cézar Ferreira. História do Amazonas, Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 1989, 69.
[5] PRAT André. Notas históricas sobre as missões carmelitas no extremo Norte do Brasil (Século XVII-XVIII), Recife 1941, 242
[6] PIMENTEL Vitoriano. Relação da Jornada do Solimões e Rio Negro, em HOORNAERT Eduardo (org.), “Das reduções latino-americanas às lutas indígenas atuais”, Ed. Paulinas, São Paulo 1982, 185.
[7] PRAT, Notas Históricas, 52.
[8] PRAT, Notas Históricas, 42.
[9] PRAT, Notas Históricas, 60.
[10] PRAT, Notas Históricas, 250.
[11] BAENA Antonio L. M. Ensaio Corográfico sobre a Província Pará, Edições do Senado Federal – Vol. 30, Brasília 2004, 310.
[12] BAENA, Ensaio corográfico, 310.
[13] BAENA, Ensaio corográfico, 310.
[14] Cf. PRAT, Notas Históricas, 91.
[15] BAENA, Ensaio corográfico, 322.
[16] HOORNAERT Eduardo (coord.). História da Igreja na Amazônia, Vozes, Petrópolis 1992, 421.
[17] BAENA, Ensaio corográfico, 325.
[18] BAENA, Ensaio corográfico, 314.
[19] PRAT, Notas Históricas, 61.
[20] BAENA, Ensaio corográfico, 332.
[21] PRAT, Notas Históricas, 57.
[22] PRAT, Notas Históricas, 44.
[23] BAENA, Ensaio corográfico, 296.
[24] Cf. PRAT, Notas Históricas, 94-95 (Documento transcrito de AGOC).
[25] Cf. PRAT, Notas Históricas, 72.
[26] BAENA, Ensaio corográfico, 317.
[27] BAENA, Ensaio corográfico, 316-317.
[28] PIMENTEL, Relação da Jornada, 184.
[29] PRAT, Notas Históricas, 63.
[30] BAENA, Ensaio corográfico, 323.
[31] BAENA, Ensaio corográfico, 324.
[32] PRAT André. Notas históricas sobre as missões carmelitas no extremo Norte do Brasil (Século XVII-XVIII) – APÊNDICE, Recife 1942, 21
[33] BAENA, Ensaio corográfico, 325.
[34] PIMENTEL, Relação da Jornada, 184.
[35] PIMENTEL, Relação da Jornada, 184.
[36] BAENA, Ensaio corográfico, 330.
[37] BAENA, Ensaio corográfico, 332.
[38] BAENA, Ensaio corográfico, 334; PRAT, Notas Históricas - APÊNDICE, 24.
[39] BAENA, Ensaio corográfico, 334.
[40] BAENA, Ensaio corográfico, 335.
[41] PRAT, Notas Históricas, 36.
[42] PRAT, Notas Históricas, 42.
[43] BAENA, Ensaio corográfico, 337.
[44] AHU: Pará - Papéis Avulsos (caixa 2) doc. 12-11-1697.
[45] PIMENTEL, Relação da Jornada, 187.
[46] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[47] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[48] BAENA, Ensaio corográfico, 293.
[49] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[50] BAENA, Ensaio corográfico, 320.
[51] PIMENTEL, Relação da Jornada, 186.
[52] BAENA, Ensaio corográfico, 319.
[53] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[54] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185-186.
[55] BAENA, Ensaio corográfico, 320.
[56] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[57] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[58] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[59] Diccionario Topographico. Citado por PRAT, Notas Históricas, 46.
[60] Frei Inácio as chama de “actas”.
[61] PRAT, Notas históricas, 97-104 (Documento transcrito de AGOC).
[62] RUBERT Arlindo. A Igreja no Brasil, vol. I, Santa Maria 1983, 154.
[63] AGOC. Documento transcrito em PRAT, Notas Históricas, 94.
[64] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[65] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[66] SOUZA Cônego Francisco Bernardino de, Lembranças e Curiosidades do Valle do Amazonas, impressa em 1872, p. 82 - Citado por PRAT, Notas históricas, 82-83.
[67] ASV - Arch. Nunz. Lisbona, vol. 86 (4), 74.
[68] REIS, História do Amazonas, 74.
[69] REIS, A conquista espiritual, 31.
[70] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[71] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[72] PRAT, Notas Históricas, 94  (Documento transcrito de AGOC).
[73] Cf. PRAT, Notas Históricas, 42-70.
[74] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[75] Cf. PRAT, Notas Históricas, 63.
[76] PRAT, Notas Históricas, 35-42 (Documento transcrito de AGOC).
[77] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[78] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[79] AHU. Pará - Papéis Avulsos I Cx. 15.
[80] Citado por PRAT, Notas Históricas, 45.
[81] Biblioteca Nacional de Lisboa, Códice 942, Viagem que mandou fazer o Governador e capitão deste Estado do Maranhão e Grão Pará 1714, escrita por Fr. Pedro de Santo Elizeo, carmelita. Anno 1746.
[82] PIMENTEL, Relação da Jornada, 184.
[83] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[84] PIMENTEL, Relação da Jornada, 185.
[85] PIMENTEL, Relação da Jornada, 186.
[86] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[87] FERREIRA A. R., Diário, Revista, tomo 49, pg. 147. Citado por REIS, História do Amazonas, 75.
[88] AHU. Pará - Papéis Avulsos I, Cx. 15.
[89] REIS, A conquista espiritual, 31.
[90] REIS, A conquista espiritual, 26.
[91] PACHECO Felipe Condurú. História Eclesiástica Do Maranhão, S.E.N.E.C., Departamento de Cultura, Maranhão, 1969, 98.
[92] CARVALHO João R. F. de. Presença e permanência da Ordem do Carmo no Solimões e no rio Negro no século XVII, em “Das reduções latino-americanas às lutas indígenas atuais”, Ed. Paulinas, São Paulo 1982, 179.
[93] Cf. PRAT, Notas Históricas, 94-95 (Documento transcrito de AGOC).
[94] ASTRAIN Antonio. Historia de la Compañía de Jesús en la Asistencia de España, tomo IV, Administración de Razón y Fe, Madrid 1920, 625.
[95] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[96] REIS, História do Amazonas, 75.
[97] SOUZA Cônego Francisco Bernardino de, Lembranças e Curiosidades do Valle do Amazonas, impressa em 1872, p. 82 - Citado por PRAT, Notas históricas, 82-83.
[98] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[99] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[100] É o Salmo 112 da Vulgata.
[101] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[102] Sobre as rubricas carmelitas para a Missa de Requiem, ver: Sacerdotal Carmelitano para as Missas rezadas e Instrucçam Ritual das ceremonias, que o Sacerdote deve fazer no sacro-santo sacrificio da Missa, segundo as rubricas do Missal da Ordem do Carmo, reformado, e approvado pelos santos PP. Greg. XIII e Clement. VIII, Lisboa 1737, 99-100.
[103] É o Salmo 112 da Vulgata.
[104] AGOC: II Maranhão Commune 1, Commune Vicariae - 1741-1752, atestados 1748.
[105] PIMENTEL, Relação da Jornada, 182 e 185.
[106] SMET Joaquín. Los Carmelitas, vol. III, B.A.C. 517, Madrid 1991, 26.
[107] Cf. BARÃO DE MARAJÓ,  As regiões amazonicas, Lisboa 1895, 85. Citado por PRAT, Notas históricas, 292.
[108] Cf. PRAT, Notas históricas, 65-66.
[109] BAENA, Antonio L. M. Compêndio das Eras da Província do Pará, Universidade Federal do Pará, Belém, 1969, 168.
[110] Cf. PRAT, Notas históricas, 291;  REIS, História do Amazonas, 83.
[111] BAENA, Compêndio das Eras, 143.
[112] RUBERT, A Igreja no Brasil, vol. II, 230.
[113] CARVALHO, Presença e permanência da Ordem, 190.