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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

LER A BÍBLIA DESDE A REALIDADE

 Frei Camilo Maccise, OCD. (In Memorian)
(Instrumentum laboris n.48, 59-63)

            O tema do Sínodo presente é "O Encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e solidariedade na América", na perspectiva da Nova Evangelização.
            O Concílio Vaticano II cita São Jerônimo e afirma que "desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo" (DV 25). Justamente por isso, é importante e fundamental favorecer ao Povo de Deus a aproximação da Bíblia como ponto de partida para uma renovação e para dar resposta aos grandes desafios do momento atual na América.
            Trata-se de uma leitura vital com a convicção de que as Escrituras brotam da vida e da experiência de um povo guiado por Deus, que a partir da fé revela a sua presença e as suas interpelações na História e se esforça por lhes dar respostas. A Bíblia é a experiência-modelo, com a qual devemos confrontar as nossas experiências. Nela podemos contemplar-nos como num espelho sob a luz da fé.
            Ler as Escrituras sob a luz da fé não significa apenas fazer a leitura com uma aceitação intelectual das verdades reveladas. Significa também, e acima de tudo, nelas penetrar em profundidade e com discernimento reto e aplicá-las à vida com mais inteireza. Por isso mesmo a disponibilidade para escutar a Deus e a sua palavra exige também "discernir e interpretar, com a ajuda do Espírito Santo, as múltiplas vozes do nosso tempo e valorizá-las sob a luz da Palavra Divina" (GS 44).
            Neste itinerário de fé, através do qual se chega a ter maior clareza no conhecimento da verdade, todo o Povo de Deus tem parte ativa. É toda a Igreja que, guiada pelos seus pastores, caminha rumo ao conhecimento da Palavra de Deus, que corresponda aos sinais dos tempos e dos lugares. A partir deste conhecimento deixa-se julgar e converter pela palavra, vive-a e a aplica à realidade na luz do projeto de Deus, que consiste em vivermos com Ele um relacionamento de filhos e filhas; com os outros, como irmãos e irmãs; e com o mundo, como senhores que dominamos sobre as coisas e as compartilhamos com os demais. Eis aqui as raízes da conversão, da comunhão e da solidariedade.
            A origem comunitária das Escrituras, obra de um povo guiado por Deus, privilegia uma leitura comunitária, que se alimente dos "gozos e esperanças, das tristezas e angústias" do povo que tem fé. Tem-se de respeitar o texto; situá-lo no seu contexto original. Desta maneira evitar-se-á uma interpretação fundamentalista ou uma manipulação do texto a partir de idéias preconcebidas, ideológicas ou teológicas. Num segundo momento tem-se de relacionar o texto com a vida, porque a Bíblia é também espelho do presente. A principal preocupação não é a de interpretar o texto, mas a vida, a nossa história, por meio do texto.

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