1-Ligada à história e aos valores espirituais da Ordem
dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, a devoção a Maria
se exprime, entre os carmelitas, mediante o Escapulário. Por isso quem o recebe
torna-se membro da Família da Ordem e se compromete a viver a sua
espiritualidade de acordo com as carac-terísticas do seu estado de vida.
I - TRAÇOS
HISTÓRICOS
Um projeto mariano de vida evangélica
2-A Ordem dos Irmãos da Santíssima Virgem Maria nasceu no
Monte Carmelo, na Terra Santa, no século XII. Um grupo de eremitas oriundos do
Ocidente, ali se estabeleceram para viverem o seguimento de Jesus na terra de
Jesus. Diante do pedido deles, o Patriarca Alberto deu-lhes uma norma de vida,
que, entre outras coisas, lhes pedia a construção, no meio das celas, de um
oratório, onde se reunissem para a Eucaristia (1). Dedicaram-no a Maria, pretendendo deste
modo ligar-se a Ela de maneira especial, a ponto de serem identificados, pelo
povo primeiro, e depois oficialmente, como os "Irmãos da Santíssima Virgem
Maria do Monte Carmelo".
O
itinerário evangélico ou o compromisso cristão dos Carmelitas assume, portanto,
uma característica profundamente mariana. Na verdade, Maria engrandece o Senhor
e exulta nas maravilhas do seu amor misericordioso
(Lc 1,46); escuta e contempla no seu coração todos os acontecimentos, que se
referem a Jesus ( Lc 2,19.51). Identifica-se com o seu povo, especialmente com
os necessitados, com os pobres de pobreza espiritual e material, com os
marginalizados (Lc 1,39ss; Jo 2,3). É
assídua na oração, aberta ao fogo do Espírito, que é a força de qualquer doação
apostólica (At 1,14; 2,1-4).
Na fraternidade do Carmelo
3-Desde os tempos antigos houve fiéis que, atraídos por
este ideal de vida e pelas suas características, solicitaram compartilhá-lo. A
sua particular situação de vida em família e nas realidades do mundo não foi um
obstáculo a participarem da fraternidade do Carmelo.
Sinal
externo de admissão a esta fraternidade foi o hábito (ou parte do hábito) da
Ordem. A princípio, este sinal foi especialmente a capa branca, mas bem
depressa veio a ser representado definitivamente pelo Escapulário.
O
Escapulário do Carmo ou bentinho (ou ainda outros nomes, que se lhe dêem, de
acordo com os lugares diversos) é uma das devoções mais queridas do Povo de
Deus. Parece que a sua grande difusão deve levar-nos à tradição de uma visão de
Nossa Senhora documentada ao menos desde os fins do século XIV.
4-Num período de dificuldades a Ordem rezava para
conseguir pleno reconhecimento e estabilidade na Igreja. Maria, protetora do
Carmelo, teria respondido com uma aparição ao carmelita inglês São Simão Stock.
Segurava na mão o Escapulário e tranqüilizava o santo Prior Geral dizendo:
"Este é o privilégio em teu favor e em favor dos teus: todo aquele que
morra com este Escapulário será salvo" (2).
Mais
tarde começou-se a crer piedosamente que a Virgem, logo no primeiro sábado
depois da morte, libertaria do Purgatório os carmelitas como também os
confrades, que tivessem guardado a castidade segundo o seu estado, feito
orações e trazido o hábito do Carmelo. É o assim chamado "privilégio
sabatino" (3).
Os fiéis
então entenderam imediatamente que revestir-se do hábito significava entrar
para a vida de Irmãos da Ordem e de Maria. Correspondendo ao amor da Virgem,
vivem seguros da sua proteção nos perigos da vida e na hora da morte,
confiantes de que, mesmo depois da morte, intervirá em seu favor Aquela que
"no seu amor de Mãe cuida dos irmãos do seu Filho, (...)
até que sejam conduzidos à pátria bem-aventurada" (4).
Mais
recentemente, graças a um conhecimento mais profundo da nossa tradição, fruto
da pesquisa e do processo de renovação, que vigora em toda a Igreja, mudou-se a
maneira de se olhar para a religiosidade popular e, por isso mesmo, para a
devoção ao Escapulário (5).
5-A história e a evolução da devoção a Maria por meio do
Escapulário apresentam hoje várias categorias de devotos que, levando em conta
o grau de identificação e pertença à Família do Carmelo, podem resumir-se nos
seguintes:
a) Os
religiosos e as religiosas:
b) A
Ordem Secular (já chamada Ordem Terceira);
c) Os
que pertencem à Confraria do Escapulário;
d) Todas
as pessoas que recebem o Escapulário e vivem a sua
espiritualidade nas diversas
modalidades de associação;
e) Os
que receberam o Escapulário e vivem esta devoção fora
de qualquer associação (6).
Todos
estão obrigados a se empenharem em viver a característica mariana da espiritualidade
carmelitana na sua totalidade e com fervor, mas nas
formas correspondentes à natureza do vínculo, que os liga a
essa "família de Maria" (7).
II - NATUREZA E CARÁTER
6- "O Escapulário é essencialmente uma veste. Quem o
recebe, em virtude de o ter recebido, é associado à Ordem do Carmo num grau
mais ou menos íntimo" (8). O Escapulário ou bentinho, de fato, é a miniatura do
hábito desta Ordem, que para viver "no seguimento e serviço de Jesus
Cristo" (9), escolheu a experiência espiritual da familiaridade com
Maria (10), irmã, mãe e modelo.
7-A agregação à Família Carmelitana e a familiaridade com
Maria assumem um caráter fundamentalmente comunitário e eclesial, porque Maria
"ajuda todos os seus filhos, onde quer e como quer que vivam, a encontrarem
em Cristo o Caminho rumo à casa do Pai (11). E assim o
Escapulário é um pequeno "sinal" do grande ideal do Carmelo:
intimidade com Deus e amizade entre os discípulos.
8-Já no Antigo Testamento a veste - e de maneira
especial, o manto - era símbolo dos benefícios divinos, da proteção do Alto, do
poder transmitido a um enviado de Deus.
A veste
especial de José foi símbolo da predileção (cf Gn 37,3); a capa de Jônatas
presenteada a Davi foi um símbolo da amizade (cf 1Sm 18,4). Em Isaías lemos:
"Alegro-me imensamente no Senhor, a minha alma exulta no meu Deus, porque
me revestiu com as vestimentas da salvação e envolveu-me com o manto da
justiça" (Is 61,10). Quando Elias, o Profeta, foi arrebatado da terra, o
seu manto caiu sobre Eliseu, seu discípulo, transmitindo-lhe o espírito do
mestre ( 2Rs 2,14ss).
9-No Novo Testamento até as fímbrias do manto de Jesus
tocadas com fé comunicam o seu poder benfazejo (Mc 5,25ss). São Paulo, mais de uma
vez, apresenta a vida em Cristo como um revestir-se de Cristo (Rm 13,14; Gl
3,27); assumir os mesmos sentimentos de Jesus, isto é, a vida da graça filial
do cristão, se descreve com a imagem da vestimenta. O hábito religioso, do qual
o Escapulário é uma parte e um símbolo, significa de modo particular este
seguimento de Jesus.
Na Trindade com Cristo
10-Maria, a bendita entre as mulheres, é a obra-prima da
Santíssima Trindade, com quem se associa, na sua pessoa levando o feminino ao
máximo da realização, como ícone da ternura de Deus e da sua vontade salvífica (12).
Maria, a Mulher, na qual "tudo se refere a Cristo e tudo dEle depende; em
atenção para com Ele, Deus Pai A escolheu desde toda a eternidade como sua Mãe
inteiramente santa, adornando-A com dons do Espírito Santo nunca a nenhum outro
concedidos" (13). Nossa Senhora é para toda a Igreja o modelo daquele
"louvor de glória da Santíssima Trindade", que somos todos chamados a
ser.
11-O Escapulário é símbolo e reconhecimento filial e
agradecido pela missão, que a Santíssima Trindade quis confiar a Maria na
História da Salvação: "mistério de misericórdia" (1Tm 3,16). Na boca
de Maria foram postas estas palavras verdadeiramente significativas:
"Trago-te um Escapulário como penhor da minha bênção e do meu amor e, ao
mesmo tempo, como sinal do mistério que em ti cumprir-se-á. Venho para terminar
de «revestir-te de Jesus Cristo» (Gl 3,27), a fim de que tu sejas «enraizada
nEle» (Cl 2,7), estrada real, na profundidade do abismo, com o Pai e o Espírito
de amor" (14).
Caminhada-Peregrinação eclesial
12-Através do espaço e do tempo, e mais ainda, através da
história dos seres humanos, Maria está presente como aquela "que teve
fé" (cf Lc 1,45), como aquela que progredia na peregrinação da fé,
participando como nenhuma outra criatura no mistério de Cristo (15).
13-A Igreja na sua peregrinação de fé encontra o seu
modelo melhor em Nossa Senhora. "A força do exemplo da Santíssima Virgem (...)
leva os fiéis a se conformarem com a Mãe para melhor se conformarem com o
Filho. Mas a Virgem leva-os também a celebrarem os mistérios de Jesus com os
mesmos sentimentos e atitudes com que Ela esteve ao lado do Filho nos mistérios
do nascimento e da epifania, da morte e da ressurreição. Anima-os por isso a
guardarem carinhosamente a palavra de Deus e nela meditarem amorosamente; a
louvarem a Deus cheios de contentamento e darem-Lhe graças com alegria, a
servirem-no com fidelidade e aos irmãos, oferecendo por eles generosamente a
própria vida; a rezarem ao Senhor com perseverança e implorarem-no
confiantemente; a serem misericordiosos e humildes; a observarem a lei do
Senhor e a cumprirem a sua vontade; a amarem a Deus em tudo e acima de tudo; a
vigiarem à espera do Senhor que vem" (16).
14-O Carmelo seguiu por esta trilha, propondo aos seus
membros transformarem-se em Maria, a fim de poderem ser estabelecidos na
intimidade divina, seguindo os seus exemplos. Os três graus desta Subida do
Monte Carmelo são: imitação de Maria, união com Ela e sua semelhança (17).
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