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quarta-feira, 10 de julho de 2013

ESCAPULÁRIO DO CARMO: História e espiritualidade.

1-Ligada à história e aos valores espirituais da Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, a devoção a Maria se exprime, entre os carmelitas, mediante o Escapulário. Por isso quem o recebe torna-se membro da Família da Ordem e se compromete a viver a sua espiritualidade de acordo com as carac-terísticas do seu estado de vida.
 
I - TRAÇOS HISTÓRICOS
 
Um projeto mariano de vida evangélica
 
2-A Ordem dos Irmãos da Santíssima Virgem Maria nasceu no Monte Carmelo, na Terra Santa, no século XII. Um grupo de eremitas oriundos do Ocidente, ali se estabeleceram para viverem o seguimento de Jesus na terra de Jesus. Diante do pedido deles, o Patriarca Alberto deu-lhes uma norma de vida, que, entre outras coisas, lhes pedia a construção, no meio das celas, de um oratório, onde se reunissem para a Eucaristia (1). Dedicaram-no a Maria, pretendendo deste modo ligar-se a Ela de maneira especial, a ponto de serem identificados, pelo povo primeiro, e depois oficialmente, como os "Irmãos da Santíssima Virgem Maria do Monte Carmelo".
            O itinerário evangélico ou o compromisso cristão dos Carmelitas assume, portanto, uma característica profundamente mariana. Na verdade, Maria engrandece o Senhor e exulta nas maravilhas do seu amor            misericordioso (Lc 1,46); escuta e contempla no seu coração todos os acontecimentos, que se referem a Jesus ( Lc 2,19.51). Identifica-se com o seu povo, especialmente com os necessitados, com os pobres de pobreza espiritual e material, com os marginalizados (Lc 1,39ss; Jo 2,3).  É assídua na oração, aberta ao fogo do Espírito, que é a força de qualquer doação apostólica (At 1,14; 2,1-4).
 
Na fraternidade do Carmelo
 
3-Desde os tempos antigos houve fiéis que, atraídos por este ideal de vida e pelas suas características, solicitaram compartilhá-lo. A sua particular situação de vida em família e nas realidades do mundo não foi um obstáculo a participarem da fraternidade do Carmelo.
            Sinal externo de admissão a esta fraternidade foi o hábito (ou parte do hábito) da Ordem. A princípio, este sinal foi especialmente a capa branca, mas bem depressa veio a ser representado definitivamente pelo Escapulário.
            O Escapulário do Carmo ou bentinho (ou ainda outros nomes, que se lhe dêem, de acordo com os lugares diversos) é uma das devoções mais queridas do Povo de Deus. Parece que a sua grande difusão deve levar-nos à tradição de uma visão de Nossa Senhora documentada ao menos desde os fins do século XIV.
4-Num período de dificuldades a Ordem rezava para conseguir pleno reconhecimento e estabilidade na Igreja. Maria, protetora do Carmelo, teria respondido com uma aparição ao carmelita inglês São Simão Stock. Segurava na mão o Escapulário e tranqüilizava o santo Prior Geral dizendo: "Este é o privilégio em teu favor e em favor dos teus: todo aquele que morra com este Escapulário será salvo" (2).
            Mais tarde começou-se a crer piedosamente que a Virgem, logo no primeiro sábado depois da morte, libertaria do Purgatório os carmelitas como também os confrades, que tivessem guardado a castidade segundo o seu estado, feito orações e trazido o hábito do Carmelo. É o assim chamado "privilégio sabatino" (3).
            Os fiéis então entenderam imediatamente que revestir-se do hábito significava entrar para a vida de Irmãos da Ordem e de Maria. Correspondendo ao amor da Virgem, vivem seguros da sua proteção nos perigos da vida e na hora da morte, confiantes de que, mesmo depois da morte, intervirá em seu favor Aquela que "no seu amor de Mãe cuida dos irmãos do seu Filho, (...) até que sejam conduzidos à pátria bem-aventurada" (4).
            Mais recentemente, graças a um conhecimento mais profundo da nossa tradição, fruto da pesquisa e do processo de renovação, que vigora em toda a Igreja, mudou-se a maneira de se olhar para a religiosidade popular e, por isso mesmo, para a devoção ao Escapulário (5).
 
5-A história e a evolução da devoção a Maria por meio do Escapulário apresentam hoje várias categorias de devotos que, levando em conta o grau de identificação e pertença à Família do Carmelo, podem resumir-se nos seguintes:
            a) Os religiosos e as religiosas:
            b) A Ordem Secular (já chamada Ordem Terceira);
            c) Os que pertencem à Confraria do Escapulário;
            d) Todas as pessoas que recebem o Escapulário e vivem a sua
            espiritualidade nas diversas modalidades de associação;
            e) Os que receberam o Escapulário e vivem esta devoção fora
            de qualquer associação (6).
Todos estão obrigados a se empenharem em viver a característica mariana da espiritualidade carmelitana na sua totalidade e com fervor, mas nas formas correspondentes à   natureza do vínculo, que os liga a essa "família de Maria" (7).
 
II - NATUREZA E CARÁTER
 
6- "O Escapulário é essencialmente uma veste. Quem o recebe, em virtude de o ter recebido, é associado à Ordem do Carmo num grau mais ou menos íntimo" (8). O Escapulário ou bentinho, de fato, é a miniatura do hábito desta Ordem, que para viver "no seguimento e serviço de Jesus Cristo" (9), escolheu a experiência espiritual da familiaridade com Maria (10), irmã, mãe e modelo.
7-A agregação à Família Carmelitana e a familiaridade com Maria assumem um caráter fundamentalmente comunitário e eclesial, porque Maria "ajuda todos os seus filhos, onde quer e como quer que vivam, a encontrarem em Cristo o Caminho rumo à casa do Pai (11). E assim o Escapulário é um pequeno "sinal" do grande ideal do Carmelo: intimidade com Deus e amizade entre os discípulos.
 
 Simbolismo Bíblico
 
8-Já no Antigo Testamento a veste - e de maneira especial, o manto - era símbolo dos benefícios divinos, da proteção do Alto, do poder transmitido a um enviado de Deus.
            A veste especial de José foi símbolo da predileção (cf Gn 37,3); a capa de Jônatas presenteada a Davi foi um símbolo da amizade (cf 1Sm 18,4). Em Isaías lemos: "Alegro-me imensamente no Senhor, a minha alma exulta no meu Deus, porque me revestiu com as vestimentas da salvação e envolveu-me com o manto da justiça" (Is 61,10). Quando Elias, o Profeta, foi arrebatado da terra, o seu manto caiu sobre Eliseu, seu discípulo, transmitindo-lhe o espírito do mestre ( 2Rs 2,14ss).
 
9-No Novo Testamento até as fímbrias do manto de Jesus tocadas com fé comunicam o seu poder benfazejo (Mc 5,25ss). São Paulo, mais de uma vez, apresenta a vida em Cristo como um revestir-se de Cristo (Rm 13,14; Gl 3,27); assumir os mesmos sentimentos de Jesus, isto é, a vida da graça filial do cristão, se descreve com a imagem da vestimenta. O hábito religioso, do qual o Escapulário é uma parte e um símbolo, significa de modo particular este seguimento de Jesus.
 
Na Trindade com Cristo
 
10-Maria, a bendita entre as mulheres, é a obra-prima da Santíssima Trindade, com quem se associa, na sua pessoa levando o feminino ao máximo da realização, como ícone da ternura de Deus e da sua vontade salvífica (12). Maria, a Mulher, na qual "tudo se refere a Cristo e tudo dEle depende; em atenção para com Ele, Deus Pai A escolheu desde toda a eternidade como sua Mãe inteiramente santa, adornando-A com dons do Espírito Santo nunca a nenhum outro concedidos" (13). Nossa Senhora é para toda a Igreja o modelo daquele "louvor de glória da Santíssima Trindade", que somos todos chamados a ser.
 
11-O Escapulário é símbolo e reconhecimento filial e agradecido pela missão, que a Santíssima Trindade quis confiar a Maria na História da Salvação: "mistério de misericórdia" (1Tm 3,16). Na boca de Maria foram postas estas palavras verdadeiramente significativas: "Trago-te um Escapulário como penhor da minha bênção e do meu amor e, ao mesmo tempo, como sinal do mistério que em ti cumprir-se-á. Venho para terminar de «revestir-te de Jesus Cristo» (Gl 3,27), a fim de que tu sejas «enraizada nEle» (Cl 2,7), estrada real, na profundidade do abismo, com o Pai e o Espírito de amor" (14).
 
Caminhada-Peregrinação eclesial
 
12-Através do espaço e do tempo, e mais ainda, através da história dos seres humanos, Maria está presente como aquela "que teve fé" (cf Lc 1,45), como aquela que progredia na peregrinação da fé, participando como nenhuma outra criatura no mistério de Cristo (15).
 
13-A Igreja na sua peregrinação de fé encontra o seu modelo melhor em Nossa Senhora. "A força do exemplo da Santíssima Virgem (...) leva os fiéis a se conformarem com a Mãe para melhor se conformarem com o Filho. Mas a Virgem leva-os também a celebrarem os mistérios de Jesus com os mesmos sentimentos e atitudes com que Ela esteve ao lado do Filho nos mistérios do nascimento e da epifania, da morte e da ressurreição. Anima-os por isso a guardarem carinhosamente a palavra de Deus e nela meditarem amorosamente; a louvarem a Deus cheios de contentamento e darem-Lhe graças com alegria, a servirem-no com fidelidade e aos irmãos, oferecendo por eles generosamente a própria vida; a rezarem ao Senhor com perseverança e implorarem-no confiantemente; a serem misericordiosos e humildes; a observarem a lei do Senhor e a cumprirem a sua vontade; a amarem a Deus em tudo e acima de tudo; a vigiarem à espera do Senhor que vem" (16).
 
14-O Carmelo seguiu por esta trilha, propondo aos seus membros transformarem-se em Maria, a fim de poderem ser estabelecidos na intimidade divina, seguindo os seus exemplos. Os três graus desta Subida do Monte Carmelo são: imitação de Maria, união com Ela e sua semelhança (17).

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