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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Boicote ao Boticário na Marcha para Jesus? Não, prefiro meu perfume.

Religiosos criticam a propaganda, mas consideram pedido de boicote "exagerado demais". Comercial do Boticário testa o risco de tomar posição no Brasil

Amanda Ornelas e o namorado, Luis Henrique, decidiram aproveitar o feriado de sol em São Paulo para acompanhar milhares —340.000, de acordo com a Polícia Militar—,  na Marcha para Jesus 2015, uma tradicional passeata anual convocada por denominações evangélicas, o grupo religioso que mais cresce no Brasil. Na zona norte da cidade, Amanda, 18, e Luis Henrique, 21, vestidos com a camisa do evento em azul forte, comentaram o tema que deflagrou disputa nas redes sociais nesta semana: a propaganda do Boticário com casais gays. “Acho que é errado passar em um horário que crianças possam ver”, lançou Luis Henrique, que não gostou do comercial. “Mas a verdade é que tem coisa bem pior na TV.” “Mesmo se o meu pastor pedisse, eu não faria, não penso em deixar de usar os produtos deles”, disse ela, sobre a decisão do pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus, uma das mais fortes e influentes denominações evangélicas do Brasil, de gravar um vídeo conclamando os fiéis a boicotar a marca de cosméticos. “Se alguém quiser me dar um desodorante deles eu aceito, porque estou precisando”, brincou o pai de Amanda, Orlando.
O tom mais ameno da família, em comparação à agressiva disputa virtual em torno do tema, foi o que prevaleceu. A pedagoga Renata Ferreira Dauta, 43, que frequenta a igreja Renascer em Cristo, disse apoiar a presença de gays em comerciais. “Achei [a propaganda de O Boticário] atual. Hoje em dia tem que abordar de tudo, não dá para deixar a questão do homossexualismo de fora”. Quanto ao boicote, Renata diz que “por mais que o Malafaia peça, os fiéis não vão deixar de comprar. Até porque, se for para boicotar empresas que apoiam gays, teria que deixar de lado muitas marcas”.
“O pastor Silas é muito rígido. É óbvio que não gostei da propaganda, mas deixar de comprar uma marca por isso também não é o caso”, concordou Ideli Maria de Souza, 50, também na marcha. Ela conta que uma sobrinha de seis anos viu a propaganda e lhe perguntou o porque de dois homens trocando presentes: “Eu não soube responder. Pedi para que ela fosse perguntar para os pais dela”.
A rejeição ao boicote, apesar do incômodo provocado pelo reclame, pode ser lido como um sinal de alento para o Boticário, que resolveu testar, em propagandas na TV aberta, o risco de tomar posição num tema que desagrada as lideranças dos evangélicos. Segundo o levantamento do Censo 2010, os dados mais recentes disponíveis, a população evangélica no Brasil passou de 15,4% em para 22,2% em dez anos. São 42,3 milhões de pessoas, um eleitorado considerável, menor apenas que os católicos, que movimentam um mercado que se segmenta para agradá-los, de roupa à música e até experimentos em redes sociais.
Na loja de O Boticário da rodoviária do Tietê, não muito longe da Marcha de Jesus, os funcionários não estavam interessados —ou autorizados— a comentar a polêmica. Durante a visita do EL PAÍS, o casal Steffani Ortiz e Jessica Thawani, as duas de 17 anos, mostraram a outra ponta da história. “Comprei um presentinho de Dia dos Namorados para ela”, afirma Jessica, que é evangélica. Ela e Steffani gostaram da propaganda, mas com ressalvas. “Eu por exemplo, que tenho uma identidade de gênero e um jeito de me vestir mais masculino, não me sinto muito representada”, seguiu Jéssica.
"Não vou mentir: me desagrada ver gays se beijando, a bíblia fala que é errado. Mas também é errado agredi-los”, diz, distraída com a vitrine, Josida Maria da Silva, 57, frequentadora  da igreja Assembleia de Deus, a de Malafaia. Sobre o pastor, ela diz: "Como eu disse para você, eu gosto da marca".

Luciano Siqueira, gay de 29 anos, deixa a loja, satisfeito, de sacola na mão - um presente para a prima. Para ele, a propaganda com casais gays da marca tem efeito pedagógico na população: “As pessoas precisam ver casais homossexuais na TV e nas ruas até se acostumar. Essa história de boicote é coisa de quem não tem mais o que fazer. Com tanto problema sério por aí as pessoas vão querer se preocupar com a vida dos outros?”. Fonte: http://brasil.elpais.com

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 897. Dom Hélder e o Corpus Christi.

AO VIVO- AGORA (10h). Missa de Corpus Christi direto do Carmo/RJ.

terça-feira, 2 de junho de 2015

A Contemplação na Igreja

RAFAEL CHECA CURI
  
            Este mistério da relação Deus-Homem, que teve suas tipificações no Antigo Testamento, alcança sua plenitude no Novo. No Filho de Deus se consuma a relação inefável entre Deus e o Homem-Jesus Cristo e desde então todos os homens têm oportunidade de uma intimidade com o Senhor, intimidade que só será alcançada, excepcionalmente, pelos homens-tipo do povo de Deus.
            Jesus se converte no modelo deste novo relacionamento entre o Homem e
deus. O mistério pascal da morte e da ressurreição de Jesus Cristo é a realização paradigmática dessa outra morte e ressurreição que se protagoniza em cada homem. O que se liberta, pela redenção de Jesus, da escravidão do pecado e ressuscita para a plenitude da graça, pela ação do Espírito Santo, é o mesmo homem que, a níveis de contemplação, vive na plenitude de vida divina. A este respeito se afirma:
"O fato místico que testemunha a história da espiritualidade cristã, oriental e ocidental, é um fato cristocêntrico, eclesial. Quaisquer que sejam suas formas e conteúdos, a experiência mística se concebe somente como uma participação privilegiada, do mistério morte e ressurreição, presente em uma Igreja sacramental e hierárquica, cuja missão é a de colaborar para a redenção do mundo."(8)
            Efetivamente, é na Igreja comunidade dos fiéis, e pelo sacramento de entrada, como se explica a vitalidade mística e contemplativa de seus membros. Comentando o Cântico B. cap. 23, num. 6, de são João da Cruz, diz-nos certo autor: "O mistério fundamental realiza-se na cruz; sua aplicação concreta a cada alma faz-se no batismo, participação sacramental no mistério da redenção. O esplendor e a perfeição deste desposório batismal realizam-se mediante a experiência do desposório espiritual do qual fala o Santo no Cântico. Existe unidade intrínseca: é a mesma graça; existe diversidade na realização: na passagem da alma por via de perfeição." (9)
            A Igreja se fez cada vez mais consciente desta realidade, e sabe que o mistério de suas relações esponsais com Cristo tem uma ressonância plena em cada um de seus membros que participam de sua vida.
            O Concílio Vaticano II explicita-o em vários de seus documentos. A Igreja sabe que vive na história, entretanto projeta-se para a eternidade; tem um compromisso humano e visível, vive, contudo a tensão do invisível e do contemplativo. (S.C. 2).

            A Igreja nutre-se da Palavra e está mesma ela dá aos fiéis como alimento de sua contemplação e conversação com Deus (D.V.B), "esta tradição com a Escritura de ambos os Testamentos, são o espelho em que a Igreja peregrina contempla a Deus, de quem tudo recebe, até vê-lo face a face como Ele é" (D.V. 7). E assim recomenda igualmente aos que se sentem comprometidos no empenho apostólico a que "alimentem e fomentem sua ação na abundância da contemplação" (L.G. 41).

OS CARMELITAS NO MEIO DO POVO

2Ts 3,7  “Vocês sabem como devem imitar-nos: nós não ficamos sem fazer nada quando estivemos entre vocês,
8  nem pedimos a ninguém o pão que comemos; pelo contrário, trabalhamos com fadiga e esforço, noite e dia, para não sermos um peso para nenhum de vocês.
9  Não porque não tivéssemos direito a isso, mas porque nós quisemos ser um exemplo para vocês imitarem.
10  De fato, quanto estávamos entre vocês, demos esta norma: quem não quer trabalhar, também não coma.
11  Ouvimos dizer que entre vocês existem alguns que vivem à toa, sem fazer nada e em contínua agitação.
12  A essas pessoas mandamos e pedimos, no Senhor Jesus Cristo, que comam o próprio pão, trabalhando em paz.
Quanto a vocês, irmãos, não se cansem de fazer o bem”.  (Ver também o capítulo 20 da Regra onde este texto é citado).

SERVIR E TRABALHAR
Como resultado da aprovação da Regra pelo Papa Inocêncio IV, os carmelitas se colaram à serviço da Igreja (Cons. Art. 10). De acordo com a Regra, somos chamados em primeiro lugar ao serviço. Servimos a Jesus Cristo fielmente, com um coração puro e uma consciência serena (Regra 1). O serviço no meio do povo é um elemento essencial de nosso carisma de acordo com a Ratio: “Somos chamados a dar uma expressão concreta à missão de evangelização e de salvação em união com o Senhor e com sua Igreja, para que todos possam receber a mensagem do evangelho e tornar-se parte da família de Deus” (Ratio, 8).
Como carmelitas não estamos ligados a nenhum trabalho apostólico específico. Isso tem sido uma grande bênção através dos séculos porque fomos capazes de nos adaptar às mudanças do tempo. Devemos revelar o amor de Deus em todos os nossos trabalhos pela humanidade. Podemos fazer isso de diferentes maneiras.
Um elemento de nosso carisma que não foi muito desenvolvido é o papel de São Paulo na Regra. Ele é muito citado na Regra e é apresentado aos carmelitas como um modelo para o trabalho. O capítulo 20 da Regra diz: “Vocês devem fazer algum trabalho, para que o diabo sempre os encontre ocupados e não consiga, através da ociosidade de vocês, encontrar alguma brecha para penetrar nas suas almas. Nisto vocês têm o ensinamento e o exemplo de São Paulo apóstolo, por cuja boca Cristo falava e que por Deus foi constituído e dado como pregador e mestre dos gentios na fé e na verdade. Se seguirem a ele, não poderão desviar-se”. Continua citando o texto da Escritura que mencionamos no começo tirado da segunda carta aos Tessalonicenses.
Em seu livro, “O Espaço Místico do Carmelo”, Kees Waaijman reflete porque o exemplo de São Paulo é tão enfatizado na Regra. Sua resposta é que Paulo dá o exemplo de como os cristãos devem trabalhar neste mundo enquanto se voltam para o Fim dos tempos. No livro do Gênesis, o trabalho é visto como uma punição imposta aos seres humanos por Deus (3,17-19). No Eclesiastes o trabalho é considerado tormento e vaidade (2,18-23). Para o salmista do Salmo 104, o trabalho é um modo de se unir a Deus na criação das coisas baseado na sabedoria de Deus (v. 23-24). O Salmo 8 vê os seres humanos como representantes de Deus. A humanidade governa a criação da parte de Deus e em nome de Deus. O trabalho humano é visto a partir de uma variedade de perspectivas. Em Tessalônica, Paulo deparou-se com um problema. Algumas pessoas estavam tão convencidas que o Fim era iminente que pararam de trabalhar e atrapalhavam as outras pessoas. Ele adverte aos cristãos daquela cidade e a nós que o trabalho é muito importante. Não devemos trabalhar para construir nosso próprio pequeno reino. Em vez disso, nosso trabalho deve ser preparar a vinda do Reino de Deus.
A questão do motivo para nosso trabalho emerge da idéia de trabalho na Regra. O trabalho de Paulo estava voltado para construir o Corpo de Cristo. Para não ser um fardo e não dar oportunidade a seus inimigos de levarem as pessoas para o mau caminho, ele se recusou a receber o que tinha direito como emissário do Evangelho. Então, ele trabalhou noite e dia. A maioria de nós trabalha muito. Aqueles que não trabalham e interferem no trabalho dos outros, podem simplesmente ler novamente a Regra e as passagens de São Paulo lá citadas. Contudo, peço àqueles que trabalham, que voltem sua reflexão para os motivos que os levam a realizar tal trabalho.
O falso eu, que é a parte egoísta de cada um de nós, deve morrer para que tenhamos vida. O falso eu enfoca uma única pessoa e é muito sutil. A jornada espiritual carmelitana trata da transformação em Cristo. Essa transformação não é simplesmente uma mudança do comportamento exterior. Ela atinge as raízes de nossa existência e transforma nossa motivação. Seguimos em frente, vendo como Deus vê e amando como Deus ama. Nosso modo de ser e de amar é distorcido sob a influência do falso eu.

AS TENTAÇÕES DE JESUS
Aparentemente, Jesus passou um longo tempo se preparando para sua missão, cerca de 30 anos. Ele trabalhou como carpinteiro (Mc 6,3). Essa experiência não facilitou a aceitação de sua mensagem por certos setores da sociedade. Antes de anunciar sua missão na sinagoga de Nazaré, Jesus passou algum tempo comungando com seu Pai na solidão do deserto (Lc 4,1-13). Ele foi tentado pelo diabo e as três tentações principais são muito instrutivas para nós porque tocam o âmago de sua identidade e de sua missão. Elas também podem falar muito sobre nós mesmos e irradiar luz sobre nossa missão.
A primeira tentação diz respeito a autocompreensão de Jesus como o Filho de Deus: “Se tu és Filho de Deus, manda que essa pedra se torne pão”. Jesus poderia abusar de seu poder divino em seu próprio benefício e fazer sua própria vontade em vez da vontade do Pai? Todos nós estamos numa jornada de transformação. Essa é normalmente uma longa jornada com muitas curvas e desvios enquanto tudo que é falso dentro de nós gradualmente se transforma em Cristo. A tradição carmelitana fala da noite escura, que é um grande bênção de Deus. É o momento em que Deus está alcançando as partes escondidas de nossos corações para nos transformar completamente. A noite escura não é tão escura. Pelo contrário, ela é brilhante, muito brilhante para nós e por isso nos parece escura. Esta sala pode parecer bem limpa, mas se trouxermos algumas lâmpadas super poderosas, veremos então toda sujeira que não é visível a olho nu.
Não iniciamos a jornada espiritual como se já estivéssemos transformados. Somos marcados por nossa natureza decadente e, por isso, somos fundamentalmente egoístas não importa o quanto nos sentimos ou parecemos santos para os outros. São João da Cruz ressalta as muitas faltas do iniciante em seu livro “A Noite Escura” para que ele ou ela perceba que a perfeição ainda está distante. O falso eu se concentra totalmente na realização de suas necessidades e desejos egoístas. É vital compreender que o falso eu não é destruído simplesmente porque começamos a levar Deus a sério. O falso eu é bem feliz numa situação religiosa desde que possa usar este ambiente para realizar seus próprios desejos.
A primeira tentação de Cristo no deserto também está dirigida a nós. Como usaremos os dons e talentos que nos foram dados, em nosso benefício ou em prol do Reino de Deus?
Lembre-se que o falso eu é muito desonesto. Posso servir as pessoas de forma que não as liberte para serem cidadãos do Reino de Deus, mas para que se tornem cada vez mais dependentes de mim. A jornada espiritual alcança as profundezas escondidas do coração humano e purifica o coração de tudo o que não é Deus. Temos a tendência de pensar que somos generosos e que nos dedicamos no serviço ao próximo, mas isso certamente não é verdade no início de nosso ministério.
É importante lembrar as palavras do sábio:
Meu filho, se você se apresenta para servir ao Senhor, prepare-se para a provação. Tenha coração reto, seja constante e não se desvie no tempo da adversidade. Una-se ao Senhor e não se separe, para que você no último dia seja exaltado. Aceite tudo o que lhe acontecer, e seja paciente nas situações dolorosas, porque o ouro é provado no fogo e as pessoas escolhidas, no forno da humilhação. Confie no Senhor, e ele o ajudará; seja reto o seu caminho, e espere no Senhor” (Eclo 2,1-6).
A razão para esse teste é que precisamos ser purificados para que sejamos capazes de servir aos outros de coração puro. Contudo, não iniciamos a jornada com um coração puro. Trata-se de um processo gradual. Muitas vezes nossa oração será seca, mas isso não significa que Deus não esteja falando conosco. Deus normalmente fala fora do tempo da oração em meio à nossa vida diária. Na medida em que o Reino de Deus já está presente no mundo, podemos estar amorosamente conscientes da presença de Deus. Mas na medida em que ele ainda não está presente, devemos estar amargamente conscientes da ausência de Deus. No entanto, não podemos estar conscientes da ausência de Deus (ou aparente ausência porque Deus não está ausente de lugar algum) a menos que tenhamos experimentado a presença de Deus. Experimentamos a presença de Deus na oração. É na oração que Cristo forma em nós sua própria mente e coração. Essa experiência permite que nos tornemos constantemente conscientes da presença de Deus na realidade que nos cerca, mesmo nas situações menos prováveis.
É durante o tempo da oração que Deus purifica nossos sentidos espirituais para que sejamos capazes de discernir sua voz em meio a tantas outras vozes que ouvimos a cada dia. Às vezes, Deus usa palavras de consolo, mas às vezes também nos aponta algo que necessita ser modificado. É vital que aceitemos isso e que façamos algo sobre isso, do contrário não cresceremos. Sem dúvida, nosso falso eu fará uso de todos os tipos de argumentos para não mudar e isso parecerá razoável. Devo permitir que qualquer emoção forte se acalme e, então, perguntar a mim mesmo o que posso aprender com o que foi dito ou com o que aprendi sobre mim mesmo. Seria proveitoso perguntar por que surgiram essas emoções fortes? Lentamente me desligarei de minhas próprias opiniões, do meu jeito de fazer as coisas e serei capaz de discernir o que Deus está me dizendo.
A segunda tentação de Jesus no deserto dirige-se ao desejo do ser humano pelo poder. Todos têm algum poder. Mesmo se estamos na base da pirâmide, ainda podemos chutar o cachorro! Todos os reinos da terra e suas riquezas são oferecidos a Jesus, mas ele recusa e reitera mais uma vez seu compromisso com a vontade de seu Pai. Estamos tentando realizar a vontade de quem em nosso ministério? Portanto, a purificação de nossa motivação é importante para que qualquer poder ou autoridade que tenhamos, por menor que pareça, seja usada para a glória de Deus e não para nossa própria glória.
A terceira e última tentação de Jesus no deserto é realizar maravilhas para atrair a admiração das multidões. Jesus realmente realiza milagres, mas sempre como sinais da presença do Reino de Deus e não para chamar atenção sobre si mesmo. No final de seu ministério público, ele foi desafiado a descer da cruz para que o povo acreditasse nele. Ele permaneceu na cruz, dando sua vida para a salvação do mundo.

SERVIR NA ESPERANÇA
O falso eu concentra-se em si mesmo. Ele é fundamentalmente egoísta. Como nas tentações anteriores, somos desafiados a nos questionar sobre nossas ações. Jesus nos diz no Evangelho para não julgar. A razão para isso é bem simples: não sabemos qual a motivação de uma pessoa e todas as circunstâncias que a levaram a agir. A advertência para não julgar geralmente é compreendida num sentido negativo, isto é, para não julgar alguém negativamente. No entanto, também podemos estar errados se julgarmos positivamente. É compreensível considerarmos que alguém que cuida dos enfermos é um cristão maravilhoso, muito melhor do que alguém cujo trabalho não conhecemos. Contudo, não sabemos porque a pessoa cuida dos enfermos. É possível realizar boas obras pelos motivos errados como, por exemplo, usar outras pessoas para chamar atenção para si mesmo. Então é melhor deixar todo julgamento para o Senhor. Acredito que teremos uma ou duas surpresas!
O coração humano é muito sutil e requer uma purificação profunda. Esse é o propósito da jornada espiritual. Ao crescermos mais e mais à semelhança de Cristo, aprendemos a nos ver como realmente somos. Somos chamados a servir as pessoas como comunidades contemplativas. Respondendo ao chamado de Cristo para segui-lo, empenhamo-nos a assumir sua visão e valores. No entanto, logo descobrimos que somos incapazes de viver de acordo com nossos ideais sozinhos. Ao amadurecermos em nosso relacionamento com Deus, damos espaço para que Deus nos purifique. Assim começamos a ver como Deus vê e a amar como Deus ama. Esse modo de ver e amar é doloroso para o ser humano porque requer uma transformação radical do coração. O clamor do pobre penetrará em nossas defesas e nossa resposta, livre da distorção do falso eu, virá de um coração puro.
No início de Regra (cap. 2), Santo Alberto diz que, como todos os cristãos, nos empenhamos à serviço do Mestre. Mas adiante, ele nos dá o exemplo de São Paulo, que trabalhou incansavelmente e sem medo por Cristo e não em nome de sua própria reputação. No final da Regra, parece que estamos diante de um outro modelo, o do estalajadeiro na história do Bom Samaritano. Kees Waaijman comenta sobre o paralelismo entre a história e a Regra: “Se alguém fizer mais do que o prescrito, o Senhor mesmo lhe retribuirá quando voltar” (Regra 24). Ele afirma que esse ‘mais’ não se refere àqueles que têm maior generosidade e zelo, mas é uma proposta para todos os carmelitas. Precisamos trabalhar como o estalajadeiro, não com os olhos na recompensa, mas prestando atenção naquele dia, talvez muito distante, quando o Mestre retornará.

“Os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano concebeu o que Deus reservou para aqueles que o amam”.

Perguntas para reflexão:
Pessoal:
1-Como você trabalha para a vinda do Reino de Deus?
2-Releia as tentações de Jesus (Lc 4,1-13). Como você responde à tentação em seu ministério?

Em Grupo:
1-Qual é a missão da Ordem Terceira do Carmo, e como ela pode ser melhorada?
2- Qual é o programa de formação permenente que permite que os membros da Ordem Terceira do Carmo  trabalhem para a vinda do Reino de Deus?


AO VIVO- Direto de Sapopemba/SP. (Edição-01).

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 895. Segura na Mão de Deus.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A ORDEM DO CARMO NO BRASIL

A nossa História no Brasil começou em 1580 quando aqui chegaram, vindos de Portugal, quatro Religiosos Carmelitas liderados por Frei Bernardo Pimentel Ord. Carm. Sucederam-se então as fundações dos nossos conventos: em 1584 o Convento de Olinda/PE, em 1589 o de Santos/SP, em 1590 o do Rio de Janeiro/RJ, em 1594 ode São Paulo/SP, em 1608 ode Angra dos Reis/RJ, em 1627 o de Mogí das Cruzes/SP, em 1622 o de Vitória/ES, e em 17180 de ltú/SP.
Até aqui, esses conventos pertenceram como Vice-Província àProvíncia Carmelitana de Portugal e somente em 1720 constituiu-se a Província Carmelitana Fluminense que em 1963 passou a chamar-se Província Carmelitana de Santo EIias.
A Ordem do Carmo no Brasil cresceu muito, chegamos até a ter três Províncias: a do Rio de Janeiro, a da Bahia e a de Pernambuco e ainda uma Vigararia, a do Maranhão. As atividades apostólicas dos Carmelitas estenderam-se por todo o litoral de São Luís do Maranhão até a cidade de Santos e, as suas atividades missionárias se estenderam até o Pará e o Amazonas.
Há uma tradição de que o imenso convento de Salvador chegou a abrigar até 100 Religiosos. Entretanto, nas épocas de Brasil-Colônia e Brasil-Império a Ordem do Carmo passou momentos sombrios, tenebrosos, de muitos conflitos com o envolvimento de Vice-reis, da Rainha D. Maria I, das autoridades eclesiásticas, etc. Um dos momentos mais dolorosos de nossa História foi a proibição de aceitar Noviços, resultado de uma circular do Ministro da Justiça e de sua Majestade o Imperador (D. Pedro II), que cassava a licença de entrada de Noviços nas Ordens Religiosas. Com esta medida governamental a Ordem do Carmo experimentou os estentores da agonia.
Em 1881 havia na nossa Província apenas quatro Religiosos nos conventos da Lapa, de Angra dos Reis e de Mogí das Cruzes. Os conventos de Belém do Pará, Itú, Santos e Vitória estavam sem Carmelitas. A situação era tão dramática e desoladora que o Papa Leão XIII em 1891 submeteu as Ordens Religiosas do Brasil à inteira dependência dos Prelados Diocesanos tanto no temporal como no espiritual. Foi então que o internúncio apostólico confiou aos Beneditinos Belgas a restauração dos mosteiros Beneditinos do Brasil; aos Franciscanos da Alemanha a restauração dos conventos Franciscanos e aos Carmelitas Espanhóis a restauração dos conventos Carmelitas: A 15 de novembro de 1889 aconteceu a Proclamação da República no Brasil, D.Pedro II e a Família Real retornaram a Portugal. Foi decretada a separação entre a Igreja e o Estado e as Ordens Religiosas receberam a autorização do governo de fundar conventos, abrir noviciados e administrar os seus próprios bens.
Em 1892 governava o Brasil o Marechal Floriano Peixoto de quem herdamos este feliz pronunciamento: “Não é nem pode ser intenção do Governo da República apossar-se dos bens que a piedade dos fiéis doou as Ordens Religiosas, mas não lhe pode ser indiferente vera decadência em que se acham; trate a Santa Sé de reformá-las e conte com o meu apoio”! Com estas palavras, o Marechal Floriano Peixoto deu um belo testemunho de bom senso de Magistrado do Governo Brasileiro.
Em 1893, iniciaram-se os entendimentos entre o Pe. Geral Aloísio Maria Galli e o Provincial espanhol Frei Anastácio Borras. Deste entendimento resultou a vinda da Espanha de seis Religiosos Carmelitas, liderados por Frei Joaquim Maria Guarch; isso aconteceu a 08 de agosto de 1894. Além deste primeiro grupo, sucederam-se outros grupos Religiosos espanhóis entre sacerdotes, professos e irmãos leigos, totalizando 21 Religiosos espanhóis que muito se empenharam em restaurar o Carmelo Brasileiro nas três Províncias: a Fluminense, a da Bahia e a de Pernambuco.
De 1894 a 1904, muita coisa aconteceu no Carmelo Brasileiro; dificuldades inúmeras de relações em que estiveram envolvidos: a Santa Sé, a Província Espanhola, os Religiosos Carmelitas do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco, etc. Até que em abril de 1904, num Capítulo Provincial da Espanha foi resolvido que os Carmelitas espanhóis deixariam o Rio de Janeiro e a Bahia e iriam a Recife. Em junhode 1904, iniciaram-se os entendimentosentre o Pe. Geral Frei Pio Mayer e o Provincial holandês Frei Lamberto Smeets; ficou decidido que a Província Carmelita da Holanda iria assumir a Missão de continuar a restauração da Província Fluminense.
A 31 de outubro de 1904 seis sacerdotes e dois irmãos leigos, tendo como superior o Frei Cirilo Thewes, embarcaram em Antuérpia, Bélgica, num vapor alemão; quatro deles desembarcaram em Salvador e alguns dias depois seguiram para o Rio de Janeiro e na madrugada do dia 27 de novembro, os outros quatro aportaram no Rio de Janeiro. No mesmo dia, 27 de novembro de 1904, Frei Eliseu Duran por delegação do Pe. Geral, Frei Pio Mayer, entregou a Província Carmelitana Fluminense aos Carmelitas holandeses que, com muita dedicação se atiraram à penosa missão de dar continuidade ao zeloso trabalho iniciado pelos Carmelitas espanhóis: restaurar a Província Carmelitana Fluminense. A 27 de novembro a Província Carmelitana de Santo Elias procederá à abertura do Centenário de Restauração de nossa Província.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 894. Uma história de fé.