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terça-feira, 2 de junho de 2015

A Contemplação na Igreja

RAFAEL CHECA CURI
  
            Este mistério da relação Deus-Homem, que teve suas tipificações no Antigo Testamento, alcança sua plenitude no Novo. No Filho de Deus se consuma a relação inefável entre Deus e o Homem-Jesus Cristo e desde então todos os homens têm oportunidade de uma intimidade com o Senhor, intimidade que só será alcançada, excepcionalmente, pelos homens-tipo do povo de Deus.
            Jesus se converte no modelo deste novo relacionamento entre o Homem e
deus. O mistério pascal da morte e da ressurreição de Jesus Cristo é a realização paradigmática dessa outra morte e ressurreição que se protagoniza em cada homem. O que se liberta, pela redenção de Jesus, da escravidão do pecado e ressuscita para a plenitude da graça, pela ação do Espírito Santo, é o mesmo homem que, a níveis de contemplação, vive na plenitude de vida divina. A este respeito se afirma:
"O fato místico que testemunha a história da espiritualidade cristã, oriental e ocidental, é um fato cristocêntrico, eclesial. Quaisquer que sejam suas formas e conteúdos, a experiência mística se concebe somente como uma participação privilegiada, do mistério morte e ressurreição, presente em uma Igreja sacramental e hierárquica, cuja missão é a de colaborar para a redenção do mundo."(8)
            Efetivamente, é na Igreja comunidade dos fiéis, e pelo sacramento de entrada, como se explica a vitalidade mística e contemplativa de seus membros. Comentando o Cântico B. cap. 23, num. 6, de são João da Cruz, diz-nos certo autor: "O mistério fundamental realiza-se na cruz; sua aplicação concreta a cada alma faz-se no batismo, participação sacramental no mistério da redenção. O esplendor e a perfeição deste desposório batismal realizam-se mediante a experiência do desposório espiritual do qual fala o Santo no Cântico. Existe unidade intrínseca: é a mesma graça; existe diversidade na realização: na passagem da alma por via de perfeição." (9)
            A Igreja se fez cada vez mais consciente desta realidade, e sabe que o mistério de suas relações esponsais com Cristo tem uma ressonância plena em cada um de seus membros que participam de sua vida.
            O Concílio Vaticano II explicita-o em vários de seus documentos. A Igreja sabe que vive na história, entretanto projeta-se para a eternidade; tem um compromisso humano e visível, vive, contudo a tensão do invisível e do contemplativo. (S.C. 2).

            A Igreja nutre-se da Palavra e está mesma ela dá aos fiéis como alimento de sua contemplação e conversação com Deus (D.V.B), "esta tradição com a Escritura de ambos os Testamentos, são o espelho em que a Igreja peregrina contempla a Deus, de quem tudo recebe, até vê-lo face a face como Ele é" (D.V. 7). E assim recomenda igualmente aos que se sentem comprometidos no empenho apostólico a que "alimentem e fomentem sua ação na abundância da contemplação" (L.G. 41).

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