RAFAEL CHECA CURI
Este
mistério da relação Deus-Homem, que teve suas tipificações no Antigo
Testamento, alcança sua plenitude no Novo. No Filho de Deus se consuma a
relação inefável entre Deus e o Homem-Jesus Cristo e desde então todos os
homens têm oportunidade de uma intimidade com o Senhor, intimidade que só será
alcançada, excepcionalmente, pelos homens-tipo do povo de Deus.
Jesus
se converte no modelo deste novo relacionamento entre o Homem e
deus. O mistério pascal da morte e da
ressurreição de Jesus Cristo é a realização paradigmática dessa outra morte e
ressurreição que se protagoniza em cada homem. O que se liberta, pela redenção
de Jesus, da escravidão do pecado e ressuscita para a plenitude da graça, pela
ação do Espírito Santo, é o mesmo homem que, a níveis de contemplação, vive na
plenitude de vida divina. A este respeito se afirma:
"O fato místico que testemunha a
história da espiritualidade cristã, oriental e ocidental, é um fato
cristocêntrico, eclesial. Quaisquer que sejam suas formas e conteúdos, a
experiência mística se concebe somente como uma participação privilegiada, do
mistério morte e ressurreição, presente em uma Igreja sacramental e
hierárquica, cuja missão é a de colaborar para a redenção do mundo."(8)
Efetivamente,
é na Igreja comunidade dos fiéis, e pelo sacramento de entrada, como se explica
a vitalidade mística e contemplativa de seus membros. Comentando o Cântico B.
cap. 23, num. 6, de são João da Cruz, diz-nos certo autor: "O mistério
fundamental realiza-se na cruz; sua aplicação concreta a cada alma faz-se no
batismo, participação sacramental no mistério da redenção. O esplendor e a
perfeição deste desposório batismal realizam-se mediante a experiência do
desposório espiritual do qual fala o Santo no Cântico. Existe unidade
intrínseca: é a mesma graça; existe diversidade na realização: na passagem da
alma por via de perfeição." (9)
A
Igreja se fez cada vez mais consciente desta realidade, e sabe que o mistério
de suas relações esponsais com Cristo tem uma ressonância plena em cada um de
seus membros que participam de sua vida.
O
Concílio Vaticano II explicita-o em vários de seus documentos. A Igreja sabe
que vive na história, entretanto projeta-se para a eternidade; tem um
compromisso humano e visível, vive, contudo a tensão do invisível e do
contemplativo. (S.C. 2).
A
Igreja nutre-se da Palavra e está mesma ela dá aos fiéis como alimento de sua
contemplação e conversação com Deus (D.V.B), "esta tradição com a
Escritura de ambos os Testamentos, são o espelho em que a Igreja peregrina
contempla a Deus, de quem tudo recebe, até vê-lo face a face como Ele é"
(D.V. 7). E assim recomenda igualmente aos que se sentem comprometidos no
empenho apostólico a que "alimentem e fomentem sua ação na abundância da
contemplação" (L.G. 41).
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