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domingo, 29 de maio de 2016

Eucaristia: Textos Carmelitas.

NÃO PROCURAR CONSOLAÇÕES NA COMUNHÃO.

São João da Cruz (Noite escura, 1, 6, 1.5.6).

A respeito do quarto vício, a gula espiritual, muito há que dizer, porque apenas existe um principiante, por muito bem que proceda, que não caia em alguma das muitas imperfeições que nascem deste vício a estes principiantes por meio do sabor que nos começos acham nos exercícios espirituais. Porque muitos deles, engulosinados pelo sabor e gosto que encontram nos ditos exercícios, procuram mais o sabor do espírito que a pureza e discrição dele que é o que Deus olha e aceita em todo caminho espiritual. E assim, além das imperfeições que já tem em pretender estes sabores, a gula os faz sair muito do pé para a mão e passar os limites do meio termo, em que consistem e se granjeiam virtudes. Porque atraídos pelo gosto que ali encontram, alguns matam-se com penitências e outros debilitam-se com jejuns, fazendo mais do que sofre a sua fraqueza, sem ordem nem conselho alheio, antes procuram furtar o corpo a quem devem obedecer em tal caso; e alguns até atrevem-se a fazê-lo ainda que lhes tenham ordenado o contrário.
Estes, ao comungar, tudo se lhes vai na procura de algum sentimento e gosto, mais que no reverencial e louvar a Deus, em si, com humildade. E de tal forma se apropriam disto, que quando não tiram algum gosto ou sentimento sensível, pensam que nada fizeram, o que é julgar muito baixamente de Deus, não compreendendo que o menor dos proveitos que este Santíssimo Sacramento faz é o que toca ao sentido; e que maior é o da graça invisível que da, e, para que nele ponham os olhos da fé, Deus tira muitas vezes esses gostos e sabores sensíveis. E assim querem sentir a Deus e saboreá-Lo como se fosse compreensível e acessível, não só neste como também nos outros exercícios espirituais. Tudo isto é muito grande imperfeição, porque é impureza na fé e muito contra a condição de Deus.
O mesmo têm estes na oração que exercitam, pois pensam que todo o negócio dela está em achar gosto e devoção sensível, e procuram arrancá-la á força de braços, como dizem, cansando e fatigando as potências e a cabeça; e quando não acham o tal gosto desconsolam-se muito pensando que não fizeram nada. E com esta pretensão perdem a verdadeira devoção e espírito, que consiste no perseverar ali com paciência e humildade, desconfiado de si e só para agradar a Deus. Por esta razão, quando uma vez não acharam sabor neste ou em outro exercício, têm grande tédio e repugnância em voltar a ele e por vezes deixam­no. Afinal, são, como dissemos, semelhantes a meninos que nem se movem nem obram pela razão, mas só pelo gosto. Tudo se lhes vai na busca de consolo e gosto espiritual e para isso nunca se fartam de ler livros e ora tomam uma, ora tomam outra meditação sempre a caça deste gosto nas coisas de Deus. O que Deus lhes nega muito justa, discreta e amorosamente, porque se assim não fosse, cresceriam por meio desta gula e gulosidade espiritual a males sem conta. Convêm pois muito a estes entrar na noite escura, que havemos de dar, para que se purguem destas ninharias.

A ORAÇÃO EUCARÍSTICA DE CRISTO

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), OCD (La preghiera della Chiesa, pp. 217-218).

 Sabemos, pelas narrativas evangélicas, que o Cristo orou como um judeu crente e fiel à Lei. No tempo da sua infância, com os pais, depois com os discípulos, mais tarde, ia, nos tempos prescritos, em peregrinação a Jerusalém, a fim de participar das festas que se celebravam no Templo. Ele cantou alegremente com os peregrinos: "Alegrei-me porque me foi dito: vamos à casa do Senhor" (Sl 121, 1). Pronunciou as antigas orações de bênção, que ainda hoje são recitadas para o pão, o vinho e os frutos da terra, como testemunham as narrações da última Ceia, toda consagrada ao cumprimento de uma das mais santas obrigações religiosas: a solene ceia da Páscoa, que comemorava a libertação da servidão do Egito. Talvez seja ai que nos é dada a visão mais profunda da oração do Cristo e como que a chave que nos introduz à oração da Igreja.
"Enquanto comiam, Jesus tomou o pão; e, pronunciando a oração de ação de graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos com estas palavras:  "Tomai, comei, isto é o meu Corpo". Tomou, em seguida, um cálice, deu graças e lhes deu: "Bebei dele, todos, pois isto é o meu Sangue, o Sangue da nova Aliança, derramado por muitos para a remissão dos pecados". (Mt 26, 26-28)
A bênção e a distribuição do pão e do vinho faziam parte do rito da ceia pascal. Mas, um e outro recebem aqui um sentido inteiramente novo. Aí se origina a vida da Igreja. Sem dúvida, somente em Pentecostes surge ela como comunidade espiritual e visível. Na Ceia, porém, se realiza o enxerto do sarmento no tronco, que torna possível a efusão do Espírito. As antigas orações de bênção se tornaram, na boca do Cristo, palavras criadoras de vida. Os frutos da terra se tornaram sua carne e seu sangue, repletos de sua vida. A criação visível, na qual Ele se inserira, por sua Encarnação, está agora a Ele ligada de modo novo e misterioso.

Os alimentos indispensáveis ao desenvolvimento do organismo humano são transformados em sua essência, e, se os homens os tomarem com fé, também eles serão transformados, incorporados ao Cristo, numa união viva, e repletos de sua vida divina. A força vivificante do Verbo é unida ao Sacrifício. O Verbo se fez carne para dar a vida que possui. Ofereceu-se a Si mesmo e ofereceu a criação resgatada por Sua oferta em sacrifício de louvor ao Criador. A Páscoa da Antiga Lei se tornou a Páscoa da Nova Aliança na última Ceia do Senhor, no Gólgota pelo sacrifício da Cruz, entre a Ressurreição e a Ascensão pelos ágapes jubilosos em que os discípulos reconheciam o Senhor à fração do pão e, no sacrifício da missa, pela santa comunhão.

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