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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana – texto integral

Publicamos abaixo o discurso integral proferido pelo Papa à Cúria Romana em 22 de dezembro de 2014:

“Tu estás acima dos querubins, tu que transformaste a miserável condição do mundo quando te fizeste como nós” (Santo Agostinho).

Amados irmãos,
Ao final do Advento, encontramo-nos para as tradicionais saudações. Dentro de alguns dias teremos a alegria de celebrar o Natal do Senhor; o evento de Deus que se faz homem para salvar os homens; a manifestação do amor de Deus que não se limita a dar-nos algo ou a enviar-nos uma mensagem ou alguns mensageiros, doa-se-nos a si mesmo; o mistério de Deus que toma sobre si a nossa condição humana e os nossos pecados para revelar-nos a sua Vida divina, a sua graça imensa e o seu perdão gratuito. É o encontro com Deus que nasce na pobreza da gruta de Belém para ensinar-nos a potência da humildade. Na realidade, o Natal é também a festa da luz que não é acolhida pela gente “eleita”, mas pela gente pobre e simples que esperava a salvação do Senhor.
Em primeiro lugar, gostaria de desejar a todos vós – cooperadores, irmãos e irmãs, Representantes pontifícios disseminados pelo mundo – e a todos os vossos entes queridos um santo Natal e um feliz Ano Novo. Desejo agradecer-vos cordialmente, pelo vosso compromisso quotidiano ao serviço da Santa Sé, da Igreja Católica, das Igrejas particulares e do Sucessor de Pedro.
Como somos pessoas e não números ou somente denominações, lembro de maneira especial os que, durante este ano, terminaram o seu serviço por terem chegado ao limite de idade ou por terem assumido outras funções ou ainda porque foram chamados à Casa do Pai. Também a todos eles e aos seus familiares dirijo o meu pensamento e gratidão.
Desejo juntamente convosco erguer ao Senhor vivo e sentido agradecimento pelo ano que está a nos deixar, pelos acontecimentos vividos e por todo o bem que Ele quis generosamente realizar mediante o serviço da Santa Sé, pedindo-lhe humildemente perdão pelas faltas cometidas “por pensamentos, palavras, obras e omissões”.
E partindo precisamente deste pedido de perdão, desejaria que este nosso encontro e as reflexões que partilharei convosco se tornassem, para todos nós, apoio e estímulo a um verdadeiro exame de consciência a fim de preparar o nosso coração ao Santo Natal.
Pensando neste nosso encontro veio-me à mente a imagem da Igreja como Corpo místico de Jesus Cristo. É uma expressão que, como explicou o Papa Pio XII “brota e como que germina do que é frequentemente exposto na Sagrada Escritura e nos Santos Padres”. A este respeito, São Paulo escreveu: “Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo” (1 Cor 12,12).
Neste sentido, o Concílio Vaticano II lembra-nos que “na edificação do Corpo de Cristo há diversidade de membros e de funções. Um só é o Espírito que, para utilidade da Igreja, distribui os seus vários dons segundo as suas riquezas e as necessidades dos ministérios (cf. 1 Cor 12,1-11)”. Por isto “Cristo e a Igreja formam o «Cristo total» - Christus totus -. A Igreja é una com Cristo».
É belo pensar na Cúria Romana como sendo um pequeno modelo da Igreja, ou seja, um “Corpo” que procura séria e quotidianamente ser mais vivo, mais sadio, mais harmonioso e mais unido em si mesmo e com Cristo.
Na realidade, a Cúria Romana é um corpo complexo, composto de muitos Dicastérios, Conselhos, Departamentos, Tribunais, Comissões e de numerosos elementos que não têm todos a mesma tarefa, mas são coordenados para um funcionamento eficaz, edificante, disciplinado e exemplar, não obstante as diversidades culturais, linguísticas e nacionais dos seus membros.
Em todo o caso, sendo a Cúria um corpo dinâmico, ela não pode viver sem alimentar-se e sem cuidar de si. De facto, a Cúria – como a Igreja – não pode viver sem ter uma ralação vital, pessoal, autêntica e sólida com Cristo. Um membro da Cúria que não se alimenta quotidianamente com aquele Alimento tornar-se-á um burocrata (um formalista, um funcionalista, um mero empregado): um ramo que seca e pouco a pouco morre e é lançado fora. A oração diária, a participação assídua nos Sacramentos, de modo especial, da Eucaristia e da reconciliação, o contacto quotidiano com a palavra de Deus e a espiritualidade traduzida em caridade vivida são o alimento vital para cada um de nós. Que todos nós tenhamos bem claro que sem Ele nada poderemos fazer (cf Jo 15, 8).
Consequentemente, a relação viva com Deus alimenta e fortalece também a comunhão com os outros, ou seja, quanto mais estivermos intimamente unidos a Deus tanto mais estaremos unidos entre nós porque o Espírito de Deus une e o espírito do maligno divide.
A Cúria está chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria a fim de realizar plenamente a sua missão. No entanto, ela, como todo corpo, como todo corpo humano, está exposta também às doenças, ao mau funcionamento, à enfermidade. E aqui gostaria de mencionar algumas destas prováveis doenças, doenças curiais. São doenças mais costumeiras na nossa vida de Cúria. São doenças e tentações que enfraquecem o nosso serviço ao Senhor. Penso que nos ajudará o “catálogo” das doenças – nas pegadas dos Padres do deserto, que faziam aqueles catálogos – dos quais falamos hoje: ajudar-nos-á na nossa preparação ao Sacramento da Reconciliação, que será um passo importante de todos nós em preparação do Natal.

1. A doença do sentir-se “imortal”, “imune” ou até mesmo “indispensável” pondo de lado os controles necessários e habituais. Uma Cúria que não faz autocrítica, que não se actualiza, que não procura melhorar é um corpo enfermo. Uma visita ordinária aos cemitérios poderia ajudar-nos a ver os nomes de tantas pessoas, algumas das quais pensassem talvez que eram imortais, imunes e indispensáveis! É a doença do rico insensato do Evangelho que pensava viver eternamente (cf Lc 12, 13-21) e também daqueles que se transformam em senhores e se sentem superiores a todos e não ao serviço de todos. Esta doença deriva muitas vezes da patologia do poder, do “complexo dos Eleitos”, do narcisismo que fixa apaixonadamente a sua imagem e não vê a imagem de Deus impressa na face dos outros, principalmente dos mais fracos e necessitados. O antídoto para esta epidemia é a graça de nos sentirmos pecadores e de dizer com todo o coração «Somos servos inúteis. Fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17, 10).

2. Outra doença: a doença do “martalismo” (que vem de Marta), da excessiva operosidade: ou seja, daqueles que mergulham no trabalho, descuidando, inevitavelmente, “a melhor parte”: sentar-se aos pés de Jesus (cf Lc 10,38-42). Por isto Jesus chamou os seus discípulos a “descansar um pouco’” (cf Mc 6,31) porque descuidar do descanso necessário leva ao estresse e à agitação. O tempo do descanso, para quem levou a termo a sua missão, é necessário, obrigatório e deve ser lavado a sério: no passar um pouco de tempo com os familiares e no respeitar as férias como momentos de recarga espiritual e física; é necessário aprender o que ensina Coelet que «para tudo há um tempo» (3,1-15).

3. Há ainda a doença do “empedernimento” mental e espiritual, ou seja, daqueles que possuem um coração de pedra e são de “dura cerviz” (At 7,51-60); daqueles que, com o passar do tempo, perdem a serenidade interior, a vivacidade a audácia e escondem-se atrás das folhas de papel, tornando-se “máquinas de práticas” e não “homens de Deus” (cf Hb 3,12). É perigoso perder a sensibilidade humana necessária que nos faz chorar com os que choram e alegrar-se com os que se alegram! É a doença dos que perdem “os sentimentos de Jesus ” (cf Fl 2,5-11) porque o seu coração, com o passar do tempo, endurece e torna-se incapaz de amar incondicionalmente ao Pai e o próximo (cf Mt 22,34-40). Ser cristão, com efeito, significa ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2,5), sentimentos de humildade e de doação, de desapego e de generosidade.

4. A doença da planificação excessiva e do funcionalismo. Quando o apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que, fazendo uma perfeita planificação, as coisas efectivamente progridem, tornando-se, assim, um contabilista  ou um comercialista. Preparar tudo bem é necessário, mas sem jamais cair na tentação de querer encerrar e pilotar a liberdade do Espírito Santo, que é sempre maior, mais generosa do que toda a planificação humana (cf Jo 3,8). Cai-se nesta doença porque «é sempre mais fácil e cómodo adaptar-se às próprias posições estáticas e imutadas. Na realidade, a Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que não tem a pretensão de regulamentá-lo e de domesticá-lo… - domesticar o Espírito Santo! - … Ele é frescor, fantasia, novidade».

5. A doença da má coordenação. Quando os membros perdem a comunhão entre si e o corpo perde a sua funcionalidade harmoniosa e a sua temperança, tornando-se uma orquestra que produz barulho, porque os seus membros não cooperam e não vivem o espírito de comunhão e de equipe. Quando o pé diz ao braço: “não preciso de ti”, ou a mão à cabeça: “quem manda sou eu”, causando, assim, mal-estar ou escândalo.
6. Há também a doença do “alzheimer espiritual”: ou seja, o esquecimento da “história da salvação”, da história pessoal com o Senhor, do «primeiro amor» (Ap 2,4). Trata-se de uma perda progressiva das faculdades espirituais que num intervalo mais ou menos longo de tempo causa graves deficiências à pessoa, tornando-a incapaz de exercer algumas atividades autónomas, vivendo num estado de absoluta dependência das próprias visões, tantas vezes imaginárias. É o que vemos naqueles que perderam a memória do seu encontro com o Senhor; naqueles que não têm o sentido deuteronómico da vida; naqueles que dependem completamente do seu presente, das suas paixões, caprichos e manias; naqueles que constroem em torno de si barreiras e hábitos, tornando-se, sempre mais escravos dos ídolos que esculpiram com as suas próprias mãos.

7. A doença da rivalidade e da vanglória. Quando a aparência, as cores das vestes e as insígnias de honra se tornam o objectivo primordial da vida, esquecendo as palavras de São Paulo: «Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses , e sim os dos outros» (Fl 2,1-4). É a doença que nos leva a ser homens e mulheres falsos, e a vivermos um falso “misticismo” e um falso “quietismo”. O mesmo São Paulo os define «inimigos da Cruz de Cristo» porque se envaidecem da própria ignomínia e só têm prazer no que é terreno» (Fl 3,19).
8. A doença da esquizofrenia existencial. É a doença dos que vivem uma vida dupla, fruto da hipocrisia típica do medíocre e do vazio espiritual progressivo que formaturas ou títulos académicos não podem preencher. Uma doença que atinge frequentemente aquele que, abandonando o serviço pastoral, se limitam aos afazeres burocráticos, perdendo, assim, o contacto com a realidade, com as pessoas concretas. Criam, assim, um seu mundo paralelo, onde colocam à parte tudo o que ensinam severamente aos outros e começam a viver uma vida oculta e muitas vezes dissoluta. A conversão é por demais urgente e indispensável para esta gravíssima doença (cf Lc 15,11-32).

9. A doença das bisbilhotices, das murmurações e do mexerico. Já falei muitas vezes desta doença, mas nunca é suficiente. É uma doença grave, que começa simplesmente, quem sabe, para trocar duas palavras e se apodera da pessoa, transformando-a em “semeadora de cizânia” (como satanás), e em tantos casos “homicida a sangue frio” da fama dos seus colegas e confrades. É a doença das pessoas cobardes que, não tendo a coragem de falar directamente, falam pelas costas. São Paulo nos adverte: «Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes» (Fl 2,14-18). Irmãos, guardemo-nos do terrorismo das maledicências!

10. A doença de divinizar os chefes: é a dos que cortejam os Superiores, esperando obter a benevolência deles. São vítimas do carreirismo e do oportunismo, honrando as pessoas e não a Deus (cf Mt 23,8-12). São pessoas que vivem o serviço, pensando exclusivamente no que devem obter e não no que devem dar. Pessoas mesquinhas, infelizes e inspiradas só pelo seu próprio egoísmo (cf Gal 5,16-25). Esta doença poderia atingir também os Superiores, quando cortejam alguns seus colaboradores para obter a sua submissão, lealdade e dependência psicológica, mas o resultado final é uma verdadeira cumplicidade.

11. A doença da indiferença para com os outros. Quando alguém pensa somente em si mesmo e perde a sinceridade e o calor das relações humanas. Quando o mais especializado não coloca o seu conhecimento ao serviço dos colegas menos especialistas. Quando se chega ao conhecimento de algo e o esconde para si, ao invés de partilhar positivamente com os outros. Quando, por ciúme ou por astúcia, se sente alegria ao ver o outro cair, ao invés de erguê-lo e encorajá-lo.

12. A doença da cara fúnebre. Quer dizer, das pessoas grosseiras e sisudas que pensam que, para ser sérias, é necessário assumir as feições de melancolia, de severidade e tratar os outros – principalmente os que consideram inferiores – com rigidez, dureza e arrogância. Na realidade, a severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e de insegurança. O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa amável, serena e alegre que transmite alegria por toda parte onde quer que se encontre. Um coração repleto de Deus é um coração feliz que irradia e contagia de alegria todos os que estão à sua volta: é o que se vê imediatamente! Não percamos, portanto, aquele espírito jovial, cheio de humor, e até autoirónico, que nos torna pessoas amáveis, mesmo nas situações difíceis. Quanto bem nos faz uma boa dose de sadio humorismo! Far-nos-á muito bem recitar muitas vezes a oração de São Tomás Moro: rezo-a todos os dias; me faz bem.

13. A doença de acumular: quando o apóstolo procura preencher um vazio existencial no seu coração, acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro. Na realidade, nada de material poderemos levar connosco, porque “a mortalha não tem bolsos” e todos os nossos tesouros terrenos – mesmo que sejam presentes – jamais poderão preencher aquele vazio; pelo contrário, torná-lo-ão cada vez mais exigente e mais profundo. A estas pessoas o Senhor repete: «Dizes: sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu ... Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te» (Ap 3,17-19). A acumulação só pesa e freia inexoravelmente o caminho! E penso numa anedota: um tempo, os jesuítas espanhóis descreviam que a Companhia de Jesus era como a “cavalaria leve da Igreja”. Lembro-me da mudança de um jovem jesuíta que, enquanto carregava num caminhão os seus muitos bens: bagagens, livros, objectos e presentes, ouvi um velho jesuíta, que estava a observá-lo, dizer com um sorriso sábio: e esta seria a “cavalaria leve da Igreja?”. As nossas mudanças são um sinal desta doença.

14. A doença dos círculos fechados onde à pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo e, em algumas situações, ao próprio Cristo. Também esta doença começa sempre por boas intenções, mas com o passar do tempo, escraviza os membros, tornando-se um câncer que ameaça a harmonia do Corpo e causa tanto mal – escândalos – especialmente aos nossos irmãos menores. A autodestruição ou o “tiro amigo” dos camaradas é o perigo mais sorrateiro. É o mal que atinge a partir de dentro; e, como diz Cristo, «todo o reino dividido contra si mesmo será destruído» (Lc 11,17).

15. E a última: a doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder; é a doença das pessoas que procuram insaciavelmente multiplicar poderes e, com esta finalidade, são capazes de caluniar, de difamar e de desacreditar os outros, até mesmo nos jornais e nas revistas. Naturalmente para se exibirem e se demonstrarem mais capazes do que os outros. Também esta doença faz muito mal ao Corpo porque leva as pessoas a justificar o uso de todo o meio, contanto que atinja o seu objectivo, muitas vezes em nome da justiça e da transparência! E vem-me aqui à mente a lembrança de um sacerdote que chamava os jornalistas para lhes contar – e inventar – coisas privadas e reservadas dos seus confrades e paroquianos. Para ele a única coisa importante era ver-se nas primeiras páginas, porque assim se sentia “potente e convincente”, causando tanto mal aos outros e à Igreja. Pobrezinho!
Irmãos, estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda a Cúria, Comunidade, Congregação, Paróquia, Movimento eclesial e podem atingir quer em nível individual quer comunitário.
É necessário esclarecer que só o Espírito Santo - a alma do Corpo Místico de Cristo, como afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano: «Creio... no Espírito Santo, Senhor e que dá vida» - pode curar todas as enfermidades. É o Espírito Santo que sustenta todo o esforço sincero de purificação e toda boa vontade de conversão. É Ele que nos faz compreender que todo o membro participa da santificação do Corpo ou do seu enfraquecimento. É Ele o promotor da harmonia: “Ipse harmonia est”, diz São Basílio. Santo Agostinho diz-nos: «Enquanto uma parte aderir ao corpo, a sua cura não é desesperada; mas o que foi cortado não pode nem curar-se nem sarar».
O restabelecimento é também fruto da consciência da doença e da decisão pessoal e comunitária de tratar-se, suportando pacientemente e com perseverança a terapia.
Somos chamados, portanto – neste tempo de Natal e por todo o tempo do nosso serviço e da nossa existência - a viver «pela prática sincera da caridade, crescendo em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por Ele que todo o Corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a actividade que lhe é própria – efectua esse crescimento , visando à sua plena edificação na caridade» (Ef 4,15-16).
Amados irmãos!
Certa vez li que os sacerdotes são como aviões: só fazem notícia quando caem, mas há tantos que voam. Muitos criticam e poucos rezam por eles. É uma frase muito simpática, mas também muito verdadeira, porque delineia a importância e a delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um só sacerdote que “cai”, a todo o Corpo da Igreja.
Portanto, para não cair nestes dias em que nos preparamos à Confissão, peçamos à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, que cure as feridas do pecado que cada um de nós tem no seu coração e que ampare a Igreja e a Cúria a fim de que sejam sadias e saneadoras; santas e santificadoras para a glória do seu Filho e para a nossa salvação e do mundo inteiro. Peçamos a Ela que nos faça amar a Igreja como a amou Cristo, seu Filho e nosso Senhor, e que tenhamos a coragem de nos reconhecermos pecadores e necessitados da sua misericórdia e que não tenhamos medo de abandonar a nossa mão entre as suas mãos maternais.

Os melhores votos de um santo Natal a todos vós, às vossas famílias e aos vossos colaboradores. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim! Obrigado de coração!
Fonte: Rádio Vaticana.

PE. PEDRO, DE LAGOA DA CANOA-AL: Mensagem de Natal.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

NATAL COM FREI PETRÔNIO EM ALAGOAS: Convite

A PALAVRA DO FREI ADAILSON: Os Objetivos da Nossa Vida.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 757. Caratinga e os Carmelitas.

Papa à Cúria Romana: quinze doenças e tentações para um exame de consciência

O Papa Francisco recebeu em audiência na Sala Clementina os membros da Curia Romana para os tradicionais votos de Boas Festas. No seu discurso o Santo Padre referiu as quinze doenças da Cúria convidando todos a pedirem perdão a Deus que “nasce na pobreza da gruta de Belém para nos ensinar a potência da humildade”. O Papa pede um verdadeiro exame de consciência na preparação do Natal.
Ao apontar estas quinze doenças ou tentações o Papa Francisco esclarece que não dizem respeito apenas à Cúria Romana mas são um perigo para qualquer cristão, diocese, comunidade, congregação, paróquia e movimento eclesial.
O Papa Francisco observou que “seria belo pensar na Cúria Romana como um pequeno modelo de Igreja, ou seja, como um corpo que tenta seriamente e quotidianamente de ser mais vivo, mais são, mais harmonioso e mais unido em si próprio e com Cristo.”
O Santo Padre afirmou ainda a Igreja não pode viver sem ter uma relação vital, pessoal e autênctico com Cristo. “Vai-nos ajudar o catálogo das doenças, na esteira dos padres do deserto” – afirmou o Papa Francisco que passou a apresentar as quinze doenças ou tentações:
1-Sentir-se imortal ou indispensável – “Uma Curia que não faz auto-crítica, que não se atualiza é um corpo enfermo”. É o “complexo dos eleitos, do narcisismo”;
2-Martalismo – provêm de Marta – é a doença do excesso de trabalho – os que trabalham sem usufruirem do melhor. A falta de repouso leva ao stress e à agitação;
3-A mentalidade dura – ou seja, quando se perde a serenidade interior, a vivacidade e a audácia e nos escondemos atrás de papeis, deixando de ser “homens de Deus”;
4-A excessiva planificação – “quando o Apóstolo planifica tudo minuciosamente e pensa que assim as coisas progridem torna-se num contabilista”. É a tentação de querer pilotar o Espírito Santo;
5-Má coordenação – quando se perde a comunhão e o “corpo perde a sua harmoniosa funcionalidade”;
6-O Alzheimer espiritual – esquecer a história do encontro com Deus. Perda da memória com o Senhor. Criam muros e são escravos de ídolos.
7-Rivalidade e vã glória – quando o objetivo da vida são as honorificiências. Leva-nos a ser falsos e a viver um falso misticismo.
8-Esquizofrenia existencial – “vivem uma vida dupla fruto da hipocrisia típica do mediocre e do progressivo vazio espiritual que livenciaturas e títulos académicos não podem preencher”. Burocratismo e distância da realidade. Uma vida paralela.
9-Mexericos – nunca é demais falar desta doença. Podem ser homicidas a sangue frio. “É a doença dos velhacos que não tendo a coragem de falar diretamente falam pelas costas”. Defendamo-nos do terrorismo dos mexericos;
10-Cortejar os chefes – Carreirismo e oportunismo. “Vivem o serviço pensando unicamente àquilo que devem obter e não ao que devem dar”. Pode acontecer também aos superiores;
11-Indiferença perante os outros – quando se esconde o que se sabe. Quando por ciúme sente-se alegria em ver a queda dos outros em vez de o ajudar a levantar”;
12- Cara fúnebre – para ser sérios é preciso ser duros e arrogantes. “A severidade teatral e o pessimismo estéril são muitas vezes sintomas de medo e insegurança”. “O apóstolo deve esforçar-se por ser uma pessoa cortês, serena, entusiasta e alegre e que transmite alegria...”. “Como faz bem uma boa dose de são humorismo”;
13-Acumular bens materiais – “Quando o apóstolo tentar preencher uma vazio existencial no seu coração acumulando bens materiais, não por necessidade, mas só para sentir-se seguro”;
14-Círculos fechados – viver em grupinhos. Inicia com boas intenções mas faz cair em escândalos;
15-O lucro mundano e exibicionismo – “quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter lucros mundanos ou mais poder.
O Papa Francisco concluiu o seu discurso recordando de ter lido uma vez que “os sacerdotes são como os aviões, fazem notícia só quando caiem...”. “Esta frase” – observou o Papa – “é muito verdadeira porque delineia a importância e a delicadeza do nosso serviço sacerdotal e quanto mal poderia causar um só sacerdote que cai a todo o Corpo da Igreja”. (RS)

sábado, 20 de dezembro de 2014

A CAMINHO DE ALAGOAS: Chegando a Lagoa da Canoa.

A CAMINHO DE ALAGOAS: Onde está a água do Rio?

4º- Domingo do Advento: Um anúncio surpreendente.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1, 26-38 que corresponde ao 4º Domingo de Advento, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto
Lucas narra o anúncio do nascimento de Jesus em estreito paralelismo com o de João Baptista. O contraste entre ambos os episódios é tão surpreendente que nos permite entrever com luzes novas o Mistério de Deus encarnado em Jesus.
O anúncio do nascimento de João Baptista ocorre em “Jerusalém”, a grandiosa capital de Israel, centro político e religioso do povo judeu.
O nascimento de Jesus anuncia-se numa terra desconhecida das montanhas da Galileia. Uma aldeia sem relevo algum, chamada “Nazaré”, donde ninguém espera que possa sair nada bom. Anos mais tarde, estas povoações humildes acolherão a mensagem de Jesus anunciando a bondade de Deus. Jerusalém, pelo contrário, rejeitá-Lo-á. Quase sempre, são os pequenos e insignificantes os que melhor entendem e acolhem a Deus encarnado em Jesus.
O anúncio do nascimento de João Baptista tem lugar no espaço sagrado do “templo”. O de Jesus, numa casa pobre de uma “aldeia”. Jesus faz-se presente aí onde as pessoas vivem, trabalham, se alegram e sofrem. Vive entre eles aliviando o sofrimento e oferecendo o perdão do Pai. Deus fez-se carne, não para permanecer nos templos, mas para “colocar a Sua morada entre os homens” e compartir a nossa vida.
O anúncio do nascimento de João Baptista é escutado por um homem venerável, o sacerdote Zacarias, durante uma solene celebração ritual. O de Jesus, é feito a Maria por uma “jovem” de uns doze anos. Não se indica donde está nem o que está a fazer. A quem pode interessar o trabalho de uma mulher? No entanto, Jesus, o Filho de Deus encarnado, verá as mulheres de forma diferente, defenderá a sua dignidade e as acolherá entre os Seus discípulos.
Por último, de João Baptista anuncia-se que nascerá de Zacarias e Isabel, um casal estéril, abençoado por Deus. De Jesus diz-se algo absolutamente novo. O Messias nascerá de Maria, uma jovem virgem. O Espírito de Deus estará na origem da Sua aparição no mundo. Por isso, “será chamado Filho de Deus”. O Salvador do mundo não nasce como fruto do amor de esposos que se querem mutuamente. Nasce como fruto do Amor de Deus por toda a humanidade. Jesus não é uma prenda que nos faz Maria e José. É uma prenda que nos faz Deus.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A mística nupcial. Teresa de Ávila e Thomas Merton, dois centenários


Em 2015, comemoram-se os 500 anos do nascimento de Teresa de Ávila (1515-1582) e o centenário de Thomas Merton (1915-1968) duas grandes referências da mística cristã.
Reconhecidos pela busca da interioridade e pelo amor a Deus e ao próximo, evidenciar o legado teológico de ambos os místicos, sua trajetória, sentido e atualidade de suas vivências é o que pretende esta edição da revista IHU On-Line.
Para o teólogo Faustino Teixeira, professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, há uma relação “evidente” entre as trajetórias de Teresa de Ávila e Thomas Merton, já que ambos se inserem numa tradição de mística nupcial — aquela cujo tema central é o do amor, que se insere no coração mesmo da divindade.
Marco Vannini, reconhecido como um dos maiores especialistas sobre mística especulativa no mundo, afirma que a experiência comum entre esses dois místicos é “aquela da interioridade mais profunda, aquele ‘local místico’ que é a essência do ser humano em geral, sem conhecer o que se perdeu na ‘região da desigualdade’ da memória agostiniana”.
O teólogo espanhol Secundino Castro Sánchez, da Universidad Pontificia Comillas, de Madri, reflete sobre a cristologia de Teresa de Ávila, relacionando Jesus — em sua corporeidade — como lugar definitivo de revelação de Deus.
Frei Betto, escritor, acredita que a grande novidade que Teresa de Ávila realizou, à sua época, foi ter percorrido o caminho inverso ao de Copérnico, o qual havia deslocado o eixo da Terra para o Sol. Segundo ele, “talvez seja a santa mais estudada por psicanalistas e filósofos. Sobre ela há uma infinidade de obras de arte: filmes, peças de teatro, romances, etc. Ela chega a ser um fenômeno midiático”.
No ponto de vista de Giselle Gómez, da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Teresa “foi capaz de ouvir a si mesma, de aprender a confrontar-se com aquilo que supõe a mudança e de ir construindo outra maneira de ser mulher”.
Para Lúcia Pedrosa-Pádua, professora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, Teresa rompeu com o estereótipo submisso e piedoso esperado das mulheres.
Analisando suas visões e êxtases, o psiquiatra espanhol Jesús Sanchez-Caro frisa que as experiências místicas de Teresa de Ávila de modo algum têm a ver com psicopatologias, e que a vida dessa mística é um exemplo paradigmático daquilo que na psicologia moderna se denomina de “resiliência”.
Luciana Barbosa, doutoranda em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, observa que o corpo, para Teresa, se torna uma extensão de sua experiência mística. E que é nele que a demonstração do que é vivenciado com Deus pode se apresentar.
Já para o editor espanhol das obras teresianas, Maximiliano Herraiz, “a ponte entre verdade e amor, inteligência e afetividade, adquire em Teresa uma harmonia perfeita”.
Cristiana Dobner, irmã carmelita descalça, escritora, estudiosa e pesquisadora de teologia, que vive no mosteiro de Santa Maria do Monte Carmelo, Itália, analisa a aproximação da espiritualidade de Teresa com Inácio de Loyola, já que o magis de Inácio “ressoa em todas as suas obras”.
Norma Nasser, doutoranda em Ciência da Religião pelo Programa de Pós-graduação da UFJF, reflete acerca da aproximação entre a mística de Merton e o zen-budismo como caminho para alcançar o cristianismo.
Por fim, para Sibelius Cefas Pereira, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMG, a obra de Merton transcende em muito o universo religioso, e defende a contemplação como uma resposta à vida contemporânea.
Complementam essa edição as entrevistas com José Eduardo Franco (Universidade de Lisboa), sobre as obras completas e a vida do padre Antônio Vieira, Tshepo Madlingozi (Universidade de Pretória, África do Sul) que aborda a derrocada dos movimentos sociais na África pós-Apartheid e com o filósofo norte-americano Timothy Lenoir (Universidade de Duke), que acentua que a visão e a postura antropocêntrica que constituem a modernidade estão transformando a natureza em algo que controlamos e que podemos usar para nossos próprios fins.

“A rigidez é sinal de um coração fraco”, disse o Papa Francisco.

“Jesus nunca negociava seu coração de Filho do Pai, mas estava tão aberto às pessoas, buscando caminhos para ajudar...”. A afirmação foi feita pelo Papa Francisco durante a homilia matutina na Capela da Residência de Santa Marta, de acordo com a Rádio Vaticano, recordando que o cristão é misericordioso e que a rigidez é sinal de um coração fraco. A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 15-12-2014. A tradução é de André Langer.
O Papa comentou o Evangelho do dia no qual são relatadas as perguntas dos sacerdotes que perguntavam a Jesus com que autoridade era realizava as suas obras. Uma pergunta, explica Bergoglio, que demonstra o “coração hipócrita” desta gente: “A eles não interessava a verdade”, se deixavam levar pelo vento, agiam como ‘bandeiras, ora para cá, ora para lá’; todos sem consistência. Corações sem consistência: negociavam tudo: a liberdade interior, a fé, a pátria; menos as aparências. A eles importava apenas sair bem das situações”. Eram oportunistas, “tiravam proveito das situações”.
Francisco continuou citando uma possível objeção: “Alguém de vocês pode me dizer: ‘Mas, padre, aquele povo era observante da lei. Aos sábados não caminhavam muito, nunca iam à mesa sem lavar as mãos, eram pessoas muito seguras de seus hábitos’. Sim, é verdade, mas nas aparências. Eram fortes, mas eram ‘engessados’. Seu coração era fraco, não sabiam no que acreditavam. E por isso, sua vida era toda regrada por fora, mas seu coração ia para o outro lado: tinham o coração fraco e a pele engessada, forte, dura. Jesus, ao contrário, nos ensina que o cristão deve ter o coração forte, o coração sólido, o coração que cresce sobre a rocha que é Cristo, e caminha com prudência. Com o coração, com a rocha, não se negocia!”
“Este é o drama da hipocrisia daquele povo, e Jesus nunca negociava seu coração de Filho do Pai. Era muito aberto às pessoas, procurava caminhos para ajudar. ‘Isto não se pode fazer, a nossa disciplina, a nossa doutrina diz que não se pode fazer!’, diziam aquelas elas. ‘Por que teus discípulos comem o trigo nos campos, quando caminham, aos sábados? Não se pode fazer. Eram muito rígidos em sua disciplina: a disciplina não se toca, é sagrada’”.
O Papa Francisco recordou quando “Pio XII nos libertou daquela cruz tão pesada que era o jejum eucarístico”: “Mas alguns de vocês talvez se lembrem. Não se podia beber nem mesmo uma gota d’água. Nem isso! E para escovar os dentes, a água não deveria ser engolida. Mas eu mesmo, quando jovem, fui me confessar porque acreditava que tivesse engolido uma gota d’água. É verdade ou não? É verdade. Quando Pio XII mudou a disciplina – ‘Ah, heresia! Não! Tocou a disciplina da Igreja!’ – muitos fariseus se escandalizaram. Muitos. Porque Pio XII fez como Jesus: viu as necessidades das pessoas. ‘Mas coitados, com tanto calor!’ Esses padres que celebravam três missas, a última à uma da tarde, depois do meio-dia, em jejum. A disciplina da Igreja. E esses fariseus eram assim – ‘a nossa disciplina’ – rígidos na pele, mas, como Jesus lhes diz, ‘podres no coração’, fracos, fracos até a podridão. Tenebrosos no coração”.
“Também a nossa vida pode se tornar assim – disse Francisco –, inclusive a nossa vida. E algumas vezes, lhes confesso, quando vi um cristão, uma cristã assim, com o coração fraco, não firme sobre a rocha – Jesus – e com tanta rigidez fora, pedi ao Senhor: ‘Mas Senhor, jogue uma casca de banana para que dê uma bela escorregada, se envergonhe de ser pecador e assim encontre a Você, que é o Salvador’. Eh, muitas vezes um pecado nos faz envergonhar tanto e encontrar o Senhor, que nos perdoa, como esses doentes que estavam aqui e iam ao Senhor para se curar”.
Na sequência, o Papa observou que “as pessoas simples não se equivocam”, não obstante as palavras desses doutores da lei, “porque as pessoas sabiam, tinham aquele faro da fé”. O Papa conclui a homilia com esta oração: “Peço ao Senhor a graça que o nosso coração seja simples, luminoso com a verdade que Ele nos dá, e assim possamos ser amáveis, perdoadores, compreensíveis com os outros, de coração magnânimo com as pessoas, misericordiosos. Jamais condenar, jamais condenar. Se você tem vontade de condenar, condene a si mesmo, que algum motivo terá, eh?”
“Peçamos ao Senhor a graça que nos dê esta luz interior, que nos convença que a rocha é somente Ele e não tantas histórias que inventamos como coisas importantes; e que Ele nos diga – Ele nos mostre! – o caminho, Ele nos acompanhe na estrada, Ele nos alargue o coração, para que possam entrar os problemas de muitas pessoas e Ele nos dê uma graça que elas não tinham: a graça de sentir-nos pecadores”.


FREI PETRÔNIO EM ALAGOAS: Um convite para você

FREI SÍLVIO FERRARI: 22 Anos de Padre (4ª Parte)

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 755. Colher Frutos...

domingo, 14 de dezembro de 2014

3º DOMINGO DO ADVENTO: Homilia do Frei Petrônio.

FREI SÍLVIO FERRARI: 22 Anos de Padre (3ª Parte)

OLHAR DO DIA: Turista de uma vida

Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio.
O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
- "Onde estão seus móveis?" - perguntou o turista.
E o sábio, bem depressa, perguntou  também:
- "E onde estão os seus...?"
- "Os meus?!" - surpreendeu-se o turista - "Mas eu estou aqui só de passagem!"
- "Eu também..." - concluiu o sábio.

OLHAR SOBRE A VIDA.

"A VIDA NA TERRA É SOMENTE UMA PASSAGEM... NO ENTANTO, ALGUNS VIVEM COMO SE FOSSEM FICAR AQUI ETERNAMENTE E ESQUECEM DE SER FELIZ." www.olharjornalistico.com.br

NOITE ESCURA: Poema de São João da Cruz, Carmelita-01.

Frei Jerry, Carmelita. Entrevista.

“Tornei-me tudo para todos".  1Cor 9,22

Por: Maria Lúcia Menezes

Com esta citação da carta de São Paulo aos Coríntios será ordenado a presbítero da Igreja Frei Jerry de Souza, OCarm no dia 01 de novembro em nossa paróquia.
Frei Jerry foi um paroquiano muito atuante em nossa comunidade paroquial em especial na Igreja filial Santa Clara que fica no bairro Jacaré onde ali morou durante muito tempo com sua mãe Gonçala e seus irmãos. Além de ter sido membro atuante da Renovação Católica, foi Mesc e Acólito.
Conversando com Frei Jerry, ele lembrou de um dos trechos do hino da cidade de Cabo Frio composto pelo Poeta Vitorino Carriço. "Forasteiro, não há forasteiro, pois nesta terra todos são iguais". Também nos falou de família, vocação e sobre sua escolha para a Ordem Carmelita.

Conheça um pouco de sua história.
PnsAssunção: Frei Jerry, como viu crescer dentro de si a sua vocação?

Frei Jerry: A vocação é dom de Deus, que é Mistério de Amor. Desde pequeno, tinha muito gosto com as coisas de Deus, a oração, que aprendi com meus pais, a Missa aos domingos. Desejava imensamente ser todo de Deus e para Deus. Servir a Deus na Igreja, ajudar as pessoas, os doentes, os desanimados. Mas eu era extremamente tímido, medroso, cheio de escrúpulos. Não falava com ninguém do que sentia, nem mesmo em casa. Um dia tomei coragem e procurei a Pastoral vocacional da arquidiocese do Rio de Janeiro. Fiz acompanhamento vocacional durante 1 ano. Fui convidado a ingressar no seminário São José. Porém, naquela ocasião, meu pai ficou desempregado, nós pagávamos aluguel, dois dos meus irmãos eram ainda pequenos... Decidi permanecer em casa e ajudar meus pais. Não foi nada fácil. Depois disso, resolvi esquecer esta história de vocação. Os anos foram se passando e meu pai veio a Cabo Frio para trabalhar de porteiro num condomínio, também eu vim para cá. De imediato, procurei a Igreja mais próxima e comecei a participar. Era a Capela Santa Clara, no Jacaré. Então, engajei-me mais ainda em diversas pastorais e movimentos. E a vocação... Não adianta, quando Deus chama, só há um caminho: ir ao encontro de sua vontade. Quando o coração sabe que somente será realizado num caminho, numa entrega, numa resposta a Deus, é preciso ir. Ainda que haja receio, temores, é preciso ir ao encontro do Deus que chama! Quando se responde a Deus com fé e coragem, é possível tudo superar. É possível ser feliz, ainda que num caminho marcado por espinhos. Deus é nossa única motivação!

PnsAssunção: Por Carmelita?

Frei Jerry: Por que frade carmelita? Bom, um dia saberemos com mais certeza. No dia ressurreição vamos esclarecer muitas coisas, perguntando ao próprio Jesus. Creio que ele ficará feliz em nos dizer como agiu em nossas vidas e nos conduziu. Mas é claro que houve uma identificação com o carisma carmelitano. Lembremos de Dom Carlos Alberto Navarro, que sempre nos falava de Santa Teresinha do Menino Jesus e de sua devoção especial a ela. Também de Dom Eliseu, Bispo Carmelita, que morou em nossa cidade, tanto ajudou nossa comunidade paroquial e difundiu a devoção a Nossa Senhora do Carmo, através do Escapulário. De fato, a figura de Santa Teresinha foi decisiva para que eu tomasse a decisão de ir ao encontro da vontade de Deus na vida consagrada. Na verdade, a devoção a esta grande santa não me atraía tanto. Talvez, porque as pessoas me falavam de Santa Teresinha de um modo muito infantil, meloso. Mas eis que, estando numa vigília na Capela Santa Isabel, tomei em mãos as cartas que Santa Teresinha mandava aos padres e seminaristas que ela acompanhava. Fiquei imensamente surpreendido. Ela era uma grande santa, corajosa, totalmente entregue, nada tinha de melosa, mas empreendeu um caminho de confiança absoluta no Amor Misericordioso de Deus. Deu-se toda para Deus e toda para a Igreja. Era incansável em fazer Deus amado, através dos pequenos gestos de caridade fraterna no mosteiro de Lisieux, das orações e pequenos sacrifícios em favor de quem precisasse, seja que fosse! Tinha um coração que não lhe cabia no peito de tanta confiança na Misericórdia de Deus e no amor às suas irmãs de comunidade, à Igreja. Em especial, aos padres e religiosos.

PnsAssunção: A comunidade paroquial ficou feliz com a sua escolha sendo ordenado ao sacerdócio na comunidade que o acolheu, dando exemplo a juventude que hoje em nossa cidade muitos estão sendo ceifados pelas drogas e violência. O que o você diz a esses jovens que ainda não encontraram o Cristo? Qual o caminho?

Frei Jerry: Também eu fiquei muito feliz em poder ser ordenado presbítero nesta cidade, em nossa paróquia Nossa Senhora da Assunção. Afinal, aqui caminhei durante anos e tenho verdadeiros irmãos na fé, amigos e amigas. Quanto aos jovens, como é bom ser jovem! A vida passa rápido e é preciso fazer as escolhas certas, estar com as pessoas que realmente valem a pena, a família, os verdadeiros amigos. Cristo é nosso grande amigo, nosso Salvador, nosso Irmão. Como diz o Papa, Cristo não nos tira nada. Ao contrário, tudo Ele nos dá, tudo se fez para nós. O jovem busca viver algo autêntico, profundo, radical. São muitas as ilusões mundanas. Nossa vida de cristãos precisa ser mais atraente aos jovens. Precisamos revelar Deus em nossas ações, em nossas comunidades. Dar mais espaço e confiar mais nos jovens. Saber compreender, aceitar os jovens, ajuda-los com paciência, dá-lhes amor! Muitos jovens nem sabem o que é ser amado. Cristo os ama, Cristo quer estar com ele através da Igreja.


PnsAssunção: Frei Jerry obrigada pela entrevista deixe aqui o seu convite especial para todos nós.
Frey Jerry: Fico muito agradecido à comunidade paroquial de Nossa Senhora da Assunção, ao Pe. Marcelo Chelles, que acolheu meu pedido de ser ordenado aqui. À equipe de comunicação da paróquia e a todos os irmãos em Cristo. Convido-os a rezarem por mim, para que seja fiel ao convido-os, particularmente, a estarem na Celebração Eucarística do dia 01 de novembro, às 10h00, na Matriz Auxiliar, na qual serei ordenado presbítero para o serviço de Deus e da Igreja. E a todos, deixo minha bênção. Que o Deus da paz e de toda consolação os abençoe em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.  E que a Virgem da Assunção os acompanhe sempre.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Papa Francisco, o Bispo Cipolini, o Padre Wilson e o Povo de Adamantina/SP.

Naqueles dias já se notava o movimento de jovens com suas mochilas e camisetas coloridas – verdes, amarelas, azuis, vermelhas – sotaques, cores, gente de todos os cantos do mundo, o Rio aos poucos foi tomado por católicos.
Eu achei tudo aquilo muito curioso, pois jamais esperava ver tanta gente de tantos lugares do mundo para um evento religioso, muito menos tantos jovens! Francisco mostrava a sua força em seu primeiro grande evento após sua posse...
E em meio a toda aquela efervescência o Papa chegou ao Brasil impressionando a todos pela simplicidade logo ao chegar, sem pompa e circunstância, embarcou em carro simples, sem ar condicionado sem luxo e com o vidro baixado e, de forma incansável, para um senhor de sua idade, saíu a saudar os fiéis pelas ruas do Rio de Janeiro. Uma pequena observação a titulo de comparação, vocês já prestaram atenção nos carros, nos luxos e nas comitivas de alguns Bispos e autoridades eclesiásticas desse nosso país?
Mas enfim, depois de alguns dias o Papa Francisco foi para o seu primeiro evento na praia, ele chegaria ao forte de Copacabana, bem pertinho de casa, aí não tinha jeito e nem desculpa, eu teria que ir vê-lo, primeiro para atender a um pedido da minha mãe, e segundo - por mais que eu evitasse confessar que iria ver o papa para meus amigos, que não gostam nada, nada, desse “movimento” religioso de massas - eu queria muito ver quem era aquele homem que desde a sua posse me surpreendia a cada dia de uma forma extremamente positiva, como nunca imaginei que um líder católico pudesse me impressionar.
E no sábado à tarde ele desceu de helicóptero no Forte de Copacabana, subiu no “papamóvel” e saiu ao encontro dos fiéis.  Depois de uns 10 minutos ele passou por onde eu estava e parou bem em frente a mim, pois lá havia uma menina, a Isadora, no colo da mãe e, ele a pegou em seus braços. Quando devolveu a criança foi muito interessante à reação de todas aquelas pessoas na volta, todos choravam emocionados, mas eu só conseguia pensar na sensação que tive ao ver aquele homem de branco e sapato negro (pois ele se recusa a usar o sapato dos papas) que parou ali, bem pertinho de mim, sorrido e acenando. Uma coisa é certa, o Papa Francisco irradia luz e paz.
Voltei para casa com a sensação de que eu havia visto um ser humano diferente de todos...
Mas nesta época também tive o privilégio de estar morando no Rio durante as manifestações de junho. Aquela cidade pulsou com muita força, foram dias lindos e pacíficos de manifestações, antes da violência, infelizmente, acabar com o movimento.
E foi durante estes dias, de pura efervescida e exercício da cidadania, quando o cidadão comum se apropriou da política.
- Envolver-se na política é um obrigação para um cristão, nós, os cristão, não podemos nos fazer de Pilatos, e lavar as mãos, não podemos! Temos que nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política. A política está muito suja e eu pergunto: “está suja por que”? Por que os cristãos não se metem nela com o espírito evangélico? É a pergunta que eu faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros... Mas eu, o que faço? Isso é um dever! Trabalhar para o bem comum é o dever de um Cristão.
Eu me senti extremamente reconfortada ao ouvir estas palavras do Papa, pois ele conclamava os cristãos a participar da vida política de seu país. Mas é importante não confundir política com política partidária. O que o papa se referiu foi: que é importante que o cristão se envolva nos problemas cotidianos, sejam eles de qualquer esfera que for, buscando a justiça para todos e, que lutem em prol do bem comum, pois não haverá bem comum se não houver justiça.
A política é a grande arte onde se estabelecem os limites de convivência em sociedade. A política exige que cada um assuma a sua responsabilidade, responsabilidade que é de cada um, em um mundo que é nosso, onde o que deve prevalecer é a ética nas relações.
É dever do Cristão, segundo o Papa, se meter e fazer política, se envolver onde não há justiça onde há “sujeira” e jamais lavar as mãos, como fez Pilatos.
E o povo de Adamantina, de uma forma, que confesso me surpreendeu imensamente, está lutando, não apenas por um padre, mas por sua gente. Talvez muitos ainda não se deram conta que o padre é um “tema gerador” disso tudo, mas há uma questão maior que é, o que queremos para nós enquanto sociedade, que mundo coletivo queremos construir?
Vejo pessoas dizendo, esta energia deveria ser canalizada para problemas na cidade como postos de saúde, ruas entre tantos problemas que Adamantina pode estar vivendo, mas acredito que uma cidade tradicionalmente letárgica e de fama de elitista, conseguiu quebrar a inércia e colocou suas palavras para andar, minha gente, isso é um começo. O povo de Adamantina se apropriou da política, está fazendo política como conclamou o Papa Francisco e, meus caros, isso não é tão simples e fácil quanto parece.
O padre foi injuriado e teve todas as afrontas acolhidas por um Bispo que se fez de Pilatos, lavou as suas mãos, infelizmente o Bispo não fez seu papel de Cristão. Ele não lutou pelo bem comum. Mas este caso tem um agravante, pois ele transcende a figura de um padre, pois é também um problema cotidiano de todos os negros e pobres que sofrem cotidianamente em seu corpo e alma a soberba de outro ser, que por incrível que pareça não se dá conta que em essência todos somos iguais.
O Bispo perdeu a chance de ensinar seu rebanho, educar com base no amar e respeito a cada ser humano em suas diferenças.
Ontem aconteceram cenas “lamentáveis” durante uma missa, eu não sou a melhor pessoa para comentar o que é devido ou indevido de ser feito na casa do senhor. Os fins jamais justificarão os meios, jamais! Mas eu gostaria de fazer uma ponderação, pois pedras são atiradas de todos os lados e ninguém melhor para dizer o que aconteceu na Matriz na noite de domingo do que quem estava lá.
Mas se o rebanho se perde, é culpa do pastor que não soube conduzi-lo e mesmo se não há culpa do pastor este deve ter a habilidade de saber acalmar o rebanho e conduzi-lo novamente para o seu caminho, pois então, ontem o pastor “supremo” da região, o Bispo, teve todas as oportunidades desse mundo de apaziguar todos os cristãos que estavam lá para ouvi-lo, mas infelizmente, ele novamente lavou as suas mãos. Não disse uma palavra sequer. Estava sentado em um barril de pólvora e não teve a sensibilidade de cortar o fio, muito pelo contrário, seu silêncio acendeu o pavio e a bomba explodiu.
Talvez o Bispo esteja acostumado com a dura hierarquia da Igreja, onde a palavra de superiores é lei e não é contestada, mas no século XXI fiéis não são mais os mesmos de quando a Igreja Católica determinava o que deveria ser feito, hoje católicos pelo mundo não questionam Deus, mas questionam os homens a serviço de Deus.
O papa Francisco é o maior exemplo disso, está fazendo uma faxina no Vaticano, limpando tudo o que muitas autoridades eclesiásticas sujaram e varreram para debaixo do tapete. O Católico hoje se inspira no Papa Francisco e tem a ele como exemplo e isso tem dificultado a vida de muitos padres, bispos e arcebispos que atuavam e atuam de uma forma um tanto quanto distante dos ensinamentos de Jesus.
É muito fácil condenar as pessoas que estavam na igreja que extrapolaram os limites do bom senso, mas pergunto, o que deve ser feito quando se media um conflito? Faz parte do meu trabalho profissional atuar como mediadora de conflitos ambientais, onde grandes empresas que causam impactos socioambientais, socioculturais e socioeconômico precisam negociar com pescadores, agricultores, ou seja, com gente comum. E o que deve ser feito quando se media um conflito? Abrir todos os canais de diálogo, instituir espaços onde todos conversem em busca de um consenso. E o que foi feito neste caso? O Bispo se manteve irredutível, em silêncio, não fez seu papel de mediador, não explicou sua decisão, não ouviu a todos e pior, apenas emitiu notas vazias e desprovidas da realidade. E meus caros, isso provocou o caos na Igreja no domingo da crisma.
Ontem li no jornal folha de São Paulo que a Pastoral de Adamantina se reuniu na sexta feira dia 05 de dezembro pela manhã com o Bispo e sugeriu que ele esperasse um ano para transferir o Padre, para evitar problemas e traumas maiores, o Bispo fez ouvidos moucos e na sexta à tarde lançou a nota de transferência. O Bispo foi de uma insensatez e presunção da verdade mordaz! Foi alertado pela Pastoral, mas simplesmente ignorou os avisos. Quer coisa mais sensata do que a Proposta da Pastoral? Se o conteúdo desta reportagem da Folha de São Paulo for verdadeiro, o Bispo infelizmente agiu movido pela soberba, nada, além disso.
Se há um responsável, em minha opinião, pelos lamentáveis acontecimentos na Igreja Matriz de Adamantina, este responsável é o senhor Bispo. Ele teve a chance de apaziguar todos aqueles corações e se calou, novamente, lavou as mãos, não fez política para o bem comum.
Meus caros, o povo de Adamantina não se apequenou, muito pelo contrário, se agigantou diante de um cenário tão vil e mesquinho e se apropriou de sua história, fez e está fazendo política, para o bem comum. Eu, como Adamantinense, me sito extremamente orgulhosa do povo dessa terra, orgulhosa! Se o padre for embora, espero que não vá, mas se for, tenho certeza que irá feliz, pois ele foi acolhido e certamente levará todo este amor com ele e, minha gente, neste mundo, tesouro maior não há.
O povo de Adamantina até pode ter perdido esta batalha, mas não perdeu a guerra, pois todos são vitoriosos nesta luta, que é muito maior, pois é uma luta política, é uma luta para o bem comum, para o bem de todos!
Feliz de um povo que educa suas crianças e jovens pelo exemplo da tolerância e do amor!
Feliz um o povo que ensina suas crianças e jovens a fazer política pelo bem comum!
Feliz um povo que educa suas crianças e jovens com base na esperança, que como disse santo Agostinho, tem duas filhas lindas, a indignação e coragem: a indignação para NÃO aceitar as coisas como estão; e a coragem para mudá-las.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO Nº 749. Os Dois Padres Negros.

3º Domingo do Advento: Aplanar o caminho para Jesus

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 1,6-8.19-28 que corresponde ao 3º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto
“Entre vós há um que não conheceis.” Estas palavras são pronunciadas por João Batista referindo-se a Jesus, que se movimenta já entre os que se aproximam do Jordão a batizar-se, apesar de, todavia, ainda não se ter manifestado. Precisamente toda a sua preocupação é “aplanar o caminho” para que aquela gente possa acreditar Nele. Assim apresentavam as primeiras gerações cristãs a figura de João Batista.
Mas as palavras de João Batista estão escritas de tal forma que, lidas hoje pelos que se dizem cristãos, não deixam de provocar em nós perguntas inquietantes. Jesus está no meio de nós, mas conhecemo-lo de verdade? Comungamos com Ele? Seguimo-Lo de perto?
É certo que na Igreja estamos sempre a falar de Jesus. Em teoria nada há mais importante para nós. Mas logo se nos vê mudar tanto sobre as nossas ideias, projetos e atividades que, não poucas vezes, Jesus fica num segundo plano. Somos nós mesmos quem, sem dar-nos conta, o
“ocultamos” com o nosso protagonismo.
Talvez a maior desgraça do cristianismo é que haja tantos homens e mulheres que se dizem “cristãos” e em cujo coração Jesus está ausente. Não O conhecem. Não vibram com Ele. Não os atrai nem seduz. Jesus é uma figura inerte e apagada. Está mudo. Não lhes diz nada de especial que alente as suas vidas. A Sua existência não está marcada por Jesus.
Esta Igreja necessita urgentemente de “testemunhos” de Jesus, crentes que se pareçam mais a Ele, cristãos que, com a sua forma de ser e de viver, facilitem o caminho para acreditar em Cristo. Necessitamos testemunhos que falem de Deus como falava Ele, que comuniquem a Sua mensagem
de compaixão como O fazia Ele, que contagiem confiança no Pai como Ele.
De que servem as nossas catequeses e predicações se não conduzem a conhecer, amar e seguir com mais fé e mais gozo a Jesus Cristo? Em que ficam as nossas eucaristias se não ajudam a comungar de forma mais viva com Jesus, com o Seu projeto e com Sua entrega crucificada a todos. Na Igreja
ninguém é “a Luz”, mas todos a podemos irradiá-la com a nossa vida. Ninguém é “a Palavra de Deus”, mas todos podemos ser uma voz que convida e alenta a centrar o cristianismo em Jesus Cristo.