Em 2015,
comemoram-se os 500 anos do nascimento de Teresa de Ávila (1515-1582) e o centenário de Thomas Merton (1915-1968) duas
grandes referências da mística cristã.
Reconhecidos pela
busca da interioridade e pelo amor a Deus e ao próximo, evidenciar o legado
teológico de ambos os místicos, sua trajetória, sentido e atualidade de suas
vivências é o que pretende esta edição da revista IHU On-Line.
Para o teólogo Faustino Teixeira,
professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, há uma
relação “evidente” entre as trajetórias de Teresa de Ávila e Thomas Merton, já que ambos se inserem numa tradição de mística
nupcial — aquela cujo tema central é o do amor, que se insere no coração mesmo
da divindade.
Marco Vannini,
reconhecido como um dos maiores especialistas sobre mística especulativa no
mundo, afirma que a experiência comum entre esses dois místicos é “aquela da interioridade
mais profunda, aquele ‘local místico’ que é a essência do ser humano em geral,
sem conhecer o que se perdeu na ‘região da desigualdade’ da memória
agostiniana”.
O teólogo espanhol Secundino Castro Sánchez, da
Universidad Pontificia Comillas, de Madri, reflete sobre a cristologia de Teresa de Ávila, relacionando Jesus —
em sua corporeidade — como lugar definitivo de revelação de Deus.
Frei Betto, escritor, acredita que a grande novidade que Teresa de Ávila realizou, à sua
época, foi ter percorrido o caminho inverso ao de Copérnico, o qual havia
deslocado o eixo da Terra para o Sol. Segundo ele, “talvez seja a santa mais
estudada por psicanalistas e filósofos. Sobre ela há uma infinidade de obras de
arte: filmes, peças de teatro, romances, etc. Ela chega a ser um fenômeno
midiático”.
No ponto de vista
de Giselle Gómez, da
Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Teresa “foi capaz de ouvir a si mesma, de aprender a
confrontar-se com aquilo que supõe a mudança e de ir construindo outra maneira
de ser mulher”.
Para Lúcia Pedrosa-Pádua,
professora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
– PUC-Rio, Teresa rompeu com o estereótipo submisso e piedoso esperado das
mulheres.
Analisando suas
visões e êxtases, o psiquiatra espanhol Jesús Sanchez-Caro frisa que as experiências místicas de Teresa de Ávila de modo algum têm
a ver com psicopatologias, e que a vida dessa mística é um exemplo
paradigmático daquilo que na psicologia moderna se denomina de “resiliência”.
Luciana Barbosa, doutoranda em Ciência da Religião pela
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, observa que o corpo, para Teresa,
se torna uma extensão de sua experiência mística. E que é nele que a
demonstração do que é vivenciado com Deus pode se apresentar.
Já para o editor
espanhol das obras teresianas, Maximiliano
Herraiz, “a ponte entre verdade e amor, inteligência e afetividade,
adquire em Teresa uma harmonia perfeita”.
Cristiana Dobner, irmã carmelita descalça, escritora, estudiosa e
pesquisadora de teologia, que vive no mosteiro de Santa Maria do Monte Carmelo,
Itália, analisa a aproximação da espiritualidade de Teresa com Inácio de Loyola, já que o magis de
Inácio “ressoa em todas as suas obras”.
Norma Nasser, doutoranda em Ciência da Religião pelo Programa
de Pós-graduação da UFJF, reflete acerca da aproximação entre a mística de Merton e o zen-budismo como
caminho para alcançar o cristianismo.
Por fim, para Sibelius Cefas Pereira, professor da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMG, a obra de Merton transcende em muito o
universo religioso, e defende a contemplação como uma resposta à vida
contemporânea.
Complementam essa
edição as entrevistas com José Eduardo Franco (Universidade
de Lisboa), sobre as obras completas e a vida do padre Antônio Vieira, Tshepo Madlingozi (Universidade
de Pretória, África do Sul) que aborda a derrocada dos movimentos sociais na
África pós-Apartheid e com o filósofo norte-americano Timothy Lenoir (Universidade
de Duke), que acentua que a visão e a postura antropocêntrica que constituem a
modernidade estão transformando a natureza em algo que controlamos e que
podemos usar para nossos próprios fins.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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