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sábado, 29 de dezembro de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 231: Outro olhar sobre 2012.

EDITH STEIN E A NOVA EVANGELIZAÇÃO

Francisco Javier Sancho Fermín OCD

            No momento atual, os meses que passaram e os que estão vindo agora estão marcados por diversas celebrações centenárias: a 14 de dezembro de 1991 celebrava-se o IV Centenário da morte de São João da Cruz. Em alguns países era o dia do encerramento, em outros o início. Não demorará muito e no dia 12 de outubro começa o V Centenário da Evangelização da América.
            Entre estas datas teve lugar outro centenário. Na sombra dos outros passou quase sem ninguém advertir: o I Centenário do nascimento de Edith Stein. A abertura foi no dia 12 de outubro de 1991 e o encerramento coincidirá com o início do Centenário das Américas.
            Todas estas celebrações ficariam vazias se se limitassem a um simples festejar e recordar tempos passados. O objetivo é outro: fazer-nos refletir. Hoje, na América de modo especial, se insiste sobre o tema da Nova Evangelização. Ajuda para esta reflexão dão-nos os Santos, enquanto encarnação do ideal evangélico. Fixamos a nossa atenção na Bem-Aventurada do nosso século, Edith Stein. Através da exposição da sua vida e do contexto histórico que ela viveu chegaremos a colher do seu pensamento alguns aspectos, que poderão oferecer-nos luz, ao refletirmos sobre a Nova Evangelização.
1. Vida
            Nasceu Edith Stein no seio de uma família judia, no dia 12 de outubro de 1891, na cidade prussiana de Breslau. É a mais nova de 11 irmãos, dos quais 4 morreram em idade prematura.
             Não tinha ainda completado 2 anos quando o pai morreu de insolação. A mãe, "mulher forte da Bíblia", como é chamada por Edith, encarrega-se da família, translada-se para a cidade e leva para a frente o negócio de madeiras iniciado pelo marido.
            Aí Edith vai receber a primeira formação escolar na  Viktoria-Schule. Aos 14 anos abandona os estudos, movida por um certo enjôo intelectual e talvez de fé. Por esta ocasião deixou toda prática religiosa, certamente influenciada pelas idéias racionalistas pós-kantianas, que caracterizavam a linha de pensamento da escola. Passaram-se quase dois anos até se decidir a recomeçar os estudos para bacharelado em 1908.
            Em 1911 entra para a Universidade. Escolhe História, Filologia Alemã, Filosofia e Psicologia. Esta última é a que mais atrai a sua atenção, mas por ser ainda uma ciência sem fundamentos sólidos, ela resolve dedicar-se à filosofia.
            Durante estes anos começa a tomar parte em diversas associações estudantis orientadas para reforma do sistema educativo e promoção dos direitos da mulher etc.
            Em 1913, atraída pela fenomenologia de Husserl, dirige-se para a Universidade de Göttingen. Aí conheceu Scheler, que infiltra na vida de Edith a abertura para a Igreja Católica. Estoura a 1ª Guerra Mundial e Edith se oferece como voluntária da Cruz Vermelha para atender os doentes num hospital de "contagiosos". Terminados estes serviços humanitários, volta para o seu trabalho intelectual. Conclui a sua tese doutoral sobre o tema da Empatia (Einfühlung), que apresenta na Universidade de Friburgo no dia 3 de agosto de 1916, alcançando a nota máxima. Nesta Universidade permanece até 1918, como assistente de Husserl.
            Por ser mulher, fracassa no seu projeto de subir a uma cátedra. Dá algumas aulas particulares e faz substituições na Escola Viktoria, onde tinha sido aluna adiantada. Parece que nestes anos a crise espiritual de busca toma conta dela. O momento definitivo da sua conversão chega no verão de 1921, quando por acaso, estando na casa de campo dos seus amigos Conrad-Martius, cai nas suas mãos o "Livro da Vida" de Santa Teresa. AÍ descobre a Verdade. É batizada no dia 1° de janeiro de 1922 em Berzabém.
            A conversão muda a orientação da sua vida. Primeiro como professora de bacharelado e magistério no Colégio das Dominicanas de Espira; neste tempo dedica-se ao estudo e tradução de Santo Tomás. A sua vida é de intensa oração e de serviço aos mais pobres.
            A partir de 1928 desdobra-se a sua atividade no terreno do "feminismo". Chegam convites de numerosas cidades dos países de língua alemã, para fazer conferências sobre o tema. Em 1930 foi convidada pela "Societé Thomiste" de Paris.
            A sua última atividade, antes do triunfo nazista, foi-lhe oferecida no Instituto de Pedagogia de Munster como ocupante da nova cátedra de antropologia (1932-1933).
            Com a proibição aos judeus de exercerem cargos públicos abrem-se as portas para ela realizar a sua vocação. Nada agora podia detê-la de entrar para o Carmelo. Os seus próprios confessores já não puseram obstáculo. E é assim que na véspera da Festa de Santa Teresa, no dia 14 de outubro, se dá o seu ingresso no Carmelo. No dia 16 de abril recebe o hábito com o nome de Teresa Benta da Cruz. Nome que denuncia a sua vida espiritual. Teresa, porque em Teresa encontrou a mãe na fé e na vocação. Benta, porque na espiritualidade de São Bento encontrou o verdadeiro sentir com a Liturgia da Igreja. Da Cruz, porque lhe foi possível a entrada no Carmelo debaixo deste sinal, que daí em diante será o sinal da configuração e consumação da sua vida em Cristo.
            No Carmelo prossegue na atividade intelectual, levando ao fim a sua grande obra filosófica: "Ser finito e Ser eterno".
            Contudo, pela situação extrema de ódio contra os judeus, é levada a transferir-se para o Carmelo de Echt na Holanda, onde escreveu o sua última obra, "A Ciência da Cruz", em homenagem ao IV Centenário do nascimento de São João da Cruz; não conseguiu,porém, terminá-la, já que no dia 2 de agosto de 1942 foi arrancada pela Gestapo da paz do Carmelo e levada ao campo de Auschwitz/Birkenau, onde, junto com Rosa, sua irmã, foi martirizada na câmara de gás no dia 9 do mesmo mês. O exemplo e heroicidade da sua vida foram apresentados à Igreja Universal no dia 1º de maio de 1987 na cidade de Colônia, onde João Paulo II a proclamou Bem-Aventurada e Mártir.
2. Contexto Histórico
            Uma análise, ainda que superficial, do ambiente onde Edith viveu pode ajudar-nos a compreender a sua vida e a sua doutrina. A sua vida decorreu ao longo da primeira metade do nosso século, numa Europa que sofreu duas guerras mundiais. A situação ideológica geral ainda estava marcada pelas correntes racionalistas do século XIX, que distanciou o homem da sensibilidade religiosa. É neste tempo que novas ideologias de caráter sócio-político, como o socialismo marxista, começam a minar a política, criando em muitos países situações de revolução.
            As pessoas de fé, e os católicos ainda mais, viviam a sua religiosidade numa situação de "ghetto" provocada pela mentalidade racionalista e - em países como a Alemanha - por leis favoráveis só ao protestantismo. Isto criou uma espécie de complexo no católico alemão.
            A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) será ocasião de grandes mudanças. As primeiras conseqüências trágicas fazem-se sentir na grande perda de vidas humanas e no caos econômico proveniente dos gastos bélicos.
            A Alemanha, a grande protagonista da guerra, ao alcançar a paz perde todas as suas colônias e parte dos seus territórios próximos das fronteiras. A paz trouxe-lhe instabilidade em todos os campos. Grupos socialistas aproveitam-se da ocasião para provocar a revolução em vários estados alemães e chegar assim à constituição da república. O Imperador Guilherme II apresentou renúncia à coroa e se exilou.
            Não houve estabilidade garantida até 11 de agosto de 1919, ano em que nasceu a Constituição de Weimar. Já se nota aí uma certa participação dos católicos na política, no partido do Centro.
            A guerra e o pós-guerra fizeram surgir também alguma crise de consciência. A razão não bastava para solucionar os problemas da humanidade e acontece o fenômeno do retorno à religiosidade.
            Todos estes fenômenos são para o mundo católico a porta de penetração na sociedade alemã. Dá-se um autêntico renascimento da vida espiritual. Cresce o empenho pelas questões sociais: a Ação Católica adquire força, aparecem grêmios e diversas associações de trabalhadores. Aumenta a atividade literária. E pouco a pouco se consegue um lugar qualificado dentro daquela sociedade. Procura-se unir doutrina e vida.
            Como fruto deste florescimento desenvolvem-se movimentos diversos, que irão dar a fisionomia espiritual à Alemanha. O mais forte, é sem dúvida, o movimento litúrgico, que pretende aproximar a liturgia do povo e o povo da liturgia. Outros movimentos são o bíblico-patrístico, que recupera os valores sempre atuais da tradição, o movimento social ou laical, que trata de conscientizar o leigo do seu trabalho social e eclesial. Há um outro aspecto: a teologia e a piedade se tornam mais cristocêntricas. Cristo como homem e como Deus. Um cristocentrismo que se manifesta na concepção eclesial: Igreja como Corpo de Cristo.
            Esta situação vai ser freada em grande parte com a subida ao poder do nacional-socialismo (1933), ideologia que se fundamenta num desejo radical de fazer crescer e proteger os valores supremos da raça germânica (ariana). Na frente está Hitler, que se constitui "führer" do Terceiro Reich com a pretensão de reconquistar as glórias do antigo Império Alemão.
            Esta ambição leva-o a fechar a boca de todos opositores;       entre eles a Igreja Católica.
            Os primeiros passos de Hitler, porém, são dirigidos para a purificação da raça e isto manifestou-se por primeiro por meio da proibição aos judeus de assumirem cargos públicos e, em seguida, revelou-se num ódio de perseguição e assassínio. Esta mesma sorte sofreram os católicos que se opuseram abertamente a tais medidas.
            Esta ambição levou ao desencadeamento da 2ª. Guerra Mundial (1939-1945), quando Hitler pretendeu recuperar os territórios perdidos. Desta guerra e do ódio contra os judeus Edith Stein foi vítima.
3. Contribuições para uma Nova Evangelização
            Puebla, fazendo-se eco do que dizia Paulo VI, entende por evangelização "levar a Boa Nova a todos os ambientes da humanidade e, pela sua influência, transformar por dentro, renovar esta mesma humanidade" (Puebla 402). Como Edith Stein foi capaz de fazê-lo? Se dizemos que "o Santo é o símbolo do ideal evangélico visualizado e posto ao alcance de todos a um certo momento e perante certos desafios históricos" e, mais ainda, que "o Santo é o comentário vivo do Evangelho escrito"[1], o nosso objetivo está plenamente justificado.
            O contexto em que viveu Edith Stein não é o nosso, mas certas situações assemelham-se às nossas. Por outro lado, os valores evangélicos apresentam-se como valores universais, válidos para todos os tempos.
            Edith Stein não enfrenta diretamente o problema da Evangelização, e sim certos aspectos, que cuidaremos de pôr em evidência.
            O conceito que ela tem de Evangelização consiste em "colaborar com Cristo na Redenção da humanidade". Colaborar como "instrumentos" dóceis à vontade do Pai, deixando-se guiar pelo Espírito Santo. É este o trabalho de todo cristão, não de uns poucos. Cada um a partir da sua condição "carismática". Quem não coopera está pondo em risco a sua filiação divina. "Ser filhos" é participar da obra do Pai.
            Como colaborar com Cristo? O evangelizador autêntico não é aquele que "faz muitas coisas" ou "coisas grandes". Cada um há de fazê-lo de acordo com a função para a qual foi chamado. Como norma para todos, colaborar com Cristo consiste sobretudo em estar "unido a Ele" através de uma intensa vida teologal:
            "Na Nova Aliança o homem participa da obra da redenção numa forte relação pessoal com Cristo: por meio da fé que o une a Ele, Caminho de Salvação, à verdade por Ele revelada, aos meios de santificação que Ele oferece; por meio da esperança que faz o homem esperar com firme confiança a vida prometida por Cristo; por meio do amor, pelo qual procura todas as maneiras possíveis de unir-se a Cristo. Esforça-se por conhecê-Lo melhor, meditando sobre a sua vida e refletindo nas suas palavras; conquista a união mais íntima com Ele na Eucaristia e participa da continuidade mística da sua vida, vivendo o Ano Litúrgico, a Liturgia da Igreja".
            Temos aqui, em maravilhosa síntese, as características da autêntica Evangelização, da autêntica Vida Cristã:
            * em união com Cristo, porque Ele é o revelador do Pai. Segui-Lo é o caminho seguro, porque Cristo é o conteúdo da Evangelização.
            * Seguir a Cristo através da vida teologal:
            - na fé, como adesão à sua Pessoa, à sua vontade, à sua verdade;
            - na esperança: com a confiança nas suas promessas, trabalhando para realizar já na terra o Reino dele;
            - no amor: como atitude que nos aproxima da autêntica união com Ele no exercício do amor ao próximo, no qual "servimos a Ele";
            * Seguir a Cristo é chegar a um maior conhecimento da sua Pessoa, da sua vontade, através da oração, da meditação e do estudo[2];
            * Seguir a Cristo é fazer parte da sua Igreja. Participar com ela dos meios que aproximam de Cristo. Nos Sacramentos, na Liturgia como momento de celebração da Fé e fonte de graça para pôr em ação a vida de Cristo em nós e no irmão.
            * Seguir a Cristo é colaborar na sua obra, uma obra que redime todos os setores da vida.
            A razão para esta amplidão encontra-a Edith numa tríplice causa: Cristo ao se encarnar assume a natureza humana; o homem não é uma composição, mas uma unidade de espírito, alma e corpo[3]; e finalmente, o mundo é para o homem que tem fé um "Mundo de Deus" (Gotteswelt) e como tal deve ser recuperado para Deus.
            Na tarefa da Evangelização é fundamental para Edith a educação, como princípio para o indivíduo de iniciação na fé, e a Liturgia, como momento catequético, vivencial, celebrativo e configurativo com Cristo.
            A figura de Maria é um modelo excepcional para ser imitado. Esta mulher simples, que na sua humildade se transforma na Mãe do crente, é chave e exemplo para a Evangelização no seu sentido total de Redenção do mundo:
            "Quem pode afirmar que a política nada tem a ver com a religião e que as almas têm de afastar-se da vida pública? Se a Virgem de Nazaré, na paz e no silêncio da sua alma absorvida em Deus, seu Salvador, se interessa, na estrofe central do Magnificat, pelo que acontece neste mundo, é possível que o homem religioso - e não menos a mulher - permaneçam indiferentes?"
            Já encontramos neste texto uma alusão ao tema mais original, pelo qual Edith Stein mais lutou: "e não menos a mulher". Na sua época a mulher ocupava um lugar secundário na sociedade: não tinha direito ao voto nem acesso a cargos públicos. Não era também aceita em muitos estudos universitários. Desde estudante Edith trabalhou por esta liberação da mulher. Com a conversão esta atividade ficou mais robusta. É conhecida no mundo germânico e convidada a dar conferências sobre o tema. Examina o "ethos" da mulher sob os diversos pontos de vista: teológico, antropológico, psicológico, para estabelecer as características peculiares da condição feminina, diferente do homem, mas nem por isso inferior. Conclui que a vocação primária da mulher é a maternidade, a educação dos filhos, é ser o coração da família. Mas isto não fecha para ela o campo para outras atividades. As suas características peculiares fazem dela companheira indispensável no trabalho primário do homem de dominar a terra. A mulher tem que ser mulher, seja qual for a sua profissão. A maternidade não é somente física, mas tem a sua dimensão espiritual, dimensão que tem sempre de transparecer.
            Animada por esta mesma convicção, ela reivindica para a mulher uma maior presença dentro da Igreja, tanto no Apostolado como nos ministérios eclesiásticos não sacerdotais. Encara o problema do sacerdócio da mulher e afirma a inexistência de razões dogmáticas. Reconhece o impedimento por parte do próprio Cristo, que não escolheu para Apóstolo nenhuma mulher. Deixa a porta aberta para o diaconato.
            Maria é modelo para todo Cristão, mas de modo especial para a mulher. Em Maria Imaculada encontramos em estado puro as características peculiares da vocação natural e sobrenatural da mulher. E justamente porque Maria é a concebida sem mancha original.
            Não podemos deixar no esquecimento o aspecto central da espiritualidade de Edith: a Cruz. Com a Cruz ela coroou a sua vida com o martírio. Na Cruz ela descobre o caminho - o único - da Evangelização pessoal e do próximo:
            "Desta forma encontram-se indissoluvelmente unidos a própria perfeição, a união com Deus e o trabalho para que o próximo alcance a união com Deus e a própria perfeição. E o caminho para tudo isto: a Cruz. E a pregação da Cruz seria vã se não fosse expressão de uma vida unida a Cristo Crucificado".  
            Seguir a Cristo, cooperar com Ele na Redenção do mundo, é caminhar após Ele, carregar a própria Cruz e subir para o Calvário. A Cruz foi o instrumento da nossa salvação e é para o evangelizador a arma com que pode vencer o mundo. O mais profundo sentido da Cruz não é de dor, mas de configuração com Cristo: é portanto um sinal de libertação. Uma Cruz como aquela que a situação histórica proporcionava a Edith Stein. Uma situação de opressão pode ser, inclusive no seu aspecto mais duro, um motivo de Redenção, se vivida em união com a Cruz de Cristo. É eloqüente e pode ajudar-nos em nossa reflexão a visão de Edith. Deixemos que ela mesma lance a luz sobre nós:
            "A visão do mundo em que vivemos, a necessidade, a miséria e o abismo da maldade são causa suficiente para mitigar o gozo do triunfo da luz. A humanidade ainda luta no meio da lama e o rebanho dos que da lama se libertaram no mais alto cume dos montes ainda é muito pequeno. A batalha entre Cristo e o Anticristo não terminou ainda. No interior desta luta têm o seu posto os seguidores de Jesus e a sua arma principal é a Cruz. Como podemos entender isto? O peso da Cruz que Cristo carregou sobre si é a corrupção da natureza humana com todas as suas conseqüências de pecado e sofrimento, com que a humanidade decaída foi embalada no seu berço. O sentido último da Cruz é libertar o mundo desta carga. A volta da humanidade libertada para o coração do Pai Celeste e a aceitação da herança legítima é um dom livre da graça e do amor misericordioso de Deus (...). Finalmente os amantes da Cruz, que Ele fez surgir e haverá de suscitar sempre de novo na história sempre em mutação de uma Igreja controvertida, serão os companheiros dele até o fim dos tempos. Para isto nós também fomos chamados"
      Concluindo. Para Edith a Evangelização consiste em cooperar com a obra redentora de Jesus. Cooperação em íntima união com Ele, com os seus mistérios de Encarnação e Cruz, buscando a Salvação do mundo em todas as dimensões. Redenção libertadora, porque se realiza a partir da vocação particular de cada um dentro do Corpo de Cristo e porque a sua finalidade última é conduzir a pessoa à
plena realização humano-espiritual, que só em Cristo se encontra.

Traduzido da Revista Vida Espiritual - Santa Fé de Bogotá (DC)  n.107  p.53-61



    [1]. Segundo Galilea
    [2]. "Quem vive na certeza desta crença não pode já, em consciência, descansar no seu próprio saber. Deverá, por conseguinte esforçar-se por conhecer o que é justo e verdadeiro aos olhos de Deus. Esta é a razão porque a atitude religiosa é a única verdadeiramente ética. Claro está que existem um desejo e uns impulsos naturais de buscar o bem e a justiça, e acontece mesmo que alguém tenha a felicidade de encontrá-los, mas é somente quando se busca a vontade de Deus que aquele desejo e aqueles impulsos se encontram consigo mesmos e encontram a satisfação". Cfr. A Ciência da Cruz Edições Loyola  São Paulo, Brasil  1988  pg.138
    [3]. Sobre este aspecto da unidade essencial do homem Edith insiste muitíssimo em todos os seus estudos de caráter filosófico.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 232: Sagrada Família hoje. ! ?

Olhar o passado com os pés no futuro: A Província dos Carmelitas da Bahia.

Por Frei Pedro Caxito, 0.Carm. In Memorian   
                    
      A respeito desta Província da Bahia escreve Fr. André Prat que, segundo documentos existentes no Mosteiro, ainda nos tempos do Brasil-Colônia reunia-se no Convento do Carmo de Salvador a Academia dos Ilustrados; mais ainda: que mantinha escolas públicas tendo recebido em 1871 os maiores elogios do Barão de São Lourenço e, já antes, em 1865, do próprio Dom Pedro II, por ter fundado escolas para educação da juventude desde épocas remotas. O Visconde de Cairu, José da Silva Lisboa, carmelita terceiro, economista, político e jurisconsulto, confessa que fez os seus estudos no Carmo da Bahia[1]; sabemos que aos oito anos aprendeu com os frades música e piano e teve lições de filosofia e teologia moral.
     Em 1770, certo Jerônimo Ferreira da Costa e Góis, filho de Francisco Ferreira da Costa, para receber Ordens, faz um requerimento, no qual pede certidão de ter freqüentado o curso de filosofia professado no Convento do Carmo por Fr. Francisco Félix de Santa Teresa[2].
     O Governador da Bahia, Marquês de Valença aos 26 de abril de 1783 remete da Bahia um ofício a Martinho de Melo e Castro, onde informa a fundação e extinção do Colégio das Artes e confessa que no restabelecimento do Colégio hão de seguir-se muitas vantagens para os moradores da Cidade e Capitania: tratava-se de um requerimento do Frei Francisco Xavier de Santana, "Procurador Geral do Carmo Calçado desta Província", diante do embargo oposto pela Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia do Pilar. Vem anexa cópia da provisão do Conselho Ultramarino dirigida ao Vice-Rei, Conde dos Arcos, datada de 16 de janeiro de 1755 com a ordem de extinção do Colégio. Fr. Francisco Xavier apresenta um memorial, onde mostra as vantagens de restabelecer o Colégio, e um requerimento onde pede certidão do Breve de 6 de julho de 1747 e de outros documentos relativos à fundação do Colégio.
     Compensa a publicação da íntegra do Ofício do Marquês de Valença:
     "Bahia, 26 de abril de 1783. Examinando, em execução da ordem de 2 de dezembro do ano passado, o como se erigiu nesta cidade o Colégio de Artes, de que faz menção o requerimento do Padre Fr. Francisco Xavier de Santana, procurador geral do Carmo Calçado desta Província achei que fora pela patente do seu Geral Fr. Luís Laghius de 6 de junho de 1747 intimada aos Padres desta Província, os quais lhes deram execução com consentimento do atual Vice-Rei, talvez que pela carta de Aviso da Secretaria de Estado de 9 de novembro do dito ano para o Provincial desta mesma Província, em que lhe concedeu Sua Majestade poder executar os breves da Sé Apostólica e do Núncio, como também as patentes do Prior Geral da Ordem Carmelita, expedido tudo para concessão de graças aos religiosos nelas respectivamente declarados. A cópia da dita carta, com a patente, remeto a V.Excia. nesta ocasião.
     O Irmandade do Santíssimo Sacramento da freguesia do Pilar desta Cidade se opôs quando os religiosos acrescentaram o mencionado Hospício, pelo que houveram (sic) pleitos que chegaram à Casa da Suplicação, até que por provisão do Conselho Ultramarino de 16 de janeiro de 1755 dirigida ao Conde dos Arcos se lhe ordenou a extinção do referido Colégio das Artes, vista a outra provisão de 21 de março de 1714 que proibiu no referido Hospício acrescentar obra ou fazer mais acomodações que as necessárias para dois religiosos. A dita provisão de 16 de janeiro de 55 igualmente vai remetida a V.Excia a qual foi executada e por isso se acha presentemente reduzido o sobredito Hospício ao seu primeiro estado.
     Sua Majestade pela mesma ordem de 2 de dezembro do ano passado me manda dar o meu parecer sendo este que, obrigando-se os referidos religiosos a ensinar no sobredito Hospício aos estudantes seculares gramática, filosofia e teologia, pondo-lhe mestres de virtudes e muito capazes nestas ciências me parece que sendo do Real agrado da mesma Senhora o estabelecer-se novamente nele o Colégio das Artes não deixará de se seguir alguma utilidade aos moradores desta Cidade e Província..." O aviso régio sobre o qual fala o ofício vem também anexo[3].

     Passamos a citar alguns escritores, oradores sacros, poetas, mestres e doutores da nossa Província da Bahia

     1. FREI EUSÉBIO DE MATOS
     "Nasceu o autor no ano de 1629, na Bahia. Em 1644 entrou para a Companhia de Jesus. Lecionou Filosofia, Letras Humanas[4] e Teologia. Em 1664 fez profissão solene no Rio de Janeiro. Segundo Barbosa Machado, em 1677 mudou-se para a Ordem de Nossa Senhora do Carmo, tomando então o nome de Frei Eusébio da Soledade. Faleceu na Bahia a 7 de julho de 1692". Entre as suas obras impressas cita-se Oraçam Funebre nas Exequias do Illustrissimo e Reverendissimo Senhor D.Estevam dos Santos Bispo do Brasil"[5].
     Em EDI encontramos: "Irmão do poeta satírico Gregório de Matos Guerra (...), substituiu Vieira na cátedra de filosofia, brilhando entre os seus colegas Vieira e Antônio de Sá, pela subtileza e burilado da frase. Dedicou-se também à poesia, pintura, música e matemáticas; compôs vários hinos religiosos e profanos, que tocava e cantava com letra sua na harpa e na viola. Dizia dele o Pe. Antônio Vieira que «Deus se apostara em o fazer em tudo grande e não o fora mais por não querer...». Vieira ficou pesaroso e dizia quando Eusébio deixou a Companhia para se tornar Carmelita: «Pois muito mal fizeram os Jesuítas, que tarde se criarão para a Companhia outros Matos».
     Os jesuítas, segundo o seu "modus agendi" severo e coerente, tiveram os seus motivos sérios para o não quererem e tiveram os carmelitas os seus motivos para o quererem[6].
     Deixou Sermões (1694), Oração Fúnebre (1672 - acima citada e publicada em 1735), Sermão da Soledade (1681) e Ecce Homo (1677)[7] e ainda Sermoens do Pe. Mestre Fr. Eusebio de Mattos, Religioso de Nossa Senhora do Carmo da Provincia do Brasil - Primeira Parte (1694).
     "Entrara o poeta Eusébio de Matos para a Companhia de Jesus em 1644, época em que era Reitor um Padre natural de Cabo Frio, mui rigoroso para os minoristas. Aconteceu ser afetado de um pleuris o Irmão Eusébio e tendo sido sangrado, vieram visitá-lo o Reitor e outros padres que observaram achar-se o sangue denegrido e como queimado, ao que replicou o doente: - «Pois não é queimado do calor, senão do vilão do Frio que logo ao princípio ia dando Cabo de mim»"[8].
     "Nesse século surge, - conta Renato Almeida - na Bahia, a única figura de músico, que se pode citar - Eusébio de Matos ou Frei Eusébio da Soledade (1629-1692). Manuel Raimundo Quirino, que o considera «o primeiro músico notável da Bahia», conta razão desse duplo nome. (...). "Além de músico exímio e inspirado compositor, tocava harpa e viola, instrumento muito em uso no seu tempo. Compôs muitos HINOS RELIGIOSOS e cantos profanos ameníssimos sobre poesias suas (...). Suas obras foram em grande parte perdidas"[9].
     "Pedro Diniz, a p. 281 da sua obra «Das Ordens Religiosas», diz que Fr. Eusébio de Matos era homem muito douto e que a sua erudição compreendia, além da Música, que tinha estudado seriamente e para a qual era naturalmente dotado de disposições vantajosas, a Teologia, Matemática e Filologia. Se era cultor distinto das ciências, não o era menos das Belas-Artes, pois à dedicação pela Música juntava os dotes do Desenho e da Pintura, sendo exímio am ambas estas artes"[10].
     Foram seus discípulos Frei Inácio de Jesus, Frei José de Jesus Maria, Frei Joaquim Ramos, escritor notável, e muitos outros[11].

     2. FREI JOSÉ DE JESUS MARIA
     "Religioso Carmelita, n. em 8 de janeiro de 1660, morreu em 8 de janeiro de 1727. Recebeu o hábito no convento do Carmo em 7 de dezembro de 1679, professou no convento de Goiana da Reforma de Pernambuco em 8 de dezembro de 1680. Foi eleito missionário apostólico pelo Arcebispo da Bahia, Dom Frei Manuel da Ressurreição, em 29 de março de 1690. Regressado a Portugal, exerceu o cargo de Comissário da Ordem Terceira, primeiro em Vila Franca de Xira, depois em Lisboa. Na vila Franca tinha erigido o Hospital junto ao Convento do Carmo, e mandou fazer, em 1722, com o produto de esmolas (e a soma que lhe renderam os seus sermões), o órgão do referido convento, que custou 7.000 cruzados (8:400$000). Foi definidor eleito em 1714. Escreveu: Tesouro Carmelitano Manifesto, e oferecido aos irmãos e irmãs da Venerável Ordem Terceira da Rainha dos Anjos, Mãe de Deus, Senhora do Carmo - Lisboa - 1705"[12]. Foi discípulo de Eusébio de Matos.

     3. FREI INÁCIO RAMOS
     "Pregador brasileiro; nasceu na Bahia em 1650 e morreu em 1731. Era irmão do padre Domingos Ramos (SJ). Professou (1672) no Convento de Nossa Senhora do Monte do Carmo, (onde adquiriu vasta ilustração e se tornou pregador notável) e indo a Portugal (1685) para tratar de negócios particulares, passou a Roma, a fim de assistir, na qualidade de representante do Provincial da Ordem, ao Capítulo celebrado em Santa Maria Transpontina (1692), sendo por essa ocasião nomeado Vigário Provincial do Brasil. Foi (na Bahia) também reformador e visitador geral dos conventos da Reforma de Pernambuco. Assistiu a um outro Capítulo celebrado em Roma (1700), ficando depois em Lisboa como Prior do Convento de São Domingos e secretário da Província de Portugal. Publicou os seus sermões em 4 volumes com o título Ramos Evangélicos (1724-1730)" - EDI[13]. Era filho de Manuel Ramos Parente e Da. Andrezza Casado Ramos; foi definidor perpétuo e faleceu no dia 18 de novembro de 1731[14].

     4. FREI ANTÔNIO DA PIEDADE
     "Religioso carmelita calçado; nasceu na Bahia e morreu na Cachoeira (1660-1724). Estudou filosofia na sua terra natal, recebendo o grau de Mestre em Artes. Entrando na Ordem do Carmo (1679), foi lente de filosofia e teologia na Vigararia do Maranhão, Prior do Convento do Pará, Vigário Provincial e Comissário da Bula (da Santa Cruzada) do Maranhão, Governador, Provisor e Visitador (e Vigário) Geral da Diocese do Pará. Deixou impressos dois sermões" - EDI. Um dos sermões é Sermam qve em as Exeqvias da Serenissima Rainha Nossa Senhora D.Maria Sophia Isabel de Neobvrg, feitas pela nobre villa de S.Amaro das Grotas do Rio de Sergipe a 19 de abril de 1700. Pregou o R. P. M. Fr. Antonio da Piedade[15].
     "Foi lente de Filosofia e Teologia em Maranhão, cargo em que se jubilou em 27 de junho de 1694. Foi duas vezes prior do Convento do Pará, vigário provincial do Maranhão e comissário da Bula da Cruzada, governador, provisor e visitador geral do Bispado do Pará em 1693. Depois da passar algum tempo em Portugal, voltou para o Brasil, onde foi ainda prior do Convento da Bahia e Definidor perpétuo. Além do sermão acima citado, publicado em 1703, publicou neste mesmo ano Sermão de Santa Teresa, pregado no Convento das Religiosas Carmelitas Descalças da Bahia"[16]

     5. FREI MANUEL DA MADRE DE DEUS BULHÕES
     Era filho do Capitão Manuel da Costa Campos e Da. Maria de Bulhões; nasceu na Bahia a 6 ou 26 de novembro de 1663 e faleceu em 1738, segundo Inocêncio Blake e Artur Mota, mas, segundo Pedro Calmon, o nascimento foi em 1666 e a morte em 1731[17].
     "Carmelita; nasceu na Bahia em 1663. Foi procurador da sua Ordem em Roma, Definidor Geral, Prior do Convento da Bahia e Provincial. Deixou um volume de sermões"  - EDI.
     "Religioso carmelita calçado, prior do convento da Bahia, definidor geral, provincial etc., nasceu na Bahia em 26 de novembro de 1663 e ignora-se a data do seu falecimento. Por morte dos pais, apesar de ser fidalgo cavaleiro e alferes de infantaria, entrou na vida claustral na ordem carmelitana, em 6 de dezembro de 1688 e professou um ano depois. Ensinou Filosofia no seu convento e ditou Teologia. Foi mandado a Roma como procurador da sua ordem para assistir ao capítulo geral em 1695, votando nele como definidor geral. Exerceu também o cargo de examinador sinodal do arcebispado da Bahia. Gozou fama de grande pregador e publicou em Lisboa os seguintes sermões pregados na Bahia: Sermão fúnebre pregado nas Exéquias de Roque da Costa Barreto, governador que foi do Brasil (1699); Sermão de Nossa Senhora da Ajuda (1704); Sermão em Ação de Graças pela saúde de El-Rei Nosso Senhor... Em 14 de maio de 1705 (1706); Sermão do Primeiro Sínodo Diocesano, que se celebrou no Brasil, pelo Ilmo. Sr. Dom Sebastião Monteiro, Arcebispo da Bahia, a 12 de junho de 1707 (1709); Sermão de Santa Teresa (1711); Sermão de São Félix de Cantalício (1717); Sermões da Soledade (1702, 1703, 1709); Sermão do Príncipe dos Apóstolos, na abertura do seu novo templo (1717); Sermão na festividade de Nossa Senhora da Barroquinha (1728); Oração Concionatória nas Exéquias da Ilma. Sra. Dona Mariana de Alencastro... (1732)[18]; Suma triunfal da nova e grande celebridade do Glorioso e Invicto Mártir São Gonçalo Garcia, dedicada ao sr. Capitão José Rebelo de Vasconcelos por seu autor (?) Sotério da Silva Ribeiro, com uma coleção de vários folguedos e danças, oração panegírica que recitou o Padre Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão na igreja do Sacramento em Pernambuco, no dia 1º de maio de 1745 (Lisboa, 1753); Sermões vários (2 tomos, 1737 e 1739)"[19].
     "Nasceu o autor a 6 de novembro de 1663 na Bahia. Entrou para a Ordem dos Carmelitas Calçados. Seguiu para Roma como Procurador da sua Ordem, onde votou como Definidor Geral. Foi ainda Prior no Convento da Bahia, Provincial do Carmo, Examinador Sinodal do Arcebispado da Bahia. Faleceu no ano de 1738". Foram publicados Sermam funebre nas Exequias do Senhor Roque da Costa Barreto, Sermam em Acçam de Graças pela saude DelRey Nosso Senhor (Dom Pedro II de Portugal) e Oraçam Concionatória nas sumptuosas Exequias da Excellentissima Senhora d. Marianna de Alencastro[20].

     6. FREI JOSÉ DE SANTANA
     "Religioso carmelita, nascido no Porto no último quartel do século XVII. Professou no Convento dos Carmelitas em outubro de 1700, na Bahia, ao tempo capital da américa Portuguesa, para onde foi da pátria. Ascendeu, mais tarde, a Prior do Convento da Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, e publicou THEZOURO EUCARÍSTICO em Lisboa, por Manuel Fernandes da Costa, impressor do Santo Ofício - 1731"[21].

     7. FREI JOSÉ DE OLIVEIRA SERPA
     "Pregador do século XVIII; nasceu na Bahia em 1696[22]. Deixou manuscritas duas obras místicas: Novo Obséquio do Patriarca São José e Trindade da Terra exaltada no temor de Deus por causa de uma grande trovoada" - EDI. Dele estão publicados 5 sonetos elegíacos, um soneto contínuo e ainda um mote com a sua glosa, e uma décima: estes últimos e 3 dos sonetos foram para lamentar a morte de Dom João V de Portugal[23]. O Dicionário Literário Brasileiro cita-o como Jesuíta, sem o título de Frei.

      8. FREI MANUEL ÂNGELO DE ALMEIDA
     "O autor, natural da Bahia, onde nasceu a 26 de fevereiro de 1697, em 1716 recebeu o hábito de Carmelita Calçado. Tendo sido nomeado sócio do Capítulo Geral celebrado em Roma em 1725, foi-lhe conferido pelo Geral o grau de Doutor em Teologia. De secretário da Província subiu a Provincial em 1735. Ignoramos a data do seu falecimento". Dele foi impresso um Sermam que nas exequias do Excellentissimo, e Reverend. Senhor D. Joseph Fialho, Bispo que foy de Pernambuco, Arcebispo da Bahia, e Bispo da Guarda. Celebradas com toda magnificencia na santa igreja de Olinda pelo Excelentissimo e Reverendissimo Senhor D. Fr. Luiz de Santa Teresa bispo actual de Pernambuco. Pregou o P.M.Fr. Manoel Angelo de Almeida mestre, e doutor na Sagrada Theologia, Ex-Provincial do Carmo da Provincia da Bahia, e o ofereceu ao mesmo Excellentissimo e Reverendíssimo Senhor Bispo de Pernambuco (Lisboa - 1742)"[24].
     "Carmelita professo e grande orador sagrado, nasceu na Bahia em 1697. Lecionou ciências severas no convento de carmelitas de São Salvador, e foi eleito para o Capítulo Geral celebrado em Roma em 1725. Foi-lhe conferido pelo Geral da Ordem o grau de doutor em Teologia. (Além do sermão acima citado) publicou Sermão de Ação de Graça a Nossa Senhora da Vitória em satisfação de um voto que lhe fez por um benefício alcançado pela dita Senhora na sua santa igreja de Vitória da cidade de Elvas (Madri - 1733); Declamação moral na ocasião da rogativa que fez a venerável Ordem Terceira do Carmo da Bahia por ocasião da grande seca que sentiu a mesma cidade desde 1734 até 1735 (Lisboa - 1736)"[25].

     9. FREI HENRIQUE DE SOUSA DE JESUS MARIA
     Foram impressos 2 sonetos, 1 cenotáfio pela morte do Abade Dom Manuel da Matos Botelho, irmão do Arcebispo da Bahia, Dom José Botelho de Matos, e 1 epitáfio e 2 sonetos por ocasião da morte de Dom João V, todos compostos na Bahia[26].
     "Religioso Carmelita da Província da Bahia, nasceu em Viana do Castelo em 16 de abril de 1705, morreu em data que se ignora. Foi para o Brasil aos 14 anos e residiu na Vila de Cachoeira, onde aprendeu a gramática latina. Aos 22 anos professou no Convento da Bahia e estudou, depois, as Ciências Escolásticas. Foi pregador notável e escreveu as seguintes obras: Sermão da Justiça na primeira oitava do Espírito Santo, estando presente o Ilmo. e Exmo. Sr. André de Melo e Castro, Conde das Galveias, Vice-Rei do Estado do Brasil com toda relação do mesmo estado, pregado no Convento do Carmo da Cidade da Bahia (Lisboa - 1745); Três sonetos no Diário Histórico das Celebridades, que na cidade da Bahia se fizeram pelos felicíssimos casamentos dos sereníssimos Príncipes de Portugal e Castela (Lisboa - 1729); Dois sonetos e três décimas em aplauso do Reverendo Antônio de Oliveira (Lisboa - 1738); outra edição (1745); Três sonetos e um romance heróico às memórias fúnebres do Abade de Duas Igrejas, Manuel de Matos Botelho (Lisboa - 1745). Deixou alguns manuscritos, entre os quais um volume de Sermões vários"[27].

     10. FR.FRANCISCO FELIX DE SANTA THEREZA
     "Requerimento de Jeronymo Ferreira da Costa, em que pede certidão de sua frequencia no curso de philosophia, professado no Convento do Carmo (da Bahia) por Fr.Francisco Felix de Santa Thereza - ano de 1768"[28].

     11. FR. INOCÊNCIO DO MONTE CARMELO SENA
     Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) no dia 28 de julho de 1828; com dezesseis anos professou na Ordem do Carmo. Foi nomeado Passante à cadeira de Filosofia e Lente de Teologia no dia 23 de abril de 1853. Como Reitor do Colégio dos Órfãos de São Joaquim lecionou latim e francês, agradando muito ao Arcebispo da Bahia, Dom Manuel Joaquim da Silveira, que no dia 25 de fevereiro de 1873 lhe concedeu o direito de usar anel e solidéu. Pelo seu grande amor à Ordem, em 1890, chegou a empreender uma viagem difícil até Roma para pedir ao Pe. Geral o envio de socorro à Bahia, que contava apenas com 6 religiosos, poucos e idosos. Foi nomeado Provincial da Província da Bahia no dia 1º de abril de 1892. Teve a felicidade de ver chegar no dia 25 de novembro de 1899 os primeiros religiosos vindos da Espanha para cuidar da restauração. Tendo tomado todas as providências canônicas e civis para que os frades espanhóis, já naturalizados brasileiros, não encontrassem dificuldades na obra da restauração, retirou-se para a sua Santo Amaro, onde faleceu piedosamente no dia 25 de junho de 1909[29].



    [1]. Frei André Prat O.Carm.  O Convento, a  Igreja  e  a  História dos Religiosos Carmelitas da BAHIA   Edição de Frei Reinaldo Verberk O.Carm.  Salvador   1964   Escola Gráfica Nossa Senhora de Loreto  p.11
    [2]. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro  v.32  1910  p.239 nº 8213.
    [3]. Ibidem  p.530-531  n.11.204-11.208
    [4]. Os Estudos de Humanidades na Companhia eram  Retórica, Humanidades, e 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª classes de Gramática. Cf. Serafim Leite o.c.  v. VII  p.152.
    [5]. Em Brasiliana da Coleção Barbosa Machado  apud Anais da Biblioteca Nacional (Catálogo Organizado por Rosemarie Erika Horch)  v.83  p.128  n.95; v.92  tomo 5º p.249.
    [6]. Conta-nos o Pe. Serafim  Leite que em 1669  El-Rei Dom Pedro II de Portugal quis nomeá-lo Pregador Real em Lisboa, mas os Superiores apresentaram razões para que o não fizesse.
    [7]. Serafim Leite o.c. v. 8º  p.360-361
    [8]. Dr. Manuel  Duarte  Moreira  de  Azevedo  (1832-1899) em  Mosaico Brasileiro ou Coleção de Ditos, Respostas, Pensamentos, Epigramas, Poesias, Anedotas, Curiosidades e Fatos Históricos de Brasileiros Ilustres  Rio de Janeiro   B.L.Garnier (antes de 1877: tem uma data de 1866 e é citado pelo autor no seu livro de 1877 O Rio de Janeiro - sua história, monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades acima citado).
    [9]. Frei Pedro Sinzig OFM em A Música Sacra no Brasil  VII (1600-1700) na revista Música Sacra  ano 7º  1947  Editora Vozes  p.53. São citados Renato Almeida em História da Música Brasileira  p.292 e Manuel Raimundo Quirino em Artistas Baianos  1911  p.164-165.
    [10]. Em Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [11]. Frei André Prat O.Carm.  o.c.  p.11
    [12].      Grande  Enciclopédia  Portuguesa  e  Brasileira  (os trechos entre parêntesis são da EDI)
    [13]. Completei com dados da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [14].      Raimundo de Menezes  o.c.  verbete Ramos
    [15]. Em Brasiliana da Coleção Barbosa Machado  apud Anais da Biblioteca Nacional  v.83  1963  p.92 e v.92  tomo 4º p.20 vêm outros títulos: "Doutor em a sagrada Theologia, Diffinidor perpetuo desta Provincia da Bahia, & actualmente Missionario da aldea de Japaratuba em o Certaõ do Rio de Saõ Francisco da Praya".
    [16]. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e Raimundo de Menezes  o.c.  verbete  Piedade
    [17].      Raimundo de Menezes  o.c.  verbete Bulhões
    [18].      Sobre esta Azevedo Salmodães afirma ser "apreciável e muito rara".
    [19]. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [20]. Anais da Biblioteca Nacional  v.83   1963  p.84-85, 94  e 121-122; v.92, tomo 3º p.245; tomo 4º p.60; tomo 5º p.207. Nesta obra aparecem outros títulos do autor: "Procurador geral da sua Religiaõ nesta Corte", "Vigario Provincial do Carmo", "Padre Mestre" e "Doutor jubilado na Sagrada Theologia".
    [21].      Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [22]. Descrito como carmelita e grande orador sacro  por Heliodoro Pires em Temas de História Eclesiástica do Brasil já citada  p.185.
    [23]. Brasiliana  da  Coleção  Barbosa  Machado  em  Anais da Biblioteca Nacional  v.83  1963  p.139-140, 170 e 174 e v.92  tomo 7º  p.11 e 15.
    [24]. Ibid  p.133 e v.92  tomo 6º  p.37.
    [25]. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [26]. Brasiliana  da  Coleção  Barbosa  Machado  em  Anais da Biblioteca Nacional  p.136-139 e 170; v.92  tomo 6º  p.95  e  tomo 7º  p.11.
    [27]. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
    [28]. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro  v.XXXII  1910 em Inventario dos DOCUMENTOS RELATIVOS AO BRASIL existentes no Archivo da Marinha e Ultramar - II  BAHIA  1763-1786  p.239  n.8213.
    [29]. De um artigo de Frei Manuel Baranera Serra publicado no Mensageiro do Carmelo de junho de 1918  Rio de Janeiro  ano 6º  n.8  p.187-189.