A
liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que
detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica “a fundo perdido”
a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade
de vivermos uma vida nova, integrados na sua família.
ATUALIZAÇÃO
Considerar, na reflexão, as seguintes
questões:
1º-Em
primeiro lugar, o nosso texto põe em relevo a atitude de Deus, que ama sempre
(mesmo antes da conversão e do arrependimento) e que não Se sente conspurcado
por ser tocado pelos pecadores e pelos marginais. É o Deus da bondade e da
misericórdia, que ama todos como filhos e que a todos convida a integrar o seu
família. É esse Deus que temos de propor aos nossos irmãos e que, de forma
especial, temos de apresentar àqueles que a sociedade trata como marginais.
2º-
A figura de Simão, o fariseu, representa aqueles que, instalados nas suas
certezas e numa prática religiosa feita de ritos e obrigações bem definidos e
rigorosamente cumpridos, se acham em regra com Deus e com os outros.
Consideram-se no direito de exigir de Deus a salvação e desprezam aqueles que
não cumprem escrupulosamente as regras e que não têm comportamentos social e
religiosamente correctos. É possível que nenhum de nós se identifique totalmente
com esta figura; mas, não teremos, de quando em quando, “tiques” de orgulho e
de auto-suficiência que nos levam a considerar-nos mais ou menos “perfeitos” e
a desprezar aqueles que nos parecem pecadores, imperfeitos, marginais?
3º-
A exclusão e a marginalização não geram vida nova; só o amor e a misericórdia
interpelam o coração e provocam uma resposta de amor. Frequentemente fala-se,
entre nós, no agravamento das penas previstas para quem infringe as regras
sociais, como se estivesse aí a solução mágica para a mudança de
comportamentos… A lógica de Deus garante-nos que só o amor e a misericórdia
conduzem à vida nova.
5º-
Ultimamente, fala-se muito do papel e do estatuto das mulheres na comunidade
cristã. Este texto diz-nos que, ao contrário do que era costume na época, as
mulheres faziam parte do grupo de Jesus. Que significa isso: que elas devem ter
acesso aos ministérios na comunidade cristã? Seja qual for a resposta, o que é
importante é que não façamos disto uma luta pelo poder, ou uma reivindicação de
direitos, mas uma questão de amor e de serviço.
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(Em
parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1- ABERTURA DA CELEBRAÇÃO.
A
força dos textos deste domingo merece que nos preparemos desde o início da
celebração para bem os acolher. Podemos realçar a palavra do salmo, mesmo antes
do início do cântico de entrada: “perdoai, Senhor, minha culpa e meu pecado”. A
fim de nos colocarmos em atitude de ser perdoados, um tempo de silêncio
permitirá tomar consciência disso antes de serem proclamadas as primeiras
palavras da saudação inicial: “a graça de Nosso Senhor…” O rito penitencial
pode ser introduzido pelas palavras do salmo: “Feliz o homem a quem o Senhor
não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano”.
2- BILHETE DE EVANGELHO.
O
fariseu que recebe Jesus à mesa pára o seu olhar sobre o que se vê: uma pecadora
introduziu-se na sua casa; para ele, ela não é senão uma pecadora. Quanto a
Jesus, lança o seu olhar sobre a mulher procurando ver, através do seu
comportamento, tudo o que se passa no seu coração: se ela chora, é porque é
infeliz e lamenta o seu passado; se ela molha com as suas lágrimas e limpa com
os seus cabelos os pés de Jesus, se ela os beija e sobre eles derrama perfume
precioso, é para manifestar o seu grande amor. Não é preciso mais nada para
Jesus: Ele perdoa, não porque ela pecou muito, mas porque amou muito, mesmo se
ela amou mal; sobretudo, é a sua fé que a salva. Ela faz a experiência do Amor
louco de Deus que perdoa, experiência que o fariseu ainda não fez. Porque o
fariseu e os convidados se ficam pelas aparências, encerram a mulher no passado.
Porque Jesus olha para além das aparências, abre-se à mulher um futuro
diferente, e ela parte em paz.
3 - À ESCUTA DA PALAVRA.
Espantoso
encontro na casa de Simão! O fariseu queria, sem dúvida, ver de mais perto este
jovem rabino que dizia vir da parte de Deus. Falava bem, irradiava bondade.
Porém… Tudo se desmorona! Eis que Jesus Se presta a uma cena no mínimo
chocante, mesmo escabrosa. Esta mulher que se aproxima d’Ele é conhecida por
ser da má vida, uma pecadora. Os seus gestos, ambíguos, dizem o que ela é. Mas
o escândalo vem, sobretudo, da falta de reacção de Jesus. Simão pensava ter
convidado um homem de Deus. E eis que está diante dele um homem como todos os
outros, talvez mesmo um futuro “cliente” da mulher. Se ao menos Jesus tivesse
retirado os seus pés, se tivesse protestado, colocado a mulher no seu devido
lugar! Mas não! Segundo a Lei, deixar-se tocar por uma mulher impura tornava-o
cúmplice do seu pecado. O paradoxo é grande! Cremos que Jesus é o Filho de Deus
feito homem, totalmente santo, sem qualquer pecado.
A
primeira leitura apresenta-nos, através da história do pecador David, um Deus
que não pactua com o pecado; mas que também não abandona esse pecador que
reconhece a sua falta e aceita o dom da misericórdia.
Na
segunda leitura, Paulo garante-nos que a salvação é um dom gratuito que Deus
oferece, não uma conquista humana. Para ter acesso a esse dom, não é
fundamental cumprir ritos e viver na observância escrupulosa das leis; mas é
preciso aderir a Jesus e identificar-se com o Cristo do amor e da entrega: é isso
que conduz à vida plena.
O
Evangelho coloca diante dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que
era pecadora” e que vem chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor
da mulher resulta de haver experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito
do perdão gera amor e vida nova. Deus sabe isso; é por isso que age assim.
EVANGELHO – Lc 7,36 – 8,3
MENSAGEM
A personagem central é a mulher a quem Lucas apresenta
como “uma mulher da cidade que era pecadora”. Não há qualquer indicação acerca
de anteriores contactos entre Jesus e esta mulher, embora possamos supor que a
mulher já se tinha encontrado com Jesus e tinha percebido n’Ele uma atitude
diferente dos mestres da época, sempre preocupados em evitar os pecadores
notórios e em condená-los.
A ação da mulher (o choro, as lágrimas derramadas
sobre os pés de Jesus, o enxugar os pés com os cabelos, o beijar os pés e
ungi-los com perfume) é descrita como uma resposta de gratidão, como
consequência do perdão recebido (vers. 47). A parábola que Jesus conta, a este
propósito (vers. 41-42), parece significar não que o perdão resulta do muito
amor manifestado pela mulher, mas que o muito amor da mulher é o resultado da
atitude de misericórdia de Jesus: o amor manifestado pela mulher nasce de um
coração agradecido de alguém que não se sentiu excluído nem marginalizado, mas
que, nos gestos de Jesus, tomou consciência da bondade e da misericórdia de
Deus.
A outra figura central deste episódio é Simão, o
fariseu. Ele representa aqueles zelosos defensores da Lei que evitavam qualquer
contato com os pecadores e que achavam que o próprio Deus não podia acolher nem
deixar-Se tocar pelos transgressores notórios da Lei e da moral. Jesus procura
fazê-lo entender que só a lógica de Deus – uma lógica de amor e de misericórdia
– pode gerar o amor e, portanto, a conversão e a vida nova. Jesus empenha-se em
mostrar a Simão que não é marginalizando e segregando que se pode obter uma
nova atitude do pecador; mas que é amando e acolhendo que se pode transformar
os corações e despertar neles o amor: essa é a perspectiva de Deus. O perdão
não se dá a troco de amor, mas dá-se, simplesmente, sem esperar nada em troca.
A reação de Jesus não é um caso isolado, mas resulta da missão de que Ele se
sente investido por Deus – atitude que Ele procurará manifestar em tantas
situações semelhantes: dizer aos proscritos, aos moralmente fracassados, que Deus
não os condena nem marginaliza, mas vem ao seu encontro para libertá-los, para
dar-lhes dignidade, para os convocar para o banquete escatológico do Reino. É
esta atitude de Deus que gera o amor e a vontade de começar vida nova, inserida
na lógica do Reino.
O
texto que nos é proposto termina com uma referência ao grupo que acompanha
Jesus: os Doze e algumas mulheres. O facto de o “mestre” Se fazer acompanhar
por mulheres (Lucas é o único evangelista que refere a incorporação de mulheres
no grupo itinerante dos discípulos) era algo insólito, numa sociedade em que a
mulher desempenhava um papel social e religioso marginal. No entanto, manifesta
a lógica de Deus que não exclui ninguém, mas integra todos – sem excepção – na
comunidade do Reino. As mulheres – grupo com um estatuto de subalternidade,
cujos direitos sociais e religiosos eram limitados pela organização social da
época – também são integradas nessa comunidade de irmãos que é a comunidade do
Reino: Deus não exclui nem marginaliza ninguém, mas a todos chama a fazer parte
da sua família.
4º-
Na linha do que a Palavra de Deus nos propõe hoje, como tratar esses excluídos,
que todos os dias batem à porta da “fortaleza Europa” à procura de condições
mínimas para viver com dignidade? E os moralmente fracassados, que testemunho
de amor e de misericórdia encontram nas nossas comunidades?
Também
para nós, a cena é incompreensível: de um lado, a pureza, a presença mesmo do
Deus três vezes santo, o fogo ardente do seu amor; do outro, a impureza, o
pecado, a água suja das nossas misérias. Como vai terminar este encontro? Jesus
vai cumprir uma divina alquimia. Jesus dá a esta mulher um amor que transfigura
os seus gestos ambíguos. Faz deste encontro uma ocasião para manifestar a
maneira de agir de Deus para com os pecadores. Jesus não aprova o seu pecado.
Mas acolhe esta mulher tal como ela é. Aceita o que ela é capaz de Lhe dar. Se
Ele a tivesse afastado, tê-la-ia encerrado no seu pecado. Deixando-a fazer,
quer fazer-lhe compreender que não quer tomá-la para Si, como os outros homens
que ela encontrava. Dá-lhe um amor que ela nunca tinha recebido, um amor
gratuito, para a fazer nascer ela própria. Ele transforma a água suja dos seus
pecados em fonte purificadora, transfigurada pelo fogo do amor divino. Porque a
pecadora recebeu um perdão infinito e gratuito, pôde, por sua vez, mostrar um
grande amor, e nascer para a vida. É isso que Jesus nos convida a viver quando
vamos até Ele!
4- PALAVRA PARA O CAMINHO.
A
página do Evangelho deste domingo pode facilmente dar lugar a uma partilha.
Porque não aproveitar para visitar uma pessoa um pouco isolada no seu
sofrimento, e propor-lhe para falar à volta deste Evangelho? Isso poderia
ajudá-la a se sentir amada e a “ir em paz”.
5- VIVER AS ATITUDES DO CORAÇÃO DE
JESUS.
Estamos
no mês do Coração de Jesus, cuja Solenidade celebrámos na passada sexta-feira.
Podemos acolher a Palavra deste domingo sob essa luz, tentando descobrir as atitudes
bem presentes no Coração de Jesus: pensar nas atitudes que recebemos do Coração
de Jesus, tão presentes na liturgia da Palavra deste domingo: Amor,
Misericórdia, Perdão, Bondade… (cada um pode continuar a lista); rezar essas
atitudes em ambiente de adoração e vivê-las sempre com empenho, em particular
ao longo deste mês. Mãos à obra! Continuação de fecundo mês do Coração de
Jesus!
Fonte:
http://www.dehonianos.org/
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