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domingo, 16 de junho de 2013

11º Domingo do Tempo Comum. Ano- C.

A liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica “a fundo perdido” a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade de vivermos uma vida nova, integrados na sua família.

A primeira leitura apresenta-nos, através da história do pecador David, um Deus que não pactua com o pecado; mas que também não abandona esse pecador que reconhece a sua falta e aceita o dom da misericórdia.

Na segunda leitura, Paulo garante-nos que a salvação é um dom gratuito que Deus oferece, não uma conquista humana. Para ter acesso a esse dom, não é fundamental cumprir ritos e viver na observância escrupulosa das leis; mas é preciso aderir a Jesus e identificar-se com o Cristo do amor e da entrega: é isso que conduz à vida plena.

O Evangelho coloca diante dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que era pecadora” e que vem chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor da mulher resulta de haver experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito do perdão gera amor e vida nova. Deus sabe isso; é por isso que age assim.

EVANGELHO – Lc 7,36 – 8,3

MENSAGEM

           A personagem central é a mulher a quem Lucas apresenta como “uma mulher da cidade que era pecadora”. Não há qualquer indicação acerca de anteriores contactos entre Jesus e esta mulher, embora possamos supor que a mulher já se tinha encontrado com Jesus e tinha percebido n’Ele uma atitude diferente dos mestres da época, sempre preocupados em evitar os pecadores notórios e em condená-los.

A ação da mulher (o choro, as lágrimas derramadas sobre os pés de Jesus, o enxugar os pés com os cabelos, o beijar os pés e ungi-los com perfume) é descrita como uma resposta de gratidão, como consequência do perdão recebido (vers. 47). A parábola que Jesus conta, a este propósito (vers. 41-42), parece significar não que o perdão resulta do muito amor manifestado pela mulher, mas que o muito amor da mulher é o resultado da atitude de misericórdia de Jesus: o amor manifestado pela mulher nasce de um coração agradecido de alguém que não se sentiu excluído nem marginalizado, mas que, nos gestos de Jesus, tomou consciência da bondade e da misericórdia de Deus.

A outra figura central deste episódio é Simão, o fariseu. Ele representa aqueles zelosos defensores da Lei que evitavam qualquer contato com os pecadores e que achavam que o próprio Deus não podia acolher nem deixar-Se tocar pelos transgressores notórios da Lei e da moral. Jesus procura fazê-lo entender que só a lógica de Deus – uma lógica de amor e de misericórdia – pode gerar o amor e, portanto, a conversão e a vida nova. Jesus empenha-se em mostrar a Simão que não é marginalizando e segregando que se pode obter uma nova atitude do pecador; mas que é amando e acolhendo que se pode transformar os corações e despertar neles o amor: essa é a perspectiva de Deus. O perdão não se dá a troco de amor, mas dá-se, simplesmente, sem esperar nada em troca. A reação de Jesus não é um caso isolado, mas resulta da missão de que Ele se sente investido por Deus – atitude que Ele procurará manifestar em tantas situações semelhantes: dizer aos proscritos, aos moralmente fracassados, que Deus não os condena nem marginaliza, mas vem ao seu encontro para libertá-los, para dar-lhes dignidade, para os convocar para o banquete escatológico do Reino. É esta atitude de Deus que gera o amor e a vontade de começar vida nova, inserida na lógica do Reino.

O texto que nos é proposto termina com uma referência ao grupo que acompanha Jesus: os Doze e algumas mulheres. O facto de o “mestre” Se fazer acompanhar por mulheres (Lucas é o único evangelista que refere a incorporação de mulheres no grupo itinerante dos discípulos) era algo insólito, numa sociedade em que a mulher desempenhava um papel social e religioso marginal. No entanto, manifesta a lógica de Deus que não exclui ninguém, mas integra todos – sem excepção – na comunidade do Reino. As mulheres – grupo com um estatuto de subalternidade, cujos direitos sociais e religiosos eram limitados pela organização social da época – também são integradas nessa comunidade de irmãos que é a comunidade do Reino: Deus não exclui nem marginaliza ninguém, mas a todos chama a fazer parte da sua família.

 ATUALIZAÇÃO

 Considerar, na reflexão, as seguintes questões:

 1º-Em primeiro lugar, o nosso texto põe em relevo a atitude de Deus, que ama sempre (mesmo antes da conversão e do arrependimento) e que não Se sente conspurcado por ser tocado pelos pecadores e pelos marginais. É o Deus da bondade e da misericórdia, que ama todos como filhos e que a todos convida a integrar o seu família. É esse Deus que temos de propor aos nossos irmãos e que, de forma especial, temos de apresentar àqueles que a sociedade trata como marginais.

 2º- A figura de Simão, o fariseu, representa aqueles que, instalados nas suas certezas e numa prática religiosa feita de ritos e obrigações bem definidos e rigorosamente cumpridos, se acham em regra com Deus e com os outros. Consideram-se no direito de exigir de Deus a salvação e desprezam aqueles que não cumprem escrupulosamente as regras e que não têm comportamentos social e religiosamente correctos. É possível que nenhum de nós se identifique totalmente com esta figura; mas, não teremos, de quando em quando, “tiques” de orgulho e de auto-suficiência que nos levam a considerar-nos mais ou menos “perfeitos” e a desprezar aqueles que nos parecem pecadores, imperfeitos, marginais?

 3º- A exclusão e a marginalização não geram vida nova; só o amor e a misericórdia interpelam o coração e provocam uma resposta de amor. Frequentemente fala-se, entre nós, no agravamento das penas previstas para quem infringe as regras sociais, como se estivesse aí a solução mágica para a mudança de comportamentos… A lógica de Deus garante-nos que só o amor e a misericórdia conduzem à vida nova.

4º- Na linha do que a Palavra de Deus nos propõe hoje, como tratar esses excluídos, que todos os dias batem à porta da “fortaleza Europa” à procura de condições mínimas para viver com dignidade? E os moralmente fracassados, que testemunho de amor e de misericórdia encontram nas nossas comunidades?

 5º- Ultimamente, fala-se muito do papel e do estatuto das mulheres na comunidade cristã. Este texto diz-nos que, ao contrário do que era costume na época, as mulheres faziam parte do grupo de Jesus. Que significa isso: que elas devem ter acesso aos ministérios na comunidade cristã? Seja qual for a resposta, o que é importante é que não façamos disto uma luta pelo poder, ou uma reivindicação de direitos, mas uma questão de amor e de serviço.

 ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(Em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

 1- ABERTURA DA CELEBRAÇÃO.

 A força dos textos deste domingo merece que nos preparemos desde o início da celebração para bem os acolher. Podemos realçar a palavra do salmo, mesmo antes do início do cântico de entrada: “perdoai, Senhor, minha culpa e meu pecado”. A fim de nos colocarmos em atitude de ser perdoados, um tempo de silêncio permitirá tomar consciência disso antes de serem proclamadas as primeiras palavras da saudação inicial: “a graça de Nosso Senhor…” O rito penitencial pode ser introduzido pelas palavras do salmo: “Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano”.

 2- BILHETE DE EVANGELHO.

 O fariseu que recebe Jesus à mesa pára o seu olhar sobre o que se vê: uma pecadora introduziu-se na sua casa; para ele, ela não é senão uma pecadora. Quanto a Jesus, lança o seu olhar sobre a mulher procurando ver, através do seu comportamento, tudo o que se passa no seu coração: se ela chora, é porque é infeliz e lamenta o seu passado; se ela molha com as suas lágrimas e limpa com os seus cabelos os pés de Jesus, se ela os beija e sobre eles derrama perfume precioso, é para manifestar o seu grande amor. Não é preciso mais nada para Jesus: Ele perdoa, não porque ela pecou muito, mas porque amou muito, mesmo se ela amou mal; sobretudo, é a sua fé que a salva. Ela faz a experiência do Amor louco de Deus que perdoa, experiência que o fariseu ainda não fez. Porque o fariseu e os convidados se ficam pelas aparências, encerram a mulher no passado. Porque Jesus olha para além das aparências, abre-se à mulher um futuro diferente, e ela parte em paz.

 3- À ESCUTA DA PALAVRA.

 Espantoso encontro na casa de Simão! O fariseu queria, sem dúvida, ver de mais perto este jovem rabino que dizia vir da parte de Deus. Falava bem, irradiava bondade. Porém… Tudo se desmorona! Eis que Jesus Se presta a uma cena no mínimo chocante, mesmo escabrosa. Esta mulher que se aproxima d’Ele é conhecida por ser da má vida, uma pecadora. Os seus gestos, ambíguos, dizem o que ela é. Mas o escândalo vem, sobretudo, da falta de reacção de Jesus. Simão pensava ter convidado um homem de Deus. E eis que está diante dele um homem como todos os outros, talvez mesmo um futuro “cliente” da mulher. Se ao menos Jesus tivesse retirado os seus pés, se tivesse protestado, colocado a mulher no seu devido lugar! Mas não! Segundo a Lei, deixar-se tocar por uma mulher impura tornava-o cúmplice do seu pecado. O paradoxo é grande! Cremos que Jesus é o Filho de Deus feito homem, totalmente santo, sem qualquer pecado.

Também para nós, a cena é incompreensível: de um lado, a pureza, a presença mesmo do Deus três vezes santo, o fogo ardente do seu amor; do outro, a impureza, o pecado, a água suja das nossas misérias. Como vai terminar este encontro? Jesus vai cumprir uma divina alquimia. Jesus dá a esta mulher um amor que transfigura os seus gestos ambíguos. Faz deste encontro uma ocasião para manifestar a maneira de agir de Deus para com os pecadores. Jesus não aprova o seu pecado. Mas acolhe esta mulher tal como ela é. Aceita o que ela é capaz de Lhe dar. Se Ele a tivesse afastado, tê-la-ia encerrado no seu pecado. Deixando-a fazer, quer fazer-lhe compreender que não quer tomá-la para Si, como os outros homens que ela encontrava. Dá-lhe um amor que ela nunca tinha recebido, um amor gratuito, para a fazer nascer ela própria. Ele transforma a água suja dos seus pecados em fonte purificadora, transfigurada pelo fogo do amor divino. Porque a pecadora recebeu um perdão infinito e gratuito, pôde, por sua vez, mostrar um grande amor, e nascer para a vida. É isso que Jesus nos convida a viver quando vamos até Ele!

4- PALAVRA PARA O CAMINHO.

A página do Evangelho deste domingo pode facilmente dar lugar a uma partilha. Porque não aproveitar para visitar uma pessoa um pouco isolada no seu sofrimento, e propor-lhe para falar à volta deste Evangelho? Isso poderia ajudá-la a se sentir amada e a “ir em paz”.

5- VIVER AS ATITUDES DO CORAÇÃO DE JESUS.

Estamos no mês do Coração de Jesus, cuja Solenidade celebrámos na passada sexta-feira. Podemos acolher a Palavra deste domingo sob essa luz, tentando descobrir as atitudes bem presentes no Coração de Jesus: pensar nas atitudes que recebemos do Coração de Jesus, tão presentes na liturgia da Palavra deste domingo: Amor, Misericórdia, Perdão, Bondade… (cada um pode continuar a lista); rezar essas atitudes em ambiente de adoração e vivê-las sempre com empenho, em particular ao longo deste mês. Mãos à obra! Continuação de fecundo mês do Coração de Jesus!
Fonte: http://www.dehonianos.org/

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