“Jesus Cristo não é apenas doce de coco”.
Frei Petrônio de Miranda, Padre
Carmelita da Ordem do Carmo.
Evangelho de Lucas 9,18-24
A
liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus:
quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de
Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus,
que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida
cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer
da própria vida um dom generoso aos outros.
O
Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu
sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um
caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz.
“Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de
doação, de amor total.
ATUALIZAÇÃO
O
Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da
doação, da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no
serviço humilde, na generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos
outros. É esse o “caminho” que eu procuro percorrer?
Na
sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para
quem o prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma
espécie de droga de que não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente,
servem-se dos carismas e usam as tarefas que lhe são confiadas para se autopromover,
gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir
Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos, pessoal e comunitariamente,
lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos outros? Como é
possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar
pelo prestígio, pelo poder, pelas honras? Tem alguma importância, à luz do que
Jesus aqui ensina que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos
sociais e mundanos e que exija tratamentos de privilégio?
Quem
é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos
livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros?
Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real
impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma com quem dialogamos
com quem nos identificamos e a quem amamos?
É
na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do
amor e do dom da vida? Nos momentos das decisões importantes da minha vida,
sinto a necessidade de dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me
dizer?
SALMO RESPONSORIAL. Salmo 62 (63)
“A
minha alma tem sede de Vós, meu Deus”.
Sim, é este mesmo Deus que hoje nos interroga, joga-nos
contra a parede e nos faz perceber à luz dos fatos e acontecimentos bíblicos que
o seu olhar sempre esteve voltado para aqueles e aquelas que padeciam.
Impossível confessar o seu nome e esquecer o lado negro, sofrido e corrompido dos
milhares de seres humanos no esgoto social da discriminação, da fome, das
prisões e dos porões da miséria étnica, sexual ou política.
Sim, este nosso Deus nos impulsiona para uma adesão
radical na transformação das pessoas. Impossível confessar o seu nome e abandonar
a sua compaixão, o seu sorriso acolhedor, o seu coração bondoso, o seu olhar
sincero e a sua palavra amiga para todos que o procuravam.
O Jesus que nos interroga hoje é aquele da prostitua
Madalena, do pecador Zaqueu, do teimoso Pedro, do traidor Judas, do soldado
romano, do indeciso jovem rico, das crianças simples, do bom ladrão, das santas
mulheres junto ao túmulo, dos amedrontados discípulos de Emaús, dos apóstolos tristes
do cenáculo e da primeira comunidade fervorosa na oração, na fraternidade e na partilha
dos bens.
O Jesus que nos interroga hoje não o conhecemos
em grandes obras teológicas, nas tradicionais doutrinas, nas grandes reflexões
ou nos luxuosos templos. Não, o Jesus de hoje e o Deus do Salmo de Meditação
caminha nas vidas sem vida, nos sonhos interrompidos, no olhar triste das
crianças passando fome, nos jovens protestando nas ruas, nas comunidades
clamando por dignidade, ética e justiça social.
Meu caro. Você encontrou Jesus ou um passatempo? Você
encontrou Jesus um alívio para a sua consciência? Você encontrou Jesus ou um suco
de maracujá. Lembre-se, Jesus Cristo não é apenas um doce de coco. Ele também é
jiló. Você quer encontrá-lo?
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