Frei Pedro Caxito,
O. Carm. In memoriam. *São Romão-MG. 31/12/1926 + São Paulo. 02/09/ 2009.
APRESENTAÇÃO
"Para São Lucas Jesus é o Novo
Elias como para São Mateus é, principalmente, o Novo Moisés". Assim
escrevia o Pe. Eugênio Driessen nos Analecta Ord. Carm. v.XII 1943
167-190. Senti alegria quando, há muitíssimos anos atrás, chegou isto ao
meu conhecimento e, daí em diante, procurei prestar mais atenção ao que
encontrasse a respeito, porque os peritos, que eu consultava naquele tempo,
diziam-me que não estavam sabendo disto. Procurei, portanto, ao ler São Lucas,
anotar os versículos, que parecessem relacionar-se com a figura de Elias.
Em 1982, as Edições Paulinas
publicaram em tradução Leitura do Evangelho segundo São Lucas de A.George, que
me abriu ótimas pistas.
Em 1988, durante o "Curso de
Formação Permanente", em Roma, o Pe.Henrique Pidyarto, carmelita da
Indonésia, deu-nos um resumo da sua tese sobre o Evangelho de São João e a
figura do Profeta Elias e citou-nos vários autores, que falavam sobre Jesus,
Novo Elias segundo São Lucas. Mais uma luz![1]
Outro fato, que antes me havia
falado de algo desconhecido e sempre me aferroou, foi a leitura do artigo
"A força poderosa do arquétipo" do Pe.Bruno de J-M OCD em Élie le
Prophète que traz cartas de C.G.Jung, que fala sobre o arquétipo[2].
Foi-me ensinado que "arquétipo é disposição estrutural da alma com
tendência a cada vez mais concretizar-se novamente em símbolos e animar os
seres" (Pe.Rudin SJ).
Segundo Jung, Elias é um arquétipo
"vivo" e "constelado", a quem sempre se ligam novas,
múltiplas e diversificadas lendas, mitos, gestas e gestos miraculosos,
paralelos a outros mitos ou figuras mitológicas, ao qual os que vêm depois
sempre vão acres-centando novas tradições claramente mitológicas. Não se nega
logo a existência do personagem histórico, mas por ser justamente personagem
tão rico de conaturalidade, muito conforme com "as imagens
primordiais" e "representações coletivas" e universais do
inconsciente torna-se personagem mais do que atraente, como um ímã que,
avassalando o inconsciente, puxa o consciente. E foi assim que Elias atraiu os
Carmelitas, como antes atraíra israelitas, gregos, romanos, drusos e
muçulmanos; em Israel a reação javista, o Sirácide, Malaquias e, no Evangelho,
o nosso Lucas e João. Certos nomes, se trouxeram alguma aproximação, trouxeram
também maior estímulo para o arquétipo: El, El-Elion, Eli, Eloí e o grego
Hélios (o Sol Ascendente). Porque a graça supõe a natureza, o Espírito Santo
esteve unido com os autores humanos; a vontade de Deus, com a vontade dos
homens; esparsas pelo universo de Deus, as "sementes do Verbo", com
as vagarosas descobertas dos filhos de Eva que, aqui e ali, "porém,
faíscam, não raro, uma centelha daquela Verdade, que ilumina a todos os
homens"[3].
Com razão os nossos pais o chamaram
de "Pai e Fundador": lá está na Basílica de São Pedro a valente
estátua do Profeta, Pai virginalmente, sem nenhuma ligação de cronologia ou
"jus", mas muito mais bonita: a da virtude e do coração. Sente-se
pena e dó do Cardeal Barônio e dos bolandistas e da tinta, ira e papel, que os
nossos antepassados gastaram.
Apresento agora o fruto da minha
colheita, sem pretender nem ter nunca pretendido oferecer um trabalho de
exegeta, de que não sou capaz, mas qualquer coisa boa para animar o
"seguimento e serviço de Jesus Cristo" no "espírito e fortaleza
de Elias". Exegetas serão muitos dos autores que irei citando. É também
uma compilação que desejo aproveitada hoje, como quis, outrora, pelos meus
noviços.
INTRODUÇÃO
Elias, precursor da
1ª chegada de Jesus na pessoa de João Batista, e amostra e tipo da Páscoa do
Filho de Deus
Segundo Lucas, João Batista, forte
no espírito, vai caminhar à frente do Senhor, animado pelo espírito e pela
força de Elias (1,17), manifestar-se-á a Israel (1,80) e anunciará Aquele que
vem batizar com o fogo e o Espírito Santo (3,16), pombinha "sem fel"
que, pura e mansa, descerá sobre Jesus (3,22) e, deserto adentro, o irá
conduzindo durante 40 dias (4,1) até reconduzi-lo vigorosamente de volta para a
Galiléia (4,14), a fim de ungir reis, sacerdotes e profetas a todos os que
forem batizados no seu Nome.
Preferência de
Lucas pelos nomes de profetas
Na genealogia do Senhor Jesus Lucas
cita os nomes de Eli [equivalente a Elias] (3,23), Amós e Naum (3,25), Jesus (3,29)
e Natã (3,31). Jesus é um grande profeta surgido no meio de nós (7,16.39),
poderoso em obras e palavras (24,19.25.27), muito maior do que Jonas
(11,29-30.32). Cf. ainda 4,24; 9,8; 10,24; 13,33-34; 16,16; 22,64.
Jesus Cristo é o
Novo Elias
João Batista virá no poder e no
espírito de Elias (1,17), mas Jesus Cristo é o Novo Elias, maior do que o
primeiro e do que o segundo. Conforme Malaquias há dois personagens: "o
meu mal'aki (mensageiro)" e o "Anjo da Aliança, o Senhor". O
primeiro per-sonagem está a serviço do segundo. Se João é o mensageiro, que
prepara os caminhos, Jesus é o Anjo (o Mensageiro) da Aliança, o Novo Elias,
que vem antes do dia terrível de Javé (cf.Eclo [Sr] 48,10), aquele que os céus
receberam, até que se complete o tempo da restauração de todo o universo (At
3,21) ; se João anuncia a Boa Nova (3,18), Jesus anuncia o seu Evangelho da
Libertação Universal (4,18; 8,1) .
Para Mateus e para Marcos (que cita
Elias primeiro) o Novo Elias é João segundo disse Jesus logo após a
Transfiguração, mas porque para Lucas o novo Elias é Jesus mesmo, de quem Elias
é figura e tipo, Lucas não contará aquela pergunta dos Apóstolos sobre Elias
logo após a Transfiguração do Senhor
Jesus demitiza
A Lei, o Sábado, a Circuncisão, a
Realeza, o Sacerdócio Levítico, a Letra, os Pobres, cada um é colocado no seu
lugar pelo Senhor Jesus e pelo Novo Testamento: são demitizados, assim como o
nosso Pai Elias, que já veio, João é Elias , aliás é maior do que ele (7,26.28).
Outros virão "no espírito e na força de Elias". Apesar de ser Elias,
como João, isto é, um profeta que sofre e é perseguido, mas glorificado com
Moisés na excelsa Montanha da Transfiguração (9,29-31) , não se deve fazer tudo
tal como fez Elias e convocar o fogo do céu (9,55) : outro é o fogo, que o
Filho do Homem veio meter na Terra (12,49-50). Andam dizendo que Jesus é Elias
(9,8; 9,19), mas só o Pai sabe quem é o Filho e também aquele a quem o Pai
contar (10,22), como a Pedro, na região de Cesaréia de Filipe .
São Paulo entendeu que o Nosso Pai
não fez muito bonito no Horeb , acusando o Povo de Deus, pois afinal o
"nosso pai" era igual a nós, bem gente como a gente . Nem por isso
deixa Elias de ser muito grande para Lucas, graças à sua relação com o Cristo
de Deus, que morreu e ressuscitou, como o tipo do Profeta dos Profetas ; no
Apocalipse João ainda vê Pedro e Paulo na força e nos gestos de Elias e Moisés.
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