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segunda-feira, 20 de julho de 2015

JESUS SEGUNDO LUCAS E SEGUNDO O PROFETA ELIAS-01.

Frei Pedro Caxito, O. Carm. In memoriam. *São Romão-MG. 31/12/1926 + São Paulo. 02/09/ 2009.

APRESENTAÇÃO
            "Para São Lucas Jesus é o Novo Elias como para São Mateus é, principalmente, o Novo Moisés". Assim escrevia o Pe. Eugênio Driessen nos Analecta Ord. Carm. v.XII  1943  167-190. Senti alegria quando, há muitíssimos anos atrás, chegou isto ao meu conhecimento e, daí em diante, procurei prestar mais atenção ao que encontrasse a respeito, porque os peritos, que eu consultava naquele tempo, diziam-me que não estavam sabendo disto. Procurei, portanto, ao ler São Lucas, anotar os versículos, que parecessem relacionar-se com a figura de Elias.
            Em 1982, as Edições Paulinas publicaram em tradução Leitura do Evangelho segundo São Lucas de A.George, que me abriu ótimas pistas.
            Em 1988, durante o "Curso de Formação Permanente", em Roma, o Pe.Henrique Pidyarto, carmelita da Indonésia, deu-nos um resumo da sua tese sobre o Evangelho de São João e a figura do Profeta Elias e citou-nos vários autores, que falavam sobre Jesus, Novo Elias segundo São Lucas. Mais uma luz![1]
            Outro fato, que antes me havia falado de algo desconhecido e sempre me aferroou, foi a leitura do artigo "A força poderosa do arquétipo" do Pe.Bruno de J-M OCD em Élie le Prophète que traz cartas de C.G.Jung, que fala sobre o arquétipo[2]. Foi-me ensinado que "arquétipo é disposição estrutural da alma com tendência a cada vez mais concretizar-se novamente em símbolos e animar os seres" (Pe.Rudin SJ).
            Segundo Jung, Elias é um arquétipo "vivo" e "constelado", a quem sempre se ligam novas, múltiplas e diversificadas lendas, mitos, gestas e gestos miraculosos, paralelos a outros mitos ou figuras mitológicas, ao qual os que vêm depois sempre vão acres-centando novas tradições claramente mitológicas. Não se nega logo a existência do personagem histórico, mas por ser justamente personagem tão rico de conaturalidade, muito conforme com "as imagens primordiais" e "representações coletivas" e universais do inconsciente torna-se personagem mais do que atraente, como um ímã que, avassalando o inconsciente, puxa o consciente. E foi assim que Elias atraiu os Carmelitas, como antes atraíra israelitas, gregos, romanos, drusos e muçulmanos; em Israel a reação javista, o Sirácide, Malaquias e, no Evangelho, o nosso Lucas e João. Certos nomes, se trouxeram alguma aproximação, trouxeram também maior estímulo para o arquétipo: El, El-Elion, Eli, Eloí e o grego Hélios (o Sol Ascendente). Porque a graça supõe a natureza, o Espírito Santo esteve unido com os autores humanos; a vontade de Deus, com a vontade dos homens; esparsas pelo universo de Deus, as "sementes do Verbo", com as vagarosas descobertas dos filhos de Eva que, aqui e ali, "porém, faíscam, não raro, uma centelha daquela Verdade, que ilumina a todos os homens"[3].
            Com razão os nossos pais o chamaram de "Pai e Fundador": lá está na Basílica de São Pedro a valente estátua do Profeta, Pai virginalmente, sem nenhuma ligação de cronologia ou "jus", mas muito mais bonita: a da virtude e do coração. Sente-se pena e dó do Cardeal Barônio e dos bolandistas e da tinta, ira e papel, que os nossos antepassados gastaram.
            Apresento agora o fruto da minha colheita, sem pretender nem ter nunca pretendido oferecer um trabalho de exegeta, de que não sou capaz, mas qualquer coisa boa para animar o "seguimento e serviço de Jesus Cristo" no "espírito e fortaleza de Elias". Exegetas serão muitos dos autores que irei citando. É também uma compilação que desejo aproveitada hoje, como quis, outrora, pelos meus noviços.

INTRODUÇÃO

Elias, precursor da 1ª chegada de Jesus na pessoa de João Batista, e amostra e tipo da Páscoa do Filho de Deus
            Segundo Lucas, João Batista, forte no espírito, vai caminhar à frente do Senhor, animado pelo espírito e pela força de Elias (1,17), manifestar-se-á a Israel (1,80) e anunciará Aquele que vem batizar com o fogo e o Espírito Santo (3,16), pombinha "sem fel" que, pura e mansa, descerá sobre Jesus (3,22) e, deserto adentro, o irá conduzindo durante 40 dias (4,1) até reconduzi-lo vigorosamente de volta para a Galiléia (4,14), a fim de ungir reis, sacerdotes e profetas a todos os que forem batizados no seu Nome.

Preferência de Lucas pelos nomes de profetas
            Na genealogia do Senhor Jesus Lucas cita os nomes de Eli [equivalente a Elias] (3,23), Amós e Naum (3,25), Jesus (3,29) e Natã (3,31). Jesus é um grande profeta surgido no meio de nós (7,16.39), poderoso em obras e palavras (24,19.25.27), muito maior do que Jonas (11,29-30.32). Cf. ainda 4,24; 9,8; 10,24; 13,33-34; 16,16; 22,64.

Jesus Cristo é o Novo Elias
            João Batista virá no poder e no espírito de Elias (1,17), mas Jesus Cristo é o Novo Elias, maior do que o primeiro e do que o segundo. Conforme Malaquias há dois personagens: "o meu mal'aki (mensageiro)" e o "Anjo da Aliança, o Senhor". O primeiro per-sonagem está a serviço do segundo. Se João é o mensageiro, que prepara os caminhos, Jesus é o Anjo (o Mensageiro) da Aliança, o Novo Elias, que vem antes do dia terrível de Javé (cf.Eclo [Sr] 48,10), aquele que os céus receberam, até que se complete o tempo da restauração de todo o universo (At 3,21) ; se João anuncia a Boa Nova (3,18), Jesus anuncia o seu Evangelho da Libertação Universal (4,18; 8,1) .
            Para Mateus e para Marcos (que cita Elias primeiro) o Novo Elias é João segundo disse Jesus logo após a Transfiguração, mas porque para Lucas o novo Elias é Jesus mesmo, de quem Elias é figura e tipo, Lucas não contará aquela pergunta dos Apóstolos sobre Elias logo após a Transfiguração do Senhor

Jesus demitiza
            A Lei, o Sábado, a Circuncisão, a Realeza, o Sacerdócio Levítico, a Letra, os Pobres, cada um é colocado no seu lugar pelo Senhor Jesus e pelo Novo Testamento: são demitizados, assim como o nosso Pai Elias, que já veio, João é Elias , aliás é maior do que ele (7,26.28). Outros virão "no espírito e na força de Elias". Apesar de ser Elias, como João, isto é, um profeta que sofre e é perseguido, mas glorificado com Moisés na excelsa Montanha da Transfiguração (9,29-31) , não se deve fazer tudo tal como fez Elias e convocar o fogo do céu (9,55) : outro é o fogo, que o Filho do Homem veio meter na Terra (12,49-50). Andam dizendo que Jesus é Elias (9,8; 9,19), mas só o Pai sabe quem é o Filho e também aquele a quem o Pai contar (10,22), como a Pedro, na região de Cesaréia de Filipe .
            São Paulo entendeu que o Nosso Pai não fez muito bonito no Horeb , acusando o Povo de Deus, pois afinal o "nosso pai" era igual a nós, bem gente como a gente . Nem por isso deixa Elias de ser muito grande para Lucas, graças à sua relação com o Cristo de Deus, que morreu e ressuscitou, como o tipo do Profeta dos Profetas ; no Apocalipse João ainda vê Pedro e Paulo na força e nos gestos de Elias e Moisés.



    [1]Ver Apêndice
    [2]Em Les Études Carmélitaines  v.II  1956  p.11-33
    [3].  Nostra Aetate 2; Evangelii Nuntiandi 53, n 74, que cita Justino Mártir 2 Apol 7(8), 1-4 sobre as "sementes do Verbo": pelo Universo anda espalhada "uma parcela da Palavra Semeadora" (spermaticû lógu méros).

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