Algumas meditações sobre a Via Sacra,
compostas por Jorge Mario Bergoglio antes e depois da sua eleição a bispo de
Roma foram publicadas agora em um livro em italiano, intitulado La logica
dell'amore (Ed. Rizzoli). Um trecho da obra foi publicada no jornal Corriere
della Sera, 19-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis
o texto.
Primeira
Estação
Jesus
é condenado à morte
A cruz de Jesus é a palavra com que Deus
respondeu ao mal do mundo. Às vezes, parece-nos que Deus não responde ao mal,
que permanece em silêncio.
Na realidade, Deus falou, respondeu, e a
sua resposta é a cruz de Cristo: uma palavra que é amor, misericórdia, perdão.
Também é juízo: Deus nos julga amando-nos. Lembremo-nos disto: Deus nos julga
amando-nos. Se eu acolho o Seu amor, sou salvo; se o rejeito, sou condenado,
não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele só ama e salva.
Queridos irmãos, a palavra da cruz
também é a resposta dos cristãos ao mal que continua agindo em nós e ao nosso
redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre si a cruz,
como Jesus.
Quarta
Estação
Jesus
encontra a sua mãe
Não estamos sozinhos, somos muitos,
somos um povo, e o olhar de Nossa Senhora nos ajuda a olharmos para nós de modo
fraterno. Olhemo-nos de modo mais fraterno! Maria nos ensina a ter aquele olhar
que busca acolher, acompanhar, proteger. Aprendamos a nos olhar uns aos outros
sob o olhar materno de Maria!
Há pessoas que, instintivamente,
consideramos menos e que, ao contrário, mais precisam: os mais abandonados, os
doentes, aqueles que não têm do quê viver, as crianças de rua, aqueles que não
conhecem Jesus, que não conhecem a ternura da Virgem.
Em Maria, "muitos encontram a força
de Deus para suportar os sofrimentos e os cansaços da vida" (Evangelii gaudium,
n. 286). Frase textual: "Lá encontram a força de Deus para suportar os
sofrimentos e os cansaços da vida".
Quinta
Estação
Jesus
é ajudado por Simão de Cirene a carregar a cruz
Somente quem se reconhece vulnerável é
capaz de uma ação solidária. De fato, comover-se ("mover-se-com") e
compadecer-se ("padecer-com") com quem jaz à beira da estrada são
atitudes de quem sabe reconhecer no outro a própria imagem, mistura de terra e
tesouro, e, por isso, não a rejeita.
Ao contrário: ama-a, aproxima-se dela e,
sem querer, descobre que as feridas que cuida no irmão são bálsamo para as suas
próprias. […]
Por isso, falamos da dignidade da
pessoa, de cada pessoa, para além do fato de que a sua vida física seja apenas
um frágil início ou esteja prestes a se apagar como uma vela. Quanto mais as
suas condições de vida são frágeis e vulneráveis, mais a pessoa merece ser
reconhecida como preciosa.
E deve ser ajudada, amada, defendida e
promovida na sua dignidade. Sobre isso, não se pode negociar.
Oitava
Estação
Jesus
encontra as mulheres de Jerusalém
Nas lágrimas de uma mãe ou de um pai que
chora pelos seus filhos, esconde-se a melhor oração que se possa fazer sobre
esta terra: a oração de lágrimas silenciosas e mansas, que é como a de Nossa
Senhora aos pés da cruz, que sabe ficar ao lado do seu Filho sem estrépitos e
escândalos, acompanhando, intercedendo.
"Interceder não nos afasta da
verdadeira contemplação, porque a contemplação que deixa de fora os outros é
uma farsa. […] Poderíamos dizer que o coração de Deus se deixa comover pela
intercessão, mas, na realidade, Ele sempre nos antecipa, pelo que, com a nossa
intercessão, apenas possibilitamos que o seu poder, o seu amor e a sua lealdade
se manifestem mais claramente no povo" (Evangelii gaudium, nn. 281, 283).
Décima-segunda
Estação
Jesus
morre na cruz
Esta é a atitude do coração de Cristo. O
abandono nas mãos de Deus, sem pretender controlar os resultados da crise e da
tempestade. Abandono forte, mas não ingênuo... Abandono que implica confiança
na paternidade de Deus, mas não se exime do sofrimento da agonia: de fato, esse
abandono não tem resposta imediata, e até Ele próprio é posto à prova pelo
silêncio de Deus, que pode levar à tentação da desconfiança... é grito dilacerado
no ápice da prova: "Pai, por que me abandonaste?".
Na cruz, é preciso perder tudo para
ganhar tudo. Esse é o lugar onde se vende tudo para comprar a pedra preciosa ou
o campo com o tesouro escondido.
Perder tudo: quem perder a sua vida por
mim, encontra-la-á... Ninguém nos obriga, é um convite. Um convite ao
"tudo ou nada". Fonte: www.ihu.unisinos.br
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