Mensagem foi
aprovada pela Assembleia Geral da Conferência
A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, na tarde desta quarta-feira, 13,
a mensagem para as eleições municipais deste ano. O texto foi aprovado durante
a 54ª Assembleia Geral da entidade, que ocorre em Aparecida (SP). Os bispos
dirigem ao povo brasileiro "uma mensagem de esperança, ânimo e
coragem".
A mensagem
aborda o momento atual, ressalta o papel dos leigos como sujeitos na política e
apresenta os critérios que podem ajudar o brasileiros a escolher seus
prefeitos e vereadores neste ano.
Leia o texto
na íntegra:
MENSAGEM DA CNBB PARA AS
ELEIÇÕES 2016
“Quero
ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”
(Amós 5,24)
Neste ano de
eleições municipais, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB dirige
ao povo brasileiro uma mensagem de esperança, ânimo e coragem. Os cristãos
católicos, de maneira especial, são chamados a dar a razão de sua esperança
(cf. 1Pd 3,15) nesse tempo de profunda crise pela qual passa o Brasil.
Sonhamos e
nos comprometemos com um país próspero, democrático, sem corrupção, socialmente
igualitário, economicamente justo, ecologicamente sustentável, sem violência
discriminação e mentiras; e com oportunidades iguais para todos. Só com
participação cidadã de todos os brasileiros e brasileiras é possível a
realização desse sonho. Esta participação democrática começa no município onde
cada pessoa mora e constrói sua rede de relações. Se quisermos transformar o
Brasil, comecemos por transformar os municípios. As eleições são um dos
caminhos para atingirmos essa meta.
A política,
do ponto de vista ético, “é o conjunto de ações pelas quais os homens buscam
uma forma de convivência entre indivíduos, grupos, nações que ofereçam
condições para a realização do bem comum”. Já do ponto de vista da organização,
a política é o exercício do poder e o esforço por conquistá-lo1, a
fim de que seja exercido na perspectiva do serviço.
Os cristãos
leigos e leigas não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles
Laici, 42). A eles cabe, de maneira singular, a exigência do Evangelho de
construir o bem comum na perspectiva do Reino de Deus. Contribui para isso a
participação consciente no processo eleitoral, escolhendo e votando em
candidatos honestos e competentes. Associando fé e vida, a cidadania não se
esgota no direito-dever de votar, mas se dá também no acompanhamento do mandato
dos eleitos.
As eleições
municipais têm uma atração e uma força próprias pela proximidade dos candidatos
com os eleitores. Se, por um lado, isso desperta mais interesse e facilita as
relações, por outro, pode levar a práticas condenáveis como a compra e venda de
votos, a divisão de famílias e da comunidade. Na política, é fundamental
respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou
animosidades que desemboquem em violência de qualquer ordem.
Para escolher
e votar bem é imprescindível conhecer, além dos programas dos partidos, os
candidatos e sua proposta de trabalho, sabendo distinguir claramente as funções
para as quais se candidatam. Dos prefeitos, no poder executivo, espera-se
“conduta ética nas ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os
demais agentes políticos e com os poderes econômicos”2. Dos
legisladores, os vereadores, requer-se “uma ação correta de fiscalização e
legislação que não passe por uma simples presença na bancada de sustentação ou
de oposição ao executivo”3.
É fundamental
considerar o passado do candidato, sua conduta moral e ética e, se já exerce
algum cargo político, conhecer sua atuação na apresentação e votação de
matérias e leis a favor do bem comum. A Lei da Ficha Limpa há de ser, neste
caso, o instrumento iluminador do eleitor para barrar candidatos de ficha
suja.
Uma boa
maneira de conhecer os candidatos e suas propostas é promover debates com os
concorrentes. Em muitos casos cabe propor lhes a assinatura de cartas-compromisso
em relação a alguma causa relevante para a comunidade como, por exemplo, a
defesa do direito de crianças e adolescentes. Pode ser inovador e eficaz
elaborar projetos de lei, com a ajuda de assessores, e solicitar a adesão de
candidatos no sentido de aprovar os projetos de lei tanto para o executivo
quanto para o legislativo.
É preciso
estar atento aos custos das campanhas. O gasto exorbitante, além de afrontar os
mais pobres, contradiz o compromisso com a sobriedade e a simplicidade que
deveria ser assumido por candidatos e partidos. Cabe aos eleitores observar as
fontes de arrecadação dos candidatos, bem como sua prestação de contas. A lei
que proíbe o financiamento de campanha por empresas, aplicada pela primeira vez
nessas eleições, é um dos passos que permitem devolver ao povo o protagonismo
eleitoral, submetido antes ao poder econômico. Além disso, estanca uma das
veias mais eficazes de corrupção, como atestam os escândalos noticiados pela
imprensa. Da mesma forma, é preciso combater sistematicamente a vergonhosa
prática de “Caixa 2”, tão comum nas campanhas eleitorais.
A compra e
venda de votos e o uso da máquina administrativa nas campanhas constituem crime
eleitoral que atenta contra a honra do eleitor e contra a cidadania. Exortamos
os eleitores a fiscalizarem os candidatos e, constatando esse ato de corrupção,
a denunciarem os envolvidos ao Ministério Público e à Justiça Eleitoral,
conforme prevê a Lei 9840, uma conquista da mobilização popular há quase duas
décadas.
A Igreja
Católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e
leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se lançarem
candidatos. No discernimento dos melhores candidatos, tenha-se em conta seu
compromisso com a vida, com a justiça, com a ética, com a transparência, com o
fim da corrupção, além de seu testemunho na comunidade de fé. Promova-se a
renovação de candidaturas, pondo fim ao carreirismo político. Por isso,
exortamos as comunidades a aprofundarem seu conhecimento sobre a vida política
de seu município e do país, fazendo sempre a opção por aqueles que se proponham
a governar a partir dos pobres, não se rendendo à lógica da economia de mercado
cujo centro é o lucro e não a pessoa.
Após as
eleições, é importante a comunidade se organizar para acompanhar os mandatos
dos eleitos. Os cristãos leigos e leigas, inspirados na fé que vem do
Evangelho, devem se preparar para assumir, de acordo com sua vocação,
competência e capacitação, serviços nos Conselhos de participação popular, como
o da Educação, Saúde, Criança e Adolescente, Juventude, Assistência Social etc.
Devem, igualmente, acompanhar as reuniões das Câmaras Municipais onde se votam
projetos e leis para o município. Estejam atentos à elaboração e implementação
de políticas públicas que atendam especialmente às populações mais vulneráveis
como crianças, jovens, idosos, migrantes, indígenas, quilombolas e os
pobres.
Confiamos que
nossas comunidades saberão se organizar para tornar as eleições municipais
ocasião de fortalecimento da democracia que deve ser cada vez mais
participativa. Nosso horizonte seja sempre a construção do bem comum.
Que Nossa
Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira dos brasileiros, nos acompanhe e auxilie no
exercício de nossa cidadania a favor do Brasil e de nossos municípios, onde
começa a democracia.
Aparecida -
SP, 13 de abril de 2016
Dom Sergio
da Rocha
Arcebispo
de Brasília
Presidente da CNBB
|
Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente
da CNBB
|
Dom
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral
da CNBB
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário