Frei Cláudio van Balen, O. Carm. Convento do Carmo, Belo
Horizonte-MG.
Foram doze anos
de espera, amadurecimento e luta para agora, em 1933, retirar-se atrás dos
muros de um mosteiro. O cunhado, casado com a irmã Erna, lhe oferece
hospitalidade, mas ela decide pelo caminho do Carmelo em Colônia. Entre os
familiares, o susto passa a ser incompreensão. Sua irmã sintetizou: “O terrível na vida é isto: o que torna um
feliz é para o outro a maior catástrofe”. Sua despedida da mãe foi
comovente. Essa não entendeu, absolutamente, a decisão de sua filha mais nova.
E na extrema solidão, Edith deixou para sempre Breslau, no dia 12 outubro de
1933, dia de seu aniversário. Ela tinha 42 anos. No dia 14, ela chega ao
Carmelo em Colônia, adotando o nome de Theresia Benedicta a Cruce. Fazia escuro
a seu redor, mas ela se reconhecia acolhida na luz de Deus.
Dentro do
contexto da Alemanha, naquela época, o ingresso de Edith no Carmelo facilmente
poderia parecer-lhe uma negação ou fuga, sendo na realidade uma resposta
pessoal, sofridamente amadurecida, ao apelo de Deus e à urgência da situação.
Realmente, a questão é a escolha do meio adequado, com o qual entra na luta.
Paulatinamente, ela chegou à conclusão de que a estranha dimensão do mal
nazista só poderia ser combatido pela força da Cruz, isto é, por um amor
incomum que, de um lado, elimina toda violência e, por outro lado, enfrenta o
mal em sua raiz, graças a uma solidariedade incondicional. Ela escreve: “Nosso
socorro não resulta simplesmente das humanas aquisições, mas do amor sofrido de
Cristo; e é meu desejo partilhar do mesmo. Quero entregar-me ao coração de
Jesus como gesto de solidariedade pela paz do mundo. Que o reino do Mal, da
exclusão, possa implodir, caso possível, sem guerra mundial, e que uma nova,
realmente nova ordem possa ser estabelecida”.
Para Edith, o
ingresso no Carmelo nada tem a ver com fuga; pelo contrário, ela se dirige ao
front para combater o inimigo com os meios que julga os mais eficientes: a
oração, a entrega de sua pessoa, uma ilimitada reconciliação como de “Yom
Kippur”. Como Teresa Benedita da Cruz, ela é uma simples carmelita entre as
outras, cujo brilhante passado intelectual é ignorado pelas companheiras. Mas
seu novo nome resume sua história: Teresa evoca a beleza da amizade e a força
da inspiração renovadora; Benedita evoca a busca intelectual com sua paixão
pela verdade, e a Cruz abre o espaço misterioso para o caminho da solidariedade
e das experiências espirituais mais profundas, que culminam em Auschwitz, onde
se desvenda o mistério da “Ciência da Cruz”.
Por ocasião de
seu ingresso no Carmelo, Edmund Husserl sintetizou para sua discípula e amiga
muito estimada o paradoxo de sua opção: “Afinal, há no coração de todo judeu um
impulso para o absoluto e um amor pelo martírio”. Neste novo estilo de vida, sua sensibilidade
e atividade intelectual, antes tão evidenciadas, ficam ofuscadas pelo amor a
Cristo na Vida Religiosa e são transformadas pela luz do conhecimento, que
resulta da sofrida experiência com a Verdade. Já adaptada ao novo estilo de
vida, ela recebe a incumbência de, em 1935, redigir o texto filosófico
“Endliches und Ewiges Sein”, que depois é barrado para publicação por tratar-se
de um escrito não ariano. Os muros do mosteiro, aliás, preservam as irmãs da
complexidade da realidade, mas Edith, mediante troca de cartas com familiares e
amigos, acompanha o que lá fora está acontecendo de ameaçador. E ela se mostra
sempre de prontidão para lutar pela verdade e pela justiça.
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