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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Ascensão. Uma nova criação


Páscoa, Ascensão e Pentecostes são três festas cristãs teológicas, separadas no tempo e no espaço, para significar todo o mistério cristão: a morte de Jesus, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor e o Pentecostes do Espírito Santo. Mas, na realidade material e histórica, tudo se passou na sexta-feira, 6 ou 7 de abril do ano 30, às portas de Jerusalém, onde Jesus foi condenado à morte pelo poder judaico e executado, crucificado pelo poder romano. Com a sua morte na cruz ele já ressuscitou, subiu ao céu e seu Espírito já foi dado aos discípulos. O Jesus crucificado era o Cristo e Senhor da Páscoa.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras da Festa da Ascensão do Senhor (12 de maio de 2013). A tradução é do Cepat.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
Primeira leitura: At 1, 1-11
Evangelho: Lc 24, 46-53

A ascensão, segunda face da Páscoa: Jesus não somente ressuscitou; ele também subiu ao céu. A ascensão marca, portanto, o fim do tempo de Jesus: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus começou a fazer e ensinar, desde o princípio, até o dia em que foi levado para o céu. Antes disso, ele deu instruções aos apóstolos que escolhera, movido pelo Espírito Santo” (At 1, 1-2), e anuncia o começo do tempo da Igreja: “Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1, 8). Como compreender esta festa da ascensão? Nesse tempo da Igreja em que ainda nos encontramos, o que devemos fazer?

1. A ascensão: uma festa pascal
A ascensão está, ao mesmo tempo, voltada para o domingo da Páscoa: “Era preciso que se cumprisse o que estava nas Escrituras: O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia” (Lc 24, 46), e para o Pentecostes: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos do poder do alto” (Lc 24, 49). Esta festa confirma, portanto, a missão dos discípulos que consiste em proclamar um batismo de conversão, em nome de Cristo, a todas as nações (Lc 24, 47): “E vocês são testemunhas disso” (Lc 24, 48).
Por outro lado, esta festa da ascensão, assim como a da Páscoa, foge ao tempo e ao espaço. De sorte que se procurarmos saber o lugar e o momento da ascensão, corremos o risco de encontrar contradições. Segundo o Evangelho de Lucas de hoje, será na Betânia, na noite da Páscoa, que Jesus se separa de seus discípulos e é levado ao céu (Lc 24, 50-51). De acordo com o livro dos Atos dos Apóstolos, escrito pelo próprio Lucas, será no monte das Oliveiras, em Jerusalém (At 1, 12), 40 dias após a Páscoa (At 1, 3), que Jesus se eleva e desaparece aos olhos dos discípulos envolto numa nuvem (At 1, 9). E se lermos o Evangelho de Mateus, esse último parece dizer que é sobre uma montanha da Galileia que a ascensão se dará (Mt 28, 16).
Quem tem razão? Todos têm razão, porque o que esses autores cristãos descrevem não é uma reportagem jornalística de um acontecimento material e histórico que teria acontecido num lugar e num momento precisos da sua história. Quanto a Lucas, que situa a ascensão do Senhor, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa, no seu Evangelho, e 40 dias após a Páscoa, nos Atos dos Apóstolos, é para destacar esse tempo teológico de que precisou a Igreja do primeiro século para realizar sua missão e para fazer discípulos, testemunhas da Ressurreição de Cristo.
Páscoa, Ascensão e Pentecostes são três festas cristãs teológicas, separadas no tempo e no espaço, para significar todo o mistério cristão: a morte de Jesus, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor e o Pentecostes do Espírito Santo. Mas, na realidade material e histórica, tudo se passou na sexta-feira, 6 ou 7 de abril do ano 30, às portas de Jerusalém, onde Jesus foi condenado à morte pelo poder judaico e executado, crucificado pelo poder romano. Com a sua morte na cruz ele já ressuscitou, subiu ao céu e seu Espírito já foi dado aos discípulos. O Jesus crucificado era o Cristo e Senhor da Páscoa.
O exegeta francês Jean Debruynne definiu a festa da ascensão como um ato de criação. Escreve ele: “Não encontramos mais no Evangelho de Lucas como isso aconteceu. Lucas não fez uma reportagem sobre a ascensão. Uma lástima para o culto das stars (estrelas). A ascensão não se parece com o lançamento de um foguete. A linguagem de Lucas é antes profética que aeroespacial: Jesus se separa de seus discípulos como um dia o Espírito separou o céu e a terra, os mares e os continentes para criá-los. É um ato de criação. De agora em diante os discípulos assumem suas responsabilidades. Esta promessa de Deus que Jesus anuncia não é nem a conquista nem o poder, mas a força que coloca o homem em pé”.

2. A ascensão: criação da Igreja
No Antigo Testamento, no segundo Livro dos Reis, no momento da ascensão do profeta Elias, seu discípulo Eliseu é investido pelo Espírito de seu mestre, porque ele o viu subir ao céu (2Rs 2, 11.15). Para São Lucas, que considera Jesus como o novo Elias, podemos supor que ele se inspira no relato dos Reis para evocar a partida de Jesus. Era preciso que seus discípulos o vissem subir ao céu para que eles pudessem herdar seu Espírito: “Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles. E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais” (At 1, 9). Por outro lado, a missão da Igreja não consiste em ficar aí parado contemplando o céu, com os braços na cruz: “Homens da Galileia, por que vocês estão aí parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi tirado de vocês e levado para o céu, virá do mesmo modo com que vocês o viram partir para o céu” (At 1, 11). É, portanto, por meio dos seus discípulos que o Cristo ressuscitado pode se manifestar, mas será preciso esperar pelo Pentecostes para realizá-lo: “E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24, 53).
No Pentecostes, quando os discípulos tomarão consciência de que são investidos pelo Espírito de Cristo, eles sairão do Templo para anunciar pelo mundo inteiro, em todas as línguas, a salvação oferecida gratuitamente a todas e todos. São Paulo dirá que a Igreja é Corpo de Cristo e São Mateus resumirá muito bem a missão confiada a toda a Igreja: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).
Concluindo, para saber o que devemos fazer hoje, como Igreja de Cristo, eu vou sugerir esta bela sugestão do francês Charles Singer: “Não há mais o Cristo visível! Não há mais o Cristo para tocar! Os únicos traços para ver e tocar que atestam a realidade de sua presença são as pessoas de cada tempo que suscitam uma terra onde os leprosos e os excluídos terão seu lugar, onde o ódio não rege as relações, onde a bondade predomina sobre o desprezo, onde o respeito impede a violência capaz dos piores instintos, onde a acolhida impede o fechamento em si mesmo! Amigos, são vocês que atestam a vitalidade do Ressuscitado!”. Isso merece ser lido e relido!

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