Para Lucetta Scaraffia, historiadora da Igreja e jornalista do L'Osservatore
Romano, a questão das mulheres na Igreja diz respeito à identidade e à vida de
toda a Igreja, à fidelidade da Igreja a Cristo. A reportagem é de Isabelle
de Gaulmyn, publicada no jornal La Croix, 17-11-2016. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Não é
fácil ser mulher no Vaticano. Ainda menos quando você se encontra na sala
do Sínodo romano, quase a única mulher, na presença de “Padres
sinodais”, bispos, todos homens, reunidos para falar de família. E quando se
toma consciência de que esses homens, em sua maioria, não têm qualquer
experiência de família, senão a da sua distante infância, e se limitam a fazer
referência a uma concepção da “família natural”, completamente fora da
história.
A
partir dessa experiência, que se pode imaginar como muito traumatizante, Lucetta
Scaraffia, historiadora e responsável pelo caderno mensal feminino do L'Osservatore
Romano, escreveu o livro Du dernier rang. Les femmes et l'Église [Do
último banco. As mulheres e a Igreja, Ed. Salvator]. Não é um panfleto
feminista nem uma tese teológica. Mas uma espécie de grito, o de uma mulher que
ama a Igreja, mas que não se acha muito bem nela.
Como
historiadora, é precisamente a ausência da história em certas afirmações dos
Padres sinodais que indignou Lucetta Scaraffia, acima de tudo. A visão da
família “natural”, “imutável” a “entristeceu” e “surpreendeu”: os prelados, escreve,
estão convencidos de que “sabem o que é a família”, e, para eles, “nada deve
mudar”. De fato, “foi precisamente por ter se afastado daquele modelo que se
levou a família à ruína”.
A
partir do seu banco de simples auditora no Sínodo, no fundo da sala, Lucetta
Scaraffia continua a sua reflexão. É precisamente porque não se leva em
conta a história e o modo em que o cristianismo se formou e evoluiu que se
chegou a este ponto da situação das mulheres, diz ela.
De
fato, basta considerar a história do cristianismo, particularmente em relação
às outras religiões, para reconhecer que, desde os primeiros tempos, as
mulheres souberam alimentar a reflexão e a ação da Igreja. Das abadessas da
Idade Média às religiosas fundadoras do século XIX, a mulheres-consciência-universal
como Edith Stein e Simone Veil, mas também mulheres mais
discretas, na primeira fila na Igreja da caridade.
A autora se recusa a assumir como único horizonte, para o papel das mulheres na Igreja, o acesso ao sacerdócio ministerial. Ao contrário, e certamente isto corre o risco de atrair as críticas de muitos ambientes, ela assume a diferença sexual proclamada pela Igreja. Assim como quer reabilitar, com uma leitura inovadora da Humanae vitae, o papel da procriação para a mulher. Contato que dar a vida também seja dar sentido, acrescenta. Isso pressupõe uma reabilitação do sacerdócio batismal, um sacerdócio aberto a todos os batizados, e o reconhecimento de que o feminino está no coração da Igreja.
Mas a diferença entre homens e mulheres deve ir além das palavras. A Igreja proclama continuamente o “gênio feminino”, ironiza Scaraffia, mas “parece conseguir abrir mão dele facilmente, permanecendo fechada em um mundo masculino curvado sobre si mesmo”.
Pior ainda, apesar de dispor na sua teologia dos recursos para avançar no caminho de uma igualdade diferenciada, a Igreja e os seus responsáveis se recusam a debater. Contentam-se em se concentrar nas teorias mais extremas do gênero, brandidas como contrapeso, para mais bem evitar uma verdadeira reflexão sobre o papel da mulher, da contracepção, da identidade sexual, especialmente nos países do Sul.
A autora se recusa a assumir como único horizonte, para o papel das mulheres na Igreja, o acesso ao sacerdócio ministerial. Ao contrário, e certamente isto corre o risco de atrair as críticas de muitos ambientes, ela assume a diferença sexual proclamada pela Igreja. Assim como quer reabilitar, com uma leitura inovadora da Humanae vitae, o papel da procriação para a mulher. Contato que dar a vida também seja dar sentido, acrescenta. Isso pressupõe uma reabilitação do sacerdócio batismal, um sacerdócio aberto a todos os batizados, e o reconhecimento de que o feminino está no coração da Igreja.
Mas a diferença entre homens e mulheres deve ir além das palavras. A Igreja proclama continuamente o “gênio feminino”, ironiza Scaraffia, mas “parece conseguir abrir mão dele facilmente, permanecendo fechada em um mundo masculino curvado sobre si mesmo”.
Pior ainda, apesar de dispor na sua teologia dos recursos para avançar no caminho de uma igualdade diferenciada, a Igreja e os seus responsáveis se recusam a debater. Contentam-se em se concentrar nas teorias mais extremas do gênero, brandidas como contrapeso, para mais bem evitar uma verdadeira reflexão sobre o papel da mulher, da contracepção, da identidade sexual, especialmente nos países do Sul.
“Por que a Igreja se limita a resistir à novidade e a defender o passado?”,
questiona-se ainda a historiadora. Hoje, observa ela tristemente, as mulheres
estão reduzidas ao silêncio no catolicismo. Estão ausentes dos lugares em que
se discute o futuro da Igreja. São mantidas à parte, em uma Igreja em que um
certo esquecimento do Espírito Santo e da pneumatologia desembocou na
instauração de uma estrutura patriarcal e masculina.
De fato, o que está em jogo vai muito além da relação que a instituição tem com as mulheres. Diz respeito à identidade e à vida de toda a Igreja e à fidelidade da Igreja a Cristo. Uma Igreja em que tamém as mulheres, um dia, deverão poder se sentar nos primeiros bancos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
De fato, o que está em jogo vai muito além da relação que a instituição tem com as mulheres. Diz respeito à identidade e à vida de toda a Igreja e à fidelidade da Igreja a Cristo. Uma Igreja em que tamém as mulheres, um dia, deverão poder se sentar nos primeiros bancos. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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