Frei
Carlos Mesters, Lopes e Orofino.
Nesta reflexão para o evangelho do
próximo domingo, Jesus nos fala da necessidade de perdoar o irmão, a irmã. Não
é fácil perdoar, pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas
que dizem: “Eu perdoo, mas não esqueço!” Rancor, tensões, brigas, opiniões
diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação.
1- Situando
1. Leremos a segunda parte do Sermão da
Comunidade e meditar sobre ela. Veremos os assuntos da correção fraterna
(18,15-18), da oração em comum (18,19-20), do perdão (18,21-22) e a parábola do
perdão sem limites (18,23-35).
2. A organização das palavras de Jesus
em cinco grandes Sermões mostra que, já no fim do primeiro século, as
comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade,
por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder caso algum conflito
surgisse entre os seus membros. Eram como cinco grandes setas no caminho que
apontavam o rumo da caminhada e ofereciam critérios concretos para solucionar
conflitos.
2- Comentando
1. Mateus 18,15-18: A correção fraterna e o
poder de perdoar
Jesus traz normas simples e concretas de
como proceder no caso de algum conflito na comunidade. Se um irmão ou uma irmã
pecar, isto é, se tiver um comportamento não de acordo com a vida da
comunidade, não se deve logo denunciá-los. Primeiro, procure conversar a sós.
Procure saber os motivos do outro. Se não der resultado, leve mais duas ou três
pessoas da comunidade, para ver se conseguem algum resultado. Só em caso
extremo, deve levar o problema para a comunidade toda. E se a pessoa não quiser
escutar a comunidade, que ela seja para você como um publicano ou pagão, isto
é, como alguém que já não faz parte da comunidade. Não é você que a está excluindo,
mas é a pessoa que se exclui a si mesma.
2.
Mateus 18,19: A oração em comum
Essa exclusão não significa que a pessoa
seja abandonada à sua própria sorte. Ela pode estar separada da comunidade, mas
não estará separada de Deus. Caso a conversa na comunidade não der resultado, e
a pessoa não quiser integrar-se na vida da comunidade, resta o último recurso
de rezar juntos ao Pai para conseguir a reconciliação. E Jesus garante que o
Pai vai atender.
3. Mateus 18,20: A presença de Jesus na
comunidade
O motivo da certeza de ser ouvido é a
promessa de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei
no meio deles!” Jesus diz que ele é o centro, o eixo, da comunidade e, como
tal, junto com a comunidade estará rezando ao Pai, para que conceda o dom do
retorno ao irmão ou à irmã que se excluiu.
4. Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!
Diante das palavras de Jesus sobre a
reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” Sete é
um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete é
sinônimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe. Ele elimina todo e qualquer
possível limite para o perdão: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes
sete!” Pois não há proporção entre o amor de Deus para conosco e o nosso amor
para com o irmão. Jesus conta uma parábola para esclarecer a sua resposta a
Pedro.
5. Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem
limite
Dívida de dez mil talentos é 164
toneladas de ouro. Dívida de cem denários é de 30 gramas de ouro. Não existe
meio de comparação entre os dois. Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos
fosse trabalhar a vida inteira, jamais seria capaz de juntar 164 toneladas de
ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164
toneladas de ouro, é nada mais que justo que nós perdoemos ao irmão a
dividazinha de 30 gramas de ouro. E atenção! O único limite para a gratuidade
da misericórdia de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão. (Mt 18,34;
6,15).
3.
Alargando
A comunidade como espaço alternativo de
solidariedade e fraternidade
A sociedade do Império Romano era dura e
sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o
coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam
um lugar para eles. Nas comunidades, o rigor de alguns na observância da Lei
levava para a convivência os mesmos critérios injustos da sociedade e da
sinagoga. Assim, nas comunidades começaram a aparecer as mesmas divisões que
existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão,
falar e calar, carisma e poder, homem e mulher, raça e religião. Em vez de a
comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação.
Juntando palavras de Jesus neste Sermão da Comunidade, Mateus quer iluminar a
caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades
sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade.
Fonte: http://www.cebi.org.br/
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