*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam.
Segundo
dia. Tema: A fundamental experiência da esperança
Acolhida
1. Criar um bom ambiente, dando
as boas-vindas e colocando as pessoas à vontade.
2. Canto inicial. Sugestão: “A Ti, meu Deus, elevo meu coração”. Durante
o canto são introduzidas a Bíblia e, em seguida, uma imagem de Santa Teresinha,
e colocadas sobre uma mesinha no meio de grupo.
3. O presidente ou coordenador da celebração apresenta brevemente o
assunto que vai ser refletido, meditado e rezado neste segundo dia da novena.
4. Os participantes invocam a luz do Espírito Santo.
A
esperança que nos faz caminhar
O ser humano, no seu viver
e conviver, é movido por desejos e projetos.
É um dinamismo que sempre está presente, não só de modo consciente, mas
também no plano inconsciente e pré-consciente. Já atua no ser humano ainda no
seio materno. Graças a ele abrem-se as
possibilidades da realização humana. Mas nem sempre os desejos encontram as
portas abertas. Diversos fatores levam também a portas fechadas. As
possibilidades de êxito não excluem de antemão os fracassos. A esperança conta
sempre com o desafio. Do contrário seria como um relógio que indica
inexoravelmente todas as horas até que se apresenta um desgaste do mecanismo ou
da pilha. O relógio não convive com esses defeitos. A esperança visa o “dar
certo” na vida, mas sabe dar sentido a eventuais fracassos. Até podemos dizer
que se alimenta dos fracassos, integrando-os na caminhada para o bom êxito. É
que o dinamismo da esperança humana carrega em si uma certeza prática,
justificada pela inteligência e pela
experiência da vida. Sem isto, facilmente se revela como ilusão. A experiência
nos ensina que muitas promessas neste mundo transformaram a vida de uma pessoa,
de uma família, ou mesmo da sociedade em pesadelo, desfazendo sonhos de
felicidade.
A esperança cristã é a
firme confiança de obter a felicidade prometida por Deus. Ela é uma das três
virtudes teologais: o próprio Deus é a sua origem seu motivo e seu objeto.
Fundada na fé, a esperança se apoia na certeza da promessa e da ajuda da graça
divina. A virtude da esperança responde ao desejo de felicidade que Deus
colocou no coração humano criado por Ele. Por isso, não rejeita as esperanças
que inspiram a caminhada do homem neste
mundo. A esperança assume as nossas atividades, purificando-as para que sejam
orientadas para a felicidade que só Deus pode dar. Como Deus é maior do que o
nosso coração, a esperança é a confiança de obter também tudo o que nos conduz
à felicidade divina: a graça e a perseverança até o fim.
A
Bíblia nos fala da esperança
1.
Introdução à leitura de alguns textos bíblicos
A fé, a esperança e a
caridade estão intimamente interligadas. Quando Deus, revelando-se em Jesus
Cristo, nos convida a crer nele, ele se
apresenta como quem merece confiança, suscitando em nós uma esperança. Esta
esperança não se baseia nos nossos méritos, mas no amor com que Deus nos ama. O
nosso amor a Deus faz crescer a fé e a esperança. E quanto maior for a nossa fé
e a nossa esperança no poder e na misericórdia de Deus, tanto mais recebe-se
dele.
2. Canto: “Eu confia em Nosso Senhor,
com fé esperança e amor”
3. Leitura do texto da Bíblia: Mt 5,
1-11.
4. Momento de silêncio.
5.
Perguntas para a reflexão:
•O que chamou mais a sua atenção nas
Bem-aventuranças proclamadas por Jesus? Por que?
•“Só Deus satisfaz”. Está de acordo com
estas palavras de Sto Tomás de Aquino?
Como conciliar essa afirmação com os nossos engajamentos, compromissos e
atividades terrestres?
Teresa:
uma “Teóloga” da esperança
O ser humano tem uma
tendência natural à sua melhor realização.
Neste sentido ele se define pelo desejo, pela esperança. A experiência
nos mostra que essa busca de felicidade descamba freqüentemente para um
egoísmo. Numa sociedade de consumo comandada pelo sistema econômico
neo-liberal, o individualismo encontra um terreno particularmente propício,
cuidadosamente regado pela mídia. Não
faltaram outras pessoas ou correntes que procuraram abranger sociedades
inteiras num vasto movimento de esperança inspirado por determinadas
ideologias, como o comunismo ou vários modelos de nacionalismo. Mas também
nestes casos os quadros da felicidade prometida acabaram despencando.
A França, na época em que
Teresa viveu, era caracterizada por um ateísmo e virulento anticlericalismo.,
especialmente entre as elites intelectuais. Como podia seu ingresso num
convento de clausura ser um gesto de esperança? Não era antes uma fuga, uma
evasão egoísta mascarada por pensamentos piedosos sobre a salvação dos
pecadores? Afinal, em que consistia a
esperança de Teresa de Lisieux? Que a justiça de Deus acertasse as contas com
os que não acreditavam nele? Sim, a
justiça de Deus estava na mira da Carmelita porque contempla e adora as suas
perfeições divinas através de sua
infinita misericórdia: “a própria justiça (talvez mais do que qualquer outra)
se me afigura revestida de amor”. Não é
na situação deplorável do mundo que ela fixa seu olhar: “meus desejos, minhas
esperanças, vão às raias do infinito”. A
esperança da Teresa é realmente teologal. vai ao seu verdadeiro ponto de apoio.
Ela não parte de uma espécie de pressuposição de que um número de criaturas
humanas sofrerá a condenação eterna, como determinadas interpretações
teológicas do mistério da predestinação apregoavam. Este fatalismo não aparece
no vocabulário de Teresa, permeado pela certeza da gratuidade da infinita
misericórdia divina. Para a sua ousadia temerária não há como não apostar nesta
última.
Aqui aparece, talvez, um
traço característico da visão feminina do mistério de Deus à qual, durante
séculos, foi vedado o acesso ao pensamento teológico elaborado pelos homens.
Não é isto que ela deixa entrever quando constata que Deus é pouco amado na terra
...mesmo pelos padres e religiosos?
Teresa desejou ser identificada ao Amor. O amor não seria amor se não
fosse uma sede de expansão, de doação.
Por isto a esperança alarga seus horizontes à medida que nos animam os
sentimentos de Cristo (cf. Fl 2,5): “Cristo que morreu por nós quando éramos
ainda pecadores”(Rm 5,8). Já na sua adolescência Teresa, apelando à
misericórdia de Deus revelada na Paixão e Cruz de Jesus, se empenhara na
conversão de Pranzini, cujo processo de condenação pela justiça francesa havia
acompanhado através da imprensa. Foi “meu primeiro filho”, como ela comentaria mais tarde. Sempre serviço da misericórdia
divina, ela adotará outros pecadores. E quando, na Festa da Santíssima
Trindade, em 1896, se oferece a Deus como vítima do seu amor misericordioso,
ela faz um ato de esperança cega. Ela a justifica dirigindo-se a Deus: “Ó luminoso farol do amor, sei como achegar-me até a ti,
descobri o segredo de apossar-me de tua chama”. Familiarizada com as cartas de Paulo
apóstolo, Teresa escreve: “Não deixava de esperar contra toda esperança”. Certamente, ao citar estas palavras, não
previa o alcance delas quando sua esperança, durante a prolongada provação da
fé, vai estender-se a todos os pecadores. Nesta longa noite Teresa mergulha na
experiência da escuridão daqueles que não acreditam no Céu. Privada
da alegria que lhe era proporcionada pela esperança da proximidade do
Céu, ela compartilhava a condição dos pecadores, unia-se a eles. Mesmo assim
recebe esta provação como um dom pelo qual Cristo a associa à obra da redenção
e à esperança da sua fecundidade: “Senhor, vossa filha compreendeu vossa luz divina. Pede-vos perdão
em lugar de seus irmãos. Pelo tempo que quiserdes, aceita comer o pão da dor, e
da mesa coberta de amargura, onde comem os pobres pecadores, não quer
levantar-se antes do dia que determinardes”.
Teresa se compara aqui a uma criança na
estação ferroviária, esperando seus pais que devem acomodá-la dentro de trem.
Mas eles não chegam, e o trem parte! E ela acrescenta: “mas haverá outros
trens, não perderei todos...”. Teresa
não perdeu a esperança. Contudo, esta esperança ficou como que desativada. Ela
doou a sua força para outros, para os inúmeros outros. Ela se lançou no insondável
mistério do Amor de Deus para amar com esse Amor o mundo.
Cantar
a nossa esperança
1.
Canto: “Segura na mão de Deus”.
2. A esperança é a força que nos faz
caminhar. Pois, como diz S. Paulo, “é na esperança que fomos salvos. Ora,
aquilo que se tem diante dos olhos não é objeto de esperança: como pode alguém
esperar o que está vendo? “(Rm 8, 24). Mas
a esperança não é simplesmente desejar uma coisa a receber mais tarde,
enquanto ficamos aguardando de braços cruzados.. A esperança já vai mudando a
pessoa nas suas atitudes por dentro e por fora. Teresa o diz da seguinte
maneira: “Sejais vós mesmo, meu Deus, minha santidade”. A esperança faz desejar
Deus como fim para o qual caminhamos, mas também como motivo em que nos
apoiamos para chegar a esse destino. A esperança dá a Deus a primazia no
processo da transformação nossa, como pessoas individuais e como comunidade.
Primazia de Deus que faz pensar no papel da pobreza evangélica na nossa vida.
Teresa de Lisieux viveu as Bem-aventuranças.
3. Em forma de prece agradeçamos a
esperança que Santa Teresinha viveu, envolvendo a nós todos, e pedir, por
intercessão dela, que Deus seja sempre mais o nosso único ponto de referência
da nossa esperança.
4. Rezar um salmo. Sugestão: Salmo 27:
“Deus é minha luz e salvação”.
5. Rezar o Pai Nosso.
6. Oração:
Ó Deus, que preparais o vosso Reino para
os pequenos e humildes, dai-nos seguir confiantes o caminho de santa Teresinha,
para que, por sua intercessão, nos seja revelado a vossa glória. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm- Eremita
Carmelita- foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o
Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de
Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O
acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de
Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde
ele foi o primeiro Bispo
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