Na quinta-feira, 24 de setembro, o Papa
Francisco proferiu seu discurso ao Congresso Americano, em Washington.
Eis
o discurso.
Senhor Vice-Presidente,
Senhor Presidente da Câmara dos
Representantes,
Distintos Membros do Congresso,
Queridos Amigos!
Sinto-me muito grato pelo convite para
falar a esta Assembleia Plenária do Congresso «na terra dos livres e casa dos
valorosos». Apraz-me pensar que o motivo para isso tenha sido o facto de também
eu ser um filho deste grande continente, do qual muito recebemos todos nós e
relativamente ao qual partilhamos uma responsabilidade comum.
Cada filho ou filha duma determinada
nação tem uma missão, uma responsabilidade pessoal e social. A vossa
responsabilidade própria de membros do Congresso é fazer com que este país,
através da vossa actividade legislativa, cresça como nação. Vós sois o rosto
deste povo, os seus representantes. Sois chamados a salvaguardar e garantir a
dignidade dos vossos concidadãos na busca incansável e exigente do bem comum,
que é o fim de toda a política.
Uma sociedade política dura no tempo
quando, como uma vocação, se esforça por satisfazer as carências comuns,
estimulando o crescimento de todos os seus membros, especialmente aqueles que
estão em situação de maior vulnerabilidade ou risco. A atividade legislativa
baseia-se sempre no cuidado das pessoas. Para isso fostes convidados, chamados
e convocados por aqueles que vos elegeram.
O vosso trabalho lembra-me, sob dois
aspectos, a figura de Moisés. Por um lado, o patriarca e legislador do povo de
Israel simboliza a necessidade que têm os povos de manter vivo o seu sentido de
unidade com os instrumentos duma legislação justa. Por outro, a figura de
Moisés leva-nos directamente a Deus e, por consequência, à dignidade
transcendente do ser humano. Moisés oferece-nos uma boa síntese do vosso
trabalho: a vós, pede-se para proteger, com os instrumentos da lei, a imagem e
semelhança moldadas por Deus em cada rosto humano.
Nesta perspectiva, hoje quereria
dirigir-me não só a vós mas, através de vós, a todo o povo dos Estados Unidos.
Aqui, juntamente com os seus representantes, quereria aproveitar esta
oportunidade para dialogar com tantos milhares de homens e mulheres que se
esforçam diariamente por cumprir uma honesta jornada de trabalho, por trazer
para casa o pão de cada dia, por poupar qualquer dólar e – passo a passo –
construir uma vida melhor para as suas famílias. São homens e mulheres que não
se preocupam apenas com pagar os impostos, mas – na forma discreta que os
caracteriza – sustentam a vida da sociedade. Geram solidariedade com as suas
actividades e criam organizações que ajudam quem tem mais necessidade.
Quereria também entrar em diálogo com as
numerosas pessoas idosas que são um depósito de sabedoria forjada pela
experiência e que procuram de muito modos, especialmente através do
voluntariado, partilhar as suas histórias e experiências. Sei que muitas delas
estão aposentadas, mas ainda activas e continuam a empenhar-se na construção
deste país. Desejo também dialogar com todos os jovens que lutam por realizar
as suas grandes e nobres aspirações, que não se deixam extraviar por propostas
superficiais e que enfrentam situações difíceis, tantas vezes resultantes da
imaturidade de muitos adultos. Quereria dialogar com todos vós, e desejo
fazê-lo através da memória histórica do vosso povo.
A minha visita tem lugar num momento em
que homens e mulheres de boa vontade estão a celebrar o aniversário de alguns
americanos famosos. Apesar da complexidade da história e da realidade da
fraqueza humana, estes homens e mulheres foram capazes, com todas as suas
diferenças e limitações, de construir um futuro melhor com trabalho duro e
sacrifício pessoal – alguns à custa da própria vida. Deram forma a valores
fundamentais, que permanecerão para sempre no espírito do povo americano. Um
povo com este espírito pode atravessar muitas crises, tensões e conflitos, já
que sempre conseguirá encontrar a força para ir avante e fazê-lo com dignidade.
Estes homens e mulheres dão-nos uma possibilidade de ver e interpretar a
realidade. Ao honrar a sua memória, somos estimulados, mesmo no meio de
conflitos, na vida concreta de cada dia, a haurir das nossas mais profundas
reservas culturais.
Quereria mencionar quatro destes
americanos: Abraham Lincoln, Martin Luther King, Dorothy Day e Thomas Merton.
Este ano completam-se cento e cinquenta
anos do assassinato do Presidente Abraham Lincoln, o guardião da liberdade, que
trabalhou incansavelmente para que «esta nação, com a protecção de Deus,
pudesse ter um renascimento de liberdade». Construir um futuro de liberdade
requer amor pelo bem comum e colaboração num espírito de subsidiariedade e
solidariedade.
Todos estamos plenamente cientes e
também profundamente preocupados com a situação social e política inquietante
do mundo actual. O nosso mundo torna-se cada vez mais um lugar de conflitos
violentos, ódios e atrocidade brutais, cometidos até mesmo em nome de Deus e da
religião. Sabemos que nenhuma religião está imune de formas de engano
individual ou de extremismo ideológico. Isto significa que devemos prestar
especial atenção a qualquer forma de fundamentalismo, tanto religioso como de
qualquer outro género. É necessário um delicado equilíbrio para se combater a
violência perpetrada em nome duma religião, duma ideologia ou dum sistema
económico, enquanto, ao mesmo tempo, se salvaguarda a liberdade religiosa, a
liberdade intelectual e as liberdades individuais. Mas há outra tentação de que
devemos acautelar-nos: o reducionismo simplista que só vê bem ou mal, ou, se
quiserdes, justos e pecadores. O mundo contemporâneo, com as suas feridas
abertas que tocam muitos dos nossos irmãos e irmãs, exige que enfrentemos toda
a forma de polarização que o possa dividir entre estes dois campos. Sabemos
que, na ânsia de nos libertar do inimigo externo, podemos ser tentados a
alimentar o inimigo interno. Imitar o ódio e a violência dos tiranos e dos
assassinos é o modo melhor para ocupar o seu lugar. Isto é algo que vós, como
povo, rejeitais.
Pelo contrário, a nossa resposta deve
ser uma resposta de esperança e cura, de paz e justiça. É-nos pedido para
fazermos apelo à coragem e à inteligência, a fim de se resolverem as muitas
crises económicas e geopolíticas de hoje. Até mesmo num mundo desenvolvido
aparecem demasiado evidentes os efeitos de estruturas e ações injustas. Os
nossos esforços devem concentrar-se em restaurar a paz, remediar os erros,
manter os compromissos, e assim promover o bem-estar dos indivíduos e dos
povos. Devemos avançar juntos, como um só, num renovado espírito de
fraternidade e solidariedade, colaborando generosamente para o bem comum.
Os desafios, que hoje enfrentamos,
requerem uma renovação deste espírito de colaboração, que produziu tantas
coisas boas na história dos Estados Unidos. A complexidade, a gravidade e a
urgência destes desafios exigem que ponhamos a render os nossos recursos e
talentos e nos decidamos a apoiar-nos mutuamente, respeitando as diferenças e
convicções de consciência.
Nesta terra, as várias denominações
religiosas deram uma grande ajuda na construção e fortalecimento da sociedade.
É importante que hoje, como no passado, a voz da fé continue a ser ouvida,
porque é uma voz de fraternidade e de amor que procura fazer surgir o melhor em
cada pessoa e em cada sociedade. Esta cooperação é um poderoso recurso na luta
por eliminar as novas formas globais de escravidão, nascidas de graves
injustiças que só podem ser superadas com novas políticas e novas formas de
consenso social.
Penso aqui na história política dos
Estados Unidos, onde a democracia está profundamente radicada no espírito do
povo americano. Qualquer actividade política deve servir e promover o bem da
pessoa humana e estar baseada no respeito pela dignidade de cada um.
«Consideramos evidentes, por si mesmas, estas verdades: que todos os homens são
criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis,
que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade»
(Declaração de Independência, 4 de Julho de 1776). Se a política deve estar
verdadeiramente ao serviço da pessoa humana, segue-se que não pode estar submetida
à economia e às finanças. É que a política é expressão da nossa insuprível
necessidade de vivermos juntos em unidade, para podermos construir unidos o bem
comum maior: uma comunidade que sacrifique os interesses particulares para
poder partilhar, na justiça e na paz, os seus benefícios, os seus interesses, a
sua vida social. Não subestimo as dificuldades que isto implica, mas
encorajo-vos neste esforço.
Penso também na marcha que Martin Luther
King guiou de Selma a Montgomery, há cinquenta anos, como parte da campanha
para conseguir o seu «sonho» de plenos direitos civis e políticos para os
afro-americanos. Aquele sonho continua a inspirar-nos. Alegro-me por a América
continuar a ser, para muitos, uma terra de «sonhos»: sonhos que levam à acção,
à participação, ao compromisso; sonhos que despertam o que há de mais profundo
e verdadeiro na vida das pessoas. Nos últimos séculos, milhões de pessoas
chegaram a esta terra perseguindo o sonho de construírem um futuro em
liberdade. Nós, pessoas deste continente, não temos medo dos estrangeiros,
porque outrora muitos de nós éramos estrangeiros. Digo-vos isto como filho de
imigrantes, sabendo que também muitos de vós sois descendentes de imigrantes.
Tragicamente, os direitos daqueles que estavam aqui, muito antes de nós, nem
sempre foram respeitados. Por aqueles povos e as suas nações, desejo, a partir
do coração da democracia americana, reafirmar a minha mais alta estima e
consideração. Aqueles primeiros contactos foram muitas vezes tumultuosos e
violentos, mas é difícil julgar o passado com os critérios do presente.
Todavia, quando o estrangeiro no nosso meio nos interpela, não devemos repetir
os pecados e os erros do passado. Devemos decidir viver agora o mais nobre e
justamente possível e, de igual modo, formar as novas gerações para não virarem
as costas ao seu «próximo» e a tudo aquilo que nos rodeia. Construir uma nação
pede-nos para reconhecer que devemos constantemente relacionar-nos com os
outros, rejeitando uma mentalidade de hostilidade para se adoptar uma
subsidiariedade recíproca, num esforço constante de contribuir com o melhor de
nós. Tenho confiança que o conseguiremos.
O nosso mundo está a enfrentar uma crise
de refugiados de tais proporções que não se via desde os tempos da II Guerra
Mundial. Esta realidade coloca-nos diante de grandes desafios e decisões
difíceis. Também neste continente, milhares de pessoas sentem-se impelidas a
viajar para o Norte à procura de melhores oportunidades. Porventura não é o que
queríamos para os nossos filhos? Não devemos deixar-nos assustar pelo seu
número, mas antes olhá-los como pessoas, fixando os seus rostos e ouvindo as
suas histórias, procurando responder o melhor que pudermos às suas situações.
Uma resposta que seja sempre humana, justa e fraterna. Devemos evitar uma
tentação hoje comum: descartar quem quer que se demonstre problemático.
Lembremo-nos da regra de ouro: «O que quiserdes que vos façam os homens,
fazei-o também a eles» (Mt 7, 12).
Esta norma aponta-nos uma direcção
clara. Tratemos os outros com a mesma paixão e compaixão com que desejamos ser
tratados. Procuremos para os outros as mesmas possibilidades que buscamos para
nós mesmos. Ajudemos os outros a crescer, como quereríamos ser ajudados nós
mesmos. Em suma, se queremos segurança, demos segurança; se queremos vida,
demos vida; se queremos oportunidades, providenciemos oportunidades. A medida
que usarmos para os outros será a medida que o tempo usará para connosco. A
regra de ouro põe-nos diante também da nossa responsabilidade de proteger e defender
a vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento.
Esta convicção levou-me, desde o início
do meu ministério, a sustentar a vários níveis a abolição global da pena de
morte. Estou convencido de que esta seja a melhor via, já que cada vida é sagrada,
cada pessoa humana está dotada duma dignidade inalienável, e a sociedade só
pode beneficiar da reabilitação daqueles que são condenados por crimes.
Recentemente, os meus irmãos bispos aqui
nos Estados Unidos renovaram o seu apelo pela abolição da pena de morte. Não só
os apoio, mas encorajo também todos aqueles que estão convencidos de que uma
punição justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o
objectivo da reabilitação.
Nestes tempos em que as preocupações
sociais são tão importantes, não posso deixar de mencionar a Serva de Deus
Dorothy Day, que fundou o Catholic Worker Movement. O seu compromisso social, a
sua paixão pela justiça e pela causa dos oprimidos estavam inspirados pelo
Evangelho, pela sua fé e o exemplo dos Santos.
Quanto estrada percorrida neste campo em
tantas partes do mundo! Quanto se fez nestes primeiros anos do terceiro milénio
para fazer sair as pessoas da pobreza extrema! Sei que partilhais a minha
convicção de que se tem de fazer ainda muito mais e de que, em tempos de crise
e dificuldade económica, não se deve perder o espírito de solidariedade global.
Ao mesmo tempo, desejo encorajar-vos a não esquecer todas as pessoas à nossa
volta encastradas nas espirais da pobreza. Há necessidade de dar esperança também
a elas. A luta contra a pobreza e a fome deve ser travada com constância nas
suas múltiplas frentes, especialmente nas suas causas. Sei que hoje, como no
passado, muitos americanos estão a trabalhar para enfrentar este problema.
Naturalmente uma grande parte deste
esforço situa-se na criação e distribuição de riqueza. A utilização correcta
dos recursos naturais, a aplicação apropriada da tecnologia e a capacidade de
orientar devidamente o espírito empresarial são elementos essenciais duma
economia que procura ser moderna, inclusiva e sustentável. «A actividade
empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar
o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região
onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de
postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum» (Enc.
Laudato si’, 129). Este bem comum inclui também a terra, tema central da
Encíclica que escrevi, recentemente, para «entrar em diálogo com todos acerca
da nossa casa comum» (ibid., 3). «Precisamos de um debate que nos una a todos,
porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem
respeito e têm impacto sobre todos nós» (ibid., 14).
Na encíclica Laudato si’, exorto a um
esforço corajoso e responsável para «mudar de rumo» (ibid., 61) e evitar os
efeitos mais sérios da degradação ambiental causada pela actividade humana.
Estou convencido de que podemos fazer a diferença e não tenho dúvida alguma de
que os Estados Unidos – e este Congresso – têm um papel importante a
desempenhar. Agora é o momento de empreender acções corajosas e estratégias
tendentes a implementar uma «cultura do cuidado» (ibid., 231) e «uma abordagem
integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e,
simultaneamente, cuidar da natureza» (ibid., 139). Temos a liberdade necessária
para limitar e orientar a tecnologia (cf. ibid., 112), para individuar modos
inteligentes de «orientar, cultivar e limitar o nosso poder» (ibid., 78) e
colocar a tecnologia «ao serviço doutro tipo de progresso, mais saudável, mais
humano, mais social, mais integral» (ibid., 112). A este respeito, confio que
as instituições americanas de investigação e académicas poderão dar um
contributo vital nos próximos anos.
Um século atrás, no início da I Grande
Guerra que o Papa Bento XV definiu «massacre inútil», nascia outro americano
extraordinário: o monge cisterciense Thomas Merton. Ele continua a ser uma
fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas. Na sua autobiografia,
deixou escrito: «Vim ao mundo livre por natureza, imagem de Deus; mas eu era
prisioneiro da minha própria violência e do meu egoísmo, à imagem do mundo onde
nascera. Aquele mundo era o retrato do Inferno, cheio de homens como eu, que
amam a Deus e contudo odeiam-No; nascidos para O amar, mas vivem no medo de
desejos desesperados e contraditórios». Merton era, acima de tudo, homem de
oração, um pensador que desafiou as certezas do seu tempo e abriu novos
horizontes para as almas e para a Igreja. Foi também homem de diálogo, um
promotor de paz entre povos e religiões.
Nesta perspectiva de diálogo, gostaria
de saudar os esforços que se fizeram nos últimos meses para procurar superar as
diferenças históricas ligadas a episódios dolorosos do passado. É meu dever
construir pontes e ajudar, por todos os modos possíveis, cada homem e cada
mulher a fazerem o mesmo. Quando nações que estiveram em desavença retomam o
caminho do diálogo – um diálogo que poderá ter sido interrompido pelas mais
válidas razões –, abrem-se novas oportunidades para todos. Isto exigiu, e
exige, coragem e audácia, o que não significa irresponsabilidade. Um bom líder
político é aquele que, tendo em conta os interesses de todos, lê o momento
presente com espírito de abertura e sentido prático. Um bom líder político não
cessa de optar mais por «iniciar processos do que possuir espaços» (Exort. ap.
Evangelii gaudium, 222-223).
Estar ao serviço do diálogo e da paz
significa também estar verdadeiramente determinado a reduzir e, a longo prazo,
pôr termo a tantos conflitos armados em todo o mundo. Aqui devemos
interrogar-nos: Por que motivo se vendem armas letais àqueles que têm em mente
infligir sofrimentos inexprimíveis a indivíduos e sociedade? Infelizmente a
resposta, como todos sabemos, é apenas esta: por dinheiro; dinheiro que está
impregnado de sangue, e muitas vezes sangue inocente. Perante este silêncio
vergonhoso e culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio de
armas.
Três filhos e uma filha desta terra,
quatro indivíduos e quatro sonhos: Lincoln, a liberdade; Martin Luther King, a
liberdade na pluralidade e não-exclusão; Dorothy Day, a justiça social e os
direitos das pessoas; e Thomas Merton, capacidade de diálogo e abertura a Deus.
Quatro
representantes do povo americano.
Concluirei a minha visita ao vosso país
em Filadélfia, onde participarei no Encontro Mundial das Famílias. É meu desejo
que, durante toda a minha visita, a família seja um tema recorrente. Como foi
essencial a família na construção deste país! E como merece ainda o nosso apoio
e encorajamento! E todavia não posso esconder a minha preocupação pela família,
que está ameaçada, talvez como nunca antes, de dentro e de fora. As relações
fundamentais foram postas em discussão, bem como o próprio fundamento do
matrimônio e da família. Posso apenas repropor a importância e sobretudo a
riqueza e a beleza da vida familiar.
Em particular quereria chamar a atenção
para os membros da família que são os mais vulneráveis: os jovens. Para muitos
deles anuncia-se um futuro cheio de tantas possibilidades, mas muitos outros
parecem desorientados e sem uma meta, encastrados num labirinto sem esperança,
marcado por violências, abusos e desespero. Os seus problemas são os nossos
problemas. Não podemos evitá-los.
É necessário enfrentá-los juntos, falar
deles e procurar soluções eficazes em vez de ficar empantanados nas discussões.
Correndo o risco de simplificar, poderemos dizer que vivemos numa cultura que
impele os jovens a não formarem uma família, porque lhes faltam possibilidades
para o futuro. Mas esta mesma cultura apresenta a outros tantas opções que
também eles são dissuadidos de formar uma família.
Uma nação pode ser considerada grande,
quando defende a liberdade, como fez Lincoln; quando promove uma cultura que
permita às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos e
irmãs, como procurou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela
causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto
duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas
Merton.
Nestas notas, procurei apresentar
algumas das riquezas do vosso património cultural, do espírito do povo
americano. Faço votos de que este espírito continue a desenvolver-se e a
crescer de tal modo que o maior número possível de jovens possa herdar e
habitar numa terra que inspirou tantas pessoas a sonhar.
Deus abençoe a América!
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário