O padre Wilson Luís Ramos, transferido
da paróquia matriz de Adamantina (a 578 km de São Paulo) após ter sido vítima
de racismo por parte dos fiéis, está morando de favor na casa de outro padre da
cidade e sua mãe está hospedada na residência de um morador da região.
"Ela acabou de deixar as roupas na minha casa. Eles não tinham para onde
ir", afirma o homem que está hospedando a mãe do padre Wilson, e prefere
não ser identificado.
A casa paroquial em Adamantina, onde o
religioso estava, teve de ser esvaziada nesta terça-feira (9), mas a futura
residência do pároco, na cidade de Dracena (a 634 km de São Paulo), ainda está
ocupada. O padre da região, que ainda mora no local, não teria recebido o mesmo
prazo para a transferência.
A reportagem tenta contato com o bispo
desde a semana passada, inclusive para saber o porquê da saída do padre da casa
paroquial antes que seu local de destino fosse liberado, mas ele não atendeu.
Padre Wilson teve que deixar a casa
paroquial em Adamantina após manifestantes terem invadido uma missa de crisma
na igreja Santo Antônio de Pádua, no último domingo (8), para protestar contra
o bispo dom Luiz Antonio Cipolini, responsável pela mudança dele. O novo
responsável pela igreja matriz de Adamantina será o padre Rui Rodrigues da
Silva, que deve chegar apenas no próximo dia 14 à cidade. Padre Wilson, porém,
teve que deixar a casa paroquial agora, apesar de ele e a mãe só poderem seguir
para a casa paroquial do Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Dracena, em 28
de dezembro.
PROTESTO
Na missa deste domingo (9), mais de 300
pessoas seguravam faixas contra a transferência do padre Wilson, o primeiro
pároco negro a ser nomeado para a igreja matriz de Adamantina, há dois anos. Os
manifestantes ainda vestiam preto e usavam nariz de palhaço enquanto gritavam a
frase que virou campanha na cidade: "Fica, Padre Wilson". O alvo era
o bispo Cipolini, que celebrava a cerimônia de Crisma de alguns jovens. A cerimônia
foi interrompida pelo menos três vezes por causa de apitos e gritos que pediam
a permanência do padre Wilson e menosprezavam a presença do bispo. Por muitas
vezes o padre tentou acalmar os ânimos dos jovens que protestavam pedindo calma
e respeito ao bispo, mas só era atendido depois de alguns minutos. Pessoas
sentadas nos bancos da igreja, que estava lotada, ficaram de costas para o
altar em um sinal de desprezo. Muitas pessoas que não faziam parte da
manifestação começaram também a aplaudir e apoiar o protesto, mas depois a
opinião se dividiu. "Não concordo com esse tipo de agressão. Eles estão na
igreja, precisam respeitar", disse Rita Araújo, que estava na missa. Até
mesmo o padre Wilson disse a jornais da região que achou o ato "exagerado".
Durante a missa, Cipolini pegou o
microfone e disse ter ficado "triste" por ver moedas jogadas em cima
do altar e nos locais onde ficavam as hóstias. Como resposta, recebeu ainda
mais gritos dos fieis. No final da missa, um grupo impediu a saída do bispo,
que teve os pneus do carro furado. O padre Wilson ainda tentou sair e pedir
ajuda aos manifestantes. "Deixem o bispo sair, por favor". Mas, mais
uma vez, não foi atendido pelos manifestantes. Policiais militares entraram na
igreja e um sargento foi obrigado a levar o religioso em uma viatura da PM para
Marília, onde fica a diocese da região, por volta das 23h -quase 2 h depois do
término da cerimônia. No sábado (8) um outro protesto ocorreu com mais de mil
pessoas segurando faixas e caminhando pela cidade contra a decisão do bispo.
Em entrevista, Ramos disse que não
concorda com a posição do bispo, mas respeita. "Não é o que eu desejo,
gostaria de mais diálogo e uma conciliação".
CASO
Primeiro negro à frente da igreja matriz
do município, o padre conta que, desde que assumiu a função, há quase dois
anos, precisa lidar com o preconceito de uma parte dos fiéis de Adamantina.
"Um dia ouvi uma mulher dizer que deveriam tirar o galo de bronze [que
fica em cima da igreja] e colocar um urubu", afirma. Queixas de alguns fiéis
que defendem a saída do padre –que incluem "atraso para terminar a missa
-foram levadas ao bispo da Diocese de Marília, dom Luiz Antonio Cipolini. Após
consultas populares, ele decidiu transferir o padre em razão da
"divisão" da comunidade sobre o caso.
Fonte:
http://www.bemparana.com.br
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