ORDEM TERCEIRA DE DIAMANTINA/MG.
Encontro
sobre a Espiritualidade Carmelitana.
Dia 07 de setembro
-2014.
Com Frei
Petrônio de Miranda, O.Carm
(E-mail do
Frei: missaodomgabriel@bol.com.br)
Tema: A
Noite Escura de São João da Cruz.
São João da Cruz (1540-1591), filho
de Elias, pela vida e pelos escritos mostrou conhecer noites escuras
pontilhadas de estrelas ou de trevas sem luz. E ensina a caminhar.
A Noite Escura "é o fim do
narcisismo e da abstração, é disponibilidade para o encontro com o outro e com
os outros. É a constante adaptação do homem a Deus. Não é um breve período de
crises, mas uma situação permanente, porque nunca nós acabamos de nos
adaptarmos à lógica divina, ao amor de Deus. Atitude crítica para consigo mesmo
e perante a realidade; discernimento frente à história e dentro da história;
uma consciência da relatividade das metas alcançadas, concedendo espaço para a
novidade do Espírito. A noite é consequência do amor, é escola de amor. É o
meio pelo qual se consegue uma nova consciência: tornamo-nos mais livres para Subir a Montanha sem que Nada
se interponha (1S,13)".
Elemento essencial da Noite em São João da Cruz é
a ação de protagonista do Espírito Santo: esta ação ilumina motivações
profundas, estruturas interiores escondidas. É uma verdadeira desintegração
criadora, uma autêntica descida aos infernos, que das bases arranca as
pilastras.
Não causa surpresa, portanto, que São João da Cruz fale
de morte viva, de situação horrível. E, de mais a mais, é uma fase necessária e
obrigatória; assim ele fala no início da Subida: "geralmente deve a
alma passar primeiro pelo meio de dois principais aspectos de trevas... ou
noite" (1S 1,1). Não é paralisia, abandono, abatimento, inércia. A alma
passa pelo meio da noite, e a noite, pelo meio da alma. Se assim é, então no
centro de tudo não está primariamente à atividade da pessoa, mas o processo de
reação teologal frente ao agir de Deus; para alcançar "um mais íntimo
saber".
Tende-se hoje a aplicar o processo
da Noite a situações de sofrimento e desespero das pessoas em
particular, mas também de grupos e da própria sociedade. Segundo o Papa João
Paulo II, hoje santo, o "O Doutor Místico exige hoje a atenção de muitos
crentes e não crentes para a descrição que ele mesmo faz da noite escura como
experiência tipicamente humana e cristã. A nossa época viveu momentos
dramáticos, nos quais o silêncio ou ausência de Deus, a experiência de
calamidades e sofrimentos, como guerras ou o próprio holocausto de tantos seres
inocentes, fizeram compreender melhor esta expressão, dando-lhe, além disto, um
caráter de experiência coletiva aplicada
à própria realidade da vida e não somente a uma fase do caminho do espírito. A
doutrina do Santo é invocada hoje diante deste mistério insondável da dor
humana (...). A esta experiência, deu João da Cruz o nome simbólico e evocador
de noite escura, com uma referência explícita à luz e obscuridade do mistério
da fé".
Com naturalidade se fala de noite
escura quando se recorda a tragédia dos campos nazistas, onde havia
desaparecido todo senso de dignidade e compaixão humana, enquanto milhões de
pessoas se encontravam como num túnel escuro, num caos de sofrimentos e trevas.
História horrenda sepultada nas entranhas da memória coletiva e que até hoje
inquieta a todos nós. Usou-se a metáfora Noite Escura, ao se falar da
oposição dos intelectuais americanos à guerra do Vietnã; podemos falar da noite
escura para expressar à realidade dos moradores de rua das grandes metrópoles,
dos jovens drogados e dos milhares de seres humanos a margem da sociedade do
consumo e da produtividade excessiva.
A Noite Escura de
Elias
O Profeta Elias, feliz na tranquilidade de Carit ou no
aconchego da casa pobre da mulher de Sarepta e seu filhinho, é despertado pela
tristeza da morte de um menino: é escuridão. "Javé, meu Deus, matando o
filho dela, o Senhor quer afligir até mesmo esta viúva que me deu
hospedagem?" (1Rs 17,20).
"Responda-me, Senhor! Responda-me!" (1Rs 18,37). "Javé,
agora já é demais! Pode tirar a minha vida, pois não sou melhor do que os meus
pais!" (1Rs 19,4). Comeu e bebeu e tornou a prostrar-se (1Rs 19,6). Depois
quarenta dias e quarenta noites a caminho, sem comer nem beber (1Rs 19,8).
"Estou só e querem tirar-me a vida!" (1Rs 19,10.14). Javé não estava
não, nem no furacão desmantelador de montes e rachador de rochedos. Javé não
estava nos tremores de terra, não (1Rs 19,11). Javé não estava no furor do fogo
e dos raios, também não. Estava sim numa brisa calma, que cobriu Elias com o
manto e com força o trouxe fora das cavernas (Rs 19,12-13). Um carro de fogo e
cavalos de fogo arrancaram Elias de junto de Eliseu, e num redemoinho de fogo
lá se foi Elias para o céu. Noites e luzes. Procurado por três dias (2Rs
2,11.17)[1]
Noite Escura de
Maria
Virgem feliz em casa de Joaquim e Ana, mas é preciso
dizer sim à vontade de Javé: "Eis-me aqui! Eu sou a escrava do Senhor.
Aconteça em mim tudo segundo a tua palavra" (°1,38).
É preciso deixar pai e mãe e Nazaré, com muita coisa
preparada para o nascimento e seguir José até Belém. Na hospedaria não há lugar
e o Menino não vai esperar mais: Ela mesma tem de envolvê-Lo em faixas e
acomodá-Lo dentro da manjedoura (°2,5.6.7). O boi e burro tenham paciência, e as mansas
ovelhinhas... É preciso que o velho Simeão venha com aquela profecia? Para
rebaixamento e soerguimento? Alvo diante da contradição? Uma espada que
transpassa a alma? O velho estava vendo a Virgem-Mãe de pé junto à Cruz?
(2,34-35)...
Noite Escura de Jesus
Menino unido com a Mãe que faz parte e participa da Noite
Escura da Mãe nos mistérios da sua infância. Cresce e, conduzido pelo Espírito,
caminha pelo deserto de Elias. Tem fome e é tentado pelo chato do diabo, que se
cansa e o deixa em paz.
Em Jerusalém causa-Lhe lágrimas e
tristeza, e sentida elegia e lamentação. Amor traído faz sofrer. Jesus chorou.
Quis ser como a galinhazinha de Nazaré, que com carinho sempre juntava a
ninhada debaixo das asas, mas Jerusalém não quis...
No meio da Escuridão é preciso falar
com os amigos sobre a beleza da Luz e das alegrias do Reino: "o meu Corpo
é dado em sacrifício por vós", "o meu Sangue é derramado por
vós": "no meu Reino haveis de comer e beber à minha mesa"
(22,19-20.30). Esperança: consolo e esperança somente...
PARA MEDITAÇÃO. Texto Bíblico. (1º Reis, 19,
1-9)
1º- Como a Espiritualidade Carmelitana,
vivenciada pelos mártires e santos carmelitas; Simão Stock, Tito Brandsma,
Edith Stein, Isidoro Bakanja, João da Cruz, Santa Teresinha... Ajuda-me a
superar as noites escuras diárias?
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