Dom
Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Na medida em que se entra na reta final
para as eleições 2014, a propaganda avança e as pesquisas impactam. O cidadão
se vê numa encruzilhada eleitoral. Um enorme desafio à cidadania. Não basta
apenas escolher um nome. O alcance da responsabilidade e das consequências do
voto não permitem atitude simplória, sob pena do alto custo de decisões
inadequadas sobre o executivo e a representatividade. Uma gama enorme de
fatores interfere na consolidação dessa esperada postura cidadã, obviamente na
contramão da inadmissível proposta do voto nulo ou do não comparecimento às
urnas. Eleições garantem o exercício nobre da cidadania. Por isso mesmo, supõem
e exigem preparação individual muito mais elaborada. Um espinhoso processo de
discernimento pela articulação e confronto desta gama de fatores que perpassam
o emocional, as razões ideológicas - necessariamente presentes no embate
eleitoral - e os interesses econômicos, atingindo um horizonte político de
maior elaboração e clarividência. Fácil não é.
Escolher apenas por simpatia, sob
impulso, é um tremendo risco. É indispensável analisar programas e propostas
das coligações partidárias e ponderar elementos, especialmente aqueles de
inegociável sensibilidade social, num momento em que o pobre e o excluído
precisam ter prioridade de tratamento e destinações. Também não se pode
dispensar o compromisso dos que têm competência para gerar e garantir dinâmicas
de crescimento econômico e a consequente inclusão social. Trata-se de um
exercício político que inclui atividade de conhecimento e disposição para
debates e confrontos, nas rodas familiares, de amizade e profissionais, em
exigente processo de discernimento. Agora é hora de buscar indispensável avanço
na sociedade.
Os vícios da política brasileira e suas
mediocridades não justificam a falta de envolvimento e empenho por parte dos
cidadãos. Aliás, a construção do novo, em política e em cenários de igualdade
social, é processo complexo que supõe um passo a passo até que se possa
alcançar a meta, responsabilidade de todos, de uma sociedade mais civilizada e
amadurecida no exercício e no tratamento de sua cidadania. Basta pensar a
amplitude de reformas que precisam ocorrer para que um cenário novo se desenhe,
superando o modo obsoleto de se fazer política no Brasil.
Sabe-se que sem reformas política,
tributária, fiscal e outras não se avançará para além de discursos repetitivos,
estéreis, e de promessas que caem no descrédito. Neste “passo a passo” para que
as reformas aconteçam, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
outras 400 entidades continuam, nesta Semana da Pátria, a investir no Projeto
de Lei de Iniciativa Popular pela Reforma Política. Ao oferecer critérios
adequados para avaliar a qualidade dos candidatos ao Executivo e, sobretudo, ao
Legislativo, esta proposta impactará a realidade política do Brasil. Não custa
nada contribuir com sua assinatura e buscar outras, entre amigos e familiares.
Só assim, será possível se chegar ao número exigido de adesões para que o
projeto da Reforma Política passe a tramitar no Congresso Nacional. Um desafio
à hombridade dos eleitos e à coragem de olharem para além dos interesses
cartoriais e particulares.
Este Projeto de Lei, nos seus quatro
importantes itens, terá força para modificar o atual quadro político do Brasil.
Por meio dele, será possível afastar o poder econômico das eleições, com a
proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas; cobrar
coerência de candidatos e partidos com a eleição em dois turnos - o primeiro
para a escolha de um programa e o segundo para a escolha das pessoas que
ocuparão os cargos políticos. Não se pode simplesmente, como acontece na
realidade brasileira, depositar tudo nas mãos de algumas pessoas para que
governem e legislem a partir de interesses próprios, de trocas e de pagamento
de favores. A Reforma Política cobrará, ainda, a urgência inteligente de
aumentar a participação das mulheres. Embora constituam 58% do eleitorado,
apenas 8% delas desempenham funções políticas. É enorme a perda da contribuição
feminina neste setor, em vista de sua qualificação comprovada em outras áreas.
É precioso ainda, como quarto ponto da
proposta de Reforma Política, ampliar a participação do povo nas principais
decisões, por meio da regulamentação de Plebiscito, Referendo Popular e Projeto
de Lei de Iniciativa Popular, mesclando a democracia representativa com a
democracia participativa. O não atendimento a esta urgência resultará em
continuar a manter o povo - verdadeiro dono do poder - submisso a essa
representatividade que não o representa. Refém de dirigentes que não atendem
suas necessidades básicas e de direito, gerando quadros na contramão da justiça
social.
Neste mesmo ato de coleta de assinaturas
pela Reforma Política, como celebração digna da Semana da Pátria, se faz o
recolhimento de votos por uma Assembleia Nacional Constituinte para mudar o
sistema político no Brasil. O caráter popular deste plebiscito é um exercício
importante de cidadania e com impacto nas instâncias governamentais para que
convoquem um plebiscito oficial. O discernimento neste momento eleitoral e o
gesto cidadão de participar desta coleta de assinaturas ajudarão a desenhar um
novo cenário para que não seja tão nebulosa, como está agora, desafiando a
todos, com riscos muito sérios, a atual encruzilhada eleitoral.
Fonte:
http://www.cnbb.org.br/
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