O apoio dado pelas igrejas do Brasil ao
golpe militar de 1964 e, mais tarde, à consolidação da ditadura, terá destaque
no relatório final da Comissão Nacional da Verdade - que será entregue à
presidente Dilma Rousseff na quarta-feira. A informação é do coordenador do
grupo de trabalho encarregado de analisar a questão religiosa naquele período,
o cientista social Anivaldo Padilha.
Em entrevista à reportagem, ele observou
que já existe grande quantidade de estudos e pesquisas sobre as perseguições
sofridas pelas igrejas e a resistência de religiosos e leigos à ditadura. O
colaboracionismo, porém, ainda teria sido pouco estudado. "Lideranças
religiosas católicas e protestantes apoiaram o golpe e contribuíram em seguida
para a legitimação e consolidação da ditadura", afirmou.
"Nós já sabíamos, desde o início,
do papel importantíssimo que as igrejas tiveram, às vésperas do golpe, na
disseminação da ideologia anticomunista, provocando medo e pânico em alguns
setores da sociedade. Nesse sentido foram absolutamente responsáveis por criar
o clima político que possibilitou o golpe. Agora, porém, obtivemos mais
detalhes, chegamos a casos de padres e pastores que denunciaram membros de suas
igrejas, fiéis e até colegas."
Segundo Padilha, o relatório da comissão
terá nomes dos delatores. Ele não quis citar nenhum, afirmando que faz parte de
um acordo com a coordenação-geral da Comissão Nacional, pelo qual as
informações só poderão ser divulgadas após a entrega do relatório a Dilma.
"Nós tivemos acesso a um documento
que revela que um bispo e um pastor metodista se ofereceram para ser
informantes da polícia", contou. "Mas esse não foi um caso isolado.
Aconteceu em outras igrejas."
Pai do ex-candidato petista ao governo
de São Paulo, Alexandre Padilha, Anivaldo Padilha, que militou na juventude
metodista e na Ação Popular, sendo depois preso e torturado, disse que um
pastor metodista sabia das prisões e das torturas. "O que se viu muito
naquele período foram opções ideológicas - e não o resultado de ignorância ou
falta de informação", afirmou.
Unânime
O apoio ao golpe foi quase unânime entre
os religiosos em 1964. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que mais
tarde se tornaria uma das principais vozes contra a ditadura, estava entre os
apoiadores. Outros dois ícones da resistência, posteriormente, os bispos d.
Paulo Evaristo Arns e d. Hélder Câmara também apoiaram o início do movimento,
como lembrou Padilha.
"Menciono isso não para
desqualificar, mas para mostrar a grandeza desses dois bispos", explicou.
"No momento em que perceberam que haviam caído numa cilada, tomaram
consciência de suas responsabilidades e se tornaram dois gigantes na luta
contra a ditadura. Vários outros bispos católicos apoiaram o golpe e depois se
redimiram. No campo protestante também ocorreram casos assim."
O documento do grupo coordenado por
Padilha tem quase 200 páginas - mas só uma parte dele faz parte do relatório da
Comissão Nacional a ser divulgado na quarta-feira. O material restante deve ser
transformado numa publicação para distribuição e debate nas igrejas. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: http://atarde.uol.com.br
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