Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto
Alegre
Escreveu o Papa
Francisco: “A vocação é fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor de
uns aos outros, que se faz serviço recíproco, no contexto de uma vida eclesial
autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si”.
Todos nós
desejamos uma vida bem vivida. Almejamos uma vida com sentido. Nossas buscas,
projetos e sonhos se sustentam a partir de um horizonte de vida sólido. A
pergunta, talvez, sempre necessária, é: o que significa uma vida, uma
existência com sentido? A partir de onde se encontra sentido para a própria
vida? Aqui certamente se expressa o nobre, digno e necessário serviço junto,
especialmente, a nossos adolescentes de orientar, dialogar e auxiliar; afinal,
perceber qual o caminho de vida que vem ao encontro das tendências, dotes e
mesmo necessidades pessoais, nem sempre é tarefa fácil.
Uma história,
pertencente à tradição hebraica, pode auxiliar na compreensão dos desafios
característicos quanto à necessidade de realizar uma opção de vida. Diz a
história: “Um certo rabi procurou seu mestre, suplicando-lhe: ‘Indicai-me um
caminho universal para o serviço a Deus’. O mestre respondeu: ‘Não se trata de
dizer ao homem qual caminho deve percorrer, porque existe uma estrada por meio
da qual se segue a Deus por meio do estudo, outra, por meio da oração, e outra,
por meio do jejum, e ainda outra comendo! É tarefa de cada homem conhecer bem a
direção de qual estrada o atrai, o próprio coração e depois escolher aquela
estrada com todas as forças’”.
A pessoa humana
é única. Possui uma tarefa intransferível. Cada ser humano é convocado a
testemunhar sua irrepetibilidade. Para isso, se faz necessário o conhecimento
de si mesmo, das próprias qualidades e tendências essenciais. Considerando esse
conjunto de elementos, é possível sondar um caminho de vida.
A escolha de um
caminho de vida requer muito mais que a opção por uma determinada profissão.
Profissão tem a ver com preparação técnica, competência, eficiência produtiva,
ganha-pão, função social, status, reconhecimento externo. Tudo isso pressupõe
decisão pessoal, realização, chamado interior, paixão, amor e gosto pelo que se
faz, ou seja, pressupõe vocação. Assim, retomando a história da tradição
hebraica, pode-se perceber que o “serviço de Deus” requer muito mais que
somente profissionalismo. Exige escuta do próprio coração, para conhecer bem a
direção de qual estrada ele o atrai.
A vocação se
orienta eminentemente para um futuro. Ela se realiza, sim, no presente, mas
orientada para um futuro. Por isso, pode-se afirmar que vocação é uma tarefa em
constante realização. Da profissão, nos aposentamos. Já aquilo que denominamos
vocação perpassa todas as fases da existência.
A escuta do próprio
coração requer sintonia, escuta, disposição para acolher aquilo que a vida
solicita. Escuta e compreende tal solicitação quem cultiva a afeição, a
cordialidade, o amor, o respeito pela própria condição. Para nós, cristãos e
cristãs, a condição é de filhos e filhas, seguidores e seguidoras do Senhor,
caminho, verdade e vida.
Jesus – caminho,
verdade e vida – percorria as cidades e aldeias... Contemplando a multidão,
encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como um rebanho
de ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande,
mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que
envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9,35-38).
Oxalá possamos cooperar para que homens
e mulheres, especialmente os adolescentes e jovens, saibam e possam
corresponder à vocação recebida, e serem no mundo cooperadores do Senhor na
construção do Seu Reino!
Fonte:
http://www.cnbb.org.br
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