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quarta-feira, 30 de julho de 2014

AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO: A DINÂMICA ESPIRITUAL DA VIDA CARMELITANA. O amor obscuro de Deus.

AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO: A DINÂMICA ESPIRITUAL DA VIDA CARMELITANA. O amor obscuro de Deus.
 Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall , Washington

Teresa de Ávila advertiu que as lutas dentro de nossos frágeis psiquismos são muito mais difíceis que as externas.  Teresa teve que vencer muitos obstáculos em sua reforma. Teve que lutar com os opositores, com a compra de casas adequadas para suas comunidades, contratar operários para reformá-las, arrecadar fundos para sua manutenção, recrutar membros para a comunidade, relacionar-se com vários eclesiásticos que não a apoiavam, viajar pelos difíceis caminhos da Espanha em más condições e enfrentar algum litígio com a corte.
Não obstante, ela comunicou que estas batalhas não se comparam com as batalhas enfrentadas em sua alma, enquanto ela se ocupava de suas profundidades na oração. “..Escutar  Sua voz dá mais trabalho que não escutá-la”.  Pode parecer que a reflexão de Teresa sobre o “entrar em si mesmo” seria como ir para casa; que as batalhas de fora são uma coisa, mas dentro da alma tudo é harmonia.  Entretanto, foi o contrário, pois ao entrar em seu interior, verificava que estava em guerra consigo mesma.
A oração lança luz sobre aspectos de nossa alma que anteriormente não tínhamos examinado.  As compulsões, os apegos, as maneiras não autênticas de viver, o falso eu, e os falsos deuses, tudo sai à luz enquanto a pessoa vai se afinando mais na verdade. Esta desagradável experiência pode conduzir ao medo, à debilidade do coração  e à tentação de abandonar o  itinerário  existencial. O chamado de Teresa à valentia e a determinação através de uma vida de oração não é demasiadamente dramática.  Aquilo de que a alma necessita, escreveu Teresa, é do conhecimento de si mesma. E a porta  desse conhecimento  de si mesma,  a porta  ao interior  do castelo,  é a oração  e a reflexão.
Sem um esforço orante, nos manteremos desesperançosamente fechados na periferia de nossas vidas perguntando aos outros e à criação  o que somente  Deus  pode nos dizer, isto é, quem somos.  Sem um verdadeiro centro que emerja de nossas vidas, viveremos com muitos “centros”, fragmentados e dispersos, pedindo a cada um deles que realize os desejos do nosso coração. O único antídoto contra a morte certa que decorre do apego aos ídolos, é a dolorosa batalha que supõe entrar em si mesmo  através da oração.
Os leitores modernos podem simpatizar com Teresa enquanto ela enumera as dificuldades de sua vida que são, ter sido elogiada demais, injustamente criticada, tendo além de tudo que sofrer as contradições de homens bons que pensavam que suas experiências de oração vinham do demônio e diariamente  tinha que enfrentar-se a sua saúde precária.
Porém sua experiência mais difícil surgiu justamente quando sua relação com o Senhor era mais íntima.  Ela começou a questionar todo seu itinerário existencial, perguntando se tudo não fora criado por sua imaginação, ou, se era de fato a presença de Deus em sua vida. Teria imaginado que Deus tinha sido bom com ela no passado?  Ela própria tinha sido boa no passado ou tinha imaginado isso? Em outras palavras, quando se esperaria que a amizade com Deus fosse base sólida, então surgiram às dúvidas.  Há alguém em casa, no centro? Tendo entregado sua vida e sua melhor energia ao seguimento dessa “chama” , ela começou a perguntar-se se tudo era ilusão.
A pergunta também seria feita de outra maneira: O final será todo bom?  Tudo isso: a criação, o plano da salvação, o próprio Deus, é para nós?  Ou somos uma paixão inútil? O imenso desejo de nosso coração, a fome da alma, serão frustrados no final de tudo? Ou existe uma realidade, um amor do tamanho do nosso desejo? Todas estas perguntas estão no coração do peregrinar humano.

O tempo, a perseverança, e a graça de Deus, deram a Teresa a resposta às suas dúvidas. Mais tarde ela nos fala da ausência dessas dúvidas que lhe corroíam a alma, e da certeza de uma relação profunda, mas não preocupante com o Senhor.  Porém, ainda nessa condição que ela identifica com o “desponsório espiritual” diz que confia mais no sofrimento. Ainda nos momentos em que estava presa na periferia da vida, ela sabia   que o discípulo de Jesus  levaria a cruz e que através desta surgiria  a vida.  Ela não construía cruzes artificiais em sua vida, mas também não fugia das cruzes que a vida lhe apresentava. Ela tinha aprendido a confiar nesse, às vezes, obscuro amor de Deus.

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