AS
ÉPOCAS DO CORAÇÃO: A DINÂMICA ESPIRITUAL DA VIDA CARMELITANA. O amor obscuro de
Deus.
Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall ,
Washington
Teresa de Ávila
advertiu que as lutas dentro de nossos frágeis psiquismos são muito mais
difíceis que as externas. Teresa teve
que vencer muitos obstáculos em sua reforma. Teve que lutar com os opositores,
com a compra de casas adequadas para suas comunidades, contratar operários para
reformá-las, arrecadar fundos para sua manutenção, recrutar membros para a
comunidade, relacionar-se com vários eclesiásticos que não a apoiavam, viajar
pelos difíceis caminhos da Espanha em más condições e enfrentar algum litígio
com a corte.
Não obstante,
ela comunicou que estas batalhas não se comparam com as batalhas enfrentadas em
sua alma, enquanto ela se ocupava de suas profundidades na oração. “..Escutar Sua voz dá mais trabalho que não
escutá-la”. Pode parecer que a reflexão
de Teresa sobre o “entrar em si mesmo” seria como ir para casa; que as batalhas
de fora são uma coisa, mas dentro da alma tudo é harmonia. Entretanto, foi o contrário, pois ao entrar
em seu interior, verificava que estava em guerra consigo mesma.
A oração lança
luz sobre aspectos de nossa alma que anteriormente não tínhamos examinado. As compulsões, os apegos, as maneiras não
autênticas de viver, o falso eu, e os falsos deuses, tudo sai à luz enquanto a
pessoa vai se afinando mais na verdade. Esta desagradável experiência pode
conduzir ao medo, à debilidade do coração
e à tentação de abandonar o
itinerário existencial. O chamado
de Teresa à valentia e a determinação através de uma vida de oração não é
demasiadamente dramática. Aquilo de que
a alma necessita, escreveu Teresa, é do conhecimento de si mesma. E a
porta desse conhecimento de si mesma,
a porta ao interior do castelo,
é a oração e a reflexão.
Sem um esforço
orante, nos manteremos desesperançosamente fechados na periferia de nossas
vidas perguntando aos outros e à criação
o que somente Deus pode nos dizer, isto é, quem somos. Sem um verdadeiro centro que emerja de nossas
vidas, viveremos com muitos “centros”, fragmentados e dispersos, pedindo a cada
um deles que realize os desejos do nosso coração. O único antídoto contra a
morte certa que decorre do apego aos ídolos, é a dolorosa batalha que supõe
entrar em si mesmo através da oração.
Os leitores
modernos podem simpatizar com Teresa enquanto ela enumera as dificuldades de
sua vida que são, ter sido elogiada demais, injustamente criticada, tendo além
de tudo que sofrer as contradições de homens bons que pensavam que suas
experiências de oração vinham do demônio e diariamente tinha que enfrentar-se a sua saúde precária.
Porém sua
experiência mais difícil surgiu justamente quando sua relação com o Senhor era
mais íntima. Ela começou a questionar
todo seu itinerário existencial, perguntando se tudo não fora criado por sua
imaginação, ou, se era de fato a presença de Deus em sua vida. Teria imaginado
que Deus tinha sido bom com ela no passado?
Ela própria tinha sido boa no passado ou tinha imaginado isso? Em outras
palavras, quando se esperaria que a amizade com Deus fosse base sólida, então
surgiram às dúvidas. Há alguém em casa, no
centro? Tendo entregado sua vida e sua melhor energia ao seguimento dessa
“chama” , ela começou a perguntar-se se tudo era ilusão.
A pergunta também
seria feita de outra maneira: O final será todo bom? Tudo isso: a criação, o plano da salvação, o
próprio Deus, é para nós? Ou somos uma
paixão inútil? O imenso desejo de nosso coração, a fome da alma, serão
frustrados no final de tudo? Ou existe uma realidade, um amor do tamanho do
nosso desejo? Todas estas perguntas estão no coração do peregrinar humano.
O tempo, a
perseverança, e a graça de Deus, deram a Teresa a resposta às suas dúvidas.
Mais tarde ela nos fala da ausência dessas dúvidas que lhe corroíam a alma, e
da certeza de uma relação profunda, mas não preocupante com o Senhor. Porém, ainda nessa condição que ela
identifica com o “desponsório espiritual” diz que confia mais no sofrimento.
Ainda nos momentos em que estava presa na periferia da vida, ela sabia que o discípulo de Jesus levaria a cruz e que através desta surgiria a vida.
Ela não construía cruzes artificiais em sua vida, mas também não fugia
das cruzes que a vida lhe apresentava. Ela tinha aprendido a confiar nesse, às
vezes, obscuro amor de Deus.
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