Curso
de Formação Carmelitana em módulos. Módulo VI - Testemunhas da Vivência
Carmelitana.
Frei
Emanuele Boaga, O. Carm.
Ir.
Augusta de Castro Cotta, CDP. Roma 2003.
17 - Por Cristo se dá
glória a Deus
Toda a
glorificação de Deus se realiza por, com e em Jesus Cristo. Por Ele, uma vez que é só, pelo Cristo que a humanidade tem acesso
ao Pai, e porque sua existência de Deus-Homem e sua obra redentora são a mais
perfeita glorificação do Pai. Com Ele,
uma vez que toda oração sincera é fruto dessa união com Cristo ao mesmo tempo que
uma confirmação de tal união, e porque todo louvor do Filho é glorioso ao Pai,
e reciprocamente. N'Ele, uma vez que
a Igreja orante é o próprio Cristo - cada orante é membro do seu corpo místico
- e porque no Filho está o Pai. O Filho é o reflexo do Pai, cuja glória
manifesta. Esse duplo sentido de por, com
e em é a clara expressão da mediação do Deus-Homem. A oração da Igreja é a oração do Cristo sempre vivo. Ele prolonga,
imitando-a, a oração do Cristo em sua vida de homem. (A oração da Igreja, Agir,
Rio 1958, p. 20-21).
18- Sacrifício vivificante
Se os
homens tomarem (a SS. Eucaristia) com fé, também eles serão transformados,
incorporados ao Cristo, numa união viva, e repletos de sua vida divina. A força
vivificante do Verbo é unida ao Sacrificio. O Verbo se fez carne para dar a
vida que possui. Ofereceu-se a Si mesmo e ofereceu a criação resgatada por sua
oferta em sacrificio de louvor ao Criador. A Páscoa da Nova Alianca na última
Ceia do Senhor, no Gólgota pelo sacrificio da Cruz, entre a Ressurreição e a
Ascensão pelos ágapes jubilosos em que os discípulos reconheciam o Senhor na
fração do pão e, no sacrificio da missa, pela Santa Comunhão. (A oração da Igreja, p. 25-26).
19 - O Dom Eucarístico
Pode-se
considerar o dom contínuo do Cristo sobre a Cruz, na Santa Missa e na eterna
glória do céu, como sendo uma só e grande ação de graças: a Eucaristia. Ação de
graças pela Criação, pela Redenção e por sua derradeira consumação. Oferece-Se
Ele a Si mesmo em nome de todo o universo criado, do qual é a primeira figura e
ao qual desceu para o renovar interiormente e o conduzir á perfeição. No
entanto, chama, também, todo esse universo criado para, em união com Ele, dar
as graças devidas ao Criador. (A oração
da Igreja, p. 27).
20 - O novo Templo de
pedras vivas
Em lugar do
Templo de Salomão, o Cristo construiu um templo de pedras vivas: a comunhão dos
santos. Ele permanece no meio dele como o Sumo e Etemo Sacerdote e, no altar, é
Ele próprio a vítima perpétua. E, novamente, os frutos da terra, oferendas
misteriosas, as flores, os candelabros e os círios, os tapetes e o véu, o
sacerdote consagrado, a unção e a bênção da casa de Deus, toda a criação é
incluída na 'liturgia", no solene oficio divino. (A oração da Igreja, p. 29).
21- A vocação humana, o louvor divino
Quando,
para as grandes festas, afluem os fléis às igrejas abaciais ou catedrais e
tomam parte, ativa e jubilosamente nas formas renovadas da vida litúrgica,
estão testemunhan do que sua voceção é o louvor divino. (A oração da Igreja, p. 31)
22 -O Pai nosso realiza os
nossos pedidos
Dizemos antes da Santa Comunhão, e se o fizermos sinceramente e de todo o nosso
coração, se comungarmos o Corpo do Cristo com uma intenção reta, Ele nos há de
trazer a realização de todos os nossos pedidos. Ele nos livra do mal,
purificando-nos do pecado e dando-nos a paz do coração que tira o aguilhão dos
outros males. Ele nos traz o perdão dos nossos pecados e nos fortifica contra
as tentações, como Pão da vida de que necessitamos todos os dias, para nos
enraizar e crescer na vida eterna. Ele faz de nossa vontade um instrumento
dócil á vontade divina. Desse modo, instaura em nós o Reino de Deus, dando-nos
lábios e coração puros para cantar a glória do Seu Santo Nome. (A oração da Igreja, p. 32-33).
23 - A oração de Jesus e a
da Igreja
Cada alma é
um templo de Deus: grande e nova perspectiva. A vida de oração de Jesus é a
chave que nos introduz na oração da Igreja. Vimos que o Cristo participou do
culto público do seu povo, culto que se denomina, habitualmente, a "Liturgia". Une Ele esse oficio, da
maneira mais estreita, à sua própria oferta de vítima, dando-lhe, então seu
pleno e verdadeiro sentido de ação de graças ao Criador, e transformando a
liturgia do Antigo na do Novo Testamento. (A
oração da Igreja, p. 35).
24 - A oração de Maria e o
nascimento da lgreja.
A Redenção
foi decidida no etemo silêncio da vida divina. A força do Espirito Santo
sobreveio á Virgem quando orava solitária, na humilde morada silenciosa de
Nazeré, e operou em seu seio a Encarnação do Redentor. Reunida em torno da
Virgem, orando em silêncio, é que a Igreja nascente esperou a nova efusão do
Espirito que lhe havia sido prometida para intensificar a sua luz interior e
tornar e sua ação fecunda. (A oração da
Igreja, p. 41).
25- O segredo da vida
interior
A oração
sacerdotal do Salvador (cf. Jo 17) entrega-nos o segredo da vida interior:
unidade íntima das pessoas divinas e inabitação de Deus na alma. Nessas
secretas profundezas, no mistério e no silêncio é que foi preparada e se
realizou a obra da Redenção; e é
deste modo que ela prosseguirá até o fim dos tempos, até o momento em que todos
serão efetivamente um em Deus. (A oração
da Igreja, p. 40-41).
26 - A força da oração
A história
oficial cala-se a respeito dessas
forças invisíveis e incalculáveis (da oração). Mas a confiança dos fiéis e o
juizo atento e vigilante da Igreja as conhecem. Nossa época, tantas vezes mal
sucedida, vê-se cada vez mais forçada a esperar, dessas forças ocultas, a suprema
salvação. (A oração da Igreja, p.
48).
27 - O supremo grau da
oração
Que seria a
oração da Igreja se não fosse ela o dom daqueles que amam com um grande amor o
Deus que é Amor? O dom total de nosso coração a Deus e o dom que Ele nos faz em
troca, a plena e eterna união, tal é o estado mais elevado que nos seja
acessível, supremo grau da oração. As almas que o atingiram são,
verdadeiramente, o coração da Igreja: nelas vive o amor sacerdotal de Jesus.
Ocultas em Deus com o Cristo, só podem irradiar em outros corações o amor
divino que as possui e, desse modo, contribuir para a perfeição de todos na
uniáo a Deus, o que, no passado e no
presente, é o único desejo de Jesus (A
oração da Igreja, p. 51).
28 - Não há dualismo para
quem se une a Deus
Tudo é uma
só coisa para as almas ditosas que chegaram à unidade profunda da vida divina:
o repouso e a ação, o contemplar e o agir, o calar e o falar, o ouvir e o
comunicar-se, o receber dentro de si, no amor, o dom divino e retribuir o amor
em abundância, na ação de graças e no louvor (A oração da Igreja, p. 53).
29 - Vida de oração
Na Regra
Carmelitana se resume, numa breve frase, o sentido da nossa vida: «Que cada um permaneça na sua cela ...
meditando dia e noite na lei do Senhor e velando em oração, desde que não seja
impedido por outros trabalhos». «Velando em oração...», isto significa o
mesmo que Elias expressava com as palavras: «...prostrado diante do rosto de Deus». A oração não é outra coisa
senão o olhar do homem dirigido para o rosto do Eterno. Isto só é possível se o
espírito estiver desperto até às profundezas e liberto de todas as preocupações
e satisfações terrenas que o aturdem. Essa vigília do espírito não exige a do
corpo, e o descanso que exige a natureza também não a afeta. Meditando na lei do Senhor..., pode ser uma forma de oração, se tomarmos a
oração em sentido amplo. Se nos referimos, contudo; ao velar em oração como a penetração e o descanso no mistério de Deus,
que é próprio da contemplação, nesse caso a meditação é somente um caminho para a contemplação.
Que se
entende por lei do Senhor? O salmo
118 está imbuído por este desejo de penetrar na lei do Senhor e de se deixar
conduzir por ela ao longo da vida. Talvez o salmista pensasse na lei do Antigo
Testamento, cujo conhecimento exigia efetivamente a dedicação de toda a vida, e
o exercício exato de seu cumprimento. Cristo, contudo, libertou-nos do jugo
dessa lei. A lei do Novo Testamento é o grande mandamento do amor, do qual
Cristo diz que resume toda a Lei e os Profetas. O amor perfeito de Deus e do
nosso próximo é, sem dúvida alguma, um objeto digno de contemplação para toda a
vida. Melhor, podemos interpretar o próprio Cristo como a lei do Novo
Testamento, pois deu-nos o exemplo com sua vida de como devemos viver. Segundo
isto, só realmente cumpriremos a nossa Regra se tivermos constantemente diante
de nós a imagem do Senhor, para nos assemelharmos cada vez mais a ela. O
Evangelho é o livro que nunca podemos deixar de estudar.
Não temos
acesso ao nosso Redentor unicamente através dos testemunhos sobre a sua vida,
mas Ele está constantemente presente no Santíssimo Sacramento. As horas de
adoração diante do Altíssimo e a escuta atenta da voz de Deus, presente na
Eucaristia, são simultaneamente meditação
da lei do Senhor e vigília na oração.
A perfeição, contudo, somente é alcançada quando a lei vive dentro do nosso coração (Salmo 118, 11) e quando estamos
de tal modo unidos com o Deus Uno e Trino, de quem somos templo, que o seu
Espírito determina todo o nosso agir. Nesse estado não abandonamos o Senhor,
mesmo que estejamos acupados com os trabalhos que nos foram determinados pela
obediência. O trabalho é inevitável enquanto estivermos submetidos às leis da
natureza e às necessidades da vida. A nossa santa Regra, além disso, ordena-nos,
segundo as palavras e o exemplo de S. Paulo, que ganhemos o pão com o trabalho
das nossas mãos. Esse trabalho, contudo, precisa ter o caráter de serviço e de
meio, e nunca de fim. O conteúdo autêntico da nossa vida continua a ser: viver
prostradas diante do rosto de Deus.
(De: Los caminhos del silêncio, Editorial de
Espiritualidad, Madrid, 1988; parrafo: Sobre a história e o espírito do
Carmelo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário