Frei
Martinho Cortez, O.Carm
(De uma meditação de Dom Vital Wilderink sobre
1 RS 19, 1-21, em dia de recolhimento, Capítulo Geral de 1995)
"É VIVO O DEUS EM CUJA PRESENÇA
EXISTO" (1RS)
"ARDO-ME DE ZELO PELAS COISAS DO
DEUS SENHOR DE TUDO" (1RS)
I-Acima, duas frases que descrevem o ser
e o fazer do profeta Elias: homem de contemplação e de ação; e de ação porque
de contemplação.
Os carmelitas vêem nele seu PAI E
FUNDADOR, assegurando-se uma identidade necessária. Não ter pai é problema;
reclamavam os samaritanos com Jesus, reclamam os meninos de rua hoje. Quem não
tem pai é gente sem origem, sem originalidade, sem garantia, sem alguém que por
ele (ela) responda. Razão do nomadismo, da insegurança e mesmo da desesperança!
Ter pai é como a uma nau ter a segurança de uma âncora. Pai é sinônimo de
vínculo, herança, garantia. Jesus fez o maior bem para o homem, por lhe ter
restituído O PAI (cf episódio da samaritana).
II- Elias é um verdadeiro ITINERÁRIO DE
VIDA: experiências de deserto, oração, ação/contemplação (teor tensionante),
história/escatologia (idem). A palavra a Elias - "RESTA-TE UM LONGO
CAMINHO" - é para todo carmelita também. Herdamos a audácia da encarnação
e a segurança da memória, para superar as angústias da caminhada.
III- O ponto de partida de 1RS 19, 1-21,
é o desânimo, a vontade de fugir, a perda de sentido da vida. De PROFETA o
homem passa a simples FRAGILIDADE. Revelam-se para ele suas fraquezas:
presunção, medo, ameaças, abandono da fé, censura do poder, perseguição. Nesse
momento, sente a necessidade de mudança, de CONVERSÃO. Como carmelitas, somos
chamados à IDENTIFICAÇÃO COM O PROFETA ELIAS, para podermos continuar: a VIAGEM
é a marca dele e será a nossa. Uma viagem não só geográfica, mas vital, que
exige conversão interior provocada pela história (exterior). É aqui que
acontece a GRAÇA e Deus se revela em nossa fraqueza.
IV- Intervenção do anjo de Deus,
mandando DEIXAR, RENUNCIAR, ESVAZIAR-SE ("vacare Deo"). Fase da
purificação, para entender que não é super-homem. Na verdade, a PROFECIA é uma
intuição profunda em meio aos defeitos, às limitações. É-se convidado a
destruir as aparências de força, as defesas de poder. Como diz Paulo:
precisamos carregar em nosso corpo a MORTE DE CRISTO. Inicia-se assim a
caminhada para a montanha de Deus: amadurecendo as relações com o próprio Deus.
Este será sempre um MISTÉRIO, uma NOVIDADE. Converter-se é também MUDAR DE
PSICOLOGIA: o homem se relaciona com Deus, SE entender que isso é Deus
relacionando-se com o homem (J.da Cruz). SER HOMEM DE RELACIONAMENTO COM DEUS é
a vocação do Carmelo, para EM SI MESMO mostrar ao homem o rosto de Deus, na
maturidade de relacionamento com Deus. O Deus revelado no Carmelo vem de um voltar-se
PARA DENTRO (interioridade) e de um voltar-se PARA FORA (fraternidade).
V- Longo caminho NO DESERTO. Noite
escura. Luz no final do túnel (escatologia). Tensão "Mundo
Presente><Mundo Futuro", para a qual é preciso SENSIBILIDADE.
Reconstruir sempre a História, a Si Mesmo e ao Povo. Caminho de ESCONDIMENTO de
Deus, obscuridade, presença certa do AMOR ETERNO. Descoberta do NOVO (brisa
mansa). Volta ao entusiasmo e ao trabalho (ação profética).
VI- O passo final é VER A VERDADE. Que
não se é o único. Que existe muita gente fiel. Que Deus sempre é defensor e
PRESENÇA. Que se é simples SEMENTE. É o ponto de chegada: Deus sempre presente
faz ver que há fiéis entre cristãos, não-cristãos, homens de boa vontade. No
retorno para a ação profética, Elias de ontem e de hoje, ao enxergar-se mais
verdadeiro, redescobre a missão, adquire maturidade, gera filhos. Como, no
Evangelho, Jesus leva o homem a descobrir-se NA SITUAÇÃO EM QUE VIVE (ambiente
real), superando o orgulho, a auto-suficiência, a idéia de poder. Talvez, por
isso, a nossa tarefa carmelitana seja a de ILUMINAR O CAMINHO QUE O PRÓPRIO
HOMEM LIVREMENTE DEVE ESCOLHER.
Nenhum comentário:
Postar um comentário