*Tradução de Dom Frei Wilmar Santin, O. Carm.
Não há dúvida quanto a antiguidade do culto tributado a Elias nas
Igrejas orientais. Os cristãos, que visitavam a Terra Santa, paravam para rezar
nos lugares que evocavam os santos do AT. O Iter Burdigalense recorda como
lugares elianos: o Monte Carmelo, a montanha da Transfiguração e a colina de
onde Elias foi arrebatado ao céu (B. Botte, Le culte du prophète Élie dans
l'Église chrétienne, em Élie, I, p. 210). O santuário mais conhecido é o de
Sarepta. São Jerônimo, ao narrar a viagem de Paula, a apresenta entrando para
rezar na pequena torre da viúva de Sarepta (Ep. 108, 18, em PL, XXIV, col.
882). Elias é venerado também como taumaturgo por ter ressuscitado o filho da
viúva.
Um outro santuário é indicado por Etéria (fim do séc. IV) situado sobre
o Horeb. O culto a Elias, como o de outros santos do AT, não tardou em
ultrapassar os confins da Palestina. A epigrafia nos permite verificar sua
irradiação. Assim, por exemplo, na província da Arábia as inscrições atestam
que Elias é o santo mais popular do Ledgaa (cf. Devreesse, Le christianisme
dans la providence d'Arabie, em Revue Biblique, LI [1942], p. 110-46). Na Síria
uma inscrição atesta de que os habitantes de Ezra construíram às suas custas
uma igreja dedicada a Elias, no ano 542.
Em Bizâncio uma tradição atribui a fundação de um santuário de Elias às
legiões do imperador Zenão, depois de sua campanha da Pérsia, como ação de
graças por uma aparição do profeta ao exército. No Petrion de Constantinopla se
celebrava sua festa dia 20 de julho (Synax. Constantinop., col. 832). E na
mesma data as Igrejas sírias celebram a memória do Santo, desde o século XV.
Entre os Maronitas esta data figura somente a partir de 1673.
Antigamente a festa de Elias era geralmente ligada às festas que
celebravam as manifestações de Cristo ao mundo, mais precisamente a
Circuncisão, que a Igreja Jacobita do Egito celebrava dia 1º de janeiro, era
acompanhada de uma ampla memória de Elias. O mesmo ocorria no dia 6 [de
agosto], solenidade da Transfiguração, em que Elias aparece junto com Moisés.
Às vezes a lembrança de Elias se repetia no dia seguinte, como entre os
Melquitas (PO, X, p. 310).
Os Nestorianos e os Jacobitas celebravam também esta solenidade no dia 2
de outubro, mês consagrado a Moisés e considerado como o primeiro do ano. O mês
de setembro, portanto, encerrava o ciclo e representava o final do ciclo anual.
Elias, o precursor prometido, para preparar o triunfo final do Messias, é
especialmente recordado nos seis domingos sucessivos, que vão de 6 de agosto a
14 de setembro. Antigamente, nas Igrejas sírias se celebrava a festa de Elias
com o nome de "Migração" (Forget, SA, p. 192).
Também na Igreja Oriental Ortodoxa a festa de Elias é celebrada no dia
20 de julho, precedida de uma vigília, na qual a memória de Elias esteve
durante muito tempo associada ao culto ao Profeta Eliseu, que é honrado
separadamente em 14 de junho.
Em Constantinopla prosperou igualmente a devoção a Elias. Basílio o
Macedônio (séc. IX), além de restaurar o antigo santuário do Petrion, construiu
uma igreja dedicada ao nome do Salvador, de São Miguel e de Santo Elias, uma
outra em honra de Santo Elias no bairro de Mangani (cf. F. Halkin, Inscriptions
Grecques relatives à l'Hagiographie, em Anal. Boll., LXXI [1935], p. 326-58), e
enfim uma capela em seu próprio palácio (cf. PG, CIX, cols. 336, 354).
Constantino Profirogênito (ibid., col. 237) explica esta devoção do imperador
para com Elias como motivada por uma aparição do profeta à mãe do imperador, em
que lhe predisse o destino imperial de seu filho. O Sinassario
Constantinopolitano (col. 230) marca ainda no dia 13 de janeiro a dedicação de
uma igreja em honra do profeta no monastério de Batyriax.
O Oriente bizantino permaneceu fiel a esta tradição. Em 1918, numa espécie
de estatística das igrejas da Grécia, sobre um total de 4.637, encontramos 752
dedicadas à Santíssima Virgem, 196 a Santo Atanásio, 189 a São João Batista, 75
a Elias e 69 a São Jorge.
Sabe-se que
na Igreja latina os santos do Antigo Testamento tiveram um culto muito
limitado. A liturgia de Roma, que se difundiu muito cedo em todo o Ocidente,
celebrava quase unicamente os mártires, aos quais se agregaram depois os bispos
que haviam lutado pela ortodoxia da fé, sob o nome de confessores.
Apenas uma festa de santos do AT entrou na liturgia romana: a dos
Macabeus, dia 1º de agosto, precisamente porque eram mártires. O culto de Elias
começou no Ocidente, ao que tudo indica, em Auxerre (cf. Messes de Mone: B.
Botte, Une fête du prophète Élie au VI siècle en Gaule, em Cahiers Sioniens,
III [1950], p. 170-77), provavelmente na mesma data de 20 de julho: todo o
Prefácio está dedicado a Elias. Porém é o único testemunho que existe anterior
ao século XV. Por influência dos menológios bizantinos, os santos do AT começaram
a figurar nos martirológios. Elias teve que esperar até a publicação da “editio
princeps” do Martirológio Romano (1583). Os mesmos Carmelitas não lhe prestaram
um culto senão muito tardiamente. O Ordinale carmelitano de Siberto de Beka, de
1312, não menciona sua festa. Esta aparece por primeira vez no Missal Carmelita
de 1551. O Prefácio de Elias foi aprovado pela Sagrada Congregação de Ritos em
1919.
O culto ao Profeta não pertence, portanto, à liturgia romana, porém é
próprio dos Carmelitas. Não parece que no Ocidente existam igrejas dedicadas a
Elias, fora das que se encontram na Itália bizantina. Na concessão do novo
“Próprio” dos Carmelitas, aprovado em 17 de abril de 1972, a Sagrada
Congregação para o Culto Divino disse: “para dar realce ao Fundador ideal da
Ordem [Carmelita], concede de bom grado que a festa de Santo Elias seja
celebrada com o grau de solenidade”. Já se havia concedido aos Carmelitas
Descalços no dia 20 de outubro de 1971 o grau de festa.
Francesco Spadafora
*(Título original: Elia Profeta, em Santi del Carmelo, Institutum
Carmelitanum, Roma 1972, p. 136-153)
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