ESTAR
EM GESTAÇÃO COMO MARIA
Da colocação de Frei Tito Brandsma no
congresso mariano de Tongerloo em 1936
Embora a nossa união com Deus não seja
tão excelsa como aquela que se verificou na divina maternidade de Maria, mesmo
assim nos podemos com pleno direito chamar-nos “Theotokos”, “portadores de
Deus”, e também para nos o Senhor envia o seu anjo para nos pedir que se abra o
nosso coração à luz do mundo para levá-lo por toda a parte como um luzeiro.
Também nos devemos receber Deus no nosso
coração, levá-lo debaixo do coração, alimentá-lo e deixá-lo crescer em nas,
para que ele nasça de nós, e viva conosco como Deus conosco, isto é Emanuel.
Para Deus, o coração de Maria permaneceu
sempre aberto. Dela devemos apreender a expulsar do nosso coração tudo o que
não pertença ao Senhor e que para Ele o nosso coração esteja sempre aberto para
se encher da graça divina; e então Jesus descerá no nosso peito e crescerá em
nós, renascerá de nós e manifestar-se-á com as nossas ações e viverá de nossa
vida. Com Maria, cheios também nós de graça, devemos viver uma vida divina, não
buscando outra glória e outra salvação, que não a união com Deus.
Apontamentos
de Frei Tito Brandsma para um retiro espiritual
Na
cela da prisão
Embora não saiba como isto irá terminar
(as conseqüências do encarceramento) sei muito bem que estou nas mãos de Deus.
O que me separara da caridade de Deus? Ele é o meu único refugio e sinto-me
protegido e feliz. Permanecerei aqui, se Ele assim o dispuser. Raramente estive
assim tão feliz e contente.
Fiz para mim um pequeno altar: é um modo
de dizer. Na cela havia uma estante de papelão com suporte e também um pedaço
de papel de embrulho. Cobri com isto a estante. Com um preguinho - canivete e
tesoura foram-me tirados, daí a necessidade de me arrumar - fiz pequenos
entalhes fixando assim três imagens de meu breviário; no meio um Cristo pregado
na Cruz de Fra Angélico, incompleto, mas, só até à altura da chaga de seu
Sagrado Coração; de um lado uma estampa de Santa Teresa de Jesus - “Sofrer ou
morrer” - e, de outro, São João da Cruz com seu lema “Sofrer e ser desprezado”.
Encontrei dois alfinetes; servi-me de um para fixar abaixo das outras imagens
uma tira comprida de papel sobre a qual escrevi as palavras de Santa Teresa:
“Nada te perturbe” e também as palavras de um provérbio alemão: “Deus tão
próximo e tão distante, mas, sempre aqui” e, finalmente, aquele que me é tão
familiar: aceitar os dias como eles chegam; os alegres com o coração
reconhecido; os adversos com esperança para com os futuros que ainda virão,
porque o mal e a tristeza são passageiros.
Ainda não me aborreci. Estou sozinho, é
verdade. Mas, nunca Deus esteve tão perto de mim. Uma alegria intensa reina em
meu coração porque Ele se deixou encontrar inteiramente sem que eu me possa
desviar para os homens ou estes me atingirem.
Ele e a minha única consolação. Sinto-me
seguro e feliz. Gostaria de continuar sempre aqui se Ele desejar assim.
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