Um
novo modelo de cobertura e de produção de informação vem ganhando espaço nos
protestos pelo País através do trabalho de coletivos como Nigéria e Mídia Ninja
“Cada pessoa que está filmando tem conteúdos
absurdos pra mostrar”, avisava o repórter Ninja, na noite de quinta, 8, em
transmissão ao vivo do Parque do Cocó. Ele se referia às inúmeras pessoas que,
ali, estavam conectadas às suas redes sociais compartilhando vídeos e imagens
do confronto com a polícia. Mas como se desenha a linha que divide o ativismo
da cobertura jornalística?
Na
segunda, 5, o jornalista Bruno Torturra e o produtor cultural Pablo Capilé
concederam uma entrevista desconcertante à bancada do programa Roda Viva, na TV
Cultura. À frente do Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação),
a dupla fez repercutir o tema amplamente nas redes sociais, levando boa parte
da imprensa nacional a discutir, criticar, analisar e, principalmente, entender
este novo formato de apuração e circulação de informação.
Em
Fortaleza, cobrir as manifestações e protestos que vêm pautando o cotidiano da
Cidade deixou de ser atividade exclusiva dos veículos de comunicação
tradicionais.
Nas
coberturas de rua, coletivos como o Nigéria e Rapadura Ninja atuam na
contramão, confundem-se entre manifestantes, tornando-se, talvez, também
personagens da história que documentam.
Ativismo
O
jornalista Yargo Gurjão, integrante do Coletivo Nigéria, explica que a utópica
imparcialidade jornalística está em ouvir todos os lados, mas não quer dizer
que sejam imparciais ao fazer isso. “Você demonstrar de que lado está é
importante para quem for consumir a informação. O fato de termos decidido
gravar do lado dos vândalos, que é um termo tachado pela mídia, não quer dizer
que a gente defenda o que eles fazem. Mas estando próximo, ouvindo o que estão
dizendo, apanhando também da polícia, nos ajuda a viver o que está
acontecendo”, afirma Yargo. “Pode ser ativismo? Não sei, não somos a favor da
imparcialidade”.
Para
a gestora de comunicação da Casa Fora do Eixo Nordeste, Diná Matias, é possível
dizer que este modelo de apuração e circulação de informação vem quebrando
paradigmas de mídia tradicional. “Não é que ela se opõe ou complementa a
imprensa que já está aí, mas cria um novo formato ainda em construção. Por isso
o Ninja não é fechado, a gente acredita muito na autoralidade coletiva, na
ideia de que alguém pode somar com a nossa produção. A gente ainda não sabe
como ela vai terminar, mas sabe que está em constante adaptação”, acredita
Diná, também correspondente do Mídia Ninja em Fortaleza.
O
estudante de Audiovisual Eduardo Coelho, 27, está cada vez mais envolvido com
cobertura de eventos como o Ocupe Cocó, na última quinta. Ao cobrir os
protestos, foi detido por policiais e teve os equipamentos confiscados. “Eles
só me soltaram quando eu disse que era jornalista independente”.
Embora
tenha se cadastrado no site do Mídia Ninja, Eduardo optou por trabalhar de
forma autônoma. “Há dois anos, comecei a entender mais essa questão do live
streaming (transmissão ao vivo pela Internet). Quando começaram as
manifestações, vi que qualquer pessoa poderia compartilhar informação”, diz
Eduardo. Ele já cobriu protestos do Ocupe Aquário, na Praia de Iracema, e
outras manifestações portando um smartphone com acesso à internet 3G e dois
carregadores. “Através do portal Twitcasting qualquer usuário que possua conta
no Twitter e um celular com conexão 3G pode entrar ao vivo e se comunicar com o
País inteiro”.
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