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domingo, 11 de agosto de 2013

Jornalismo de guerrilha?

Um novo modelo de cobertura e de produção de informação vem ganhando espaço nos protestos pelo País através do trabalho de coletivos como Nigéria e Mídia Ninja

 “Cada pessoa que está filmando tem conteúdos absurdos pra mostrar”, avisava o repórter Ninja, na noite de quinta, 8, em transmissão ao vivo do Parque do Cocó. Ele se referia às inúmeras pessoas que, ali, estavam conectadas às suas redes sociais compartilhando vídeos e imagens do confronto com a polícia. Mas como se desenha a linha que divide o ativismo da cobertura jornalística?

Na segunda, 5, o jornalista Bruno Torturra e o produtor cultural Pablo Capilé concederam uma entrevista desconcertante à bancada do programa Roda Viva, na TV Cultura. À frente do Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), a dupla fez repercutir o tema amplamente nas redes sociais, levando boa parte da imprensa nacional a discutir, criticar, analisar e, principalmente, entender este novo formato de apuração e circulação de informação.

Em Fortaleza, cobrir as manifestações e protestos que vêm pautando o cotidiano da Cidade deixou de ser atividade exclusiva dos veículos de comunicação tradicionais.

Nas coberturas de rua, coletivos como o Nigéria e Rapadura Ninja atuam na contramão, confundem-se entre manifestantes, tornando-se, talvez, também personagens da história que documentam.

Ativismo

O jornalista Yargo Gurjão, integrante do Coletivo Nigéria, explica que a utópica imparcialidade jornalística está em ouvir todos os lados, mas não quer dizer que sejam imparciais ao fazer isso. “Você demonstrar de que lado está é importante para quem for consumir a informação. O fato de termos decidido gravar do lado dos vândalos, que é um termo tachado pela mídia, não quer dizer que a gente defenda o que eles fazem. Mas estando próximo, ouvindo o que estão dizendo, apanhando também da polícia, nos ajuda a viver o que está acontecendo”, afirma Yargo. “Pode ser ativismo? Não sei, não somos a favor da imparcialidade”.

Para a gestora de comunicação da Casa Fora do Eixo Nordeste, Diná Matias, é possível dizer que este modelo de apuração e circulação de informação vem quebrando paradigmas de mídia tradicional. “Não é que ela se opõe ou complementa a imprensa que já está aí, mas cria um novo formato ainda em construção. Por isso o Ninja não é fechado, a gente acredita muito na autoralidade coletiva, na ideia de que alguém pode somar com a nossa produção. A gente ainda não sabe como ela vai terminar, mas sabe que está em constante adaptação”, acredita Diná, também correspondente do Mídia Ninja em Fortaleza.

O estudante de Audiovisual Eduardo Coelho, 27, está cada vez mais envolvido com cobertura de eventos como o Ocupe Cocó, na última quinta. Ao cobrir os protestos, foi detido por policiais e teve os equipamentos confiscados. “Eles só me soltaram quando eu disse que era jornalista independente”.

Embora tenha se cadastrado no site do Mídia Ninja, Eduardo optou por trabalhar de forma autônoma. “Há dois anos, comecei a entender mais essa questão do live streaming (transmissão ao vivo pela Internet). Quando começaram as manifestações, vi que qualquer pessoa poderia compartilhar informação”, diz Eduardo. Ele já cobriu protestos do Ocupe Aquário, na Praia de Iracema, e outras manifestações portando um smartphone com acesso à internet 3G e dois carregadores. “Através do portal Twitcasting qualquer usuário que possua conta no Twitter e um celular com conexão 3G pode entrar ao vivo e se comunicar com o País inteiro”.

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