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sábado, 24 de agosto de 2013

21º DOMINGO COMUM - Ano C: Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD (Lucas 13,22-31)
 COMENTÁRIO
“É verdade que são poucos os que se salvam?”
 Jesus continua a sua caminhada em direção à Jerusalém, e no caminho, prossegue ensinando os seus discípulos. O debate agora é sobre uma questão que sempre intrigava os cristãos - e também os de outras crenças: “É verdade que são poucos aqueles que se salvam?” (v. 23).
        Durante muito tempo, o assunto de muitas pregações nas igrejas era a condenação. Falava-se muito mais em pecado do que na graça, no diabo do que em Jesus, do inferno do que no céu ou no projeto de Jesus para este mundo. Infelizmente, especialmente nos ambientes fundamentalistas, tanto católicos como protestantes, essa tendência volta a vigorar. É só assistir certos programas de TV e rádio! Neste trecho Jesus nos ensina como enfrentar esta questão!
Chama a atenção que Jesus não responde à pergunta. Ele não indica se são muitos os que se salvam, ou não. A preocupação d’Ele é que as pessoas vivam de acordo com o projeto de Deus. Nisso encontrarão a salvação. Por isso, ele desvia a atenção do ouvinte da questão do “além morte” para que volte à vivência prática da fé. O conselho d’Ele é claro: “Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita” (v. 24). Resta perguntar - em que consiste esta “porta estreita?”   O texto nos dá a resposta: “Ele responderá: “Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim todos vocês que praticam a injustiça” (v. 27)
Interessante que Deus afastará os que praticam a injustiça - não fala daqueles que têm fraquezas humanas, que têm uma fé diferente, que ignoram as verdades da teologia - ou seja, se preocupa com a prática da injustiça. Pois o seguimento de Jesus é basicamente isso, o amor prático, que se manifesta na justiça. Sem esta prática, simplesmente a fé é vã! A “porta estreita” é a prática da justiça!
Jesus adverte que talvez não sejam os que conhecem a sua mensagem que irão herdar o Reino. Pois o critério do julgamento não será o conhecimento teórico do evangelho, mas a sua vivência concreta na justiça, conforme ele diz: “Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (v. 29)
Diante do fechamento do judaísmo farisaico, com a sua religião nacionalista, Jesus abre perspectivas ecumênicas - a salvação não se restringe aos que faziam parte oficialmente do Povo de Deus! Virão pessoas do mundo todo - as pessoas que, mesmo sem conhecer a Bíblia - viviam a luta pela justiça!
É impossível, no nosso mundo de exclusão, fugir da questão da justiça. A Conferência de Santo Domingo, seguindo as de Medellin e Puebla, já perguntou como era possível que as piores injustiças do mundo se dão exatamente no continente nosso, que se diz cristão! A Conferência de Aparecida continuou com essa preocupação. Como é possível que nos países oficialmente católicos há tantos rostos do Cristo crucificado? Não é possível ser cristão sem lutar em favor das pessoas com “rostos desfigurados pela fome, rostos desiludidos pelas promessas políticas, rostos humilhados de quem vê desprezada a própria cultura, rostos assustados pela violência cotidiana e indiscriminada, rostos angustiados de menores, rostos de mulheres ofendidas e humilhadas, rostos cansados de migrantes sem um digno acolhimento, rostos de idosos sem as mínimas condições para uma vida digna” (João Paulo II,Vita Consecrata nº 76).
Não devemos medir o nosso cristianismo e a pujança da nossa fé pelos belos edifícios e imponentes matrizes, nem pelas belas celebrações e concentrações nas grandes ocasiões, por tão válidas e até importantes que possam ser. Meçamos a nossa fé, a nossa adesão ao Reino pelo nosso empenho em prol dos empobrecidos, pelos injustiçados, não nos limitando a uma ação meramente assistencialista (por tão imprescindível que tais ações sejam), mas também nos engajando na luta pela mudança estrutural de uma sociedade cujo projeto de vida - o neo-liberalismo selvagem - nada mais é do que um projeto de morte, e portanto anti-evangélico e pecaminoso.
É mister unirmos as nossas forças às das pessoas de boa vontade de todas as crenças e de nenhuma, para que em parceria defendamos a vida ameaçada na sociedade moderna. Aprendamos de Jesus neste trecho - ele não permite que os seus interlocutores fiquem olhando somente para o que acontecerá depois da morte, lá no além, mas insiste que olhem para a vida cotidiana, com as suas exigências em favor dos oprimidos.    O grande teólogo dominicano sul-africano, Albert Nolan, tocou nessa questão quando escreveu no seu livro “Jesus Antes do Cristianismo”: “De um modo geral, quer nos denominemos cristãos, quer não, não costumamos tomar Jesus a sério.  Existem notáveis exceções, mas, habitualmente, nós não amamos os nossos inimigos, não damos a outra face, não perdoamos setenta vezes sete, não abençoamos quem nos insultam, não partilhamos aquilo que temos com os pobres nem colocamos toda a nossa esperança em Deus”....“Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado por aquilo que ele não significou, do que por aquilo que ele realmente significou.  A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais ele mais fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e difundidas mais amplamente através do mundo – em seu nome.”(Nolan – Jesus antes do Cristianismo p. 15)
Ressoa uma advertência para nós que somos frequentadores das Igrejas, que conhecemos os ensinamentos do Evangelho, e que talvez caiamos na tentação de um certo elitismo religioso: “Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos” (v. 30). Ser primeiro ou último, acolhido ou afastado, depende em primeiro lugar do nosso empenho pela justiça!

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