Foram 19 anos dedicados ao sacerdócio e ao rebanho da
Igreja Católica do Norte do Estado. Mas Edilson José dos Santos -
carinhosamente chamado de "Padre Edilson" pelos entusiastas de seu
trabalho religioso - decidiu trilhar outros caminhos na vida pessoal e
profissional. Vestes como a batina e os objetos sacros usados nas celebrações
eucarísticas praticamente já fazem parte do passado: na manhã da sexta-feira
(16) - mais magro e em trajes de cidadão comum - o padre confirmou ao Diário do
Norte, com exclusividade, que entregou sua Carta de Renúncia ao trabalho como
padre ao bispo da Diocese de Uruaçu, dom Messias dos Reis Silveira. Isso
ocorreu há cerca de 20 dias, segundo o padre. Edílson disse, ao DN, que o
trâmite legal ainda prevê que a diocese se manifeste formalmente sobre o
pedido, em documento onde dom Messias pedirá que o religioso reconsidere a
decisão de abandonar sua missão sacerdotal. Por fim, padre Edílson deverá
encaminhar um segundo documento enumerando suas contra-razões, para que dom
Messias publique o decreto conhecido como "Suspensão de Ordem", que o
colocará definitivamente na condição de ex-padre.
"Há mais de dois anos eu estava refletindo e
rezando para pedir a Deus - e aos amigos que estão mais próximos - uma
orientação a esse respeito (a renúncia). Existem, dentro do ser humano, outras
expectativas em relação à vida e aos projetos pessoais, relativos a vida
pública e política. Estou querendo ingressar nesse trabalho. Claro que o
sacerdócio é maravilhoso e eu vivi isso integralmente, por quase 20 anos,
dedicando-me à Igreja e a edificação espiritual das comunidades onde trabalhei.
Tenho muito respeito à Igreja e devo muito a ela, que me acolheu, me amou e me
formou. Porém, eu me percebi - psicologicamente e afetivamente - na situação de
não mais conseguir conduzir o meu sacerdócio. Ninguém pode brincar de ser
padre. Por isso é que pedi ao bispo a minha dispensa pautado na honestidade
comigo mesmo; com Deus; e com as pessoas", comentou padre Edilson.
Em março passado, Edilson retirou-se da função de
pároco da Paróquia Nossa Senhora da Abadia em Niquelândia - onde atuou desde fevereiro de 2006 - quando
também dedicou-se como ecônomo da tradicional Romaria do Muquém. Neste ano,
pelo seu trânsito com diversas autoridades, angariou R$ 500 mil à realização da
romaria. Com fama de "edificador de obras" - não só de evangelização,
mas de concreto também - ampliou os espaços de convivência dos católicos na
igreja em Niquelândia; e também na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (em Minaçu,
onde atuou entre 1999 e 2006) somente com doações angariadas com o dízimo e
outras contribuições dos fiéis católicos. Nos últimos meses, o padre fixou
residência em Uruaçu (onde conversou com o DN, na última semana) e atuou como
ecônomo da diocese, assessorando dom Messias. Em breve, o religioso transferirá
seu domicílio eleitoral de Niquelândia para Uruaçu, cidade onde deverá ocorrer
seu provável ingresso na vida pública.
"Isso não é um projeto de vaidade pessoal. Se a
comunidade e se as lideranças perceberem que tenho, de fato, condições de
galgar um posto nessa área política, meu nome estará aberto aos cargos públicos
que eu, porventura, possa trilhar e disputar. Anteriormente, nunca me abri a
esse projeto por respeito e determinações jurídicas da Igreja. Quero, agora,
estabilizar-me socialmente e financeiramente. Preciso ter um trabalho,
preferencialmente na área de gestão, que conheço muito bem. A questão afetiva
não me preocupa agora. Não estou ainda pensando em casar e ter filhos, por
enquanto. Claro que isso pode acontecer. Mas o mais importante de tudo é que o
meu amor a Deus e à Igreja continuam intactos. Meu comportamento ético e moral
(como ex-padre) vai ser o mesmo. Antes de ser padre, eu já era cristão. E vou
continuar vivendo com tal, de maneira ilibada", afirmou o padre.
Com convites para ocupar um cargo na administração da
prefeita Solange Bertulino (do PMDB, que já abriga o ex-padre Wemerson de
Araújo Fonseca) e do governador Marconi Perillo (do PSDB, com quem cultiva
amizade de longa data) para assumir alguma função no Governo do Estado, o
"futuro ex-padre", por assim dizer, deverá ingressar em algum partido
alinhado com as duas legendas de maior rivalidade histórica em Goiás, tão logo
definir onde irá trabalhar após abdicar em definitivo da igreja.
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