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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Padre de Goiás vai deixar trabalho pastoral e deve disputar eleições após 19 anos na Igreja.


Foram 19 anos dedicados ao sacerdócio e ao rebanho da Igreja Católica do Norte do Estado. Mas Edilson José dos Santos - carinhosamente chamado de "Padre Edilson" pelos entusiastas de seu trabalho religioso - decidiu trilhar outros caminhos na vida pessoal e profissional. Vestes como a batina e os objetos sacros usados nas celebrações eucarísticas praticamente já fazem parte do passado: na manhã da sexta-feira (16) - mais magro e em trajes de cidadão comum - o padre confirmou ao Diário do Norte, com exclusividade, que entregou sua Carta de Renúncia ao trabalho como padre ao bispo da Diocese de Uruaçu, dom Messias dos Reis Silveira. Isso ocorreu há cerca de 20 dias, segundo o padre. Edílson disse, ao DN, que o trâmite legal ainda prevê que a diocese se manifeste formalmente sobre o pedido, em documento onde dom Messias pedirá que o religioso reconsidere a decisão de abandonar sua missão sacerdotal. Por fim, padre Edílson deverá encaminhar um segundo documento enumerando suas contra-razões, para que dom Messias publique o decreto conhecido como "Suspensão de Ordem", que o colocará definitivamente na condição de ex-padre.

"Há mais de dois anos eu estava refletindo e rezando para pedir a Deus - e aos amigos que estão mais próximos - uma orientação a esse respeito (a renúncia). Existem, dentro do ser humano, outras expectativas em relação à vida e aos projetos pessoais, relativos a vida pública e política. Estou querendo ingressar nesse trabalho. Claro que o sacerdócio é maravilhoso e eu vivi isso integralmente, por quase 20 anos, dedicando-me à Igreja e a edificação espiritual das comunidades onde trabalhei. Tenho muito respeito à Igreja e devo muito a ela, que me acolheu, me amou e me formou. Porém, eu me percebi - psicologicamente e afetivamente - na situação de não mais conseguir conduzir o meu sacerdócio. Ninguém pode brincar de ser padre. Por isso é que pedi ao bispo a minha dispensa pautado na honestidade comigo mesmo; com Deus; e com as pessoas", comentou padre Edilson.

Em março passado, Edilson retirou-se da função de pároco da Paróquia Nossa Senhora da Abadia em Niquelândia -  onde atuou desde fevereiro de 2006 - quando também dedicou-se como ecônomo da tradicional Romaria do Muquém. Neste ano, pelo seu trânsito com diversas autoridades, angariou R$ 500 mil à realização da romaria. Com fama de "edificador de obras" - não só de evangelização, mas de concreto também - ampliou os espaços de convivência dos católicos na igreja em Niquelândia; e também na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (em Minaçu, onde atuou entre 1999 e 2006) somente com doações angariadas com o dízimo e outras contribuições dos fiéis católicos. Nos últimos meses, o padre fixou residência em Uruaçu (onde conversou com o DN, na última semana) e atuou como ecônomo da diocese, assessorando dom Messias. Em breve, o religioso transferirá seu domicílio eleitoral de Niquelândia para Uruaçu, cidade onde deverá ocorrer seu provável ingresso na vida pública.

"Isso não é um projeto de vaidade pessoal. Se a comunidade e se as lideranças perceberem que tenho, de fato, condições de galgar um posto nessa área política, meu nome estará aberto aos cargos públicos que eu, porventura, possa trilhar e disputar. Anteriormente, nunca me abri a esse projeto por respeito e determinações jurídicas da Igreja. Quero, agora, estabilizar-me socialmente e financeiramente. Preciso ter um trabalho, preferencialmente na área de gestão, que conheço muito bem. A questão afetiva não me preocupa agora. Não estou ainda pensando em casar e ter filhos, por enquanto. Claro que isso pode acontecer. Mas o mais importante de tudo é que o meu amor a Deus e à Igreja continuam intactos. Meu comportamento ético e moral (como ex-padre) vai ser o mesmo. Antes de ser padre, eu já era cristão. E vou continuar vivendo com tal, de maneira ilibada", afirmou o padre.

Com convites para ocupar um cargo na administração da prefeita Solange Bertulino (do PMDB, que já abriga o ex-padre Wemerson de Araújo Fonseca) e do governador Marconi Perillo (do PSDB, com quem cultiva amizade de longa data) para assumir alguma função no Governo do Estado, o "futuro ex-padre", por assim dizer, deverá ingressar em algum partido alinhado com as duas legendas de maior rivalidade histórica em Goiás, tão logo definir onde irá trabalhar após abdicar em definitivo da igreja.

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