Por Frei Pedro Caxito, 0. Carm. (In
Memoriam)
Tornou-se evidente que no fim do
século a Ordem era capaz de organizar e manter esforços para a sua expansão.
Enquanto os alemães e irlandeses partiram para terras fabulosas que até então
não tinham sido palmilhadas por pés de carmelitas, os Espanhóis retornaram para
a sua América e para as Províncias fundadas há séculos pela sua Província-Irmã
de Portugal.
Já em 1886, o Vigário Provincial,
Alberto de Santa Augusta Cabral Vasconcelos escreveu de Recife, pedindo a
Savini para mandar religiosos a fim de restaurar a Província de Pernambuco. Os
frades sobreviventes da Província, dizia ele, estavam todos num único convento
(Recife). As outras quatro casas estavam em mãos de padres seculares. Ele
estava velho e doente e alguns dos mais jovens não gozavam de boa reputação.
Savini conseguiu reunir um grupo internacional nas pessoas de Ângelo Mallia,
André Montebello e José Gregório Geoghegan. Contudo esta primeira tentativa de
restauração do Carmelo no Brasil não foi bem sucedida; nos inícios de 1889
Cabral e os recém-vindos separaram-se no meio de mútuas recriminações.
Com a eleição de um novo Prior
Geral, Cabral renovou em 1894 os seus insistentes pedidos de reforço. Por esta
data pôde ser feito um esforço mais sério e garantido; a Província da Espanha,
em vias de recuperação, estava capacitada a corresponder às necessidades. No dia
7 de julho de 1894, um grupo de 4 padres e 2 irmãos viajou para Recife: Joaquim
Guarch (Comissário Geral), Eliseu Gomez, Cirilo Font, Mariano Gordon e os
Irmãos Ângelo Trigagnon e Eliseu Gomez (a nota 56 diz que é coincidência
mesmo de nome e sobrenome).
Em 1895, um segundo grupo de dois
padres, três clérigos e dois irmãos foram enviados da Espanha. Neste mesmo ano
o Conselho da Ordem autorizou o Provincial da Espanha a nomear um vigário
provincial para o Brasil e apontou também Cirilo Font como Comissário Geral. Os
dois cargos praticamente se reuniram num só.
Os espanhóis se responsabilizaram
pela restauração não só da Província de Pernambuco, mas também de toda a Ordem
no Brasil, em geral. A pressa de Cabral não foi compartilhada com igual ardor
no Rio de Janeiro e na Bahia. Os poucos frades brasileiros sobreviventes nestas
regiões recusaram-se a reconhecer o Comissário Geral e a submeter-se à
Província da Espanha. Além disto não quiseram transferir para os espanhóis os
bens da Ordem, nem era isto permitido pela lei. Os Brasileiros relutavam em
renunciar à sua independência e abrir caminhos, submetendo-se à disciplina
religiosa. Diante destas circunstâncias os Espanhóis perceberam que a
Restauração do Carmelo Brasileiro seria uma tarefa desencorajadora.
De fato, Leão XIII tinha um pouco
antes, aos três de setembro de 1891, colocado os religiosos do Brasil debaixo
da jurisdição dos bispos. Os bispos, por sua vez, delegaram as suas faculdades
a um "visitador" episcopal. Numa situação destas um Comissário indicado
pelo Prior Geral em Roma ajustava-se tal qual um pino quadrado num furo
redondo. Era um caso parecido com o da Espanha nos inícios da restauração da
Ordem por lá. Com o tempo as coisas foram-se ajeitando, mas não se pôde fugir
inteiramente dos primeiros conflitos.
Em cartas para Roma datadas de 23 de
agosto e 22 de outubro de 1900, o Provincial Eliseu Durán contou como ia a
situação no Brasil. Da Vigararia do Maranhão nada restou. A Província de
Pernambuco contava com três conventos e um hospício. Em Recife estavam cinco
frades espanhóis. Dois anos depois da chegada dos recém-vindos em 1894,
morreram os dois brasileiros que restavam, deixando o acima citado no comando
da situação. Da Província da Bahia existia somente o Convento de Salvador com
dois espanhóis e o brasileiro Frei Inocêncio do Monte Carmelo Sena. Um outro
padre brasileiro vivia fora do convento em concubinato. A Província do Rio de
Janeiro continha seis casas, duas das quais, Rio e Angra dos Reis, tinham
moradores. São Paulo e Santos podiam ser reformadas sem grandes despesas. No
Rio de Janeiro viviam sete espanhóis; em Angra, dois espanhóis e o brasileiro
Frei Inácio da Conceição Silva, que ostentava o título de Provincial. O outro
brasileiro da Província, Frei Antônio Muniz, vivia fora do Convento e na
imprensa pública entrou numa campanha de guerrilha contra as autoridades
eclesiásticas e os confrades espanhóis. De início viviam no Rio os Padres
Furbão (deve ser Pe. Manuel de Santa Teresa Trovão) e Manuel da Ascensão
Franco, o administrador do vasto patrimônio do Convento. Quando morreu Furbão
em 1896, Mariano Gordon e Carmelo Pastor aí estabeleceram residência. Depois da
morte de Manuel em 1899, o arcebispo indicou um administrador leigo para os
bens do Convento. Mas a pedido do Internúncio seis frades foram enviados para o
Convento de Angra dos Reis destinado a ser casa de Noviciado. Os Espanhóis
tinham pouca fé na possibilidade de um noviciado no Brasil. Noviços eram poucos
(em seis anos Recife recebeu um só) e tinham pouca chance de serem iniciados
adequadamente na vida religiosa. Durán preferiu estabelecer na Espanha um
colégio missionário para o Brasil.
O Capítulo Geral de 1902 deu
instruções ao Procurador Geral para conseguir da Santa Sé um decreto que
concedesse à Província da Espanha os bens da Ordem no Brasil como medida para
uma chance pequenina de sucesso.
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