Na
sexta-feira, 19 de abril, por ocasião do encerramento da 51ª Assembleia Geral
dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP), a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB), divulgou uma nota em que se posiciona contra a Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) que transfere ao Congresso a decisão sobre a
demarcação de terras indígenas e se opôs à redução da maioridade penal. De
acordo com a entidade, a demarcação, o reconhecimento e a titulação de
territórios indígenas é dever constitucional do poder executivo.
Nós,
bispos do Brasil, reunidos na 51ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil-CNBB, em Aparecida-SP, de 10 a 19 de abril de 2013,
manifestamo-nos contra a Proposta de Emenda Constitucional 215/2000 (PEC 215),
que transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a aprovação de
demarcação, titulação e homologação de terras indígenas, quilombolas e a
criação de Áreas de Proteção Ambiental.
Reconhecer,
demarcar, homologar e titular territórios indígenas, quilombolas e de povos
tradicionais é dever constitucional do Poder Executivo. Sendo de ordem técnica,
o assunto exige estudos antropológicos,
etno-históricos e cartográficos. Não convém, portanto, que seja transferido
para a alçada do Legislativo.
Motivada
pelo interesse de pôr fim à demarcação de terras indígenas, quilombolas e à
criação de novas Unidades de Conservação da Natureza em nosso país, a PEC 215 é
um atentado aos direitos destes povos. É preocupante, por isso, a constituição
de uma Comissão Especial, criada pelo Presidente da Câmara para apressar a
tramitação dessa proposição legislativa a pedido da Frente Parlamentar da
Agropecuária, conhecida como bancada ruralista. O adiamento de sua instalação para o segundo semestre não elimina nossa
apreensão quanto ao forte lobby pela aprovação da PEC 215.
A
Constituição Federal garantiu aos povos indígenas e comunidades quilombolas o
direito aos seus territórios tradicionais. Comprometidos com as gerações futuras,
os constituintes também asseguraram no texto constitucional a proteção ao meio
ambiente e definiram os atos da administração pública necessários à efetivação
desses direitos como competência exclusiva do Poder Executivo.
Todas
estas conquistas, fruto de longo processo de organização e mobilização da
Sociedade brasileira, são agora ameaçadas pela PEC 215 cuja aprovação desfigura
a Constituição Federal e significa um duro golpe aos direitos humanos. Fazemos,
portanto, um apelo aos parlamentares para que rejeitem a PEC 215. Que os
interesses políticos e econômicos não se sobreponham aos direitos dos povos
indígenas e quilombolas.
Deus
nos dê, por meio de seu Filho Ressuscitado, a graça da justiça e da paz!
Aparecida
- SP, 17 de abril de 2013.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo
de AparecidaPresidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva, OFM
Arcebispo
de São Luís do MaranhãoVice Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília Secretário Geral da CNBB
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