Padre Beto defende reflexão da Igreja Católica
sobre moral sexual em vídeos; bispo quer que conteúdo seja retirado do ar
Leia abaixo a íntegra da determinação da Diocese de Bauru:
Ato
do Governo Diocesano sobre pronunciamentos do pe. Beto pelos meios digitais
Fonte: http://papofeminino.uol.com.br
Fernanda Villas Bôas
Um
padre em Bauru, no interior de São Paulo, recebeu um prazo da Diocese local
para retirar da internet os vídeos em que apresenta suas ideias consideradas
inovadoras sobre moral sexual e organização da Igreja. Roberto Francisco
Daniel, 47 anos, o padre Beto, deve se retratar até segunda-feira, dia 29,
conforme a determinação do bispo diocesano Dom Frei Caetano Ferrari. O padre
disse que ainda não decidiu o que vai fazer.
Padre
Beto, que tem site na internet e é ativo nas redes sociais, é considerado
polêmico. Ele acha que os padres devem trabalhar em vez de receber salário da Igreja (ele é professor
universitário). Também defende o sacerdócio feminino e o sexo antes do
casamento. Na opinião de padre Beto, a Igreja deveria rever suas regras em
relação à moral sexual para acompanhar os novos tempos.
Na
terça-feira (23), quando a Diocese de Bauru determinou que os vídeos fossem
retirados do site do padre e das redes sociais, um grande debate se instalou na
internet, sobretudo no Facebook. Páginas a favor e contra o padre foram
criadas. Para quem apoia o religioso, ele está certo ao tentar atualizar os
preceitos católicos. Para esses, a Diocese está sendo retrógrada ao impor
censura ao padre. Os contrários questionam a permanência do sacerdote na
Igreja. Alguns o chamam de “herege”.
Para
bispo, padre vai reconhecer que errou – O bispo diocesano de Bauru, dom Frei
Caetano Ferrari, diz que o padre Beto “avançou o sinal” ao postar vídeos que
propõem uma revolução nos costumes da Igreja. “Padre Beto é muito inteligente,
muito capaz. Mas tem essa tendência de avançar o sinal. Estou cobrando isso
dele: que faça uma retratação. Os vídeos provocaram muita inquietação, não só
em Bauru, mas em outras dioceses”, disse.
Para
Dom Caetano, a necessidade de reflexão defendida pelo padre é legítima.
“Refletir é um ato inerente ao ser humano. Mas a reflexão se dá a partir da
própria identidade. E o que está acontecendo é que o padre está perdendo a
noção da sua identidade, uma vez que é padre”.
Dom
Caetano acredita que padre Beto irá se retratar na próxima segunda-feira.
“Estou confiante que o Espírito Santo vai tocar o coração dele”, afirmou.
Ele se referiu ao padre como um “filho rebelde”: “É como um filho rebelde, que
a gente ama e quer bem”.
Na
entrevista abaixo, Padre Beto comenta o episódio e defende uma Igreja mais
plural:
Papo Feminino – O senhor recebeu com surpresa a
determinação da Diocese de Bauru?
Padre Beto - Sim, recebi com
surpresa. Não esperava isso. Não acho que fiz declarações absurdas nem que
pudessem atingir autoridades ou os dogmas da Igreja. São reflexões para que as
autoridades da Igreja ouçam e possam refletir. Por outro lado, acho que demorou
muito até [para a Diocese determinar retratação].
Papo Feminino – O
senhor diz que a estrutura de paróquia é falida e deveria ser revista. Também
fala que o espaço físico das igrejas é ocioso. E diz ainda que a sexualidade
deveria ser alvo de um debate na Igreja para que algumas regras em relação à
conduta dos fiéis fossem reformuladas. Quais dessas declarações, na sua
opinião, incomodou mais a Diocese?
Padre Beto – O que
incomodou a Diocese foi o ato de refletir. Acredito que a posição de Dom
Caetano é assim: “já existem pessoas em outras instâncias da Igreja refletindo
por nós. Seu papel como padre não é refletir: é acatar e transmitir aos fiéis,
que vão acatar também”.
Papo Feminino – Após a declaração
da Diocese, dois lados se formaram nas redes sociais: aqueles que apoiam sua
conduta e aqueles que repudiam. Quem não concorda com suas ideias diz que o
senhor deveria sair da Igreja, já que não acata as regras internas. O que o
senhor acha disso?
Padre Beto – A Igreja é uma
instituição onde convivem correntes, linhas de pensamento. Neste momento
histórico, determinadas linhas estão silenciosas, não estão se expressando. Mas
a Igreja não pode ser um monólogo. A Igreja tem que ser uma mesa-redonda onde
todas as linhas de reflexão possam discutir. E a Igreja só evolui quando essas
linhas entram em debate. O Concílio do Vaticano 2º (assembleia da Igreja,
realizada entre 1961 e 1965 e que, entre outros pontos, estimulou maior diálogo
com outras religiões) foi um grande debate entre bispos e padres. Questionários
foram enviados a todas as dioceses do mundo e encaminhados ao Vaticano para
serem lidos, ou seja, teve participação de leigos. E isso foi importante para a
evolução da Igreja. Preste atenção: Cristo se encontrou com todos, dialogou com
todos de igual para igual, não foi preconceituoso. Dialogou com a prostituta,
com a samaritana, que tinha outra fé, com os cobradores de impostos, os
chamados pecadores da época. Eu digo para os meus opositores: enxerguem mais
Jesus em vez de dogmas, normas ou preceitos religiosos.
Papo Feminino –
Isso quer dizer que o senhor não vai se retratar?
Padre Beto – Ainda
estou refletindo a respeito.
Tendo
em vista os recentes pronunciamentos do padre Roberto Francisco Daniel (padre
Beto) em páginas pessoais da internet, que têm provocado escândalo junto aos
fiéis, agora, extrapolando-se o âmbito diocesano e indo para o mundo aberto da
mídia eletrônica; tendo em vista, sobretudo, o conteúdo desses pronunciamentos
que ocorrem em desacordo com os ensinamentos da Igreja no campo da doutrina, da
moral e dos costumes; tendo em vista que não em poucas oportunidades o Bispo
Diocesano já lhe vem alertando sobre seus pronunciamentos; e tendo em vista o
diálogo realizado hoje, 23 de abril, na Cúria Diocesana, sobre o assunto,
determino ao padre Beto a retirar de imediato tudo o que estiver na mídia, com
palavras e imagens relativas a estas suas declarações. Determino a se retratar
através do mesmo meio utilizado (site, Facebook e YouTube), no prazo até 29 de
abril de 2013, confessando humildemente que errou quanto a sua interpretação e
exposição da doutrina, da moral e dos costumes ensinados pela Igreja.
Nossa
Diocese, que caminha rumo ao Jubileu de Ouro de sua fundação, encontra-se em
oração permanente, suplicando ao Divino Espírito Santo, seu padroeiro, que
ilumine nossas mentes e nossos corações para caminharmos na busca da conversão,
da santidade, da comunhão e da paz.
Dom Frei Caetano
Ferrari, ofm, Bispo Diocesano de Bauru.
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