Assim é fácil pensar no choque produzido
no século XV quando o povo europeu chega a essa terra. Foi um choque entre dois
estados de consciência, e por isso muito doloroso. No entanto, devido à
superioridade mundo europeu em relação aos nativos, não é de se esperar outra
coisa senão uma “dominação” européia no continente americano. Há diversos
relatos históricos que mostram que essa colonização européia utilizou de
métodos fortes e implacáveis para estabelecer sua hegemonia. O cristianismo que
entrou na América em 1492, é de caráter regional limitado e não “universal”.
Também lembrando que a Igreja vivia sobre o regime do Padroado, ou seja, o rei
era quem determinava todas as coisas em relação ao clero. O clero ficava
dependente do Estado. Dessa forma, a cruz e a espada eram usadas para ditar a
fé e as regras dos colonizadores sobre os nativos. Para se entender melhor como
foi à colonização na América, basta refletir sobre o fato ocorrido em 1500: foi
promulgada pelos colonizadores a “lei das terras” que, na prática negou aos
nativos a posse de terra neste país.
A colonização e evangelização no Brasil é
marcada por duas etapas. A primeira tem início com a chegada de Pedro Álvares
Cabral e sua frota de 13 navios no Brasil, em 1500. Junto aos colonizadores
estavam sacerdotes diocesanos e 15 franciscanos, que chegaram ao Brasil para
atender às necessidades religiosas dos portugueses e, assim, fizeram muito
pouco pela evangelização dos índios e negros. Esse momento é marcado por
questões que envolvem a humanidade dos índios (eles tem alma?), pois os
portugueses que aqui chegaram, encontraram povos índios caçadores e não grandes
civilizações como no México e no Peru. A primeira missa rezada no Brasil
aconteceu no dia 26 de março de 1500, presidida pelo frei Henrique de Coimbra.
A colonização propriamente dita começou no ano de 1530, com a chegada da
expedição de Martin Afonso de Souza e com a introdução da cana de açúcar. A
partir de então, começa em grande número o desembarque de escravos da África em
terras brasileiras, o que com o tempo foi criando uma sociedade de senhores e
escravos. Em 1543, o rei de Portugal, que gozava do direito do padroado, dividiu
as terras do Brasil em 15 capitanias.
A segunda etapa é marcada com a chegada
dos jesuítas na baía de Todos os Santos em 29 de março de 1549. Foi neste
período que Tomé de Souza chega ao Brasil. A efetiva evangelização do vasto
território brasileiro esteve a cargo, em particular, desses missionários
jesuítas. Com o fracasso das capitanias, em março de 1549, Tomé de Souza, o
primeiro governador geral chega ao Brasil. Junto dele vem um grupo de jesuítas,
que ficaram responsáveis pela catequese dos índios, sob a direção de pe. Manuel
da Nóbrega, que fez sentir logo seu impacto no Brasil. Em 1550 chegaram mais 4
jesuítas e, três anos depois chegou o ilustre jesuíta das ilhas das Canárias,
José de Anchieta, que rapidamente redigiu uma rústica gramática em língua
tupi-guarani e adaptou os ensinamentos cristãos às melodias dos índios. No
entanto, esse trabalho dos jesuítas sofreu o obstáculo do bispo Dom Pedro
Fernandes Sardinha (um escravagista que queria a escravidão dos índios), que
proibiu aos jesuítas que a catequese fosse administrada na língua dos índios.
Em 1553, com a criação da província jesuítica no Brasil, os jesuítas mantiveram
sua independência com respeito ao bispo e continuaram seu trabalho de
evangelização. Assim a evangelização no Brasil foi lentamente acontecendo.
A colonização e evangelização na América
Latina foi mais rápida do que no Brasil. Bartolomeu de Las Casas – uma ilustre
figura, que de colonizador passa a libertador e defensor dos índios, bem como
de uma sociedade onde todos tivessem os mesmo direitos – escreve sobre como foi
essa evangelização já em 1502. Os colonizadores que chegam a América Latina
eram artesões, lavradores, fidalgos, diferentes dos colonizadores do Brasil. No
entanto, a mentalidade que dominava esses colonizadores era a das encomendas (escravos),
que começa em 1503. Os frades dominicanos criticam essas praticas, acusando-as
de atos desumanos. A “batalha” dos encomendeiros com os dominicanos termina
quando a situação é relatada ao rei, gerando a 1ª legislação índia: “Leyes de
Burgos” (1512). Assim, a evangelização na América Latina deve ser entendida
dentro do contexto de colonização opressora. Em Porto Rico, por exemplo, todos
os índios foram escravizados e tiveram que fugir para outras ilhas. A própria
Igreja estava “dividida” no processo de evangelização. Enquanto os religiosos
se preocupavam com a evangelização, o próprio bispo D. Alonso Manso (1º bispo
da América), não defendeu nem índios nem escravos, pois também era
encomendeiro. Em 1588, introduz escravos negros na construção da Catedral. O
resultado de tudo isso é uma evangelização mais qualitativa do que
quantitativa.
Diante de toda essa mentalidade, a
mulher também sentia o peso da “descriminação”. Desempenhava uma função
secundaria e de inferioridade, tanto na vida social como na eclesial, era preparada
para a vida do lar e na educação dos filhos. As mulheres índias, pior ainda,
pois sofriam diversas formas de opressões de todos os lados.
A vida religiosa vivia sobre o regime do
padroado, e, portanto, era controlada pelo Estado. A mentalidade que dominava
os conventos era a mesma sentida em todo processo de evangelização: o de
descriminação e opressão.
Dentro dessa dinâmica de colonização
opressora e evangelização dividida sobre diversos interesses, os índios e os
negros foram profundamente “martirizados” em nome de uma vontade imposta pelos
europeus com sendo a “vontade de Deus”.
A estruturação de tudo isso (pelo menos
no Brasil) só começa a acontecer do século XIX para os nossos dias, quando a
Igreja começa a se estruturar, bem como a formação de seminários, das famílias,
etc. E começa a nascer assim uma nova mentalidade para os povos da América.
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