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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

História da Igreja na América Latina e no Brasil

            
O povoamento do continente americano é antigo (50.000 anos, ou mais, segundo dados arqueológicos mais recentes). Isso mostra que suas populações são variadas e portadoras de toda gama de formas culturais conhecidas. Antes do descobrimento da América por Cristóvão Colombo, as idéias e práticas religiosas dos povos que habitavam a América revelam uma cosmovisão intuitiva, aberta à natureza a ao cosmo (e não encerrada no ego), comunitária (e não individualista), em que todo visível é símbolo de uma realidade maior, da qual eles dependem.
Assim é fácil pensar no choque produzido no século XV quando o povo europeu chega a essa terra. Foi um choque entre dois estados de consciência, e por isso muito doloroso. No entanto, devido à superioridade mundo europeu em relação aos nativos, não é de se esperar outra coisa senão uma “dominação” européia no continente americano. Há diversos relatos históricos que mostram que essa colonização européia utilizou de métodos fortes e implacáveis para estabelecer sua hegemonia. O cristianismo que entrou na América em 1492, é de caráter regional limitado e não “universal”. Também lembrando que a Igreja vivia sobre o regime do Padroado, ou seja, o rei era quem determinava todas as coisas em relação ao clero. O clero ficava dependente do Estado. Dessa forma, a cruz e a espada eram usadas para ditar a fé e as regras dos colonizadores sobre os nativos. Para se entender melhor como foi à colonização na América, basta refletir sobre o fato ocorrido em 1500: foi promulgada pelos colonizadores a “lei das terras” que, na prática negou aos nativos a posse de terra neste país.
A colonização e evangelização no Brasil é marcada por duas etapas. A primeira tem início com a chegada de Pedro Álvares Cabral e sua frota de 13 navios no Brasil, em 1500. Junto aos colonizadores estavam sacerdotes diocesanos e 15 franciscanos, que chegaram ao Brasil para atender às necessidades religiosas dos portugueses e, assim, fizeram muito pouco pela evangelização dos índios e negros. Esse momento é marcado por questões que envolvem a humanidade dos índios (eles tem alma?), pois os portugueses que aqui chegaram, encontraram povos índios caçadores e não grandes civilizações como no México e no Peru. A primeira missa rezada no Brasil aconteceu no dia 26 de março de 1500, presidida pelo frei Henrique de Coimbra. A colonização propriamente dita começou no ano de 1530, com a chegada da expedição de Martin Afonso de Souza e com a introdução da cana de açúcar. A partir de então, começa em grande número o desembarque de escravos da África em terras brasileiras, o que com o tempo foi criando uma sociedade de senhores e escravos. Em 1543, o rei de Portugal, que gozava do direito do padroado, dividiu as terras do Brasil em 15 capitanias.
A segunda etapa é marcada com a chegada dos jesuítas na baía de Todos os Santos em 29 de março de 1549. Foi neste período que Tomé de Souza chega ao Brasil. A efetiva evangelização do vasto território brasileiro esteve a cargo, em particular, desses missionários jesuítas. Com o fracasso das capitanias, em março de 1549, Tomé de Souza, o primeiro governador geral chega ao Brasil. Junto dele vem um grupo de jesuítas, que ficaram responsáveis pela catequese dos índios, sob a direção de pe. Manuel da Nóbrega, que fez sentir logo seu impacto no Brasil. Em 1550 chegaram mais 4 jesuítas e, três anos depois chegou o ilustre jesuíta das ilhas das Canárias, José de Anchieta, que rapidamente redigiu uma rústica gramática em língua tupi-guarani e adaptou os ensinamentos cristãos às melodias dos índios. No entanto, esse trabalho dos jesuítas sofreu o obstáculo do bispo Dom Pedro Fernandes Sardinha (um escravagista que queria a escravidão dos índios), que proibiu aos jesuítas que a catequese fosse administrada na língua dos índios. Em 1553, com a criação da província jesuítica no Brasil, os jesuítas mantiveram sua independência com respeito ao bispo e continuaram seu trabalho de evangelização. Assim a evangelização no Brasil foi lentamente acontecendo.
A colonização e evangelização na América Latina foi mais rápida do que no Brasil. Bartolomeu de Las Casas – uma ilustre figura, que de colonizador passa a libertador e defensor dos índios, bem como de uma sociedade onde todos tivessem os mesmo direitos – escreve sobre como foi essa evangelização já em 1502. Os colonizadores que chegam a América Latina eram artesões, lavradores, fidalgos, diferentes dos colonizadores do Brasil. No entanto, a mentalidade que dominava esses colonizadores era a das encomendas (escravos), que começa em 1503. Os frades dominicanos criticam essas praticas, acusando-as de atos desumanos. A “batalha” dos encomendeiros com os dominicanos termina quando a situação é relatada ao rei, gerando a 1ª legislação índia: “Leyes de Burgos” (1512). Assim, a evangelização na América Latina deve ser entendida dentro do contexto de colonização opressora. Em Porto Rico, por exemplo, todos os índios foram escravizados e tiveram que fugir para outras ilhas. A própria Igreja estava “dividida” no processo de evangelização. Enquanto os religiosos se preocupavam com a evangelização, o próprio bispo D. Alonso Manso (1º bispo da América), não defendeu nem índios nem escravos, pois também era encomendeiro. Em 1588, introduz escravos negros na construção da Catedral. O resultado de tudo isso é uma evangelização mais qualitativa do que quantitativa.
Diante de toda essa mentalidade, a mulher também sentia o peso da “descriminação”. Desempenhava uma função secundaria e de inferioridade, tanto na vida social como na eclesial, era preparada para a vida do lar e na educação dos filhos. As mulheres índias, pior ainda, pois sofriam diversas formas de opressões de todos os lados.
A vida religiosa vivia sobre o regime do padroado, e, portanto, era controlada pelo Estado. A mentalidade que dominava os conventos era a mesma sentida em todo processo de evangelização: o de descriminação e opressão.
Dentro dessa dinâmica de colonização opressora e evangelização dividida sobre diversos interesses, os índios e os negros foram profundamente “martirizados” em nome de uma vontade imposta pelos europeus com sendo a “vontade de Deus”.

A estruturação de tudo isso (pelo menos no Brasil) só começa a acontecer do século XIX para os nossos dias, quando a Igreja começa a se estruturar, bem como a formação de seminários, das famílias, etc. E começa a nascer assim uma nova mentalidade para os povos da América.

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