*Dom Frei Vital Wilderink O.Carm. In Memoriam.
Sem passar por
provações não vamos descobrir quem nós somos na verdade. Enquanto não passarmos
pelo fogo da provação, sabemos muito pouco de nós mesmos, e também de Deus. Por
isto, Jesus não tem medo das provações pelas quais seus discípulos hão de passar.
No texto do capítulo 6, anterior ao evangelho de hoje, Jesus se apresentou como
o Pão que desceu do céu. Esta fala dele
escandalizou muitos dos seus ouvintes, principalmente quando acrescentou que
eles não teriam vida neles se não comessem a carne do Filho do Homem e não
bebessem o seu sangue. Mas, Jesus não pretende poupar a ninguém com esse
realidade "chocante". Até, sem ser violento, parece aumentar a dose,
provocando uma reação nos seus discípulos: "Esta palavra é dura. Quem
consegue escuta-la?" Jesus perguntou: Isto vos escandaliza? E quando virem
o Filho do Homem subindo para onde estava antes?".
É importante,
até necessário, que a crise exploda que ela se apresente como de fato é:
incompreensível e absurdo, sem sentido. Assim cada um é obrigado a descer no
profundo para descobrir o que Deus lhe pede, e o que não pede. Esta tomada de
consciência pode ser muito dolorosa, mas não há jeito de evitá-la. Não adiante
girar em torno dela. Jesus não vai impedir a ninguém. Não vai violentar nenhuma
liberdade. Pelo contrário, ele solta seus discípulos de toda ligação inútil e
infrutífera que os prende a ele. Até dirige-se aos doze apóstolos: "Vocês
também querem ir embora?" Não é uma pergunta tática. Jesus não vai impedir
se alguém quer ir embora. Para Jesus os discípulos são livres. Mas para eles é
um momento precioso e decisivo porque agora pode aparecer o amor verdadeiro e
livre. Tal liberdade parece dar-nos
vertigens e às vezes fugimos antes de tomar consciência dela. No entanto, é esta liberdade que nos torna
pessoas autônomas, capazes de reconhecer amor e de responder a ele.
Não se exclui
que Pedro também ficou murmurando diante dos ensinamentos de Jesus. Mas, de
repente ele tem a impressão de que Jesus pretende deixá-lo. Pedro se você
quiser, você também pode ir embora. Mas é precisamente esse respeito de Jesus à
liberdade dele que faz com que Pedro volte sobre seus passos: "A que
iremos Senhor, Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e
reconhecemos que tu és o Santo de Deus".
No ponto mais profundo da crise sobra uma saída só: reconhecer que Jesus
está presente e que toda a minha vida depende dele, do sim ou do não que sai
dos seus lábios, da palavra de amor que só ele pode pronunciar. Todo o resto é
fogo de palha. Só aí a alegria pode aparecer no nosso jeito de ser, graças a
este amor em que, na verdade, nunca tínhamos chegado a acreditar. É num momento
assim que podemos fazer uma opção livre. Só Jesus permanece: A que iremos
Senhor? Nós cremos e sabemos que Tu és o Santo de Deus".
Sem a provação,
Pedro não teria podido fazer um discernimento.É o Espírito que dá vida, a
carne, isto é, o ser humano entregue a si mesmo não está em condições de
saborear as coisas de Deus. Pedro descobriu isto: Senhor, tu tens palavras de
vida eterna. É nisto que está o significado de cada provação: ela permite que a
vida verdadeira apareça na superfície.
No mais profundo
da cada provação, no ponto mais baixo de cada fragilidade, mesmo no pecado,
quando tudo fica escuro e faz desaparecer o horizonte, ressoa a Palavra de
Jesus. Não é a carne que a revela. Como tantos outros discípulos no evangelho
estamos inclinados a tomar os nossos caminhos deixando de seguir o Senhor.
Felizes somos nós que temos acesso a Ele porque este dom nos é concedido a cada
momento pelo Pai.
*Dom
Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando
retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas
montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de
Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na
cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese
esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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