O
Papa Francisco não acredita que seja um iluminado, mas cativou o mundo sem
deixar ninguém indiferente, quer seja católico ou não. É o que demonstra na
entrevista que deu a Henrique Cymerman e que no domingo foi veiculada pela
Cuatro, a primeira para uma televisão espanhola. Fonte: http://bit.ly/1kYJMTE
Israel
e Palestina, ponto de partida na qual Bergoglio aborda muitos assuntos, alguns
fundamentais para a Igreja. Questões como a via soberanista na Catalunha. Além
de grandes reflexões, também fala da Copa do Mundo.
A
reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 16-06-2014. A
tradução é de André Langer.
O
Papa, sobre seu encontro com os líderes da Palestina e Israel: “Não era um ato
político”
“Não
era um ato político, mas religioso. A oração também é um ato político com
maiúscula. Alguém dizia que com a oração se faz pouco, mas sem a oração se faz
menos. Na reunião presidimos todos, até o homem que tocava o violino”.
O
Papa Francisco: “Não sei se sou revolucionário”
“Para
mim, a grande revolução é ir às raízes, reconhecê-las e ver o que essas raízes
querem dizer nos dias de hoje. Não sei se sou revolucionário, mas gosto de ir
às nossas raízes da identidade cristã, judaica... e a partir daí dialogar com
os desafios que vão se apresentando. Não há contradição entre ser
revolucionário e ir às raízes. A maneira de fazer verdadeiras mudanças é a
partir da própria identidade.”
Sobre a perseguição católica atual: “Há mais
cristãos mártires do que naquela época”
“Estou
convencido de que a perseguição contra os cristãos, hoje, é mais forte que nos
primeiros séculos da Igreja. Hoje, há mais cristãos mártires do que naquela
época.”
“Não
vou saudar um povo e dizer-lhe que o quero bem dentro de uma lata de sardinhas”
“Sei
que pode me acontecer alguma coisa, mas isso está nas mãos de Deus. Recordo que
no Brasil haviam preparado um papamóvel fechado, com vidros, mas eu não posso
saudar um povo e dizer-lhe que gosto muito dele dentro de uma lata de
sardinhas, mesmo que seja de vidro. Para mim, isso é um muro. É verdade que
algo pode me acontecer, mas sejamos realistas: na minha idade, não tenho muito
a perder.”
O pontífice, sobre as riquezas da Igreja:
“Não se pode entender o Evangelho sem a pobreza”
“Não
se pode entender o Evangelho sem a pobreza. O Povo de Deus perdoa um pastor, um
padre, que tenha tido um deslize afetivo. Perdoa-o. Que tenha tomado um
pouquinho a mais de vinho. Perdoa-o. Mas nunca vai lhe perdoar que esteja atrás
do dinheiro ou que maltrate as pessoas. Curioso como o povo tem o olfato do que
Deus pede a um pastor. Jesus não quer que sejamos príncipes, mas servidores.”
Sobre as mudanças: “Estou apenas cumprindo o
que os cardeais refletiram”
“Quero
deixar claro que não tenho nenhuma iluminação, que não tenho nenhum projeto
pessoal, porque nunca pensei que ficaria aqui. O que estou fazendo é cumprir o
que os cardeais refletiram nas Congregações Gerais antes do conclave. Ali nos
reunimos todos os dias para discutir os problemas da Igreja. Daí sai uma série
de reflexões e conselhos para o próximo papa. Eu os estou cumprindo.”
“Às vezes, pela religião chegamos a
contradições muito sérias”, declarou Francisco
“É
uma contradição. É como se me dissessem: ‘Este homem é um bom filho, bate
apenas três vezes por dia na mãe’. Em perspectiva histórica, os cristãos, às
vezes, praticaram a violência em nome de Deus. Chegamos, às vezes, pela
religião, a contradições muito sérias, muito graves.”
Após
o abraço em frente ao Muro das Lamentações: “É possível a amizade entre as três
religiões”
“Tomei
uma decisão e Skorka sabia. Quis ir também com um bom amigo islâmico. Um homem
que conhece muito bem o Islã. Como os amigos não se fazem com fotocópias cada
um é diferente. Quero-os aos dois um montão e um não têm nada a ver com o
outro. Disse: ‘Aqui estamos as três religiões e é possível a amizade para dar
testemunho’. Conseguimos. Foi um grito de vitória porque tínhamos a esperança
de poder fazer isso”.
“Há pessoas que negam o Holocausto”, disse
sobre o antissemitismo
“Não
saberia explicar porque existe, mas creio que está muito unido, em geral, à
direita. O antissemitismo costuma aninhar-se melhor nas correntes políticas de
direita que de esquerda, não? E continua até hoje. Há, inclusive, quem negue o
holocausto, uma loucura.”
Assim recorda a Segunda Guerra Mundial
“Dá-me
um pouco de urticária existencial quando vejo que todos atacam a Igreja e Pio
XII... E as grandes potências? As grandes potências conheciam perfeitamente a
rede ferroviária dos nazistas que levavam os judeus aos campos de concentração.
Tinham fotos. Mas não bombardearam esses trilhos. Falemos de tudo um pouquinho.
Creio que é preciso ser muito justo neste tema.”
Dos políticos: “Os políticos jovens falam dos
mesmos problemas, mas com uma música diferente”
“Os
políticos jovens talvez falem dos mesmos problemas, mas com uma música
diferente, e gosto disso. Isso me dá esperança, porque a política é uma das
formas mais elevadas do amor, da caridade, porque leva ao bem comum. Uma pessoa
que, podendo fazê-lo, não se envolve com o bem comum, é egoísta; ou que usa a
política para o bem próprio, é corrupção.”
O que acha do conflito com a Catalunha?
“Qualquer
divisão me preocupa. Há independência por emancipação e há independência por
secessão. A independência por secessão é um desmembramento e, às vezes, é muito
óbvia. Há povos com culturas tão diversas que nem com cola pegam. Eu me
pergunto se é tão claro em outros casos, em outros povos que até agora
estiveram juntos. É preciso estudar caso a caso. Haverá casos que são justos e
casos que não são justos, mas a secessão de um país sem um antecedente de
unidade forçada é preciso tomá-lo com muitas pinças e analisá-lo caso a caso.”
Sobre a Copa do Mundo: “Espero poder ver
algum jogo”
“Os
brasileiros me pediram neutralidade e cumpro com minha palavra, porque o Brasil
e a Argentina sempre são rivais. Espero poder ver algum jogo. Fiz um vídeo para
a abertura porque se deve aproveitar um acontecimento lúdico para criar a
cultura do encontro, da fraternidade.”.
O Pontífice gostaria de ser recordado como
“um cara bom”
“Não
pensei nisso, mas gosto quando alguém, recordando outra pessoa, diz: ‘Era um
cara bom, fez o que pôde, não foi tão ruim’. Com isso me conformo.”
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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