O Carmo não se
opôs a Tiradentes, descendente de família sem fortuna, e deu-lhe a credencial
para quem chegava a Vila Rica com intenção de prosperar.
Ao proceder a
amplo trabalho de pesquisa nos arquivos da Ordem Terceira do Carmo de Ouro
Preto, que resultou em livro referencial, a historiadora Maria Agripina Neves
encontrou, naqueles anais, um registro de significado maior. Trata-se do
ingresso de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, no sodalício mais
importante e seletivo de Vila Rica. O assento se acha à folha 152 do Livro
Segundo de Entradas.
Morador na sua
vila natal, São José del Rei, conforme anotado no termo respectivo, ele foi
recebido como irmão do Carmo, em 20 de maio de 1775, 14 anos antes de sua
prisão como conspirador contra a rainha, ocorrida em 10 de maio de 1789, no Rio
de Janeiro. Em 20 de agosto de 1776, ganhou a patente da ordem.
No livro sobre
os carmelitanos de Ouro Preto, a autora destaca a presença de Tiradentes entre
os irmãos que contribuíram para a construção dos altares, à época do governo de
Dom Rodrigo José de Menezes (1780-84), ele próprio prior da irmandade e também
doador. Durante os três primeiros anos da estada em Vila Rica, dom Rodrigo
assumiu o priorato do Carmo (18 de julho de 1780), após ter apresentado sua
patente da cidade do Porto e sido eleito pelos pares mineiros. Rodrigo José de
Menezes foi à primeira autoridade a diagnosticar a decadência da exploração aurífera
nas Minas e a necessidade de mudança nos rumos da administração colonial.
No rol dos que
fizeram doações, ao lado de Tiradentes, aparecem Joaquim Silvério dos Reis,
delator da conjuração ao visconde de Barbacena, o inconfidente tenente-coronel
Francisco de Paula Freire de Andrade (filho de José Freire de Andrade,
ex-governador e segundo conde de Bobadela) e seu sogro, José Álvares Maciel, o
qual não pertencia à Ordem. Todos tinham títulos militares e certamente
agradavam ao governador capitão-general, no seu propósito de viabilizar, como
prior, a fatura dos altares laterais. O historiador Francisco Antônio Lopes, na
obra clássica sobre o Carmo de Ouro Preto, publicada pelo Iphan em 1942, cita
essa lista como “documento avulso” (página 74) e diz ter sido assinada por 84
pessoas, que “concorreram com esmolas”, sem no entanto identificar qualquer
delas.
Maria Agripina
Neves sublinha, ainda, que o contratador João Rodrigues de Macedo, cuja
residência, a Casa dos Contos, foi transformada em cárcere dos conjurados
presos em Vila Rica, elegeu-se prior em 5 de julho de 1789, um mês e um dia
depois da morte do poeta Cláudio Manuel da Costa, no grande cômodo cuja porta
está sob a escada da bela residência da Rua São José. Empossado no dia 16, data
em que se celebra a Virgem do Carmo, ele permaneceu exatamente um ano no alto
cargo de prior do Carmo, sendo sucedido pelo sargento-mor João Carlos Xavier da
Silva Ferrão, tio de Marília de Dirceu.
O fato de os
carmelitanos terceiros da sede da Capitania das Minas terem acolhido
Tiradentes, em 1775, é prova evidente de que, aos 29 anos (nasceu em 1746,
tendo sido batizado em 12 de novembro na Capela de São Sebastião do Rio Abaixo,
filial da matriz de São João del-Rei), tinha abertas as portas do grêmio mais
restrito da capital e ali haveria de subir socialmente e preparar sua inserção
na elite do tempo. Fez-se em seguida conhecido e amigo de personalidades
influentes, que iria procurar envolver na conjuração. O Carmo não se opôs a
Tiradentes, descendente de famílias sem fortuna, mas conceituadas, e deu-lhe a
credencial decisiva para quem chegava a Vila Rica e tinha intenção de prosperar
na “pérola” do Brasil, assim chamada a metrópole mineira pelo cronista do
“Triunfo eucarístico”.
*Leia o artigo na
íntegra. Clique aqui: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/pensar/2013/05/04/noticia_pensar,142068/o-inconfidente-na-ordem.shtml
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